“Política da consideração” e o significado das coisas: A persistência de comunidades de práticas agroflorestais em São Paulo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sallum, Marianne
Data de Publicação: 2022
Outros Autores: Noelli, Francisco Silva
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Cadernos do LEPAARQ
Texto Completo: https://periodicos.ufpel.edu.br/index.php/lepaarq/article/view/22874
Resumo: Resumo: As comunidades agroflorestais sempre formaram os lugares mais numerosos no Brasil, até o presente. As suas relações sociais foram pautadas pela “política da consideração” e economia de colaboração, diferentemente do sistema patriarcal e mercantil europeu. As mulheres tinham proeminência nas comunidades e práticas autossustentadas, segurança alimentar, produção de materialidade e transmissão de conhecimentos. Em São Paulo, a partir de 1502 houve um contexto específico de colonialismo, onde as comunidades Tupiniquim transformaram as relações com parte dos portugueses em relações de aliança, parentesco e consideração, amansando-os e criando materialidades, a exemplo da Cerâmica Paulista. Os portugueses não dominaram as comunidades Tupiniquim, mas uma parte deles ingressou nas suas comunidades de práticas, formando posteriormente o “autonomismo paulista”. Nesse contexto, coexistiram práticas colaborativas e de mercado, incorporando pessoas, coisas e conhecimentos de diversos lugares, como um modo de vida diferente daquele desenvolvido nos núcleos urbanos e nas plantations. É preciso compreender que as comunidades tiveram diferentes processos históricos que permitiram as suas persistências até o presente. Há o caso das mulheres que continuam produzindo a Cerâmica Paulista, mas não se consideram indígenas; enquanto outras comunidades, como os Tupi Guarani de Piaçaguera (São Paulo), reivindicam abertamente a identidade “misturada” entre Tupi e Guarani e manifestam o interesse em retomar a produção cerâmica que deixaram de fazer no passado. É um exemplo que exige a reavaliação do apagamento acadêmico dos povos indígenas na historiografia, arqueologia e antropologia em São Paulo, pois essas pessoas estão presentes independentemente das narrativas que pessoas de fora têm produzido a seu respeito. Abstract: In the territory currently known as Brazil there have always been more agroforestry communities than cities, even today. Their social relations were guided by the "politics of regard" and collaborative economy, unlike the European patriarchal and mercantile system. Women were prominent in their communities and in the self-sustaining practices, food security, materiality production, and knowledge transmission. In São Paulo, after 1502 there was a specific context of colonialism, where the Tupiniquim communities transformed their relations with part of the Portuguese into relations of alliance, kinship and consideration, "taming" them and creating materialities, as for example the Paulistaware. The Portuguese people didn't subjugate the Tupiniquim communities, but part of them integrated into their communities of practices, forming afterwards "Paulista autonomism". In that context, both collaborative and market practices co-existed, embodying people, things, and knowledge from different places, as a different way of life than the one carried out in the urban centers and plantations. It is necessary do understand that these communities experienced distinct historical processes which allowed them to persist until today. There is a situation in which part of the women keep producing Paulistaware, but do not consider themselves Indigenous; while other communities, such as the Tupi Guarani of Piaçaguera (São Paulo), claim their " mixed" identity between Tupi and Guarani and manifest interest in recovering the pottery production they no longer produce anymore. It is an example that demands the re-evaluation of the academic erasure of indigenous people in historiography, archeology, and anthropology of São Paulo, as these people are present regardless of the narratives that outsiders have produced about them. 
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