Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Jacqueline Simone de Almeida Machado
Data de Publicação: 2016
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/ANDO-AH3NX9
Resumo: As transformações nos valores e práticas vivenciados pelas mulheres resultaram em novas concepções acerca das funções femininas desempenhadas tanto no âmbito familiar quanto no social. Em decorrência dessas transformações, a maternidade, presente no imaginário coletivo como ideal feminino, assume novo valor na contemporaneidade e ter ou não filho resulta do desejo de cada mulher. Partiu-se do pressuposto de que a opção pela maternidade ou não está relacionada à história de vida de cada mulher e é influenciada pelas mudanças históricas, sociais, culturais e políticas. Entretanto, nas políticas e programas de saúde públicas ainda prevalece a noção de reprodução como dever e como desejo intrínseco à condição feminina. A afirmação está baseada no fato de que as políticas públicas, de modo geral, direcionam suas práticas para o ciclo gravídico-puerperal. Este trabalho defende a tese que as mulheres sem filhos apresentam dimensões da maternidade e da não maternidade que precisam ser consideradas pelas políticas de saúde da mulher, uma vez que o atendimento está voltado à saúde reprodutiva que reafirma o ideal feminino de mulher-mãe. O objetivo é analisar narrativas de mulheres sem filhos em relação à maternidade e à não maternidade, considerando as questões das políticas e programas de atenção à saúde da mulher. Trata-se de um estudo qualitativo, com referencial metodológico da História Oral. As dezenove participantes são mulheres sem filhos, entre 26 e 90 anos, que conhecem ou utilizam programas públicos direcionados à mulher desde a década de 50 até hoje. A escolha das participantes foi de acordo com a técnica de amostragem snowball. A coleta de dados foi feita por meio de entrevista, entre janeiro e março de 2015. Utilizou-se a análise de narrativas para não fragmentar o conteúdo, identificando histórias, fazendo a discussão e a interpretação delas por meio da análise do conteúdo holístico/integral que foca a narrativa como um todo e de forma categorial para os significados específicos. Nas narrativas, emerge a percepção pelas entrevistadas da fragmentação do corpo feminino em útero e peito pelas políticas públicas. Surgem os medos e as justificativas das mulheres que optaram pela não maternidade, sua percepção sobre maternidade e as cobranças sociais e familiares pelo fato de serem mulheres sem filhos. Demonstram-se ainda as transformações no papel feminino, pois o corpo assume novas formas de subjetivação. A constatação nos permite inferir que o corpo encontra-se em construção e que a maternidade possui diferentes significados de acordo com o momento histórico e a vivência de cada mulher. Devem-se considerar as transformações no papel feminino, as novas configurações familiares e a liberdade de escolha da mulher na reelaboração ou estratégias de efetivação das políticas públicas que, embora apresentem programas para uma integralidade no cuidado à saúde da mulher, não atendem de forma eficaz as crescentes demandas femininas pela não maternidade.
id UFMG_8690fa1336491d777fde0d5d21d7a38a
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/ANDO-AH3NX9
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Claudia Maria de Mattos PennaInes Assuncao de Castro TeixeiraRegina Célia Lima CaleiroRita de Cassia MarquesMaria Jose Menezes BritoJacqueline Simone de Almeida Machado2019-08-10T23:32:24Z2019-08-10T23:32:24Z2016-10-24http://hdl.handle.net/1843/ANDO-AH3NX9As transformações nos valores e práticas vivenciados pelas mulheres resultaram em novas concepções acerca das funções femininas desempenhadas tanto no âmbito familiar quanto no social. Em decorrência dessas transformações, a maternidade, presente no imaginário coletivo como ideal feminino, assume novo valor na contemporaneidade e ter ou não filho resulta do desejo de cada mulher. Partiu-se do pressuposto de que a opção pela maternidade ou não está relacionada à história de vida de cada mulher e é influenciada pelas mudanças históricas, sociais, culturais e políticas. Entretanto, nas políticas e programas de saúde públicas ainda prevalece a noção de reprodução como dever e como desejo intrínseco à condição feminina. A afirmação está baseada no fato de que as políticas públicas, de modo geral, direcionam suas práticas para o ciclo gravídico-puerperal. Este trabalho defende a tese que as mulheres sem filhos apresentam dimensões da maternidade e da não maternidade que precisam ser consideradas pelas políticas de saúde da mulher, uma vez que o atendimento está voltado à saúde reprodutiva que reafirma o ideal feminino de mulher-mãe. O objetivo é analisar narrativas de mulheres sem filhos em relação à maternidade e à não maternidade, considerando as questões das políticas e programas de atenção à saúde da mulher. Trata-se de um estudo qualitativo, com referencial metodológico da História Oral. As dezenove participantes são mulheres sem filhos, entre 26 e 90 anos, que conhecem ou utilizam programas públicos direcionados à mulher desde a década de 50 até hoje. A escolha das participantes foi de acordo com a técnica de amostragem snowball. A coleta de dados foi feita por meio de entrevista, entre janeiro e março de 2015. Utilizou-se a análise de narrativas para não fragmentar o conteúdo, identificando histórias, fazendo a discussão e a interpretação delas por meio da análise do conteúdo holístico/integral que foca a narrativa como um todo e de forma categorial para os significados