Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Merigoux, Daniel Ribeiro
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional do IBICT - RIDI
Texto Completo: http://ridi.ibict.br/handle/123456789/803
Resumo: A existência de uma barreira da linguagem, transponível por uma “tradução” em que se perde a verdade pura, justifica geralmente a Divulgação Científica (DC). Problematizamos esse pressuposto retraçando as diferenças teóricas entre as linguagens ditas científica e leiga, bem como sua construção sócio-histórica. Concebemos a DC como parte de uma Comunicação Científica estendida, intra e extrapares, na perspectiva da acumulação de conhecimento, pautados mormente pelos conceitos de reprodução e capital simbólico de Bourdieu. Apreendemos cientista e leigo como atores comparáveis, embora socialmente distintos, recusando qualquer separação a priori, absoluta, natural ou anistórica entre eles. Os primórdios da DC são geralmente datados dos diálogos de Galileu e Fontenelle no século 17. Mas os modernos defendem primeiro o sigilo. Herdeiros do “Mênon” de Platão, aderem a uma filosofia pitagórica tão restrita ao par quanto o “artificial” latim, mesmo quando opõem a este o logos inato, vivo e dialético, representado pelos romances. Contra o poder central papal e o monopólio escolástico das universidades, a quantificação moderna do mundo legitimava os soberanos das nações europeias mercantilistas nascentes, patrocinadores das academias científicas oficiais. A linguagem do Livro da Natureza de Galileu é absolutamente divina: afirma um universo unificado e unívoco, acima das disputas clericais e interpretações qualitativas da Bíblia, mas nega à expressão leiga qualquer verdade científica, inviabilizando a Divulgação. Em vista disso, a DC surge na Atenas dos séculos 5 e 4 a.C., quando a retórica faz a dialética privada entrar na arena pública, governada por escolhas democráticas. Aristóteles seculariza a verdade filosófico-científica, imputando-a a um ato de fala humano, explicitamente regrado pela univocidade sistemática (uma palavra=um sentido), a qual distingue até hoje a linguagem científica da leiga. A definição do Termo impõe à determinação bivalente da verdade tanto quanto à sua comunicação a seleção de um único sentido correto entre aqueles possíveis, prefigurando uma teoria da informação, sem estatísticas. Associada à escrita e ao dialógico agonístico, a univocidade perpetua a ordem social pelo desempate e acerto simbólicos. Oposta à violência física e ambiguidade oraculares, transmite a verdade segundo um ideal de reprodução sem perda. Traduz partes do discurso profano em símbolos impessoais eternos, equivalentes às entidades pitagóricas imateriais e sagradas. Essas, demostradas pelo ato de fala, podem ser trocadas na ágora como bens simbólicos “purificados” entre cidadãos “pares”. A posse da verdade torna-se publicamente perceptível, “qualificando” o leigo pelo “déficit” simbólico, espiritual, moral, cognitivo, social. As linguagens lógico-matemáticas seguem ocultando as marcas linguísticas (pessoa, tempo e modalidade) do ator mortal que as profere. Na perspectiva quantitativa, histórica e progressista da Modernidade, a expressão da experiência e verdades antes incomensuráveis, torna-se unificada, previsível, replicável, incrementável, universal e capitalizável como divisas simbólicas. Antes portado apenas pela voz do filósofo, o ideal de reprodução é impulsado pela mecanização dos meios de comunicação: desde a imprensa até o sinal da comunicação digital, a verdade transmite-se com menor perda física, tempo e intervalo, a um público sempre mais numeroso e distante, enquanto a reprodução sócio-simbólica do cientista cresce exponencialmente. Contudo, nunca foram comprovadas a existência de uma comunicação absolutamente sem perda ou de uma unidade de sentido a priori ou naturalmente présegmentada, refutando uma diferença linguística irreversível entre científicos e leigos. Como o Hípaso de Metaponte da lenda pitagórica, divulgador efetivo da “imperfeição” dos números irracionais e origem humana da ciência, hoje os hackers expõem as falhas da linguagem computacional unívoca, a qual separa as sociedades ditas imaterial e material na “nova” ordem tecnológica informacional.
