Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mendes, Felismina R. P.
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Artigo de conferência
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/16619
Resumo: O objetivo desta reflexão são os movimentos sociais que, em tempos recentes, se afirmaram na rua, em Portugal. Os últimos três ou quatro anos foram marcados por movimentos sociais de protesto, ancorados na indignação resultante de tensões sociais que se acumularam paulatinamente, fruto quer da crise financeira global, quer dos fenómenos inerentes às mudanças do mercado de trabalho, quer ainda das consequências da globalização. A classe média e os jovens foram os principais protagonistas destas vagas de contestação social, onde a afirmação da cidadania se fez ouvir para defender direitos suprimidos, para lutar contra o aumento das desigualdades sociais, da ineficácia das instituições e das políticas públicas, contra o desmoronamento do Estado Social, para dar voz ao descontentamento face aos partidos e à democracia representativa e para contestar a precarização laboral. Estes movimentos fizeram Portugal acordar para uma realidade diferente. A tradicional passividade e individualismo acrítico, deu lugar à contestação e à adesão aos movimentos de rua, onde se expressava a indignação pública contra o “estado das coisas”. Estes movimentos caracterizavam-se pela sua natureza difusa, ausência de orientação ideológica e forte presença nas, e das redes sociais. Na ausência de enquadramento político e de objetivos claros, estes movimentos guiavam-se mais por impulsos contestatários do que por uma orientação política definida. A este fato não é alheia a desconfiança inicial que geraram em termos de adesão, sobretudo daqueles que sempre se acostumaram a ver enquadrada politicamente a sua ação de protesto. No entanto, o espaço e interesse mediático que alcançaram, associados à indignação contra uma causa comum, fizerem destes movimentos uma expressão viva e máxima da democracia participativa. Os movimentos e ações contestatárias são uma consequência da democracia e quanto mais se democratiza um país, mais cidadãos haverá falando dos seus problemas em locais não tradicionais da política. A justificação para a forte adesão e participação dos vários setores da sociedade, nestes movimentos, deveu-se à sua mensagem clara, objetiva e transversal (classes sociais, grupos etárias e profissionais), que espelhava um desagrado comum a todos. Também a prática discursiva das mensagens políticas das manifestações contribuiu para o forte impacto das mesmas ao tornarem coletivo o individual, numa expressão conjunta de valores, ideais comuns ou apenas de indignações partilhadas (Alves, 2013). Nesta expressão de cidadania as mensagens contrastavam com o discurso político tradicional sempre pautado pela regularidade, previsibilidade e coerência discursiva. As temáticas dominantes dirigiam-se para as questões mais abrangentes da vida social e incluíam referências de natureza extra-política, através de um discurso direto e assertivo, ao qual ninguém ficava indiferente. No entanto para Estanque, “se ficou claro o desejo de defenderem a coesão e a justiça social, também ficaram latentes os sentimentos de insatisfação individual e de realização do sonho consumista por cumprir, ou que foi inesperadamente defraudado” (Estanque, 2014: 76).
id RCAP_5f383616c042c19e60450f0a57c7bddb
oai_identifier_str oai:dspace.uevora.pt:10174/16619
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).Movimentos sociaiscidadaniaO objetivo desta reflexão são os movimentos sociais que, em tempos recentes, se afirmaram na rua, em Portugal. Os últimos três ou quatro anos foram marcados por movimentos sociais de protesto, ancorados na indignação resultante de tensões sociais que se acumularam paulatinamente, fruto quer da crise financeira global, quer dos fenómenos inerentes às mudanças do mercado de trabalho, quer ainda das consequências da globalização. A classe média e os jovens foram os principais protagonistas destas vagas de contestação social, onde a afirmação da cidadania se fez ouvir para defender direitos suprimidos, para lutar contra o aumento das desigualdades sociais, da ineficácia das instituições e das políticas públicas, contra o desmoronamento do Estado Social, para dar voz ao descontentamento face aos partidos e à democracia representativa e para contestar a precarização laboral. Estes movimentos fizeram Portugal acordar para uma realidade diferente. A tradicional passividade e individualismo acrítico, deu lugar à contestação e à adesão aos movimentos de rua, onde se expressava a indignação pública contra o “estado das coisas”. Estes movimentos caracterizavam-se pela sua natureza difusa, ausência de orientação ideológica e forte presença nas, e das redes sociais. Na ausência de enquadramento político e de objetivos claros, estes movimentos guiavam-se mais por impulsos contestatários do que por uma orientação política definida. A este fato não é alheia a desconfiança inicial que geraram em termos de adesão, sobretudo daqueles que sempre se acostumaram a ver enquadrada politicamente a sua ação de protesto. No entanto, o espaço e interesse mediático que alcançaram, associados à indignação contra uma causa comum, fizerem destes movimentos uma expressão viva e máxima da democracia participativa. Os movimentos e ações contestatárias são uma consequência da democracia e quanto mais se democratiza um país, mais cidadãos haverá falando dos seus problemas em locais não tradicionais da política. A justificação para a forte adesão e participação dos vários setores da sociedade, nestes movimentos, deveu-se à sua mensagem clara, objetiva e transversal (classes sociais, grupos etárias e profissionais), que espelhava um desagrado comum a todos. Também a prática discursiva das mensagens políticas das manifestações contribuiu para o forte impacto das mesmas ao tornarem coletivo o individual, numa expressão conjunta de valores, ideais comuns ou apenas de indignações partilhadas (Alves, 2013). Nesta expressão de cidadania as mensagens contrastavam com o discurso político tradicional sempre pautado pela regularidade, previsibilidade e coerência discursiva. As temáticas dominantes dirigiam-se para as questões mais abrangentes da vida social e incluíam referências de natureza extra-política, através de um discurso direto e assertivo, ao qual ninguém ficava indiferente. No entanto para Estanque, “se ficou claro o desejo de defenderem a coesão e a justiça social, também ficaram latentes os sentimentos de insatisfação individual e de realização do sonho consumista por cumprir, ou que foi inesperadamente defraudado” (Estanque, 2014: 76).2016-01-13T17:41:24Z2016-01-132015-11-25T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/conferenceObjecthttp://hdl.handle.net/10174/16619http://hdl.handle.net/10174/16619porMendes, F. R.P. (20015). Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013). Simpósio: Movimentos e Intervenção Social: Incidência sobre a TRS. IX Jornada Internacional sobre Representações Sociais – JIRS e VII Conferência Brasileira sobre Representações Sociais – CBRS, (dia 25) 24 a 27 de novembro de 2015, UFPI e UNINOVAFAPI, Teresina/Piaui/BR.http://www.jirs2015.com.br/index.php/pt/programacao-cientificanaonaonaofm@uevora.pt273Mendes, Felismina R. P.info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-01-03T19:03:32Zoai:dspace.uevora.pt:10174/16619Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T01:08:58.338520Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
title Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
spellingShingle Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
Mendes, Felismina R. P.
