Pesticidas naturais : fotopesticidas.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Delgado, F.M.G.
Data de Publicação: 1996
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.11/5952
Resumo: A utilização intensiva, em agricultura, de produtos químicos, principalmente fertilizantes e pesticidas, foi até há pouco tempo a melhor solução à necessidade constante do aumento da produção agrícola. Foi, porém, só a partir dos finais do séc. XIX que se intensificou a aplicação de produtos químicos na luta contra pragas e doenças (HEITZ, 1987). Durante a Segunda Guerra Mundial verifica-se uma grande evolução da síntese química, incrementando¬-se, a partir daí, a produção de pesticidas sintéticos (hidrocarbonetos clorados, compostos organofosforados e carbamatos, para citar os mais importantes). O uso continuado e crescente destes produtos tem originado sérios problemas de toxicidade, contaminação de águas, persistência no meio ambiente, resíduos em alimentos, acumulação nos tecidos adiposos dos animais e do homem e resistência dos parasitas aos próprios pesticidas, originando sérios desequilíbrios ecológicos. O panorama actual não é, ainda, promissor para o total abandono da utilização de compostos químicos nas práticas agrícolas, nomeadamente no controlo de infestantes ou no combate a pragas e doenças. A tentativa de controlo destes agentes patogénicos com base em técnicas biológicas, como a agricultura biológica, a proteção integrada ou a biotecnologia, tem levado ao desenvolvimento de linhas de investigação dentro destas áreas, interrelacionando-as ou associando¬-as à utilização de compostos naturais ou dos seus análogos de síntese biologicamente activos (WHITEHEAD et al., 1988). Surgem assim, como promissores, os pesticidas naturais pelo facto de serem compostos por substâncias que apresentam acção selectiva, sendo, em geral, tóxicos somente para os organismos-alvo, actuando em quantidades muito reduzidas e sendo facilmente degradáveis. São exemplos já em utilização corrente os pesticidas a base de piretrinas e alcalóides. BAJAJ (1989) apurou que ocorrem frequentemente nas plantas superiores compostos naturais, biologicamente activos, que podem vir a ser utilizados como novos agentes de protecção das culturas (Tabelas 1 e 2). O conhecimento do metabolismo, processos biossintéticos, mecanismos de acção e regulação e outros aspectos da bioquímica das plantas, dos insectos e microrganismos, são fundamentais para a compreensão do modo de acção deste tipo de pesticidas. Recentemente, tem sido objecto de investigação substâncias bioactivas, em alguns casos fazendo parte dos mecanismos de defesa dessas plantas contra organismos indesejáveis, substâncias estas, cuja acção pesticida decorre da absorção da luz solar, designadas por fotopesticidas (DELGADO,1993). Os fotopesticidas possuem uma acção específica, são eficazes a concentrações muito baixas, muito inferiores as usadas nos pesticidas tradicionais, são pouco persistentes no meio ambiente e são degradados pela própria luz (HEITZ,1987). O seu modo de acção baseia-se na captação de fotões tendo como intermediário o oxigénio, originando na maior parte dos casos radicais de oxigénio altamente energéticos e perigosos para as células dos agentes patogénicos. Foi a partir de estudos efectuados nos Estados Unidos (REBEIZ,1988) em herbicidas fotodinâmicos, também conhecidos por herbicidas laser, tendo como base de actuação a inibição da síntese da clorofila nas plantas a destruir, que estes trabalhos tiveram sequência em termos de investigação, levando o estudo a campos que envolvem acções insecticida, fungicida, bactericida, antiviral, anti-leveduras e nematodicida. No nosso País existem algumas equipas interligadas, que estudam compostos desta natureza, efectuando-se, a posteriori, modificações das estruturas dos compostos naturais de forma a optimizar o seu modo de acção. Um dos compostos com interesse como fotofungicida foi obtido por nós do extracto de folhas de coentro. Foi identificado como sendo uma isocumarina e é designado por coriandrina. Possui uma acção fotodinâmica ao nível de 0,35g/mm2 de gota aplicada em placa de sílica gel onde se pulverizaram os esporos dos fungos a testar. A sua acção foi evidenciada em Cladosporium cucumerinum, fungo polivalente mas característico da família Cucurbitaceae e em Fusarium culmorum fungo característico da família Graminae (Fig.1). A diversidade de compostos fotoactivos isolados de plantas, fungos e bactérias leva-nos a admitir que são frequentes na natureza. Porém, é muito provável que mais de uma centena destes constituintes se encontrem ainda por identificar. Muito trabalho terá ainda de ser realizado, de modo a conhecer melhor estes compostos e os seus mecanismos de acção, uma vez que estudos sobre a sua importância em termos ecológicos se encontram também em fase inicial de investigação (DELGAD0,1993).