id IBICT_4d8022729d4331e0cd0695f6af021e51
oai_identifier_str oai:ridi.ibict.br:123456789/803
network_acronym_str IBICT
network_name_str Repositório Institucional do IBICT - RIDI
repository_id_str 2404
spelling 2016-01-06T18:40:25Z2016-01-062016-01-06T18:40:25Z2014-04-07http://ridi.ibict.br/handle/123456789/803A existência de uma barreira da linguagem, transponível por uma “tradução” em que se perde a verdade pura, justifica geralmente a Divulgação Científica (DC). Problematizamos esse pressuposto retraçando as diferenças teóricas entre as linguagens ditas científica e leiga, bem como sua construção sócio-histórica. Concebemos a DC como parte de uma Comunicação Científica estendida, intra e extrapares, na perspectiva da acumulação de conhecimento, pautados mormente pelos conceitos de reprodução e capital simbólico de Bourdieu. Apreendemos cientista e leigo como atores comparáveis, embora socialmente distintos, recusando qualquer separação a priori, absoluta, natural ou anistórica entre eles. Os primórdios da DC são geralmente datados dos diálogos de Galileu e Fontenelle no século 17. Mas os modernos defendem primeiro o sigilo. Herdeiros do “Mênon” de Platão, aderem a uma filosofia pitagórica tão restrita ao par quanto o “artificial” latim, mesmo quando opõem a este o logos inato, vivo e dialético, representado pelos romances. Contra o poder central papal e o monopólio escolástico das universidades, a quantificação moderna do mundo legitimava os soberanos das nações europeias mercantilistas nascentes, patrocinadores das academias científicas oficiais. A linguagem do Livro da Natureza de Galileu é absolutamente divina: afirma um universo unificado e unívoco, acima das disputas clericais e interpretações qualitativas da Bíblia, mas nega à expressão leiga qualquer verdade científica, inviabilizando a Divulgação. Em vista disso, a DC surge na Atenas dos séculos 5 e 4 a.C., quando a retórica faz a dialética privada entrar na arena pública, governada por escolhas democráticas. Aristóteles seculariza a verdade filosófico-científica, imputando-a a um ato de fala humano, explicitamente regrado pela univocidade sistemática (uma palavra=um sentido), a qual distingue até hoje a linguagem científica da leiga. A definição do Termo impõe à determinação bivalente da verdade tanto quanto à sua comunicação a seleção de um único sentido correto entre aqueles possíveis, prefigurando uma teoria da informação, sem estatísticas. Associada à escrita e ao dialógico agonístico, a univocidade perpetua a ordem social pelo desempate e acerto simbólicos. Oposta à violência física e ambiguidade oraculares, transmite a verdade segundo um ideal de reprodução sem perda. Traduz partes do discurso profano em símbolos impessoais eternos, equivalentes às entidades pitagóricas imateriais e sagradas. Essas, demostradas pelo ato de fala, podem ser trocadas na ágora como bens simbólicos “purificados” entre cidadãos “pares”. A posse da verdade torna-se publicamente perceptível, “qualificando” o leigo pelo “déficit” simbólico, espiritual, moral, cognitivo, social. As linguagens lógico-matemáticas seguem ocultando as marcas linguísticas (pessoa, tempo e modalidade) do ator mortal que as profere. Na perspectiva quantitativa, histórica e progressista da Modernidade, a expressão da experiência e verdades antes incomensuráveis, torna-se unificada, previsível, replicável, incrementável, universal e capitalizável como divisas simbólicas. Antes portado apenas pela voz do filósofo, o ideal de reprodução é impulsado pela mecanização dos meios de comunicação: desde a