De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Pereira, Pedro
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.14/34178
Resumo: A densidade filosófica da obra de Vergílio Ferreira estabelece-se nas fronteiras do jogo entre a finitude e o transcendente. De Aparição a Estrela Polar, passando por Em Nome da Terra ou Para Sempre, o drama da existência rompe com o sentido aparente da significação do sujeito, abrindo-o à deriva ontológica e ao resgate do tempo passado como condições para a compreensão existencial. No sofrimento daquele que rememora, vemos o remorso da incompletude, da frugalidade e da efemeridade, que conduzem o sujeito a uma paradoxal procura do divino [seja enquanto entidade metafísica ou enquanto potencialidade criativa de um ser confinado às limitações e potencialidades de um corpo]. Deus é, simultaneamente, a condição para a afirmação da liberdade criadora do sujeito e a constatação agónica do absurdo de existir. Deus assoma, então, na obra de Vergílio Ferreira, como pêndulo entre a vontade de afirmação e o absurdo das possibilidades. Da ambivalência do lugar de Deus, emerge o Homem como ser lançado na existência e absorto de culpa. O Homem como potencial de criação que é capaz da mais exacerbada capacidade de olhar o Tempo, de rememorar. O Homem que se vê como um ser em processo e, portanto, que sobrevive [ilusoriamente?] à catástrofe da transitoriedade. Vergílio impõe a reflexão sobre o que permanece do sujeito em processo de ser, um sujeito que efetivamente só se descobre na memória, interpretada como espaço de recriação e de significação. Mais do que indagar sobre as possibilidades do divino, a obra de Vergílio Ferreira pode ser interpretada como a procura de uma afirmação do eterno, como conjunto de instruções sobre como morrer, que permita ver a morte como síntese e harmonia de tudo o que se concebe no reino profícuo das possibilidades [Estrela Polar]. No fundo, a fim de realçar o legado do ser, mostra-se o Homem na diáspora por Deus, o que o expõe na sua ambivalência como ser de fronteira: entre o eterno [da memória, da capacidade, do sonho] e o futuro [que esconde sempre a morte, o vazio e a solidão]
id RCAP_fb10dd891743ec73eb36ec2a63f00809
oai_identifier_str oai:repositorio.ucp.pt:10400.14/34178
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str 7160
spelling De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio FerreiraEmpty-handed before death: on the emptiness of God in Vergilio FerreiraFilosofiaLiteraturaDeusMorteVergilio FerreiraPhilosophyLiteratureGodDeathA densidade filosófica da obra de Vergílio Ferreira estabelece-se nas fronteiras do jogo entre a finitude e o transcendente. De Aparição a Estrela Polar, passando por Em Nome da Terra ou Para Sempre, o drama da existência rompe com o sentido aparente da significação do sujeito, abrindo-o à deriva ontológica e ao resgate do tempo passado como condições para a compreensão existencial. No sofrimento daquele que rememora, vemos o remorso da incompletude, da frugalidade e da efemeridade, que conduzem o sujeito a uma paradoxal procura do divino [seja enquanto entidade metafísica ou enquanto potencialidade criativa de um ser confinado às limitações e potencialidades de um corpo]. Deus é, simultaneamente, a condição para a afirmação da liberdade criadora do sujeito e a constatação agónica do absurdo de existir. Deus assoma, então, na obra de Vergílio Ferreira, como pêndulo entre a vontade de afirmação e o absurdo das possibilidades. Da ambivalência do lugar de Deus, emerge o Homem como ser lançado na existência e absorto de culpa. O Homem como potencial de criação que é capaz da mais exacerbada capacidade de olhar o Tempo, de rememorar. O Homem que se vê como um ser em processo e, portanto, que sobrevive [ilusoriamente?] à catástrofe da transitoriedade. Vergílio impõe a reflexão sobre o que permanece do sujeito em processo de ser, um sujeito que efetivamente só se descobre na memória, interpretada como espaço de recriação e de significação. Mais do que indagar sobre as possibilidades do divino, a obra de Vergílio Ferreira pode ser interpretada como a procura de uma afirmação do eterno, como conjunto de instruções sobre como morrer, que permita ver a morte como síntese e harmonia de tudo o que se concebe no reino profícuo das possibilidades [Estrela Polar]. No fundo, a fim de realçar o legado do ser, mostra-se o Homem na diáspora por Deus, o que o expõe na sua ambivalência como ser de fronteira: entre o eterno [da memória, da capacidade, do sonho] e o futuro [que esconde sempre a morte, o vazio e a solidão]The philosophical density of Vergilio Ferreira's work is established at the frontiers of the game between finitude and the transcendent. From Aparicao to Estrela Polar, through Em Nome da Terra or Para Sempre, the drama of existence breaks with the apparent meaning of the subject's meaning, opening it up to ontological drift and the rescue of past time as conditions for existential understanding. In the suffering of those who remember, we see the remorse of incompleteness, frugality and ephemerality, which lead the subject to a paradoxical search for the divine [either as a metaphysical entity or as a creative potential of a being confined to the limitations and potential of a body]. God is, simultaneously, the condition for the affirmation of the subject's creative freedom and the agonizing verification of the absurdity of