Trabalho na agricultura, agrotóxicos e câncer de estômago
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2018 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Institucional da UFBA |
Texto Completo: | http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29011 |
Resumo: | Introdução - A agricultura é atividade econômica propulsora do crescimento econômico de muitos países e envolve grande contingente de trabalhadores. Todavia, detém elevado risco de agravos à saúde relacionados ao trabalho. Entre os agricultores, uma das exposições ocupacionais mais comuns são os agrotóxicos, alguns desses reconhecidos como cancerígenos. Agricultores apresentam maiores estimativas de mortalidade e incidência por câncer de estômago do que os de demais ramos de atividade econômica ou a população geral, sugestivo de que agrotóxicos podem ser fatores causais. No Brasil o consumo de agrotóxicos é elevado, além de expressiva a população de trabalhadores na agropecuária, mas são poucos os estudos nacionais sobre essa temática. Objetivos - 1) Sumarizar achados de pesquisas sobre fatores associados ao câncer de estômago em agricultores, com foco nos ocupacionais; 2) Descrever a mortalidade por câncer de estômago entre trabalhadores do sexo masculino da agropecuária e demais ocupações, de 1980 a 2015, no Brasil; 3) Investigar exploratoriamente a associação entre preditores contextuais e a razão de mortalidade para a associação entre o trabalho na agropecuária e o câncer de estômago no Brasil. Métodos - São três estudos independentes conduzidos com o mesmo objeto: 1) o primeiro estudo é uma revisão sistemática de publicações com as palavras chave, stomach cancer AND farmers, e sinônimos, nas bases PubMed, Scopus, Wiley Online Library, Science Direct, Web of Science, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Lilacs, com foco em estudos observacionais; 2)estudo de mortalidade conduzido com registros de óbitos por câncer de estômago do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e dados da população economicamente ativa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), para o período de 1980 a 2015, no Brasil. A população do estudo foi limitada ao sexo masculino, com idade entre 30 a 69 anos, devido a concentração dos casos do câncer de estômago entre os homens e inconsistências de registros do campo ocupação no sexo feminino e nas idades superiores a 69 anos. Foram estimados o coeficiente anual de mortalidade por câncer de estômago e a razão de mortalidade agropecuária e demais ocupações, total e por grupos de idade; 3) estudo ecológico baseado em agregados por ano, no período entre 1980 e 2015. As variáveis preditoras contextuais foram: o nível de consumo de agrotóxicos, por hectare e por pessoa, a prevalência de tabagismo e o índice de desenvolvimento humano (IDH). O desfecho foi a razão de mortalidade para a associação entre o trabalho na agricultura e o câncer de estômago em agricultores, padronizada por idade. Medidas de associação correspondem aos coeficientes de regressão linear múltipla. Resultados - Estudo 1) Os achados dos 22 artigos revisados referem que, para ambos os sexos, o uso de agrotóxicos, o cultivo de cítricos e tempo na ocupação maior que 14 anos foram associados ao câncer de estômago em agricultores. Para os agrotóxicos, os tipos específicos foram Brometo de Metila, 2,4-D, Clordano, Propargite e Trifluralina. No sexo masculino, o uso de agrotóxicos por mais de 10 anos, herbicidas, o cultivo de azeitonas e milho, a criação de gado e produção do leite, além da residência rural, se associaram ao câncer de estômago em agricultores. Entre as agricultoras, as raças/etnias não brancas e a inserção como proprietárias. A maioria dos estudos foi avaliado como qualidade moderada. Estudo 2) Foram encontrados 150.937 casos de câncer de estômago, 52.164 (35%) em trabalhadores da agropecuária. Entre esses, em 1980, a mortalidade anual por câncer de estômago (ME) foi 36,6/100.000, maior que a de 18,2/100.000 do grupo referente, razão de mortalidade bruta (RME): 2,0. Em 2015, o ME foi de 18,3/100.000 e 11,2/100.000, respectivamente, RME: 1,6. Entre 1980 e 1995, a queda da RME foi de 33%, apresentando, a partir desse ano, estabilidade. A RME diminui com a idade, padrão que se repete ao longo dos anos do estudo. Estudo 3) Observou-se uma associação positiva do consumo de agrotóxicos por hectare (β=0,09,p<0,0001) e por pessoa (β=0,24, p<0,0001) com a razão de mortalidade (RMEp) para a associação entre o trabalho na agropecuária e o câncer de estômago no Brasil, independentemente dos demais preditores. O IDH se associou negativamente à RMEp (β= -0,03; p<0,0001). A prevalência de tabagismo também, porém apenas no modelo com latência de 10 anos (β= -0,04; p=0,0382). Conclusões - Com base na revisão, foram encontradas evidências para a associação entre fatores ocupacionais e ambientais, especialmente os agrotóxicos, e o câncer de estômago em agricultores. Todavia, vale notar que estudos futuros precisam considerar outros fatores de risco conhecidos para o câncer de estômago, como a infecção pelo Helicobacter pylori e o status socioeconômico. Trabalhadores brasileiros da agropecuária têm o dobro da ME estimada para os demais, desvantagem maior entre os mais jovens de 30 a 49 anos, em comparação com os mais idosos. Essa desvantagem se associa positivamente com as variáveis contextuais do consumo de agrotóxicos e negativamente com o IDH e prevalência de tabagismo. Pesquisas sobre substâncias químicas específicas presentes em agrotóxicos precisam ser realizadas, embora ações visando a redução de cancerígenos conhecidos devam ser urgentemente implementadas. |
