O terror Miguelista no Algarve - perseguição e devassa

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mesquita, José Carlos Vilhena
Data de Publicação: 2020
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.1/19731
Resumo: O Algarve, pelo evoluir dos acontecimentos político-socioeconómicos, constituiu-se numa espécie de enclave revolucionário, liberal-constitucionalista, de apoio e em consonância com a Junta Governativa do Porto. O fracasso da “Revolta de Maio”, em 1828 no Algarve, contribuiu decisivamente para a usurpação miguelista e para a restauração do absolutismo, cujo clima persecutório acabaria por desencadear a guerra-civil. Na verdade, a prepotência miguelista deixou-se resvalar para os limites da insanidade política, num quotidiano excessivamente repressivo, vedando à nação os seus mais elementares direitos de cidadania. O autismo político do regime absolutista dividiu o país em dois projectos distintos – o do passado tradicionalista, apostólico e legitimista; e o do futuro, liberal, constitucional e parlamentar. A grande diferença entre os dois projectos políticos incidia na concepção e cedência da liberdade, para transformar os vassalos em cidadãos. Faltou à aristocracia do poder a racionalidade necessária para compreender que estava em curso na Europa uma mudança de paradigma, um novo contrato social, uma alteração do modo de produção. A velha sociedade agrícola e rural, capitalizada na posse fundiária, sobre a qual se embasara a nobreza e o espírito absolutista, estava a esboroar-se lentamente pela acção fiduciária do comércio externo de longo curso, e da produção industrial em massa de bens de consumo. O grande erro do partido miguelista foi não perceber a mensagem da mudança que ribombava na Europa desde a Revolução Francesa, clamando por uma nova ordem social, livre, fraterna e igualitária. Preferiu enquistar-se na conservação do privilégio e do regime absoluto, para cuja conservação impôs a violência e a tirania. Os “corcundas”, epíteto com que se designavam os leais servidores do Trono e do Altar, impuseram a lei da rua, do fueiro, do cacete e do punhal, para aterrorizarem a nação e desse modo contrariarem a assunção do liberalismo e da burguesia mercantil, originária da Revolução Industrial britânica. Entre a liberdade e a dependência cavou-se um fosso cada vez mais largo e inconciliável que acabou por degenerar numa desastrosa guerra-civil. Por estranho que pareça, foi após esse fratricida conflito, que se estabeleceu a ponte necessária ao entendimento e coexistência pacífica dos dois partidos, mas não das duas ordens políticas, porque o absolutismo estava em dissonância com os ventos da mudança e a luz do futuro estava em harmonia com a liberdade.
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