imprensa até o sinal da comunicação digital, a verdade transmite-se com menor perda física, tempo e intervalo, a um público sempre mais numeroso e distante, enquanto a reprodução sócio-simbólica do cientista cresce exponencialmente. Contudo, nunca foram comprovadas a existência de uma comunicação absolutamente sem perda ou de uma unidade de sentido a priori ou naturalmente présegmentada, refutando uma diferença linguística irreversível entre científicos e leigos. Como o Hípaso de Metaponte da lenda pitagórica, divulgador efetivo da “imperfeição” dos números irracionais e origem humana da ciência, hoje os hackers expõem as falhas da linguagem computacional unívoca, a qual separa as sociedades ditas imaterial e material na “nova” ordem tecnológica informacional.Science Popularization (SP) is generally justified by a language barrier, overcame by a “translation” that loses “pure” truth. We discuss this presupposition tracing the theoretical differences between so-called scientific and common languages, as well as their socio-historical construction. We assume SP is part of a Scientific Communication extended to both peers and non peers, in the perspective of knowledge accumulation, mainly based on Bourdieu's notions of symbolic capital and reproduction. We comprehend Scientists and laypersons as comparable actors, nevertheless socially distinct and not separated by any a priori, absolute, natural or innate characteristic. While it is admitted that early SP dates back to Galileo's and Fontenelle dialogs, the moderns prove firstly to be secretive. Heirs of Plato's Meno, they stick to a Pythagorean philosophy, as restricted to peers as the “artificial” Latin, even when they oppose to this the dialectic, innate and living logos, represented by romances. Against central papal power and scholastic university monopoly, moderns' universe quantification legitimates the emerging Mercantile European nations' sovereigns, who funded the official academies of science. The language of Galileo's Book of Nature is absolutely divine, above clergymen disputes and qualitative Bible interpretations. But it denies any scientific validity to lay expression of truth, then obstructing SP. Considering this, SP emerges in Athena during 6th-5th centuries BC, when rhetoric makes private dialectic enter the public arena, governed by democratic choices. Aristotle secularizes philosophico-scientific truth, imputing it to a human speech act, explicitly ruled by systematic univocity (one word=one meaning), which until now distinguishes scientific from common language. Term definition imposes to bivalent determination of truth and its communication the selection of a single correct meaning among possible ones, prefiguring an information theory yet without statistics. Combined with writing and agonistic dialog, univocity perpetuates social order trough symbolic settlement. Contrary to oracular ambiguity and physical violence, it transmits and accumulates truth according to an ideal of lossless reproduction. It translates parts of profane discourse into impersonal and eternal symbols, equivalent to Pythagorean entities, immaterial and sacred. Demonstrated trough a speech act, these can be exchanged in the agora, as “purified” symbolic goods, between citizen “peers”. Truth possession turns publicly perceptible, “qualifying” layperson by his symbolic, spiritual, moral, cognitive, then social “deficit”. Still, logico-mathematical languages hide the linguistic markers (person, tense, modality) of the mortal actor who utters them. In the quantitative, historical