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Almeida, Milena Maria Cordeiro deAlmeida, Milena Maria Cordeiro deSantana, Vilma SousaCosta, FedericoWunsch Filho, VictorSilva, Gulnar Azevedo eCurado, MAria Paula2019-03-26T19:22:51Z2019-03-262018-08-02http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/29011Introdução - A agricultura é atividade econômica propulsora do crescimento econômico de muitos países e envolve grande contingente de trabalhadores. Todavia, detém elevado risco de agravos à saúde relacionados ao trabalho. Entre os agricultores, uma das exposições ocupacionais mais comuns são os agrotóxicos, alguns desses reconhecidos como cancerígenos. Agricultores apresentam maiores estimativas de mortalidade e incidência por câncer de estômago do que os de demais ramos de atividade econômica ou a população geral, sugestivo de que agrotóxicos podem ser fatores causais. No Brasil o consumo de agrotóxicos é elevado, além de expressiva a população de trabalhadores na agropecuária, mas são poucos os estudos nacionais sobre essa temática. Objetivos - 1) Sumarizar achados de pesquisas sobre fatores associados ao câncer de estômago em agricultores, com foco nos ocupacionais; 2) Descrever a mortalidade por câncer de estômago entre trabalhadores do sexo masculino da agropecuária e demais ocupações, de 1980 a 2015, no Brasil; 3) Investigar exploratoriamente a associação entre preditores contextuais e a razão de mortalidade para a associação entre o trabalho na agropecuária e o câncer de estômago no Brasil. Métodos - São três estudos independentes conduzidos com o mesmo objeto: 1) o primeiro estudo é uma revisão sistemática de publicações com as palavras chave, stomach cancer AND farmers, e sinônimos, nas bases PubMed, Scopus, Wiley Online Library, Science Direct, Web of Science, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Lilacs, com foco em estudos observacionais; 2)estudo de mortalidade conduzido com registros de óbitos por câncer de estômago do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e dados da população economicamente ativa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), para o período de 1980 a 2015, no Brasil. A população do estudo foi limitada ao sexo masculino, com idade entre 30 a 69 anos, devido a concentração dos casos do câncer de estômago entre os homens e inconsistências de registros do campo ocupação no sexo feminino e nas idades superiores a 69 anos. Foram estimados o coeficiente anual de mortalidade por câncer de estômago e a razão de mortalidade agropecuária e demais ocupações, total e por grupos de idade; 3) estudo ecológico baseado em agregados por ano, no período entre 1980 e 2015. As variáveis preditoras contextuais foram: o nível de consumo de agrotóxicos, por hectare e por pessoa, a prevalência de tabagismo e o índice de desenvolvimento humano (IDH). O desfecho foi a razão de mortalidade para a associação entre o trabalho na agricultura e o câncer de estômago em agricultores, padronizada por idade. Medidas de associação correspondem aos coeficientes de regressão linear múltipla. Resultados - Estudo 1) Os achados dos 22 artigos revisados referem que, para ambos os sexos, o uso de agrotóxicos, o cultivo de cítricos e tempo na ocupação maior que 14 anos foram associados ao câncer de estômago em agricultores. Para os agrotóxicos, os tipos específicos foram Brometo de Metila, 2,4-D, Clordano, Propargite e Trifluralina. No sexo masculino, o uso de agrotóxicos por mais de 10 anos, herbicidas, o cultivo de azeitonas e milho, a criação de gado e produção do leite, além da residência rural, se associaram ao câncer de estômago em agricultores. Entre as agricultoras, as raças/etnias não brancas e a inserção como proprietárias. A maioria dos estudos foi avaliado como qualidade moderada. Estudo 2) Foram encontrados 150.937 casos de câncer de estômago, 52.164 (35%) em trabalhadores da agropecuária. Entre esses, em 1980, a mortalidade anual por câncer de estômago (ME) foi 36,6/100.000, maior que a de 18,2/100.000 do grupo referente, razão de mortalidade bruta (RME): 2,0. Em 2015, o ME foi de 18,3/100.000 e 11,2/100.000, respectivamente, RME: 1,6. Entre 1980 e 1995, a queda da RME foi de 33%, apresentando, a partir desse ano, estabilidade. A RME diminui com a idade, padrão que se repete ao longo dos anos do estudo. Estudo 3) Observou-se uma associação positiva do consumo de agrotóxicos por hectare (β=0,09,p<0,0001) e por pessoa (β=0,24, p<0,0001) com a razão de mortalidade (RMEp) para a associação entre o trabalho na agropecuária e o câncer de estômago no Brasil, independentemente dos demais preditores. O IDH se associou negativamente à RMEp (β= -0,03; p<0,0001). A prevalência de tabagismo também, porém apenas no modelo com latência de 10 anos (β= -0,04; p=0,0382). Conclusões - Com base na revisão, foram encontradas evidências para a associação entre fatores ocupacionais e ambientais, especialmente os agrotóxicos, e o câncer de estômago em agricultores. Todavia, vale notar que estudos futuros precisam considerar outros fatores de risco conhecidos para o câncer de estômago, como a infecção pelo Helicobacter pylori e o status socioeconômico. 