Shifts in the European shag diet along the Portuguese coast

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Corona, Luana Santos
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: eng
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.1/17834
Resumo: A galheta, ou corvo-marinho-de-crista Gulosus aristotelis é uma ave marinha residente em Portugal Continental, especialmente em habitats costeiros. Apesar de ser uma espécie com uma ampla distribuição na Europa, a menor densidade populacional em Portugal torna-a classificada como espécie vulnerável a nível nacional. O núcleo reprodutor mais importante localiza-se no Arquipélago das Berlengas, onde se estima que existam mais de 60 casais. Porém estas aves apresentam outras populações mais ao sul do país, como em Sagres e Sesimbra. Para além dos elevados valores de conservação com a criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMP's), a costa portuguesa é também um importante local de actividades antropogénicas como a pesca comercial e o turismo, o que torna a interacção entre humanos e aves mais expressiva e perigosa. Estudos baseados na composição da dieta dos principais predadores, como as aves marinhas, podem indicar a qualidade do ambiente, dando uma resposta indireta da riqueza, a abundância de espécies, a relação entre a composição do habitat e as espécies. Para investigar a dieta alimentar da galheta ao longo da costa, foram seleccionadas três Áreas Marinhas Protegidas (AMP), nomeadamente a Reserva Natural das Berlengas, o Parque Marinho da Arrábida e o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. O objectivo geral do presente trabalho foi caracterizar a dieta das populações de galhetas em três locais designados como AMP na costa portuguesa e avaliar se a dieta da população nacional apresenta uma variação espacial ao longo da sua distribuição. Para isso, foi realizada (i) a análise morfológica e molecular da dieta por meio da coleta de regurgitações / egagrópilas; (ii) a comparação de possíveis variações espaciais da dieta associadas a diferentes habitats e, (iii) a caracterização da comunidade de peixes presente em cada área. Das 25 espécies consumidas pelas galhetas, 75% foram encontradas na dieta da subpopulação das Berlengas, sendo considerada a dieta mais diversa comparativamente às outras duas. Apesar da grande riqueza, 57% da biomassa total encontrava-se na Arrábida. As principais presas da dieta em geral foram a galeota Ammodytidae, o peixe-rei Atherina presbyter e espécies da família Labridae. Este resultado corroborou os estudos anteriores realizados sobre a população de galhetas no Atlântico Norte e na Península Ibérica, os quais revelaram uma plasticidade na dieta da galheta, sendo a galeota (Ammodytidae) a presa mais numerosa e frequente. A respeito da variação espacial, o presente estudo não apontou diferenças estatisticamente relevantes na composição de presas. Porém, foi possível observar que Ammodytidae foi o grupo mais abundante (63,2%) na dieta da população da Arrábida, enquanto nas Berlengas foi Atherina presbyter o peixe-rei (25%) e em Sagres foram os sargos Diplodus sp (33%) e o peixe-rei Coris julis (22,2%). Esta variação pode ser reflexo da diferente disponibilidade de presas em locais distintos. A contribuição de biomassa e o tamanho médio dos indivíduos das quatro espécies mais representativas variaram: Ammodytidae teve a sua maior biomassa e tamanho médio registados na Arrábida, enquanto nas Berlengas foram a piarda, o peixe-rei e o peixe-aranha Echiichthys vipera. Estes resultados são típicos de uma espécie com comportamento oportunista e generalista, com uma dieta de grande plasticidade variando de presas demersais a pelágicas. Devido à pequena amostra, Sagres não foi considerada fiável em termos comparativos e a sua abundância e diversidade de espécies parecem ter sido subestimadas. Apesar disso, uma experiência piloto com barcoding confirmou a presença de peixe-rei na dieta da subpopulação de Sagres. Apesar da galeota ter sido em geral a presa com maior importância relativa na dieta da população das galhetas em Portugal, nas Berlengas este não foi o grupo predominante, mas sim o peixe-rei, um pequeno peixe pelágico. Este resultado contrasta com estudos realizados em anos