A configuração do discurso messiânico numa perspectiva semiótica e argumentativa

• Autor(a) principal: Clebson Luiz Brito
• Data de Publicação: 2015
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/MGSS-A7DR8F
• topic: Configuração; Discurso messiânico; Semiótica Discursiva; Análise do Discurso Francesa; Argumentação; Vieira, Antônio , 1608-1697 História do futuro; Análise do discurso; Pessoa, Fernando , 1888-1935 Mensagem; Messianismo; Benjamin, Walter , 1892-1940; Retórica; Bíblia AT Isaías

O objeto desta pesquisa é a identidade discursiva conhecida como discurso messiânico, ou ainda como discurso de caráter ou tom messiânico, designações aplicadas não apenas a textos oriundos do domínio religioso, mas também a textos provenientes de domínios diversos e materializados em diferentes gêneros. O objetivo maior que nos guia é, pois, o de compreender o que, do ponto de vista linguístico-discursivo, responde por essa categorização. Partimos da hipótese de que o discurso tido como messiânico (em sentido amplo) reitera uma configuração que alude ao quadro do messianismo, configuração essa que pode ser apreendida como um conjunto de formas semióticas (fundamentais e narrativas), discursivas e argumentativas, o que nos leva a recorrer ao aporte teórico da Semiótica Discursiva e da Análise do Discurso em dialogo com os estudos da argumentação. Quanto ao corpus, ele é composto por quatro textos ou conjunto de textos: 1) o livro bíblico do profeta Isaías; 2) História do futuro, de Padre Vieira; 3) Mensagem, de Fernando Pessoa; 4) as Teses sobre o conceito de história, de Walter Benjamin. Trata-se de um corpus heterogêneo do ponto de vista do gênero, do tempo e do espaço, mas, ao mesmo tempo, constituído por textos reconhecidamente messiânicos, características consideradas essenciais à investigação proposta. No que diz respeito aos resultados, observamos, na base de uma concepção de história veiculada nos textos, as oposições semânticas: /liberdade/ versus /opressão/ e /sacralidade/ versus /profanidade/. O presente, indiferentemente do contexto histórico a que os textos se referem, é compreendido como o tempo de afirmação dos termos disfóricos (/opressão/ e /profanidade/), enquanto ao futuro se reserva a negação desses termos e a posterior afirmação dos termos eufóricos: /liberdade/ e /sacralidade/. Nos diferentes textos analisados, a redenção messiânica é, assim, uma afirmação futura (virtual) da /liberdade/ concomitantemente com uma afirmação da /sacralidade/, o que significa, simultaneamente, reaver uma condição de plenitude e perfeição perdida num passado mítico/mitizado. Essa redenção, em termos de sintaxe extensiva, é ainda uma forma de triagem social, pela eliminação e/ou assimilação dos diferentes, processo que se baseia num simulacro de contrato entre o sujeito e um destinador transcendente. No âmbito do discurso propriamente dito, esses elementos se realizam como um discurso de poder voltado para um grupo a quem é prometida a hegemonia. Trata-se de um discurso prospectivo sustentado por um éthos ligado à paratopia e por uma dêixis enunciativa de véspera de redenção, num claro apelo ao páthos. Considerando, por fim, as cenas da enunciação, esses elementos são observados em duas situações: por um lado, a crença messiânica, por seu incontestável apelo emocional, é convertida em discursos que, num quadro cênico religioso, buscam validá-la e fazer crer em sua iminente realização a partir de uma situação tida como severamente negativa; por outro, textos não ligados ao quadro cênico religioso se valem, na forma de cenografia, do apelo emocional que o quadro do messianismo carrega para sacralizar algum projeto de futuro ou possibilidade de mudança.