Ensino de Ciências e tradição Maxakali: construindo relações em busca de um mundo comum

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Katia Pedroso Silveira
Data de Publicação: 2015
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUBD-A3NJAP
Resumo: Este trabalho é fruto de uma longa reflexão sobre o ensino de ciências num contexto de formação de professores indígenas da etnia Maxakali povo da região nordeste de Minas Gerais. Minha aproximação com essa comunidade foi me permitindo observar como a interação com o mundo dos brancos é para eles importante e multifacetada. Nesse sentido, relato o que foi esse meu encontro de quase sete anos com o Povo Maxakali e procuro retratar minhas inquietações, reflexões e investigações em busca de um ensino de ciências para esse contexto. Para tanto, realizei uma pesquisa bibliográfica sobre a origem e a história de contato dos Maxakali com o mundo dos brancos e também sobre ideias centrais relacionadas à sua cosmologia. Desenvolvi um duplo trabalho de campo, na Terra Indígena Aldeia Verde e também em ambiente urbano. A formulação antropológica de Viveiros de Castro denominada Perspectivismo Ameríndio e, em especial, a ideia de afinidade potencial foram de extrema relevância no entendimento sobre o universo Maxakali, me permitindo compreender o valor político, ritual e cosmológico atribuído por eles à alteridade. A escola, instituição originalmente ocidental, se tornou espaço de intercâmbio entre os dois mundos, indígena e ocidental. Os Maxakali preservam, não só a língua, mas seus cantos, mitos e rituais. Assim, a vida na aldeia é permeada pela relação entre os tikm'n como eles se autodenominam e seus yãmy, os espíritos cantores que são a grande fonte de conhecimento dos Maxakali. Por outro lado, a relação com o mundo ocidental tem promovido a entrada de um conjunto de artefatos tecnológicos e benefícios que nem sempre se mostram tão positivos. A interação com a universidade parece, na visão dos Maxakali, ser um caminho para um maior entendimento sobre a lógica do pensamento ocidental e de seus aparatos o que poderá auxiliá-los na construção de uma maior autonomia diante desse universo outro. Esse mergulho no universo tikm'n e as reflexões sobre um conjunto de aulas de ciências que ministrei a estudantes Maxakali num curso de formação de professores indígenas, me permitiram sugerir uma possível abordagem para o ensino de ciências nesse contexto. Uma abordagem permeada por uma relação mais simétrica entre os dois sistemas de conhecimento. Um ensino de ciências como prática inventiva ou exercício criativo nos termos wagnerianos. Pensar as salas de aula de ciências como espaço relacional que favoreça um duplo exercício antropológico, tanto de alunos indígenas em busca de uma compreensão sobre a ciência, quanto de professores de ciências que procuram um maior entendimento sobre o universo ameríndio. Um ensino de ciências como prática cosmopolítica, como espaço para a construção de um mundo comum como sugere Latour. Um ensino que se proponha pluricultural, reconhecendo as diferenças entre as duas formas de racionalidade, científica e tradicional Maxakali, mas que também respeite e acolha essas formas outras de existir e conhecer.