anteriores. Apesar de não ter sido testado estatisticamente, sugerimos a hipótese de que possa haver uma variação interanual na disponibilidade de presas. Esta flutuação interanual já foi registada no Atlântico Norte e Península Ibérica, onde há três décadas o consumo de galeotas pelas aves vem sendo reduzido, enquanto o consumo de Gadidae, Gobidae e Labridae aumentaram. Já se sabe que a disponibilidade de presas varia sazonalmente ao longo do ciclo anual das espécies-presa, mas com as mudanças climáticas e a sobrepesca, a tendência é que a disponibilidade de presas seja continuamente alterada, e as dinâmicas das aves sejam afetadas a longo prazo. Numa perspectiva de curto prazo, são esperadas mudanças no comportamento alimentar (por exemplo, substituições na preferência das presas, uso da pesca para detectar maiores abundâncias de presas) e sucesso reprodutivo das aves devido às variações sazonais na disponibilidade das presas. A longo prazo, as mudanças na distribuição das presas e baixo recrutamento de galeotas e pequenos peixes pelágicos, devido à pesca excessiva e mudanças ambientais, tendem a reduzir drasticamente as populações de predadores, a nível global. A captura acidental em artes de pesca é outra ameaça que tem vindo a afectar significativamente a sobrevivência de diversas populações de aves marinhas, incluindo a galheta. Neste estudo foi registada a presença de um material semelhante a linha de pesca numa única amostra, indicando que em Portugal também esta população se encontra vulnerável a tal ameaça. Apesar de ser apenas um registo, estudos continuados e detalhados são necessários para analisar se há um aumento no efeito potencial das interações entre galhetas e a pesca comercial. O nosso estudo é o primeiro a descrever a composição da dieta da galheta na Arrábida e a fornecer informações preliminares sobre a dieta em Sagres. A alta contribuição, em geral, da galeota e do peixe-rei coincide com os registos anteriores em populações do Atlântico Norte e Peninsula Ibérica. Assumindo que as dietas das populações de galhetas no Mediterrâneo são compostas pelas famílias Labridae e Trachinidae, existe a possibilidade de que as populações mais ao sul de Portugal tenham um padrão alimentar semelhante às do Mediterrâneo. De forma a aprofundar a posição trófica destas populações localizadas geograficamente numa zona intermédia é imprescindível que que se mantenha a monitorização e análise das dietas destas populações, incidindo ao longo de todo o ciclo reprodutor da galheta em anos sucessivos, a fim de verificar possíveis mudanças temporais na disponibilidade de presas e as suas consequências para a dinâmica das populações da galheta. Sabendo que a identificação por otólitos está sujeita a erros devido aos seus processos erosivos e ao seu tamanho reduzido, uma abordagem holística considerando também DNA barcoding parece ser uma estratégia para tentar superar esse obstáculo.
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Para além dos elevados valores de conservação com a criação de Áreas Marinhas Protegidas (AMP's), a costa portuguesa é também um importante local de actividades antropogénicas como a pesca comercial e o turismo, o que torna a interacção entre humanos e aves mais expressiva e perigosa. Estudos baseados na composição da dieta dos principais predadores, como as aves marinhas, podem indicar a qualidade do ambiente, dando uma resposta indireta da riqueza, a abundância de espécies, a relação entre a composição do habitat e as espécies. Para investigar a dieta alimentar da galheta ao longo da costa, foram seleccionadas três Áreas Marinhas Protegidas (AMP), nomeadamente a Reserva Natural das Berlengas, o Parque Marinho da Arrábida e o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. O objectivo geral do presente trabalho foi caracterizar a dieta das populações de galhetas em três locais designados como AMP na costa portuguesa e avaliar se a dieta da população nacional apresenta uma variação espacial ao longo da sua distribuição. Para isso, foi realizada (i) a análise morfológica e molecular da dieta por meio da coleta de regurgitações / egagrópilas; (ii) a comparação de possíveis variações espaciais da dieta associadas a diferentes habitats e, (iii) a caracterização da