Dos mistérios do corpo ao falante: a escuta psicanalítica de sujeitos intersexo no contexto hospitalar

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Heloene Ferreira da
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ
Texto Completo: http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/17671
Resumo: Com base no trabalho clínico institucional com sujeitos intersexo, seus pais, médicos, equipe de saúde e familiares, investigamos a hipótese sobre uma intervenção discursiva no real dos laços sociais ter uma consequência no real do sujeito. Discutimos a epistemologia da diferença sexual como binária e heteronormativa, bem como a epistemologia do processo de normalização de genitais considerados anormais. Revisamos em Freud e Lacan a assunção subjetiva ao sexo e também precisamos a dimensão do genital, entendido como tipicamente masculino ou feminino, a fim de articular tais dimensões à clínica da variação biológica do sexo. Em Freud, percorremos sua peremptória formulação, a anatomia é o destino, bem como um conceito com o qual consideramos poder dialetizar a questão da norma imposta: a pulsão. Não há pulsão fora do campo da fala e da linguagem, que comporta, necessariamente, uma dimensão real. Para desenvolvê-lo, foi preciso também revisitar os três registros da realidade psíquica conforme Lacan. A desnaturação operada pela linguagem faz com que a diferença dos sexos só tenha consequências subjetivas ao ser significantizada. Em Lacan, identificamos o falo como uma referência histórica e estrutural ao mesmo tempo, sendo estruturador do desejo humano e parâmetro da diferença. Com isso, chegamos à lógica da sexuação a qual implica consequências clínicas importantes, uma vez que não se detém no que constitui o homem ou a mulher, mas na impossibilidade da relação entre eles. O fato de haver mais de um sexo, não é o suficiente para contar dois. Pela articulação com a clínica com crianças e a clínica com adolescentes intersexo mostramos que a anatomia sexual – muito valorizada em alguns discursos – não é o real do corpo – abordado pela psicanálise. As questões subjetivas com as quais nos deparamos no cotidiano de nossa clínica desenvolvida no Setor de Urologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, permitiram e nos levaram ao estudo de vários discursos, o médico, o social, o dos movimentos LGBTTQi+, para, com eles, questionar alguns a priori e dialetizar o próprio discurso psicanalítico com a clínica do intersexo.
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Revisamos em Freud e Lacan a assunção subjetiva ao sexo e também precisamos a dimensão do genital, entendido como tipicamente masculino ou feminino, a fim de articular tais dimensões à clínica da variação biológica do sexo. Em Freud, percorremos sua peremptória formulação, a anatomia é o destino, bem como um conceito com o qual consideramos poder dialetizar a questão da norma imposta: a pulsão. Não há pulsão fora do campo da fala e da linguagem, que comporta, necessariamente, uma dimensão real. Para desenvolvê-lo, foi preciso também revisitar os três registros da realidade psíquica conforme Lacan. A desnaturação operada pela linguagem faz com que a diferença dos sexos só tenha consequências subjetivas ao ser significantizada. Em Lacan, identificamos o falo como uma referência histórica e estrutural ao mesmo tempo, sendo estruturador do desejo humano e parâmetro da diferença. Com isso, chegamos à lógica da sexuação a qual implica consequências clínicas importantes, uma vez que não se detém no que constitui o homem ou a mulher, mas na impossibilidade da relação entre eles. O fato de haver mais de um sexo, não é o suficiente para contar dois. Pela articulação com a clínica com crianças e a clínica com adolescentes intersexo mostramos que a anatomia sexual – muito valorizada em alguns discursos – não é o real do corpo – abordado pela psicanálise. As questões subjetivas com as quais nos deparamos no cotidiano de nossa clínica desenvolvida no Setor de Urologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, permitiram e nos levaram ao estudo de vários discursos, o médico, o social, o dos movimentos LGBTTQi+, para, com eles, questionar alguns a priori e dialetizar o próprio discurso psicanalítico com a clínica do intersexo.Based on institutional clinical work with intersex subjects, their parents, physicians, healthcare team, and family members, we investigated the hypothesis that a discursive intervention in the Real of social ties has a consequence in the Real of the subject. The thesis puts the epistemology of sexual difference as binary and heteronormative, and the epistemology of the normalization process of genitals considered abnormal under discussion. We review in Freud and Lacan the subjective assumption of sex, on the one hand, and we also precise the genital dimension, understood as typically male or female, to articulate these dimensions to the clinic of the biological variation of sex. In Freud, we go through his peremptory formulation - anatomy is destiny -, and his concept with which we believe we can put the issue of the imposed norm into dialogue: the drive. There is no drive outside the field of speech and language, which necessarily implies the dimension of the Real. To develop it, it was also necessary to revisit the three registers of the psychic reality, according to Lacan. The denaturation operated by language means that the difference between the sexes only has subjective consequences when signified. In Lacan, we identify the phallus as a historical and structural reference simultaneously, it being a structure reference of human desire and a parameter of difference. Then we arrive at the logic of sexuation, which implies significant clinical consequences since it does not stop at what constitutes a man or woman but at the impossibility of the relationship between them. The fact that there is more than one sex is not enough to count two. Through the articulation with the clinic with children and intersex adolescents, we show that the sexual anatomy – highly valued in some discourses – is not the Real of the body – approached by psychoanalysis. The subjective issues that we face in the daily life of our clinic developed in the Urology Sector of the Hospital Universitário Pedro Ernesto, allowed and led us to study various discourses, the medical and the social ones, the LGBTTQI+ movements, to, with them, question some a priori and introduce a new dialogue with the psychoanalytic discourse itself, concerning the clinic of intersex.Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro - FAPERJUniversidade do Estado do Rio de JaneiroCentro de Educação e Humanidades::Instituto de PsicologiaBrasilUERJPrograma de Pós-Graduação em PsicanáliseAlberti, Soniahttp://lattes.cnpq.br/4603633364355463Barros, Rita Maria Manso dehttp://lattes.cnpq.br/4241759241115365Marques, Luciana Ribeirohttp://lattes.cnpq.br/3540771560141062Patrícia Gherovici, Patrícia GheroviciPrates, Ana Laurahttp://lattes.cnpq.br/9804677184928539Silva, Heloene Ferreira da2022-05-02T16:35:07Z2021-12-13info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfSILVA, Heloene Ferreira da. Dos mistérios do corpo ao falante: a escuta psicanalítica de sujeitos intersexo no contexto hospitalar. 2021. 271 f. Tese (Doutorado em em Psicanálise) - Instituto de Psicologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2021.http://www.bdtd.uerj.br/handle/1/17671porhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJinstname:Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)instacron:UERJ2024-02-27T18:57:29Zoai:www.bdtd.uerj.br:1/17671Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.bdtd.uerj.br/PUBhttps://www.bdtd.uerj.br:8443/oai/requestbdtd.suporte@uerj.bropendoar:29032024-02-27T18:57:29Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)false
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