and progressive perspective of Modernity, the expression of incommensurable experiences and truths becomes unified and predictable, universal replicas that can be incremented and capitalized as symbolic currencies. Once restricted to philosophers' voice reach, the ideal of reproduction is boosted by the mechanization of communication techniques. From printing to the signal of digital communication, truth is transmitted with decreasing physical loss, time and interval, to an always more numerous and distant public, while scientists socio-symbolic reproduction grows exponentially. Nevertheless, neither lossless communication nor naturally pre-segmented or a priori units of meaning have ever proven to exist in absolute, refuting any impassable linguistic differences between laypersons and scientists. Just as Hippasus of Metapontum in the Pythagorean legend indeed popularized the “imperfection” of irrational numbers, betraying the human origin of Science, today's hackers expose the flaws of the univocal computing language, which divides our “new” informational and technological order into the so-called immaterial and material societies.Submitted by Rachel Pereira (rachelprr@yahoo.com.br) on 2016-01-06T18:40:25Z No. of bitstreams: 1 Daniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf: 2050684 bytes, checksum: 8de8c55d9ee41a7f60baaee2c8d811a7 (MD5)Made available in DSpace on 2016-01-06T18:40:25Z (GMT). No. of bitstreams: 1 Daniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf: 2050684 bytes, checksum: 8de8c55d9ee41a7f60baaee2c8d811a7 (MD5) Previous issue date: 2014-04-07Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorporUniversidade Federal do Rio de Janeiro / Insitituto Brasileiro de Informação em Ciência e TecnologiaPrograma de Pós-Graduação em Ciência da InformaçãoUFRJ/ECO - IBICTBrasilCiência da InformaçãoCNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS::CIENCIA DA INFORMACAODivulgação científica; Barreira da linguagem; Linguagem científica; Capital simbólico; Univocidade;Tradução; Reprodução social; Popularization; Language barrier; Scientific language; Symbolic capital; Univocal meaning; Translation; Social reproduction.Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicasinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisMollica, Maria Cecíliahttp://lattes.cnpq.br/3739175536240285Leal, Marisa Beatriz Bezerrahttp://lattes.cnpq.br/6151093519229838Leta, Jacquelinehttp://lattes.cnpq.br/4133191475294218Loyola, Maria Andréahttp://lattes.cnpq.br/3680983040542024Mollica, Maria Cecília de Magalhãeshttp://lattes.cnpq.br/3739175536240285Leal, Marisa Beatriz Bezerrahttp://lattes.cnpq.br/6151093519229838Souza, Rosali Fernandez dehttp://lattes.cnpq.br/1722582102636346http://lattes.cnpq.br/9581919336679558Merigoux, Daniel Ribeiroinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional do IBICT - RIDIinstname:Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)instacron:IBICTORIGINALDaniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdfDaniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdfapplication/pdf2050684http://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/803/1/Daniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf8de8c55d9ee41a7f60baaee2c8d811a7MD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-81866http://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/803/2/license.txt43cd690d6a359e86c1fe3d5b7cba0c9bMD52TEXTDaniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf.txtDaniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf.txtExtracted