comunidade de peixes presente em cada área. Das 25 espécies consumidas pelas galhetas, 75% foram encontradas na dieta da subpopulação das Berlengas, sendo considerada a dieta mais diversa comparativamente às outras duas. Apesar da grande riqueza, 57% da biomassa total encontrava-se na Arrábida. As principais presas da dieta em geral foram a galeota Ammodytidae, o peixe-rei Atherina presbyter e espécies da família Labridae. Este resultado corroborou os estudos anteriores realizados sobre a população de galhetas no Atlântico Norte e na Península Ibérica, os quais revelaram uma plasticidade na dieta da galheta, sendo a galeota (Ammodytidae) a presa mais numerosa e frequente. A respeito da variação espacial, o presente estudo não apontou diferenças estatisticamente relevantes na composição de presas. Porém, foi possível observar que Ammodytidae foi o grupo mais abundante (63,2%) na dieta da população da Arrábida, enquanto nas Berlengas foi Atherina presbyter o peixe-rei (25%) e em Sagres foram os sargos Diplodus sp (33%) e o peixe-rei Coris julis (22,2%). Esta variação pode ser reflexo da diferente disponibilidade de presas em locais distintos. A contribuição de biomassa e o tamanho médio dos indivíduos das quatro espécies mais representativas variaram: Ammodytidae teve a sua maior biomassa e tamanho médio registados na Arrábida, enquanto nas Berlengas foram a piarda, o peixe-rei e o peixe-aranha Echiichthys vipera. Estes resultados são típicos de uma espécie com comportamento oportunista e generalista, com uma dieta de grande plasticidade variando de presas demersais a pelágicas. Devido à pequena amostra, Sagres não foi considerada fiável em termos comparativos e a sua abundância e diversidade de espécies parecem ter sido subestimadas. Apesar disso, uma experiência piloto com barcoding confirmou a presença de peixe-rei na dieta da subpopulação de Sagres. Apesar da galeota ter sido em geral a presa com maior importância relativa na dieta da população das galhetas em Portugal, nas Berlengas este não foi o grupo predominante, mas sim o peixe-rei, um pequeno peixe pelágico. Este resultado contrasta com estudos realizados em anos anteriores. Apesar de não ter sido testado estatisticamente, sugerimos a hipótese de que possa haver uma variação interanual na disponibilidade de presas. Esta flutuação interanual já foi registada no Atlântico Norte e Península Ibérica, onde há três décadas o consumo de galeotas pelas aves vem sendo reduzido, enquanto o consumo de Gadidae, Gobidae e Labridae aumentaram. Já se sabe que a disponibilidade de presas varia sazonalmente ao longo do ciclo anual das espécies-presa, mas com as mudanças climáticas e a sobrepesca, a tendência é que a disponibilidade de presas seja continuamente alterada, e as dinâmicas das aves sejam afetadas a longo prazo. Numa perspectiva de curto prazo, são esperadas mudanças no comportamento alimentar (por exemplo, substituições na preferência das presas, uso da pesca para detectar maiores abundâncias de presas) e sucesso reprodutivo das aves devido às variações sazonais na disponibilidade das presas. A longo prazo, as mudanças na distribuição das presas e baixo recrutamento de galeotas e pequenos peixes pelágicos, devido à pesca excessiva e mudanças ambientais, tendem a reduzir drasticamente as populações de predadores, a nível global. A captura acidental em artes de pesca é outra ameaça que tem vindo a afectar significativamente a sobrevivência de diversas populações de aves marinhas, incluindo a galheta. Neste estudo foi registada a presença de um material semelhante a linha de pesca numa única amostra, indicando que em Portugal também esta população se encontra vulnerável a tal ameaça. Apesar de ser apenas um registo, estudos continuados e detalhados são necessários para analisar se há um aumento no efeito potencial das interações entre galhetas e a pesca comercial. O nosso estudo é o primeiro a descrever a composição da dieta da galheta na Arrábida e a fornecer informações preliminares sobre a dieta em Sagres. A alta contribuição, em geral, da galeota e do peixe-rei coincide com os registos anteriores em populações do Atlântico Norte e Peninsula Ibérica. Assumindo que as dietas das populações de galhetas no Mediterrâneo são compostas pelas