Violência Obstétrica- inquietações e desconstruções

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Teixeira, Carolina Sofia Vilela
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.6/13459
Resumo: “Violência obstétrica” é um conceito ainda em discussão nos diferentes segmentos sociais, desde a opinião pública, passando pelos especialistas da saúde e também pelas instâncias políticas. Segundo a OMS e a OM, ao invés de “violência obstétrica”, devem-se adotar os termos: “maus-tratos”, “desrespeito”, “abuso” e “negligência”, pois apresentam uma maior abrangência e adaptabilidade à realidade de países como Portugal. A investigação científico-médica atravessa agora o percurso de definição dos indicadores que permitam analisar com rigor o que são os maus-tratos, abusos e desrespeito, em matéria de cuidados maternos. A existência de relatos devastadores de experiências negativas vivenciadas por mulheres durante a gravidez e, em particular, no parto, é também uma realidade portuguesa. As intervenções e cuidados não consentidos são o desrespeito mais apontado. O consentimento esclarecido e informado é um requisito sem o qual a boa prática médica em geral e, portanto, também a obstétrica, não se pode concretizar. Contudo, em situações de urgência, este pode não ser necessário. Na atualidade portuguesa, discute-se a possível necessidade de criminalizar práticas médicas consideradas violentas pelas mulheres grávidas durante a gravidez e/ou no trabalho de parto; no que diz respeito a esta situação, e tendo em conta os factos e achados desta monografia, conclui-se negativamente, por duas ordens de razões: primeiro, porque discordamos do próprio conceito de VO por desadequação aos cuidados de saúde maternos praticados em Portugal; segundamente, pela redundância, sendo que já existe em Portugal um quadro penal, rigoroso e suficientemente abrangente, dirigido aos crimes contra a integridade física, contra a liberdade pessoal e contra a liberdade e autodeterminação sexual. Com o seguinte trabalho pretende-se desconstruir uma certa perspetiva, amplamente difundida, da defesa do conceito de “Violência Obstétrica”; analisar a necessidade da obtenção do consentimento esclarecido e informado na origem dos procedimentos médicos e debater sobre a necessidade de criminalizar, no contexto português, a “Violência Obstétrica” e tudo aquilo que este termo abrange. A elaboração desta monografia teve por base literatura disponibilizada pela Organização Mundial da Saúde, DGS, Ordem dos Médicos, Ordem dos Enfermeiros, Ordem dos Advogados e do Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia. Foi também utilizada legislação disponibilizada em Diário de República: Código Deontológico, Código Penal e Código Civil; páginas web, como a da Entidade Reguladora da Saúde, a de Associações portuguesas que defendem os direitos humanos das mulheres, a base de dados PORDATA e projetos de informação digital. Na pesquisa documental, recorreu-se a bancos da plataforma PubMed e da revista científica Lancet, através dos termos de pesquisa “obstetric violence”, “woman”, “childbirth”, “quality of care”, “respectful maternity care”. Consideraram-se artigos em inglês, publicados entre 2013 e 2022, selecionados em concordância com os objetivos delineados para a monografia.