texttext/plain1124192http://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/803/3/Daniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf.txt3bfa28c8b46a24379a71b79f8b31ad92MD53123456789/8032016-06-23 09:55:42.435oai:ridi.ibict.br:123456789/803TElDRU7Dh0EgREUgRElTVFJJQlVJw4fDg08gTsODTy1FWENMVVNJVkEKCkNvbSBhIGFwcmVzZW50YcOnw6NvIGRlc3RhIGxpY2Vuw6dhLCB2b2PDqiAobyBhdXRvciAoZXMpIG91IG8gdGl0dWxhciBkb3MgZGlyZWl0b3MgZGUgYXV0b3IpIGNvbmNlZGUgYW8gUmVwb3NpdMOzcmlvIApJbnN0aXR1Y2lvbmFsIG8gZGlyZWl0byBuw6NvLWV4Y2x1c2l2byBkZSByZXByb2R1emlyLCAgdHJhZHV6aXIgKGNvbmZvcm1lIGRlZmluaWRvIGFiYWl4byksIGUvb3UgZGlzdHJpYnVpciBhIApzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIChpbmNsdWluZG8gbyByZXN1bW8pIHBvciB0b2RvIG8gbXVuZG8gbm8gZm9ybWF0byBpbXByZXNzbyBlIGVsZXRyw7RuaWNvIGUgZW0gcXVhbHF1ZXIgbWVpbywgaW5jbHVpbmRvIG9zIApmb3JtYXRvcyDDoXVkaW8gb3UgdsOtZGVvLgoKVm9jw6ogY29uY29yZGEgcXVlIG8gRGVwb3NpdGEgcG9kZSwgc2VtIGFsdGVyYXIgbyBjb250ZcO6ZG8sIHRyYW5zcG9yIGEgc3VhIHB1YmxpY2HDp8OjbyBwYXJhIHF1YWxxdWVyIG1laW8gb3UgZm9ybWF0byAKcGFyYSBmaW5zIGRlIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiB0YW1iw6ltIGNvbmNvcmRhIHF1ZSBvIERlcG9zaXRhIHBvZGUgbWFudGVyIG1haXMgZGUgdW1hIGPDs3BpYSBkZSBzdWEgcHVibGljYcOnw6NvIHBhcmEgZmlucyBkZSBzZWd1cmFuw6dhLCBiYWNrLXVwIAplIHByZXNlcnZhw6fDo28uCgpWb2PDqiBkZWNsYXJhIHF1ZSBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gw6kgb3JpZ2luYWwgZSBxdWUgdm9jw6ogdGVtIG8gcG9kZXIgZGUgY29uY2VkZXIgb3MgZGlyZWl0b3MgY29udGlkb3MgbmVzdGEgbGljZW7Dp2EuIApWb2PDqiB0YW1iw6ltIGRlY2xhcmEgcXVlIG8gZGVww7NzaXRvIGRhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gbsOjbywgcXVlIHNlamEgZGUgc2V1IGNvbmhlY2ltZW50bywgaW5mcmluZ2UgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgCmRlIG5pbmd1w6ltLgoKQ2FzbyBhIHN1YSBwdWJsaWNhw6fDo28gY29udGVuaGEgbWF0ZXJpYWwgcXVlIHZvY8OqIG7Do28gcG9zc3VpIGEgdGl0dWxhcmlkYWRlIGRvcyBkaXJlaXRvcyBhdXRvcmFpcywgdm9jw6ogZGVjbGFyYSBxdWUgCm9idGV2ZSBhIHBlcm1pc3PDo28gaXJyZXN0cml0YSBkbyBkZXRlbnRvciBkb3MgZGlyZWl0b3MgYXV0b3JhaXMgcGFyYSBjb25jZWRlciBhbyBEZXBvc2l0YSBvcyBkaXJlaXRvcyBhcHJlc2VudGFkb3MgCm5lc3RhIGxpY2Vuw6dhLCBlIHF1ZSBlc3NlIG1hdGVyaWFsIGRlIHByb3ByaWVkYWRlIGRlIHRlcmNlaXJvcyBlc3TDoSBjbGFyYW1lbnRlIGlkZW50aWZpY2FkbyBlIHJlY29uaGVjaWRvIG5vIHRleHRvIApvdSBubyBjb250ZcO6ZG8gZGEgcHVibGljYcOnw6NvIG9yYSBkZXBvc2l0YWRhLgoKQ0FTTyBBIFBVQkxJQ0HDh8ODTyBPUkEgREVQT1NJVEFEQSBURU5IQSBTSURPIFJFU1VMVEFETyBERSBVTSBQQVRST0PDjU5JTyBPVSBBUE9JTyBERSBVTUEgQUfDik5DSUEgREUgRk9NRU5UTyBPVSBPVVRSTyAKT1JHQU5JU01PLCBWT0PDiiBERUNMQVJBIFFVRSBSRVNQRUlUT1UgVE9ET1MgRSBRVUFJU1FVRVIgRElSRUlUT1MgREUgUkVWSVPDg08gQ09NTyBUQU1Cw4lNIEFTIERFTUFJUyBPQlJJR0HDh8OVRVMgCkVYSUdJREFTIFBPUiBDT05UUkFUTyBPVSBBQ09SRE8uCgpPIERlcG9zaXRhIHNlIGNvbXByb21ldGUgYSBpZGVudGlmaWNhciBjbGFyYW1lbnRlIG8gc2V1IG5vbWUgKHMpIG91IG8ocykgbm9tZShzKSBkbyhzKSBkZXRlbnRvcihlcykgZG9zIGRpcmVpdG9zIAphdXRvcmFpcyBkYSBwdWJsaWNhw6fDo28sIGUgbsOjbyBmYXLDoSBxdWFscXVlciBhbHRlcmHDp8OjbywgYWzDqW0gZGFxdWVsYXMgY29uY2VkaWRhcyBwb3IgZXN0YSBsaWNlbsOnYS4KRepositório InstitucionalPUBhttps://ridi.ibict.br/oai/requestrd@ibict.bropendoar:24042016-06-23T12:55:42Repositório Institucional do IBICT - RIDI - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
title Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
spellingShingle Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
Merigoux, Daniel Ribeiro
CNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS::CIENCIA DA INFORMACAO
Divulgação científica; Barreira da linguagem; Linguagem científica; Capital simbólico; Univocidade;Tradução; Reprodução social; Popularization; Language barrier; Scientific language; Symbolic capital; Univocal meaning; Translation; Social reproduction.
