Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista
Autor(a) principal: | |
---|---|
Data de Publicação: | 2005 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Topoi (Rio de Janeiro. Online) |
Texto Completo: | http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2005000100099 |
Resumo: | O reino da podridão foi instaurado nos espaços urbanos medievais pelos detritos das atividades econômicas e pelos excrementos produzidos pelos moradores. Simultaneamente, instalou-se o reino da peste, o que os levaria a estabelecer uma interconexão de causa e efeito entre ambas as coisas. A secular convivência com monturos e esterqueiras resultaria numa arte sanitária de cunho olfativo, baseada na correlação entre maus cheiros e doenças. Essas noções estiveram na base dos cuidados sanitários adotados nas cidades de Portugal, e, mais tarde, nas de suas colônias. O iluminismo pretendeu substituir esta arte olfativa por uma ciência da salubridade urbana. Todavia, no universo português, esta nova ciência permaneceu presa aos limites dos saberes olfativos medievais, sem produzir uma nova efetividade. Gerou, entretanto, entre os funcionários coloniais, uma verdadeira obsessão pelo nauseabundo. Ao findar o século XVIII, os médicos e naturalistas formados pela recémreformada Universidade de Coimbra tornaram-se exímios cheiradores que se dedicariam com paixão ao judicioso exame do nauseabundo e à sua descrição. Não houve cloaca, pântano, poço, monturo ou maloca que não fosse cheirado na insaciável busca das partículas mefíticas que supunham contaminar a tudo e a todos. |
id |
UFRJ-19_dcac0122de91ae14727b206f9655e4a1 |
---|---|
oai_identifier_str |
oai:scielo:S2237-101X2005000100099 |
network_acronym_str |
UFRJ-19 |
network_name_str |
Topoi (Rio de Janeiro. Online) |
repository_id_str |
|
spelling |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluministaAlegoriaTeologia moralPráticas religiosas.O reino da podridão foi instaurado nos espaços urbanos medievais pelos detritos das atividades econômicas e pelos excrementos produzidos pelos moradores. Simultaneamente, instalou-se o reino da peste, o que os levaria a estabelecer uma interconexão de causa e efeito entre ambas as coisas. A secular convivência com monturos e esterqueiras resultaria numa arte sanitária de cunho olfativo, baseada na correlação entre maus cheiros e doenças. Essas noções estiveram na base dos cuidados sanitários adotados nas cidades de Portugal, e, mais tarde, nas de suas colônias. O iluminismo pretendeu substituir esta arte olfativa por uma ciência da salubridade urbana. Todavia, no universo português, esta nova ciência permaneceu presa aos limites dos saberes olfativos medievais, sem produzir uma nova efetividade. Gerou, entretanto, entre os funcionários coloniais, uma verdadeira obsessão pelo nauseabundo. Ao findar o século XVIII, os médicos e naturalistas formados pela recémreformada Universidade de Coimbra tornaram-se exímios cheiradores que se dedicariam com paixão ao judicioso exame do nauseabundo e à sua descrição. Não houve cloaca, pântano, poço, monturo ou maloca que não fosse cheirado na insaciável busca das partículas mefíticas que supunham contaminar a tudo e a todos.Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro2005-06-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersiontext/htmlhttp://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2005000100099Topoi (Rio de Janeiro) v.6 n.10 2005reponame:Topoi (Rio de Janeiro. Online)instname:Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)instacron:UFRJ10.1590/2237-101X006010004info:eu-repo/semantics/openAccessPereira,Magnus Roberto de Mellopor2015-09-23T00:00:00Zoai:scielo:S2237-101X2005000100099Revistahttp://www.revistatopoi.org/topoi.htmPUBhttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.phptopoi@historia.ufrj.br2237-101X2237-101Xopendoar:2015-09-23T00:00Topoi (Rio de Janeiro. Online) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)false |
dc.title.none.fl_str_mv |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista |
title |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista |
spellingShingle |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista Pereira,Magnus Roberto de Mello Alegoria Teologia moral Práticas religiosas. |
title_short |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista |
title_full |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista |
title_fullStr |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista |
title_full_unstemmed |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista |
title_sort |
Alguns aspectos da questão sanitária das cidades de Portugal e suas colônias: dos saberes olfativos medievais à emergência de uma ciência da salubridade iluminista |
author |
Pereira,Magnus Roberto de Mello |
author_facet |
Pereira,Magnus Roberto de Mello |
author_role |
author |
dc.contributor.author.fl_str_mv |
Pereira,Magnus Roberto de Mello |
dc.subject.por.fl_str_mv |
Alegoria Teologia moral Práticas religiosas. |
topic |
Alegoria Teologia moral Práticas religiosas. |
description |
O reino da podridão foi instaurado nos espaços urbanos medievais pelos detritos das atividades econômicas e pelos excrementos produzidos pelos moradores. Simultaneamente, instalou-se o reino da peste, o que os levaria a estabelecer uma interconexão de causa e efeito entre ambas as coisas. A secular convivência com monturos e esterqueiras resultaria numa arte sanitária de cunho olfativo, baseada na correlação entre maus cheiros e doenças. Essas noções estiveram na base dos cuidados sanitários adotados nas cidades de Portugal, e, mais tarde, nas de suas colônias. O iluminismo pretendeu substituir esta arte olfativa por uma ciência da salubridade urbana. Todavia, no universo português, esta nova ciência permaneceu presa aos limites dos saberes olfativos medievais, sem produzir uma nova efetividade. Gerou, entretanto, entre os funcionários coloniais, uma verdadeira obsessão pelo nauseabundo. Ao findar o século XVIII, os médicos e naturalistas formados pela recémreformada Universidade de Coimbra tornaram-se exímios cheiradores que se dedicariam com paixão ao judicioso exame do nauseabundo e à sua descrição. Não houve cloaca, pântano, poço, monturo ou maloca que não fosse cheirado na insaciável busca das partículas mefíticas que supunham contaminar a tudo e a todos. |
publishDate |
2005 |
dc.date.none.fl_str_mv |
2005-06-01 |
dc.type.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/article |
dc.type.status.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/publishedVersion |
format |
article |
status_str |
publishedVersion |
dc.identifier.uri.fl_str_mv |
http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2005000100099 |
url |
http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2237-101X2005000100099 |
dc.language.iso.fl_str_mv |
por |
language |
por |
dc.relation.none.fl_str_mv |
10.1590/2237-101X006010004 |
dc.rights.driver.fl_str_mv |
info:eu-repo/semantics/openAccess |
eu_rights_str_mv |
openAccess |
dc.format.none.fl_str_mv |
text/html |
dc.publisher.none.fl_str_mv |
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro |
publisher.none.fl_str_mv |
Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro |
dc.source.none.fl_str_mv |
Topoi (Rio de Janeiro) v.6 n.10 2005 reponame:Topoi (Rio de Janeiro. Online) instname:Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) instacron:UFRJ |
instname_str |
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) |
instacron_str |
UFRJ |
institution |
UFRJ |
reponame_str |
Topoi (Rio de Janeiro. Online) |
collection |
Topoi (Rio de Janeiro. Online) |
repository.name.fl_str_mv |
Topoi (Rio de Janeiro. Online) - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) |
repository.mail.fl_str_mv |
topoi@historia.ufrj.br |
_version_ |
1754734774360997889 |