famílias Labridae e Trachinidae, existe a possibilidade de que as populações mais ao sul de Portugal tenham um padrão alimentar semelhante às do Mediterrâneo. De forma a aprofundar a posição trófica destas populações localizadas geograficamente numa zona intermédia é imprescindível que que se mantenha a monitorização e análise das dietas destas populações, incidindo ao longo de todo o ciclo reprodutor da galheta em anos sucessivos, a fim de verificar possíveis mudanças temporais na disponibilidade de presas e as suas consequências para a dinâmica das populações da galheta. Sabendo que a identificação por otólitos está sujeita a erros devido aos seus processos erosivos e ao seu tamanho reduzido, uma abordagem holística considerando também DNA barcoding parece ser uma estratégia para tentar superar esse obstáculo.The European Shag Gulosus aristotelis is a seabird resident in mainland Portugal. The diet composition of shags and its spatial variation among marine protected areas (the Berlengas Nature Reserve, the Marine Park of the Arrábida Natural Park and the Southwest Alentejo and Costa Vicentina Natural Park) were studied through morphological and molecular analysis of regurgitated pellets. A total of 29 fish species were identified, with 75% of them present in the Berlengas. Despite the great richness of Berlengas, 57% of the total biomass was comprised in Arrábida. The major prey of the diet were sand eels Ammodytidae, sand smelt Atherina presbyter and species from the Labridae family. Sand eels were the most abundant (63.2%) in the diet at Arrábida, while in the Berlengas it was sand smelt (25%) and in Sagres were Diplodus sp (33%) and Mediterranean rainbow wrasse Coris julis (22,2%). The biomass contribution and mean size of the four most representative species varied: Ammodytidae had its highest biomass and mean size recorded in Arrábida, while Berlengas had the largest sand smelt, Mediterranean rainbow wrasse and the lesser wrasse Echiichthys vipera. Our study characterised the shag as opportunistic, with a broad plasticity diet ranging from demersal to pelagic species. Due to the small sample size from Sagres, species abundance and diversity were underestimated and not comparable, but a pilot test using DNA barcoding confirmed Mediterranean rainbow wrasse there. This is the first description of diet composition of the European shag in Arrábida and preliminary information about it in Sagres. The high contribution of sand eels and sand smelt coincides with previous records in North Atlantic populations. Assuming that the diets of shag populations in the Mediterranean are composed of Labridae and Trachinidae families, we raise the hypothesis that the southernmost shags of Portugal have a feeding pattern similar to the Mediterranean ones.Serrão, EsterErzini, KarimOliveira, NunoSapientiaCorona, Luana Santos2022-05-31T14:10:56Z2021-11-182021-11-18T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.1/17834TID:202910946enginfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-07-24T10:30:05Zoai:sapientia.ualg.pt:10400.1/17834Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T20:07:43.438625Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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Estudos baseados na composição da dieta dos principais predadores, como as aves marinhas, podem indicar a qualidade do ambiente, dando uma resposta indireta da riqueza, a abundância de espécies, a relação entre a composição do habitat e as espécies. Para investigar a dieta alimentar da galheta ao longo da costa, foram seleccionadas três Áreas Marinhas Protegidas (AMP), nomeadamente a Reserva Natural das Berlengas, o Parque Marinho da Arrábida e o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina. O objectivo geral do presente trabalho foi caracterizar a dieta das populações de galhetas em três locais designados como AMP na costa portuguesa e avaliar se a dieta da população nacional apresenta uma variação espacial ao longo da sua distribuição. 