title_short Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
title_full Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
title_fullStr Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
title_full_unstemmed Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
title_sort Divulgação científica, a barreira da linguagem: univocidade e acumulação de conhecimento, reprodução e desigualdades simbólicas
author Merigoux, Daniel Ribeiro
author_facet Merigoux, Daniel Ribeiro
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Mollica, Maria Cecília
dc.contributor.advisor1Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/3739175536240285
dc.contributor.advisor-co1.fl_str_mv Leal, Marisa Beatriz Bezerra
dc.contributor.advisor-co1Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/6151093519229838
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Leta, Jacqueline
dc.contributor.referee1Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/4133191475294218
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Loyola, Maria Andréa
dc.contributor.referee2Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/3680983040542024
dc.contributor.referee3.fl_str_mv Mollica, Maria Cecília de Magalhães
dc.contributor.referee3Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/3739175536240285
dc.contributor.referee4.fl_str_mv Leal, Marisa Beatriz Bezerra
dc.contributor.referee4Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/6151093519229838
dc.contributor.referee5.fl_str_mv Souza, Rosali Fernandez de
dc.contributor.referee5Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/1722582102636346
dc.contributor.authorLattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/9581919336679558
dc.contributor.author.fl_str_mv Merigoux, Daniel Ribeiro
contributor_str_mv Mollica, Maria Cecília
Leal, Marisa Beatriz Bezerra
Leta, Jacqueline
Loyola, Maria Andréa
Mollica, Maria Cecília de Magalhães
Leal, Marisa Beatriz Bezerra
Souza, Rosali Fernandez de
dc.subject.cnpq.fl_str_mv CNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS::CIENCIA DA INFORMACAO
topic CNPQ::CIENCIAS SOCIAIS APLICADAS::CIENCIA DA INFORMACAO
Divulgação científica; Barreira da linguagem; Linguagem científica; Capital simbólico; Univocidade;Tradução; Reprodução social; Popularization; Language barrier; Scientific language; Symbolic capital; Univocal meaning; Translation; Social reproduction.
dc.subject.por.fl_str_mv Divulgação científica; Barreira da linguagem; Linguagem científica; Capital simbólico; Univocidade;Tradução; Reprodução social; Popularization; Language barrier; Scientific language; Symbolic capital; Univocal meaning; Translation; Social reproduction.
description A existência de uma barreira da linguagem, transponível por uma “tradução” em que se perde a verdade pura, justifica geralmente a Divulgação Científica (DC). Problematizamos esse pressuposto retraçando as diferenças teóricas entre as linguagens ditas científica e leiga, bem como sua construção sócio-histórica. Concebemos a DC como parte de uma Comunicação Científica estendida, intra e extrapares, na perspectiva da acumulação de conhecimento, pautados mormente pelos conceitos de reprodução e capital simbólico de Bourdieu. Apreendemos cientista e leigo como atores comparáveis, embora socialmente distintos, recusando qualquer separação a priori, absoluta, natural ou anistórica entre eles. Os primórdios da DC são geralmente datados dos diálogos de Galileu e Fontenelle no século 17. Mas os modernos defendem primeiro o sigilo. Herdeiros do “Mênon” de Platão, aderem a uma filosofia pitagórica tão restrita ao par quanto o “artificial” latim, mesmo quando opõem a este o logos inato, vivo e dialético, representado pelos romances. Contra o poder central papal e o monopólio escolástico das universidades, a quantificação moderna do mundo legitimava os soberanos das nações europeias mercantilistas nascentes, patrocinadores das academias científicas oficiais. A linguagem do Livro da Natureza de Galileu é absolutamente divina: afirma um universo unificado e unívoco, acima das disputas clericais e interpretações qualitativas da Bíblia, mas nega à expressão leiga qualquer verdade científica, inviabilizando a Divulgação. Em vista disso, a DC surge na Atenas