existing. God appears, then, in the work of Vergilio Ferreira, as a pendulum between the will to affirm and the absurdity of the possibilities. From the ambivalence of God's place, Man emerges as being launched into existence and absorbed in guilt. Man as a potential for creation that is capable of the most exacerbated capacity to look at Time, to remember. The Man who sees himself as a being in process and, therefore, who survives [illusory?] The catastrophe of transience. Vergilio imposes a reflection on what remains of the subject in the process of being, a subject that is effectively only discovered in memory, interpreted as a space for recreation and meaning. More than inquiring about the possibilities of the divine, the work of Vergilio Ferreira can be interpreted as the search for an affirmation of the eternal, as a set of instructions on how to die, which allows one to see death as a synthesis and harmony of everything conceived in the fruitful realm of possibilities [Estrela Polar]. Basically, in order to highlight the legacy of being, Man is shown in the diaspora by God, which exposes him in his ambivalence as a frontier being: between the eternal [of memory, capacity, dream] and the future [that always hides death, emptiness and loneliness].Veritati - Repositório Institucional da Universidade Católica PortuguesaPereira, Pedro2021-07-19T13:33:40Z20212021-01-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articleapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.14/34178por2236-993710.23925/2236-9937.2021v23p380-393000640551200018info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-07-12T17:39:39Zoai:repositorio.ucp.pt:10400.14/34178Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-19T18:27:39.419388Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
dc.title.none.fl_str_mv De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
Empty-handed before death: on the emptiness of God in Vergilio Ferreira
title De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
spellingShingle De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
Pereira, Pedro
Filosofia
Literatura
Deus
Morte
Vergilio Ferreira
Philosophy
Literature
God
Death
title_short De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
title_full De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
title_fullStr De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
title_full_unstemmed De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
title_sort De mãos vazias perante a morte: sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira
author Pereira, Pedro
author_facet Pereira, Pedro
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Veritati - Repositório Institucional da Universidade Católica Portuguesa
dc.contributor.author.fl_str_mv Pereira, Pedro
dc.subject.por.fl_str_mv Filosofia
Literatura
Deus
Morte
Vergilio Ferreira
Philosophy
Literature
God
Death
topic Filosofia
Literatura
Deus
Morte
Vergilio Ferreira
Philosophy
Literature
God
Death
description A densidade filosófica da obra de Vergílio Ferreira estabelece-se nas fronteiras do jogo entre a finitude e o transcendente. De Aparição a Estrela Polar, passando por Em Nome da Terra ou Para Sempre, o drama da existência rompe com o sentido aparente da significação do sujeito, abrindo-o à deriva ontológica e ao resgate do tempo passado como condições para a compreensão existencial. No sofrimento daquele que rememora, vemos o remorso da incompletude, da frugalidade e da efemeridade, que conduzem o sujeito a uma paradoxal procura do divino [seja enquanto entidade metafísica ou enquanto potencialidade criativa de um ser confinado às limitações e potencialidades de um corpo]. Deus é, simultaneamente, a condição para a afirmação da liberdade criadora do sujeito e a constatação agónica do absurdo de existir. Deus assoma, então, na obra de Vergílio Ferreira, como pêndulo entre a vontade de afirmação e o absurdo das possibilidades. Da ambivalência do lugar de Deus, emerge o Homem como ser lançado na existência e absorto de culpa. O Homem como potencial de criação que é capaz da mais exacerbada capacidade de olhar o Tempo, de rememorar. O Homem que se vê como um ser em processo e, portanto, que sobrevive [ilusoriamente?] à catástrofe da transitoriedade. Vergílio impõe a reflexão sobre o que permanece do sujeito em processo de ser, um sujeito que efetivamente só se descobre na memória, interpretada como espaço de recriação e de significação. Mais do que indagar sobre as possibilidades do divino, a obra de Vergílio Ferreira pode ser interpretada como a procura de uma afirmação do eterno, como conjunto de instruções sobre como morrer, que permita ver a morte como síntese e harmonia de tudo o que se concebe no reino profícuo das possibilidades [Estrela Polar]. No fundo, a fim de realçar o legado do ser, mostra-se o Homem na diáspora por Deus, o que o expõe na sua ambivalência como ser de fronteira: entre o eterno [da memória, da capacidade, do sonho] e o futuro [que esconde sempre a morte, o vazio e a solidão]
publishDate 2021
dc.date.none.fl_str_mv 2021-07-19T13:33:40Z
2021
2021-01-01T00:00:00Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10400.14/34178
url http://hdl.handle.net/10400.14/34178
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 2236-9937
10.23925/2236-9937.2021v23p380-393
000640551200018
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1799131994485948416