Walter Benjamin e Gilles Deleuze: duas leituras filosóficas de Proust:distância, experiência, aprendizado

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Maria Jose Guzman
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-BCWN8X
Resumo: Esta tese pretende analisar a particular relação entre filosofia e literatura que estabeleceram tanto Walter Benjamin quanto Gilles Deleuze ao comentar a obra de Marcel Proust. Com o intuito de criar ressonâncias entre os autores escolhidos e assim articular os três capítulos em que consiste o trabalho, propôs-se o problema da distância. O primeiro capítulo está dedicado a Proust e tem a intenção de mostrar que não raro o próprio mundo aparece ao herói proustiano sob a forma do distanciamento; que entre o presente e o passado existe uma distância que os momentos reveladores da memória involuntária complexificam, mas não anulam. Esta distância multiplica-se a ponto de ser possível pensar o esquecimento do presente como tema proustiano. Para começar a definir o que se entende aqui por distância, delimita-se a questão, principalmente pela via negativa. Apoiando-se nessa noção de distância, a continuação do capítulo pretende confrontar-se com a tendência interpretativa do romance de Proust, entre todas a mais tradicional e consolidada, e que consiste em ver na redescoberta do tempo à qual alude o título do último volume de Em busca do tempo perdido, um percurso de contradições e superações, cujo fruto conteria, no fim, desenvolvido e reconciliado, o que estava em germe no começo. O segundo capítulo começa pela análise de Benjamin sobre Proust. Introduzimos a distância para interpretar a dinâmica memória - esquecimento e propomos a figura da estrangeiridade para acompanhar outras passagens da leitura benjaminiana de Proust. Na continuação, as figuras do camponês e do marujo (figuras da distância temporal e espacial, respectivamente) constituem o ponto de partida escolhido para a análise da crise da experiência e do fim da narrativa. Finalmente, com o intuito de salientar certas relações entre experiência e percurso, apresentam-se os conceitos de passagem (Greffrath) e de profanação (Agamben). Ainda na contracorrente da interpretação tradicional de Em busca do tempo perdido, entendido como um monumento da memória involuntária, o terceiro e último capítulo parte da inédita proposta deleuziana de analisar o romance como a busca de decifrar certos signos por um aprendiz. A noção deleuziana de signo desconstrói o pressuposto de uma relação de imediaticidade entre este e o seu significado, isto é, Deleuze introduz uma distância entre signo, sujeito e objeto que lhe permite construir seu conceito de aprendizado como um poderoso instrumento de crítica ao que ele chama imagem dogmática do pensamento. A partir dessa interpretação do romance, desarticula-se o jogo filosófico entre pensamento, vontade e verdade e se apresenta uma inesperada imagem do pensamento que, sem abrir mão da verdade e da necessidade, outorga um lugar de privilégio ao involuntário.
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Na continuação, as figuras do camponês e do marujo (figuras da distância temporal e espacial, respectivamente) constituem o ponto de partida escolhido para a análise da crise da experiência e do fim da narrativa. Finalmente, com o intuito de salientar certas relações entre experiência e percurso, apresentam-se os conceitos de passagem (Greffrath) e de profanação (Agamben). Ainda na contracorrente da interpretação tradicional de Em busca do tempo perdido, entendido como um monumento da memória involuntária, o terceiro e último capítulo parte da inédita proposta deleuziana de analisar o romance como a busca de decifrar certos signos por um aprendiz. A noção deleuziana de signo desconstrói o pressuposto de uma relação de imediaticidade entre este e o seu significado, isto é, Deleuze introduz uma distância entre signo, sujeito e objeto que lhe permite construir seu conceito de aprendizado como um poderoso instrumento de crítica ao que ele chama imagem dogmática do pensamento. A partir dessa interpretação do romance, desarticula-se o jogo filosófico entre pensamento, vontade e verdade e se apresenta uma inesperada imagem do pensamento que, sem abrir mão da verdade e da necessidade, outorga um lugar de privilégio ao involuntário.The purpose of this paper is to analyse the special relation between Philosophy and Literature that was established by both Walter Benjamin and Gilles Deleuze when they commented the work of Marcel Proust. In order to find resonances among the chosen authors and thus articulate the three chapters of the present paper, the question of distance is proposed. The first chapter is devoted to Proust and the intention is to show that the Proustian hero, not surprisingly, views his own world under the shape of a distancing; and that there is between the past and the present a distance that the revealing moments of the involuntary memory make complex, but that they do not eliminate. These distances are multiplied to the point where it is possible to think of forgetting the present as a Proustian theme. In order to start defining what is meant by distance here, the question is delimited mainly in negative terms. Furthermore, based on this notion of distance, the rest of the chapter attempts to challenge one of the most traditional and established interpretative tendencies of Prousts work, whereby the recovery of time to which the title of the last volume of In search of Lost Time alludes, is regarded as a path of contradictions and overcomings whose fruit contains, in the end, fully developed and reconciled, that which was the seed at the beginning. The second chapter begins with Benjamins analysis of Proust. The concept of distance is introduced in order to interpret the dynamics remembrance-forgetting, and the figure of foreigness is as well proposed for other passages of the Benjaminian reading of the writer. Moreover, the figures of the peasant and the sailor (figures of distance in time and distance in space, respectively) constitute the chosen starting point for the analysis of the crisis of experience and the end of narrative. Finally, in order to emphasize certain relations between experience and path, we introduce the concepts of passage (Greffrath) and of profanation (Agamben). Still challenging the traditional interpretation of In Search of Lost Time, understood as a monument of the involuntary memory, the third and last chapter departs from Deleuzes unprecedented proposal to analyse the novel as the search of an apprentice trying to decode certain signs. The Deleuzean notion of sign deconstructs the assumption that there is a relation of immediacy between the sign and its meaning, i.e., Deleuze introduces a distance between sign, subject and object that allows him to develop his concept of apprenticeship as a powerful tool of criticism for that which he calls dogmatic image of thought. Departing from this interpretation of the novel, the philosophical game between thought, will and truth is dismantled and an unexpected image of thought is presented, which, without renouncing to truth and to necessity, gives a privilege place to the involuntary.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGDeleuze, Gilles, 1925-1995Proust, Marcel, 1871-1922Benjamin, Walter, 1892-1940FilosofiaDistânciaDeleuzeAprendizadoProustExperiênciaBenjaminWalter Benjamin e Gilles Deleuze: duas leituras filosóficas de Proust:distância, experiência, aprendizadoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALppgfilosofia_mariajoseguzman_tesedoutorado.pdfapplication/pdf1577963https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-BCWN8X/1/ppgfilosofia_mariajoseguzman_tesedoutorado.pdf821b87dff13db7d74c102f4644f3d9d4MD51TEXTppgfilosofia_mariajoseguzman_tesedoutorado.pdf.txtppgfilosofia_mariajoseguzman_tesedoutorado.pdf.txtExtracted texttext/plain433567https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-BCWN8X/2/ppgfilosofia_mariajoseguzman_tesedoutorado.pdf.txt164f74fd9d0a48ada14c70ae6e6d4c13MD521843/BUOS-BCWN8X2019-11-14 11:42:33.513oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-BCWN8XRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T14:42:33Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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