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A respeito da variação espacial, o presente estudo não apontou diferenças estatisticamente relevantes na composição de presas. Porém, foi possível observar que Ammodytidae foi o grupo mais abundante (63,2%) na dieta da população da Arrábida, enquanto nas Berlengas foi Atherina presbyter o peixe-rei (25%) e em Sagres foram os sargos Diplodus sp (33%) e o peixe-rei Coris julis (22,2%). Esta variação pode ser reflexo da diferente disponibilidade de presas em locais distintos. A contribuição de biomassa e o tamanho médio dos indivíduos das quatro espécies mais representativas variaram: Ammodytidae teve a sua maior biomassa e tamanho médio registados na Arrábida, enquanto nas Berlengas foram a piarda, o peixe-rei e o peixe-aranha Echiichthys vipera. Estes resultados são típicos de uma espécie com comportamento oportunista e generalista, com uma dieta de grande plasticidade variando de presas demersais a pelágicas. Devido à pequena amostra, Sagres não foi considerada fiável em termos comparativos e a sua abundância e diversidade de espécies parecem ter sido subestimadas. Apesar disso, uma experiência piloto com barcoding confirmou a presença de peixe-rei na dieta da subpopulação de Sagres. Apesar da galeota ter sido em geral a presa com maior importância relativa na dieta da população das galhetas em Portugal, nas Berlengas este não foi o grupo predominante, mas sim o peixe-rei, um pequeno peixe pelágico. Este resultado contrasta com estudos realizados em anos anteriores. Apesar de não ter sido testado estatisticamente, sugerimos a hipótese de que possa haver uma variação interanual na disponibilidade de presas. Esta flutuação interanual já foi registada no Atlântico Norte e Península Ibérica, onde há três décadas o consumo de galeotas pelas aves vem sendo reduzido, enquanto o consumo de Gadidae, Gobidae e Labridae aumentaram. Já se sabe que a disponibilidade de presas varia sazonalmente ao longo do ciclo anual das espécies-presa, mas com as mudanças climáticas e a sobrepesca, a tendência é que a disponibilidade de presas seja continuamente alterada, e as dinâmicas das aves sejam afetadas a longo prazo. Numa perspectiva de curto prazo, são esperadas mudanças no comportamento alimentar (por exemplo, substituições na preferência das presas, uso da pesca para detectar maiores abundâncias de presas) e sucesso reprodutivo das aves devido às variações sazonais na disponibilidade das presas. A longo prazo, as mudanças na distribuição das presas e baixo recrutamento de galeotas e pequenos peixes pelágicos, devido à pesca excessiva e mudanças ambientais, tendem a reduzir drasticamente as populações de predadores, a nível global. A captura acidental em artes de pesca é outra ameaça que tem vindo a afectar significativamente a sobrevivência de diversas populações de aves marinhas, incluindo a galheta. Neste estudo foi registada a presença de um material semelhante a linha de pesca numa única amostra, indicando que em Portugal também esta população se encontra vulnerável a tal ameaça. Apesar de ser apenas um registo, estudos continuados e detalhados são necessários para analisar se há um aumento no efeito potencial das interações entre galhetas e a pesca comercial. O nosso estudo é o primeiro a descrever a composição da dieta da galheta na Arrábida e a fornecer informações preliminares sobre a dieta em Sagres. A alta contribuição, em geral, da galeota e do peixe-rei coincide com os registos anteriores em populações do Atlântico Norte e Peninsula Ibérica. Assumindo que as dietas das populações de galhetas no Mediterrâneo são compostas pelas famílias Labridae e Trachinidae, existe a possibilidade de que as populações mais ao sul de Portugal tenham um padrão alimentar semelhante às do Mediterrâneo. De forma a aprofundar a posição trófica destas populações localizadas geograficamente numa zona intermédia é imprescindível que que se mantenha a monitorização e análise das dietas destas populações, incidindo ao longo de todo o ciclo reprodutor da galheta em anos sucessivos, a fim de verificar possíveis mudanças temporais na disponibilidade de presas e as suas consequências para a dinâmica das populações da galheta. Sabendo que a identificação por otólitos está sujeita a erros devido aos seus processos erosivos e ao seu tamanho reduzido, uma abordagem holística considerando também DNA barcoding parece ser uma estratégia para tentar superar esse obstáculo.
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