Demanda e percepções do sofrimento psíquico entre usuários da Estratégia Saúde da Família

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Tavares, André Luis Bezerra
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Texto Completo: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/6607
Resumo: O sofrimento psíquico é uma das grandes motivações de procura por ambulatórios gerais. Estudos americanos demonstram que cerca de 40% dos pacientes de ambulatório geral teriam transtorno mental. A alta prevalência tem se confirmado em estudos brasileiros. Com objetivo de descrever a demanda de sofrimento psíquico e as percepções dos usuários sobre o tema, foi desenvolvido este estudo em Centro de Saúde da Família em Caucaia - CE, composto por dois componentes. O primeiro componente foi uma pesquisa quantitativa, que intentou identificar um perfil da demanda do sofrimento psíquico neste centro. Utilizou-se o SRQ-20 e um formulário estruturado com as variáveis: sexo, idade, classificação, medicação em uso, serviços em que é acompanhado e diagnóstico. Foi verificada prevalência de 19,48% (579) de sofrimento psíquico entre os atendimentos médicos realizados (2972), 183 (31,6%) homens e 396 (68,4%) mulheres. A média de idade foi 51,5 anos; 19,5% (113) apresentavam transtorno mental leve a moderado; 34,7% (201), transtorno mental grave; e 43% (249) sofrimento psíquico. Os transtornos mentais leves a moderados e os casos de sofrimento psíquico foram os mais prevalentes (62,5%), e a maioria dos usuários avaliados era acompanhada exclusivamente pela equipe de saúde da família (60,1%). Apesar destes dados, percebe-se que para as pessoas com transtornos mentais graves e persistentes existe política de saúde mental em andamento no Brasil. Para os menos graves, não há, o que coloca o desafio de construí-la. Propôs-se, assim, como segundo componente uma pesquisa qualitativa, objetivando compreender o sofrimento psíquico e suas manifestações como reportados por usuários com transtornos mentais comuns, identificando potencialidades do trabalho das equipes na área de saúde mental. Foram realizadas onze entrevistas não estruturadas, sendo analisadas seis através do método de análise de conteúdo. Por fim, surgiram três categorias: sofrimento psíquico na contemporaneidade e suas causas; as interfaces entre saúde física e mental; caminhos para alcançar a saúde mental e as potencialidades da estratégia saúde da família. O sofrimento psíquico contemporâneo é resultado da atual configuração social em que se vive, sendo consequência de desemprego, sobrecarga, preocupação excessiva, violência e outros problemas sociais, machismo, capitalismo, falta de lazer e sentimentos de solidão e impotência, entre outros. A família pode funcionar como problema ou solução, causando ou aliviando o sofrimento de seus integrantes. A interface entre saúde física e mental, especialmente a relação com sintomas e doenças cardiovasculares, também, foi categoria importante. Este tema precisa ser aprofundado e discutido na área da saúde para evitar erros e iatrogenia. Surgiram das falas ainda caminhos para auxiliar na assistência aos usuários em sofrimento, como: tratamentos medicamentosos e psicoterapêuticos, humanização da relação profissional-usuário, prevenção quaternária, escuta terapêutica, fé e religião, entre outros. Neste contexto, a medicina da família surge como aliada ao se basear na medicina centrada na pessoa e clínica ampliada. Com este estudo, reforça-se que o sofrimento psíquico é prevalente na atenção básica, merecendo maior atenção da gestão e das equipes.
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