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O panorama actual não é, ainda, promissor para o total abandono da utilização de compostos químicos nas práticas agrícolas, nomeadamente no controlo de infestantes ou no combate a pragas e doenças. A tentativa de controlo destes agentes patogénicos com base em técnicas biológicas, como a agricultura biológica, a proteção integrada ou a biotecnologia, tem levado ao desenvolvimento de linhas de investigação dentro destas áreas, interrelacionando-as ou associando¬-as à utilização de compostos naturais ou dos seus análogos de síntese biologicamente activos (WHITEHEAD et al., 1988). Surgem assim, como promissores, os pesticidas naturais pelo facto de serem compostos por substâncias que apresentam acção selectiva, sendo, em geral, tóxicos somente para os organismos-alvo, actuando em quantidades muito reduzidas e sendo facilmente degradáveis. São exemplos já em utilização corrente os pesticidas a base de piretrinas e alcalóides. BAJAJ (1989) apurou que ocorrem frequentemente nas plantas superiores compostos naturais, biologicamente activos, que podem vir a ser utilizados como novos agentes de protecção das culturas (Tabelas 1 e 2). O conhecimento do metabolismo, processos biossintéticos, mecanismos de acção e regulação e outros aspectos da bioquímica das plantas, dos insectos e microrganismos, são fundamentais para a compreensão do modo de acção deste tipo de pesticidas. Recentemente, tem sido objecto de investigação substâncias bioactivas, em alguns casos fazendo parte dos mecanismos de defesa dessas plantas contra organismos indesejáveis, substâncias estas, cuja acção pesticida decorre da absorção da luz solar, designadas por fotopesticidas (DELGADO,1993). Os fotopesticidas possuem uma acção específica, são eficazes a concentrações muito baixas, muito inferiores as usadas nos pesticidas tradicionais, são pouco persistentes no meio ambiente e são degradados pela própria luz (HEITZ,1987). 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Foi identificado como sendo uma isocumarina e é designado por coriandrina. Possui uma acção fotodinâmica ao nível de 0,35g/mm2 de gota aplicada em placa de sílica gel onde se pulverizaram os esporos dos fungos a testar. A sua acção foi evidenciada em Cladosporium cucumerinum, fungo polivalente mas característico da família Cucurbitaceae e em Fusarium culmorum fungo característico da família Graminae (Fig.1). A diversidade de compostos fotoactivos isolados de plantas, fungos e bactérias leva-nos a admitir que são frequentes na natureza. Porém, é muito provável que mais de uma centena destes constituintes se encontrem ainda por identificar. Muito trabalho terá ainda de ser realizado, de modo a conhecer melhor estes compostos e os seus mecanismos de acção, uma vez que estudos sobre a sua importância em termos ecológicos se encontram também em fase inicial de investigação (DELGAD0,1993).Instituto Politécnico de Castelo Branco, Escola Superior AgráriaRepositório Científico do Instituto Politécnico de Castelo BrancoDelgado, F.M.G.2018-02-17T15:59:15Z19961996-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.11/5952porDELGADO, F.M.G. (1996) - Pesticidas naturais : fotopesticidas. Agroforum : Revista da Escola Superior Agrária de Castelo Branco. ISSN 0872-2617. Ano 5:10, p. 5-8.0872-2617info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-01-16T11:45:25ZPortal AgregadorONG
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