específicos. Nas narrativas, emerge a percepção pelas entrevistadas da fragmentação do corpo feminino em útero e peito pelas políticas públicas. Surgem os medos e as justificativas das mulheres que optaram pela não maternidade, sua percepção sobre maternidade e as cobranças sociais e familiares pelo fato de serem mulheres sem filhos. Demonstram-se ainda as transformações no papel feminino, pois o corpo assume novas formas de subjetivação. A constatação nos permite inferir que o corpo encontra-se em construção e que a maternidade possui diferentes significados de acordo com o momento histórico e a vivência de cada mulher. Devem-se considerar as transformações no papel feminino, as novas configurações familiares e a liberdade de escolha da mulher na reelaboração ou estratégias de efetivação das políticas públicas que, embora apresentem programas para uma integralidade no cuidado à saúde da mulher, não atendem de forma eficaz as crescentes demandas femininas pela não maternidade.The changes in the values and practices experienced by women entailed new conceptions about the feminine functions performed both in the family and in the social scope. Due to these changes, the motherhood, still present in the collective imaginary as a feminine ideal, takes on a new value in the contemporaneity, and the choice between having or not having children becomes the fruit of the personal choices and of the very desire of each woman. The assumption was that the option for the motherhood or non-motherhood is related to the life history of each woman, but is influenced by historical, social, cultural and political changes. Nevertheless, the notion of reproduction as a duty and as a desire intrinsic to the female condition is still predominant in the health policies and programs. This assertion is based on the fact that the public policies, in general, direct their practices towards the pregnancy-puerperal cycle. This work defends the view that women without children have dimensions of motherhood and non-motherhood that need to be considered by womens health policies, as the service is focused on reproductive health, thereby reasserting the female ideal of woman-mother. It is intended to analyze narratives of women without children in relation to the motherhood and the non-motherhood, taking into account the issues of policies and programs aimed at caring for womens health. This is a qualitative study, with a methodological benchmark of Oral History. The nineteen participants are women without children, aged between 26 and 90, who know or use public health programs directed towards women since the 1950s until the current days. The choice of participants was intentional, according to the snowball sampling technique. Data collection took place through an interview with guiding questions, between January and March 2015. The use of analysis of narratives had the purpose of avoiding content fragmentation, in order to identify stories and hold the discussion and interpretation of them by means of holistic/integral content analysis, which focuses the narrative as a whole and of a categorial form for the specific meanings. The narratives gave rise to the perception of the interviewees with regard to the fragmentation of the female body into womb and breast by the public policies. The narratives also raised the fears and justifications of women who opted for the non-motherhood, their perception about motherhood, and the social and family charges due to the fact that they are childless women. Moreover, the changes in the feminine role are demonstrated, since the body takes on new forms of subjectivation. The ascertainment enables us to infer that the body is under construction and that the motherhood has different meanings according to the historical moment and the experience of each woman. One should consider the changes in the feminine role, the new family configurations and the freedom of choice of the woman in the re-elaboration of strategies for consolidating public policies that, although have programs for a comprehensive care of womens health, do not effectively meet the growing feminine demands for the non-motherhood.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGMulheres/psicologiaEnfermagemPolíticas Públicas de SaúdeSaúde da MulherComportamento MaternoIdentidade de GêneroParidadeCondição FemininaNão MaternidadeSaúde da MulherPolíticas PúblicasNarrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulherinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALnarrativas_de_mulheres_sem_filhos_e_maternidade__quest_es_para_as_pol_ticas__de_sa_de_da_mulher.pdfapplication/pdf2188811https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/ANDO-AH3NX9/1/narrativas_de_mulheres_sem_filhos_e_maternidade__quest_es_para_as_pol_ticas__de_sa_de_da_mulher.pdf52d42a215573245f1077c61fd628f2a3MD51TEXTnarrativas_de_mulheres_sem_filhos_e_maternidade__quest_es_para_as_pol_ticas__de_sa_de_da_mulher.pdf.txtnarrativas_de_mulheres_sem_filhos_e_maternidade__quest_es_para_as_pol_ticas__de_sa_de_da_mulher.pdf.txtExtracted texttext/plain670576https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/ANDO-AH3NX9/2/narrativas_de_mulheres_sem_filhos_e_maternidade__quest_es_para_as_pol_ticas__de_sa_de_da_mulher.pdf.txt50a972225a961e929afd5f4611e0d556MD521843/ANDO-AH3NX92019-11-14 11:06:57.739oai:repositorio.ufmg.br:1843/ANDO-AH3NX9Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T14:06:57Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
title Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
spellingShingle Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