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Para tanto, realizei uma pesquisa bibliográfica sobre a origem e a história de contato dos Maxakali com o mundo dos brancos e também sobre ideias centrais relacionadas à sua cosmologia. Desenvolvi um duplo trabalho de campo, na Terra Indígena Aldeia Verde e também em ambiente urbano. A formulação antropológica de Viveiros de Castro denominada Perspectivismo Ameríndio e, em especial, a ideia de afinidade potencial foram de extrema relevância no entendimento sobre o universo Maxakali, me permitindo compreender o valor político, ritual e cosmológico atribuído por eles à alteridade. A escola, instituição originalmente ocidental, se tornou espaço de intercâmbio entre os dois mundos, indígena e ocidental. Os Maxakali preservam, não só a língua, mas seus cantos, mitos e rituais. Assim, a vida na aldeia é permeada pela relação entre os tikm'n como eles se autodenominam e seus yãmy, os espíritos cantores que são a grande fonte de conhecimento dos Maxakali. Por outro lado, a relação com o mundo ocidental tem promovido a entrada de um conjunto de artefatos tecnológicos e benefícios que nem sempre se mostram tão positivos. A interação com a universidade parece, na visão dos Maxakali, ser um caminho para um maior entendimento sobre a lógica do pensamento ocidental e de seus aparatos o que poderá auxiliá-los na construção de uma maior autonomia diante desse universo outro. Esse mergulho no universo tikm'n e as reflexões sobre um conjunto de aulas de ciências que ministrei a estudantes Maxakali num curso de formação de professores indígenas, me permitiram sugerir uma possível abordagem para o ensino de ciências nesse contexto. Uma abordagem permeada por uma relação mais simétrica entre os dois sistemas de conhecimento. Um ensino de ciências como prática inventiva ou exercício criativo nos termos wagnerianos. Pensar as salas de aula de ciências como espaço relacional que favoreça um duplo exercício antropológico, tanto de alunos indígenas em busca de uma compreensão sobre a ciência, quanto de professores de ciências que procuram um maior entendimento sobre o universo ameríndio. Um ensino de ciências como prática cosmopolítica, como espaço para a construção de um mundo comum como sugere Latour. Um ensino que se proponha pluricultural, reconhecendo as diferenças entre as duas formas de racionalidade, científica e tradicional Maxakali, mas que também respeite e acolha essas formas outras de existir e conhecer.This work results from a long reflection about the teaching of Sciences in a context of training of indigenous teachers from Maxakali ethnic group, located in the northeast of Minas Gerais. My approach to this community allowed me to observe how its interaction with the white world is important and multifaceted for it. In this manner it is both reported my engagement along almost seven years with the Maxakali people and pictured my uneasiness, reflections and investigations in search of a science teaching for this particular context. To this end, I made a bibliographical research about both the origin and history of the Maxakali with the white world and the central ideas of their cosmology. It was also developed a fieldwork in the Indigenous Land Aldeia Verde as well as in urban setting. Viveiros de Castro's anthropological formulation the Amerindian Perspectivism and, especially, the idea of potential affinity was extremely important to understand the Maxakali universe, which enables me to apprehend the political, ritual and cosmological values ascribed by them to the alterity. The school, institution originally occidental, became a space of interchanges between the two worlds, indigenous and occidental. The Maxakali preserve not only their language, but also their chants, myths and rituals. The life in the village is permeated by the relations between the tikm'n how they call themselves and their yãmy the chanting spirits, the great source of the Maxakali knowledge. The relation with the white world promotes the entrance of a set of technological artifacts and benefits which is not always positive. The interaction with the university seems, in the Maxakali view, to be a path to a better understanding about the logic of western thought and its artifacts. It can help them to build a stronger autonomy facing this universe. This exploration of the tikm'n universe and the reflections about a group of science classes that I taught to them in a course of training of indigenous teachers allowed me to suggest a possible approach to the Science teaching in this context. An approach that entails a more symmetric relation between the two knowledge systems. A Science teaching as a creative practice or a creative exercise in Wagner's terms. Science classrooms conceived as relational spaces that promote a two-way anthropological exercise, where the indigenous students seek for a comprehension about the Science, and the Science teachers pursue a better understanding about the Amerindian universe. The Science teaching as a cosmopolitical practice, as a space for the construction of a common world, as suggested by Latour. Finally, an education that accomplish a pluricultural effort, acknowledging the differences between the two ways of rationale, the scientific and the traditional, though respecting and accepting these other ways of exist and know.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGEducaçãoAntropologia reversaEnsino de ciênciasMaxakaliEducação indígenaCosmopolíticaEnsino de Ciências e tradição Maxakali: construindo relações em busca de um mundo comuminfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese_katiapedrososilveira.vf.pdfapplication/pdf1147478https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-A3NJAP/1/tese_katiapedrososilveira.vf.pdf48ec4650e601a8d8d6dc021162583d9cMD51TEXTtese_katiapedrososilveira.vf.pdf.txttese_katiapedrososilveira.vf.pdf.txtExtracted texttext/plain404429https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUBD-A3NJAP/2/tese_katiapedrososilveira.vf.pdf.txtbf83cde02c7fb15c252f73c2b6542e7fMD521843/BUBD-A3NJAP2019-11-14 14:13:42.749oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUBD-A3NJAPRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T17:13:42Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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