dos séculos 5 e 4 a.C., quando a retórica faz a dialética privada entrar na arena pública, governada por escolhas democráticas. Aristóteles seculariza a verdade filosófico-científica, imputando-a a um ato de fala humano, explicitamente regrado pela univocidade sistemática (uma palavra=um sentido), a qual distingue até hoje a linguagem científica da leiga. A definição do Termo impõe à determinação bivalente da verdade tanto quanto à sua comunicação a seleção de um único sentido correto entre aqueles possíveis, prefigurando uma teoria da informação, sem estatísticas. Associada à escrita e ao dialógico agonístico, a univocidade perpetua a ordem social pelo desempate e acerto simbólicos. Oposta à violência física e ambiguidade oraculares, transmite a verdade segundo um ideal de reprodução sem perda. Traduz partes do discurso profano em símbolos impessoais eternos, equivalentes às entidades pitagóricas imateriais e sagradas. Essas, demostradas pelo ato de fala, podem ser trocadas na ágora como bens simbólicos “purificados” entre cidadãos “pares”. A posse da verdade torna-se publicamente perceptível, “qualificando” o leigo pelo “déficit” simbólico, espiritual, moral, cognitivo, social. As linguagens lógico-matemáticas seguem ocultando as marcas linguísticas (pessoa, tempo e modalidade) do ator mortal que as profere. Na perspectiva quantitativa, histórica e progressista da Modernidade, a expressão da experiência e verdades antes incomensuráveis, torna-se unificada, previsível, replicável, incrementável, universal e capitalizável como divisas simbólicas. Antes portado apenas pela voz do filósofo, o ideal de reprodução é impulsado pela mecanização dos meios de comunicação: desde a imprensa até o sinal da comunicação digital, a verdade transmite-se com menor perda física, tempo e intervalo, a um público sempre mais numeroso e distante, enquanto a reprodução sócio-simbólica do cientista cresce exponencialmente. Contudo, nunca foram comprovadas a existência de uma comunicação absolutamente sem perda ou de uma unidade de sentido a priori ou naturalmente présegmentada, refutando uma diferença linguística irreversível entre científicos e leigos. Como o Hípaso de Metaponte da lenda pitagórica, divulgador efetivo da “imperfeição” dos números irracionais e origem humana da ciência, hoje os hackers expõem as falhas da linguagem computacional unívoca, a qual separa as sociedades ditas imaterial e material na “nova” ordem tecnológica informacional.
publishDate 2014
dc.date.issued.fl_str_mv 2014-04-07
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2016-01-06T18:40:25Z
dc.date.available.fl_str_mv 2016-01-06
2016-01-06T18:40:25Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://ridi.ibict.br/handle/123456789/803
url http://ridi.ibict.br/handle/123456789/803
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Rio de Janeiro / Insitituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
dc.publisher.program.fl_str_mv Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFRJ/ECO - IBICT
dc.publisher.country.fl_str_mv Brasil
dc.publisher.department.fl_str_mv Ciência da Informação
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal do Rio de Janeiro / Insitituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional do IBICT - RIDI
instname:Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
instacron:IBICT
instname_str Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
instacron_str IBICT
institution IBICT
reponame_str Repositório Institucional do IBICT - RIDI
collection Repositório Institucional do IBICT - RIDI
bitstream.url.fl_str_mv http://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/803/1/Daniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf
http://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/803/2/license.txt
http://ridi.ibict.br/bitstream/123456789/803/3/Daniel-Merigoux-Tese-de-doutorado.entregue-gravado-cd.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 8de8c55d9ee41a7f60baaee2c8d811a7
43cd690d6a359e86c1fe3d5b7cba0c9b
3bfa28c8b46a24379a71b79f8b31ad92
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional do IBICT - RIDI - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT)
repository.mail.fl_str_mv rd@ibict.br
_version_ 1793251961391284224