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Objetivos - 1) Sumarizar achados de pesquisas sobre fatores associados ao câncer de estômago em agricultores, com foco nos ocupacionais; 2) Descrever a mortalidade por câncer de estômago entre trabalhadores do sexo masculino da agropecuária e demais ocupações, de 1980 a 2015, no Brasil; 3) Investigar exploratoriamente a associação entre preditores contextuais e a razão de mortalidade para a associação entre o trabalho na agropecuária e o câncer de estômago no Brasil. Métodos - São três estudos independentes conduzidos com o mesmo objeto: 1) o primeiro estudo é uma revisão sistemática de publicações com as palavras chave, stomach cancer AND farmers, e sinônimos, nas bases PubMed, Scopus, Wiley Online Library, Science Direct, Web of Science, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Lilacs, com foco em estudos observacionais; 2)estudo de mortalidade conduzido com registros de óbitos por câncer de estômago do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e dados da população economicamente ativa da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PNAD/IBGE), para o período de 1980 a 2015, no Brasil. A população do estudo foi limitada ao sexo masculino, com idade entre 30 a 69 anos, devido a concentração dos casos do câncer de estômago entre os homens e inconsistências de registros do campo ocupação no sexo feminino e nas idades superiores a 69 anos. Foram estimados o coeficiente anual de mortalidade por câncer de estômago e a razão de mortalidade agropecuária e demais ocupações, total e por grupos de idade; 3) estudo ecológico baseado em agregados por ano, no período entre 1980 e 2015. As variáveis preditoras contextuais foram: o nível de consumo de agrotóxicos, por hectare e por pessoa, a prevalência de tabagismo e o índice de desenvolvimento humano (IDH). O desfecho foi a razão de mortalidade para a associação entre o trabalho na agricultura e o câncer de estômago em agricultores, padronizada por idade. Medidas de associação correspondem aos coeficientes de regressão linear múltipla. Resultados - Estudo 1) Os achados dos 22 artigos revisados referem que, para ambos os sexos, o uso de agrotóxicos, o cultivo de cítricos e tempo na ocupação maior que 14 anos foram associados ao câncer de estômago em agricultores. Para os agrotóxicos, os tipos específicos foram Brometo de Metila, 2,4-D, Clordano, Propargite e Trifluralina. No sexo masculino, o uso de agrotóxicos por mais de 10 anos, herbicidas, o cultivo de azeitonas e milho, a criação de gado e produção do leite, além da residência rural, se associaram ao câncer de estômago em agricultores. Entre as agricultoras, as raças/etnias não brancas e a inserção como proprietárias. A maioria dos estudos foi avaliado como qualidade moderada. Estudo 2) Foram encontrados 150.937 casos de câncer de estômago, 52.164 (35%) em trabalhadores da agropecuária. Entre esses, em 1980, a mortalidade anual por câncer de estômago (ME) foi 36,6/100.000, maior que a de 18,2/100.000 do grupo referente, razão de mortalidade bruta (RME): 2,0. Em 2015, o ME foi de 18,3/100.000 e 11,2/100.000, respectivamente, RME: 1,6. Entre 1980 e 1995, a queda da RME foi de 33%, apresentando, a partir desse ano, estabilidade. A RME diminui com a idade, padrão que se repete ao longo dos anos do estudo. Estudo 3) Observou-se uma associação positiva do consumo de agrotóxicos por hectare (β=0,09,p<0,0001) e por pessoa (β=0,24, p<0,0001) com a razão de mortalidade (RMEp) para a associação entre o trabalho na agropecuária e o câncer de estômago no Brasil, independentemente dos demais preditores. O IDH se associou negativamente à RMEp (β= -0,03; p<0,0001). A prevalência de tabagismo também, porém apenas no modelo com latência de 10 anos (β= -0,04; p=0,0382). Conclusões - Com base na revisão, foram encontradas evidências para a associação entre fatores ocupacionais e ambientais, especialmente os agrotóxicos, e o câncer de estômago em agricultores. Todavia, vale notar que estudos futuros precisam considerar outros fatores de risco conhecidos para o câncer de estômago, como a infecção pelo Helicobacter pylori e o status socioeconômico. Trabalhadores brasileiros da agropecuária têm o dobro da ME estimada para os demais, desvantagem maior entre os mais jovens de 30 a 49 anos, em comparação com os mais idosos. Essa desvantagem se associa positivamente com as variáveis contextuais do consumo de agrotóxicos e negativamente com o IDH e prevalência de tabagismo. Pesquisas sobre substâncias químicas específicas presentes em agrotóxicos precisam ser realizadas, embora ações visando a redução de cancerígenos conhecidos devam ser urgentemente implementadas. |
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