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As intervenções e cuidados não consentidos são o desrespeito mais apontado. O consentimento esclarecido e informado é um requisito sem o qual a boa prática médica em geral e, portanto, também a obstétrica, não se pode concretizar. Contudo, em situações de urgência, este pode não ser necessário. Na atualidade portuguesa, discute-se a possível necessidade de criminalizar práticas médicas consideradas violentas pelas mulheres grávidas durante a gravidez e/ou no trabalho de parto; no que diz respeito a esta situação, e tendo em conta os factos e achados desta monografia, conclui-se negativamente, por duas ordens de razões: primeiro, porque discordamos do próprio conceito de VO por desadequação aos cuidados de saúde maternos praticados em Portugal; segundamente, pela redundância, sendo que já existe em Portugal um quadro penal, rigoroso e suficientemente abrangente, dirigido aos crimes contra a integridade física, contra a liberdade pessoal e contra a liberdade e autodeterminação sexual. Com o seguinte trabalho pretende-se desconstruir uma certa perspetiva, amplamente difundida, da defesa do conceito de “Violência Obstétrica”; analisar a necessidade da obtenção do consentimento esclarecido e informado na origem dos procedimentos médicos e debater sobre a necessidade de criminalizar, no contexto português, a “Violência Obstétrica” e tudo aquilo que este termo abrange. A elaboração desta monografia teve por base literatura disponibilizada pela Organização Mundial da Saúde, DGS, Ordem dos Médicos, Ordem dos Enfermeiros, Ordem dos Advogados e do Colégio da Especialidade de Ginecologia e Obstetrícia. Foi também utilizada legislação disponibilizada em Diário de República: Código Deontológico, Código Penal e Código Civil; páginas web, como a da Entidade Reguladora da Saúde, a de Associações portuguesas que defendem os direitos humanos das mulheres, a base de dados PORDATA e projetos de informação digital. Na pesquisa documental, recorreu-se a bancos da plataforma PubMed e da revista científica Lancet, através dos termos de pesquisa “obstetric violence”, “woman”, “childbirth”, “quality of care”, “respectful maternity care”. Consideraram-se artigos em inglês, publicados entre 2013 e 2022, selecionados em concordância com os objetivos delineados para a monografia.“Obstetric violence” is a concept still under discussion in different social segments, from public opinion to health specialists, while also considering political instances. According to the WHO and the Portuguese Order of Physicians, the terms “mistreatment”, “disrespect”, “abuse” and “neglect” should be adopted instead of “obstetric violence”, as they present a greater scope and adaptability to the reality of countries like Portugal. Scientific and medical research is currently in the process of defining the indicators that will allow for a rigorous analysis of maltreatment, abuse, and disrespect in the field of maternal care. The existence of devastating reports of negative experiences experienced by women during pregnancy and, particularly, childbirth is also a Portuguese reality. Non-consensual interventions and care are the most pointed forms of disrespect. Clarified and informed consent is a requirement without which good medical practice in general, and therefore also obstetrics, cannot materialize. However, in urgent situations, it may not be necessary. The possible need to criminalize medical practices considered violent by pregnant women during pregnancy and/or labor is currently being discussed in Portugal; with regard to this situation and taking into account the facts and findings of this monograph, we conclude negatively, for two orders of reasons: first, because we disagree with the very concept of “Obstetric Violence” for inadequacy to maternal health care practiced in Portugal; second, for redundancy, being that there already exists in Portugal a criminal framework, rigorous and sufficiently comprehensive, directed to crimes against physical integrity, against personal freedom, and against freedom and sexual self-determination. The following paper aims to deconstruct a certain perspective, widely disseminated, of the defense of the concept of "Obstetric Violence"; to analyze the need to obtain informed consent in the origin of medical procedures and to discuss the need to criminalize, in the Portuguese context, "Obstetric Violence" and all that this term encompasses. The preparation of this monograph was based on literature made available by the World Health Organization, the Portuguese Directorate General for Health, the Order of Physicians, the Order of Nurses, the Order of Lawyers, and the College of Gynecology and Obstetrics Specialty. Legislation made available in Diário de República was also used: the Deontological Code, the Penal Code, and the Civil Code; websites, such as those of the Health Regulatory Entity and of Portuguese associations that defend women's human rights; the PORDATA database; and digital information projects. For document research, databases from the PubMed platform and the scientific journal Lancet were used, using the search terms “obstetric violence”, “woman”, “childbirth”, “quality of care”, and “respectful maternity care”, and selecting articles in English published between 2013 and 2022 whose content is coherent with the objectives outlined for the monograph.Meyer, Fernanda Taliberti PeretouBibliorumTeixeira, Carolina Sofia Vilela2023-11-03T15:02:47Z2023-06-222023-05-022023-06-22T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/13459TID:203375432porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-15T09:57:04Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/13459Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:52:53.675385Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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