A serpente e o bezerro: a idolatria como patologia simbólica. Um ponto de vista bíblico
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2020 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10400.14/32476 |
Resumo: | A perspetiva bíblica sobre o estatuto epistemológico e ético do simbolismo mimético e da sua pertinência – e impertinência – artística e religiosa é discutida a partir da análise cruzada de duas narrativas maiores do Pentateuco (adoração do bezerro de ouro [Ex 32: 1‑20; Dt 9: 15‑29] e exibição da serpente de bronze [Nr 21: 4‑10]). Ao descartar como reducionista a contraposição tradicional entre iconoclastia judaica e iconofilia cristã, evidencia‑se que o tabu bíblico das imagens do divino não é recusa absoluta do mimetismo (como conversão analógica dos conteúdos da experiência na sua representação), mas condenação da sua degeneração idolátrica (que ocorre no caso do mimetismo fetichista, pseudodenotativo, incapaz de distinguir entre significado e referente, entre conteúdo semântico e realidade) e mitológica (na sua assunção como discurso exclusivo e totalizador, substitutivo do saber teorético da verdade). O artigo apresenta os seguintes traços fundamentais da significação simbólica reconstruídos pelo texto bíblico, que a reflexão teológica pode implementar como critérios vinculantes de escrutínio do simbolismo religioso e artístico, num exercício crítico‑hermenêutico valioso, não apenas para a experiência de fé mas também para a autocompreensão das artes: complementaridade de imagem e rito (conexão semanticamente vinculante da representação mimética e do seu efeito performativo); articulação do simbolismo como estratégia de descentralização da experiência originária e diferenciação crítica do lugar do sujeito na sua finitude; inconsistência epistemológica e ética da idolatria (como infidelidade por parte da experiência religiosa e artística à «santidade» do próprio objeto, à mútua transcendência de real e sujeito). |
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A serpente e o bezerro: a idolatria como patologia simbólica. Um ponto de vista bíblicoThe snake and the calf: idolatry as a symbolic pathology. A Biblical point of viewMimetismoSimbolismo artístico e religiosoIdolatriaMitologiaMimesisReligious symbolismArtistic SymbolismIdolatryMythologyA perspetiva bíblica sobre o estatuto epistemológico e ético do simbolismo mimético e da sua pertinência – e impertinência – artística e religiosa é discutida a partir da análise cruzada de duas narrativas maiores do Pentateuco (adoração do bezerro de ouro [Ex 32: 1‑20; Dt 9: 15‑29] e exibição da serpente de bronze [Nr 21: 4‑10]). Ao descartar como reducionista a contraposição tradicional entre iconoclastia judaica e iconofilia cristã, evidencia‑se que o tabu bíblico das imagens do divino não é recusa absoluta do mimetismo (como conversão analógica dos conteúdos da experiência na sua representação), mas condenação da sua degeneração idolátrica (que ocorre no caso do mimetismo fetichista, pseudodenotativo, incapaz de distinguir entre significado e referente, entre conteúdo semântico e realidade) e mitológica (na sua assunção como discurso exclusivo e totalizador, substitutivo do saber teorético da verdade). O artigo apresenta os seguintes traços fundamentais da significação simbólica reconstruídos pelo texto bíblico, que a reflexão teológica pode implementar como critérios vinculantes de escrutínio do simbolismo religioso e artístico, num exercício crítico‑hermenêutico valioso, não apenas para a experiência de fé mas também para a autocompreensão das artes: complementaridade de imagem e rito (conexão semanticamente vinculante da representação mimética e do seu efeito performativo); articulação do simbolismo como estratégia de descentralização da experiência originária e diferenciação crítica do lugar do sujeito na sua finitude; inconsistência epistemológica e ética da idolatria (como infidelidade por parte da experiência religiosa e artística à «santidade» do próprio objeto, à mútua transcendência de real e sujeito).The biblical point of view on the epistemological and ethical status of mimetic symbolism and its artistic and religious pertinence – and im‑ pertinence – is discussed here on the basis of the crossed analysis of two major narratives of the Pentateuch (adoration of the golden calf [Ex 32, 1‑20; Dt 9,15‑29] and exhibition of the bronze serpent [Nr 21, 4‑10]). By discarding the traditional opposition between Jewish iconoclasm and Christian iconophilism as reductionist, it is highlighted that the biblical taboo of images of the divine is not an absolute refusal of mimesis (as an analogical conversion of the contents of experience in its representa‑ tion), but a condemnation of its degeneration, both idolatrous (which occurs in the case of fetishistic, pseudo‑denotative mimesis, unable to distinguish between meaning and referent, between semantic content and reality) and mythological (in its assumption as an exclusive and to‑ talizing discourse, substituting the theoretical knowledge of the truth). The paper presents the following fundamental traits of symbolic signif‑ icance reconstructed by the biblical text, which theological reflection can implement as binding criteria for the scrutiny of religious and ar‑ tistic symbolism, in a valuable critical‑hermeneutic exercise not only for the experience of faith but also for the self‑understanding of the arts: complementarity of image and rite (semantically binding association of the mimetic representation and its performative effect); articulation of symbolism as a strategy of decentralization of the original experience and critical differentiation of the subject’s place in its finitude; epistemo‑ logical and ethical inconsistency of idolatry (as infidelity on the part of religious and artistic experience to the ‘sanctity’ of the object itself, to the mutual transcendence of the real and the subject).Veritati - Repositório Institucional da Universidade Católica PortuguesaBartolomei, Teresa2021-04-12T09:53:24Z2020-10-302020-10-30T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.14/32476por2184-577810.34632/ephata.2020.9539info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-07-12T17:37:57Zoai:repositorio.ucp.pt:10400.14/32476Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T18:26:14.017502Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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A perspetiva bíblica sobre o estatuto epistemológico e ético do simbolismo mimético e da sua pertinência – e impertinência – artística e religiosa é discutida a partir da análise cruzada de duas narrativas maiores do Pentateuco (adoração do bezerro de ouro [Ex 32: 1‑20; Dt 9: 15‑29] e exibição da serpente de bronze [Nr 21: 4‑10]). Ao descartar como reducionista a contraposição tradicional entre iconoclastia judaica e iconofilia cristã, evidencia‑se que o tabu bíblico das imagens do divino não é recusa absoluta do mimetismo (como conversão analógica dos conteúdos da experiência na sua representação), mas condenação da sua degeneração idolátrica (que ocorre no caso do mimetismo fetichista, pseudodenotativo, incapaz de distinguir entre significado e referente, entre conteúdo semântico e realidade) e mitológica (na sua assunção como discurso exclusivo e totalizador, substitutivo do saber teorético da verdade). O artigo apresenta os seguintes traços fundamentais da significação simbólica reconstruídos pelo texto bíblico, que a reflexão teológica pode implementar como critérios vinculantes de escrutínio do simbolismo religioso e artístico, num exercício crítico‑hermenêutico valioso, não apenas para a experiência de fé mas também para a autocompreensão das artes: complementaridade de imagem e rito (conexão semanticamente vinculante da representação mimética e do seu efeito performativo); articulação do simbolismo como estratégia de descentralização da experiência originária e diferenciação crítica do lugar do sujeito na sua finitude; inconsistência epistemológica e ética da idolatria (como infidelidade por parte da experiência religiosa e artística à «santidade» do próprio objeto, à mútua transcendência de real e sujeito). |
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