Movimentos sociais
cidadania
title_short Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
title_full Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
title_fullStr Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
title_full_unstemmed Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
title_sort Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013).
author Mendes, Felismina R. P.
author_facet Mendes, Felismina R. P.
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Mendes, Felismina R. P.
dc.subject.por.fl_str_mv Movimentos sociais
cidadania
topic Movimentos sociais
cidadania
description O objetivo desta reflexão são os movimentos sociais que, em tempos recentes, se afirmaram na rua, em Portugal. Os últimos três ou quatro anos foram marcados por movimentos sociais de protesto, ancorados na indignação resultante de tensões sociais que se acumularam paulatinamente, fruto quer da crise financeira global, quer dos fenómenos inerentes às mudanças do mercado de trabalho, quer ainda das consequências da globalização. A classe média e os jovens foram os principais protagonistas destas vagas de contestação social, onde a afirmação da cidadania se fez ouvir para defender direitos suprimidos, para lutar contra o aumento das desigualdades sociais, da ineficácia das instituições e das políticas públicas, contra o desmoronamento do Estado Social, para dar voz ao descontentamento face aos partidos e à democracia representativa e para contestar a precarização laboral. Estes movimentos fizeram Portugal acordar para uma realidade diferente. A tradicional passividade e individualismo acrítico, deu lugar à contestação e à adesão aos movimentos de rua, onde se expressava a indignação pública contra o “estado das coisas”. Estes movimentos caracterizavam-se pela sua natureza difusa, ausência de orientação ideológica e forte presença nas, e das redes sociais. Na ausência de enquadramento político e de objetivos claros, estes movimentos guiavam-se mais por impulsos contestatários do que por uma orientação política definida. A este fato não é alheia a desconfiança inicial que geraram em termos de adesão, sobretudo daqueles que sempre se acostumaram a ver enquadrada politicamente a sua ação de protesto. No entanto, o espaço e interesse mediático que alcançaram, associados à indignação contra uma causa comum, fizerem destes movimentos uma expressão viva e máxima da democracia participativa. Os movimentos e ações contestatárias são uma consequência da democracia e quanto mais se democratiza um país, mais cidadãos haverá falando dos seus problemas em locais não tradicionais da política. A justificação para a forte adesão e participação dos vários setores da sociedade, nestes movimentos, deveu-se à sua mensagem clara, objetiva e transversal (classes sociais, grupos etárias e profissionais), que espelhava um desagrado comum a todos. Também a prática discursiva das mensagens políticas das manifestações contribuiu para o forte impacto das mesmas ao tornarem coletivo o individual, numa expressão conjunta de valores, ideais comuns ou apenas de indignações partilhadas (Alves, 2013). Nesta expressão de cidadania as mensagens contrastavam com o discurso político tradicional sempre pautado pela regularidade, previsibilidade e coerência discursiva. As temáticas dominantes dirigiam-se para as questões mais abrangentes da vida social e incluíam referências de natureza extra-política, através de um discurso direto e assertivo, ao qual ninguém ficava indiferente. No entanto para Estanque, “se ficou claro o desejo de defenderem a coesão e a justiça social, também ficaram latentes os sentimentos de insatisfação individual e de realização do sonho consumista por cumprir, ou que foi inesperadamente defraudado” (Estanque, 2014: 76).
publishDate 2015
dc.date.none.fl_str_mv 2015-11-25T00:00:00Z
2016-01-13T17:41:24Z
2016-01-13
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/conferenceObject
format conferenceObject
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10174/16619
http://hdl.handle.net/10174/16619
url http://hdl.handle.net/10174/16619
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv Mendes, F. R.P. (20015). Os Movimentos Sociais de Constestação de Rua e as Grandoladas em Portugal (2011-2013). Simpósio: Movimentos e Intervenção Social: Incidência sobre a TRS. IX Jornada Internacional sobre Representações Sociais – JIRS e VII Conferência Brasileira sobre Representações Sociais – CBRS, (dia 25) 24 a 27 de novembro de 2015, UFPI e UNINOVAFAPI, Teresina/Piaui/BR.
http://www.jirs2015.com.br/index.php/pt/programacao-cientifica
nao
nao
nao
fm@uevora.pt
273
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799136572443983872