Avaliação da qualidade de vida em pacientes com doenças reumáticas tratados com agentes biológicos: uma coorte prospectiva

• Autor(a) principal: Haliton Alves de Oliveira Junior
• Data de Publicação: 2018
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
• Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-BAUJ6W
• topic: Sistema Único de Saúde; Estudos de Coortes; Qualidade de Vida; Espondilite Anquilosante; Artrite Psoriásica; Artrite Reumatoide; Sistema Único de Saúde; Psoríase; Artropatias; Qualidade de Vida; Artrite Reumatoide

As condições reumáticas artrite reumatoide (AR), artrite psoriásica (AP) e espondilite anquilosante (EA) são doenças inflamatórias crônicas que, se não tratadas adequadamente, podem ocasionar deformidade, destruição das articulações e limitação funcional, com danos diretos à qualidade de vida do paciente. A Qualidade de vida relacionada a saúde (do Inglês Health-Related Quality of life HRQoL) é um conceito bastante amplo, que pode ser simplificado como o impacto da saúde sobre uma habilidade funcional de um indivíduo e no bem-estar percebido nos domínios físico, mental e social da vida. O objetivo principal desse trabalho foi avaliar a qualidade de vida em uma coorte de pacientes com doenças reumáticas crônicas imunomediadas em uso de agentes biológicos, através do instrumento genérico EuroQol 5 dimensões (EQ-5D). Os dados foram coletados por meio de formulário padronizado elaborado pelo Grupo de Pesquisa em Farmacoepidemiologia (GPFE) para investigação sobre a utilização de medicamentos e reações adversas, comorbidades, medidas de atividade das condições reumáticas e avaliação da funcionalidade e da qualidade de vida. As entrevistas foram realizadas com aqueles indivíduos que tiveram seus processos de solicitação de medicamentos deferidos e que aceitaram participar da pesquisa (amostragem por conveniência). As entrevistas foram conduzidas em três momentos: primeira entrevista (primeira dispensação), segunda entrevista (pelo menos seis meses após a realização da primeira entrevista) terceira entrevista (pelo menos seis meses após a realização da segunda entrevista). Até janeiro de 2017, 595 pacientes que receberam primeira dispensação de agentes anti-TNF no Sistema Único de Saúde (SUS) e aceitaram participar das entrevistas foram incluídos no estudo. A população consistiu de 412 (69,2%) pacientes com artrite reumatoide, 107 (18,0%) com espondilite anquilosante e 76 (12,8%) com artrite psoriásica. O agente biológico mais utilizado foi o adalimumabe 330 (55,5%). A maioria da população consistiu em mulheres 447 (75,1). A média ± DP da duração da doença foi de 10,31±9,47 anos e 119 (20,0%) dos pacientes tinham doença precoce. As mulheres apresentaram média de idade mais avançada que os homens (p=0,008) e menor proporção de indivíduos com doença precoce (p<0,001). As mulheres apresentam doença com atividade elevada pelo Clinical Disease Activity Index (CDAI) (>22) enquanto os homens apresentam atividade moderada da doença (p<0,001). Também, as mulheres apresentam piores valores iniciais de qualidade de vida e de funcionalidade que os homens (p=0,001 e p<0,001, respectivamente para EQ-5D e Health Assessment Questionnaire (HAQ-DI). Ao final de 12 meses de seguimento, 353 pacientes completaram as três entrevistas. A média de tempo de acompanhamento em meses foi de 6,69 ± 2,02; 7,04 ± 2,14 e 13,75 ± 2,30, respectivamente para os intervalos entre visita 1 e visita 2, visita 2 e visita 3 e visita 1 e visita 3. Para esses pacientes houve melhora significativa entre início e seis e doze meses de acompanhamento (p<0,05), independentemente da condição reumática ou regime de tratamento (monoterapia ou associação). Análise por intenção de tratar, utilizando de técnica de imputação múltipla, mostrou resultados semelhantes. Comparados com os valores basais, todos os domínios do EQ-5D, além da Escala Visual Analógica (EVA), obtiveram melhoras significativas após 12 meses de estudo. Pela análise de regressão linear múltipla por efeitos mistos, pacientes sem comorbidades e com melhores valores basais de qualidade de vida e funcionalidade, melhoraram mais após 12 meses de estudo. Análise de sensibilidade por tipo de doença apresentou resultados semelhantes. Os pacientes com pior valor de EQ-5D no início aumentaram em 0,18 ± 0,20 o valor da utilidade até o mês 12, enquanto esse aumento foi de 0,03 ± 0,15 para aqueles pacientes com melhores valores de qualidade de vida no início do estudo. Pacientes com pior funcionalidade no início do estudo (HAQ-DI > 1,4) aumentaram em 0,13 ± 0,22 o valor do EQ-5D após 12 meses, enquanto no grupo de pacientes com melhor funcionalidade no início do estudo esse aumento foi de 0,09 ± 0,17. Os resultados de distribuição das variáveis a nível basal mostram que os pacientes inclusos no nosso estudo apresentam valores de média de idade, duração da doença, atividade das doenças, qualidade de vida e funcionalidade semelhante com outras publicações nacionais e internacionais. Ademais, considerando a associação da presença do antígeno HLA-B27 em populações com espondiloartrites, notamos maior prevalência de indivíduos brancos nessas coortes, o que também é confirmado por outros estudos conduzidos com essas populações. AR foi a coorte mais idosa, com maior tempo de duração da doença, menor taxa de detecção precoce e maior proporção de mulheres; enquanto que a EA foi a coorte mais jovem, com menor tempo de duração a doença, maior taxa de detecção precoce e maior população masculina. Esses resultados para as coortes de AR e EA são mostrados também por diversas outras publicações a nível internacional. Nosso estudo mostrou que houve um ganho de qualidade de vida significativo, do ponto de vista clínico, nas coortes de doença reumáticas avaliadas. Adicionalmente, nosso trabalho mostrou que houve melhora em todos os domínios que compõem o EQ-5D, com nítida redução na proporção de pacientes com problemas em cada um deles, sendo o domínio de dor e mal-estar o que mais influencia na qualidade de vida. Estudos conduzidos na Europa mostram resultados semelhantes de ganho de qualidade de vida e melhora nos domínios do EQ5D, evidenciando o efeito positivo da terapia biológica na fisiopatologia das condições reumáticas imunomediadas. Esse estudo mostrou que, apesar da alta atividade das doenças e baixos estados de qualidade de vida e funcionalidade basais, o uso de terapia com agentes biológicos, associados ou não aos Medicamentos Modificadores do Curso da Doença Sintéticos (MMCDs), promoveu ganho de qualidade de vida significante após 12 meses de seguimento. Esses resultados reafirmam a importância de uma política pública que visa a garantia da integralidade de tratamento, subsidiando a tomada de decisões no âmbito da saúde coletiva e servindo como um suporte para futuras pesquisas no campo da economia da saúde.