Jacqueline Simone de Almeida Machado
Condição Feminina
Não Maternidade
Saúde da Mulher
Políticas Públicas
Mulheres/psicologia
Enfermagem
Políticas Públicas de Saúde
Saúde da Mulher
Comportamento Materno
Identidade de Gênero
Paridade
title_short Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
title_full Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
title_fullStr Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
title_full_unstemmed Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
title_sort Narrativas de mulheres sem filhos e maternidade: questões para as políticas de saúde da mulher
author Jacqueline Simone de Almeida Machado
author_facet Jacqueline Simone de Almeida Machado
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Claudia Maria de Mattos Penna
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Ines Assuncao de Castro Teixeira
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Regina Célia Lima Caleiro
dc.contributor.referee3.fl_str_mv Rita de Cassia Marques
dc.contributor.referee4.fl_str_mv Maria Jose Menezes Brito
dc.contributor.author.fl_str_mv Jacqueline Simone de Almeida Machado
contributor_str_mv Claudia Maria de Mattos Penna
Ines Assuncao de Castro Teixeira
Regina Célia Lima Caleiro
Rita de Cassia Marques
Maria Jose Menezes Brito
dc.subject.por.fl_str_mv Condição Feminina
Não Maternidade
Saúde da Mulher
Políticas Públicas
topic Condição Feminina
Não Maternidade
Saúde da Mulher
Políticas Públicas
Mulheres/psicologia
Enfermagem
Políticas Públicas de Saúde
Saúde da Mulher
Comportamento Materno
Identidade de Gênero
Paridade
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Mulheres/psicologia
Enfermagem
Políticas Públicas de Saúde
Saúde da Mulher
Comportamento Materno
Identidade de Gênero
Paridade
description As transformações nos valores e práticas vivenciados pelas mulheres resultaram em novas concepções acerca das funções femininas desempenhadas tanto no âmbito familiar quanto no social. Em decorrência dessas transformações, a maternidade, presente no imaginário coletivo como ideal feminino, assume novo valor na contemporaneidade e ter ou não filho resulta do desejo de cada mulher. Partiu-se do pressuposto de que a opção pela maternidade ou não está relacionada à história de vida de cada mulher e é influenciada pelas mudanças históricas, sociais, culturais e políticas. Entretanto, nas políticas e programas de saúde públicas ainda prevalece a noção de reprodução como dever e como desejo intrínseco à condição feminina. A afirmação está baseada no fato de que as políticas públicas, de modo geral, direcionam suas práticas para o ciclo gravídico-puerperal. Este trabalho defende a tese que as mulheres sem filhos apresentam dimensões da maternidade e da não maternidade que precisam ser consideradas pelas políticas de saúde da mulher, uma vez que o atendimento está voltado à saúde reprodutiva que reafirma o ideal feminino de mulher-mãe. O objetivo é analisar narrativas de mulheres sem filhos em relação à maternidade e à não maternidade, considerando as questões das políticas e programas de atenção à saúde da mulher. Trata-se de um estudo qualitativo, com referencial metodológico da História Oral. As dezenove participantes são mulheres sem filhos, entre 26 e 90 anos, que conhecem ou utilizam programas públicos direcionados à mulher desde a década de 50 até hoje. A escolha das participantes foi de acordo com a técnica de amostragem snowball. A coleta de dados foi feita por meio de entrevista, entre janeiro e março de 2015. Utilizou-se a análise de narrativas para não fragmentar o conteúdo, identificando histórias, fazendo a discussão e a interpretação delas por meio da análise do conteúdo holístico/integral que foca a narrativa como um todo e de forma categorial para os significados específicos. Nas narrativas, emerge a percepção pelas entrevistadas da fragmentação do corpo feminino em útero e peito pelas políticas públicas. Surgem os medos e as justificativas das mulheres que optaram pela não maternidade, sua percepção sobre maternidade e as cobranças sociais e familiares pelo fato de serem mulheres sem filhos. Demonstram-se ainda as transformações no papel feminino, pois o corpo assume novas formas de subjetivação. A constatação nos permite inferir que o corpo encontra-se em construção e que a maternidade possui diferentes significados de acordo com o momento histórico e a vivência de cada mulher. Devem-se considerar as transformações no papel feminino, as novas configurações familiares e a liberdade de escolha da mulher na reelaboração ou estratégias de efetivação das políticas públicas que, embora apresentem programas para uma integralidade no cuidado à saúde da mulher, não atendem de forma eficaz as crescentes demandas femininas pela não maternidade.
publishDate 2016
dc.date.issued.fl_str_mv 2016-10-24
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-10T23:32:24Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-10T23:32:24Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/ANDO-AH3NX9
url http://hdl.handle.net/1843/ANDO-AH3NX9
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/ANDO-AH3NX9/1/narrativas_de_mulheres_sem_filhos_e_maternidade__quest_es_para_as_pol_ticas__de_sa_de_da_mulher.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/ANDO-AH3NX9/2/narrativas_de_mulheres_sem_filhos_e_maternidade__quest_es_para_as_pol_ticas__de_sa_de_da_mulher.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 52d42a215573245f1077c61fd628f2a3
50a972225a961e929afd5f4611e0d556
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1803589402921795584