Por que não de terceira?: a ferocidade realista em quatro contos de Marçal Aquino

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mello, Felipe Camargo [UNESP]
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/213605
Resumo: Em “A nova narrativa”, Antonio Candido discute algumas das tendências da prosa contemporânea brasileira e faz algumas considerações sobre o que chamou de realismo feroz. O objetivo dessa dissertação recai na sua colocação sobre como a escolha da voz narrativa pode potencializar ou não a representação da violência por esse realismo. Um narrador em primeira pessoa, segundo o crítico, constrói a representação dessa dada realidade de maneira mais concreta, ao contrário de um narrador em terceira pessoa, que representa de maneira mais exótica. Todavia, em um reparo, o crítico indaga se o exotismo criado não será “um tipo especial” que ficará mais claro para leitores futuros. Diante disso, procura-se responder se essa diferença se mantém e se ela se sustenta na ficção contemporânea; e se caso sim, por que a escolha de um narrador em primeira pessoa atua de maneira concreta no chamado realismo feroz ao invés da escolha em terceira pessoa. O realismo, segundo Tânia Pellegrini (2018), funciona como uma “imitação em profundidade” e em sua ossatura há uma determinação social e cultural capaz de representar as mais diversas relações entre o indivíduo e a sociedade na qual está inserido, independentemente do seu momento histórico, uma vez que é compreendido como uma estética “historicamente transformável”. Karl Erik Schollhammer (2009), diferenciando do realismo formal de Ian Watt (2010), discute que o realismo contemporâneo se desvencilha de um anseio pela busca da “verossimilhança descritiva e da objetividade narrativa”. O conceito, então, sofreria um deslocamento pela procura de um “efeito de real”, por meio de narrativas que se constroem nas relações entre literatura e outros meios, normalmente, fazendo de outras artes a sua porta de entrada para as representações de seus narradores ou das vítimas da violência. Dessa maneira, a coletânea Famílias terrivelmente felizes, publicada em 2003, que compreende vinte anos de produção de Marçal Aquino, mostra-se uma obra fundamental para conhecer o autor, uma vez que o leitor está diante de dezessete contos publicados em coletâneas anteriores e de quatro novas narrativas que compõe uma experiência de leitura sobre o tema que parece ser fulcral para sua escrita: a violência. Desse modo, pensando na indagação de Candido, pretende-se uma análise do uso do narrador em terceira pessoa nas quatro narrativas escolhidas como corpus – “Noturno nº um”, “Santa Lúcia”, “Boi”, e “A face esquerda” – e no modo como é representada a violência pelo autor, com isso, problematizar o papel da construção do narrador em parte da ficção brasileira contemporânea que coloca em questão – ou não – a violência urbana.
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Diante disso, procura-se responder se essa diferença se mantém e se ela se sustenta na ficção contemporânea; e se caso sim, por que a escolha de um narrador em primeira pessoa atua de maneira concreta no chamado realismo feroz ao invés da escolha em terceira pessoa. O realismo, segundo Tânia Pellegrini (2018), funciona como uma “imitação em profundidade” e em sua ossatura há uma determinação social e cultural capaz de representar as mais diversas relações entre o indivíduo e a sociedade na qual está inserido, independentemente do seu momento histórico, uma vez que é compreendido como uma estética “historicamente transformável”. Karl Erik Schollhammer (2009), diferenciando do realismo formal de Ian Watt (2010), discute que o realismo contemporâneo se desvencilha de um anseio pela busca da “verossimilhança descritiva e da objetividade narrativa”. O conceito, então, sofreria um deslocamento pela procura de um “efeito de real”, por meio de narrativas que se constroem nas relações entre literatura e outros meios, normalmente, fazendo de outras artes a sua porta de entrada para as representações de seus narradores ou das vítimas da violência. Dessa maneira, a coletânea Famílias terrivelmente felizes, publicada em 2003, que compreende vinte anos de produção de Marçal Aquino, mostra-se uma obra fundamental para conhecer o autor, uma vez que o leitor está diante de dezessete contos publicados em coletâneas anteriores e de quatro novas narrativas que compõe uma experiência de leitura sobre o tema que parece ser fulcral para sua escrita: a violência. Desse modo, pensando na indagação de Candido, pretende-se uma análise do uso do narrador em terceira pessoa nas quatro narrativas escolhidas como corpus – “Noturno nº um”, “Santa Lúcia”, “Boi”, e “A face esquerda” – e no modo como é representada a violência pelo autor, com isso, problematizar o papel da construção do narrador em parte da ficção brasileira contemporânea que coloca em questão – ou não – a violência urbana.In “A nova narrativa” Antonio Candido discusses some of the tendencies in the Brazilian contemporary prose, making some points about what he called fierce realism. The goal of this work follows Candido’s premise of how the choice of point of view may or may not increase the representation of violence in this kind of realism. A first person narrative, according to the literary critic, creates a representation of said reality in a more concrete way, whereas a third person narrator represents it in a more exotic manner. However, in an attempt to correct a notion that might not be accurate, Candido questions whether the exotism created will not be “a special kind” which should be clearer for future readers. That being said, the present study seeks to show if this difference remains, and if it supports itself in contemporary fiction; and, if so, explain why the choice of a first person narrator acts in a concrete manner in the so-called fierce realism, instead of the choice of a third person narrator. Realism, according to Tânia Pellegrini (2018), works as an “imitation of depth”, and, in its structure, there is a social and cultural premise capable of representing the most diverse relationships between a person and the society they have been inserted in, regardless of their historical moment, since it is seen as a “historically transformative” aesthetic. Karl Erik Schollhammer (2009), contrasting from Ian Watt (2010)’s formal realism, argues that the contemporary realism does not bear the need to seek “descriptive verisimilitude and narrative objectivity”. Therefore, the concept would undergo a shift in the search for a “reality effect” through narratives that build themselves upon the relationships between literature and other means, often using other kinds of art as a gateway to represent their narrators or the victims of violence. This way, the collection Famílias terrivelmente felizes, published in 2003, and which contains twenty years of productions from Marçal Aquino, makes for a fundamental piece of work to know the author, since the reader will be faced with sixteen short stories published in previous collections, and four new narratives, as well as a transfer of his writing, giving it new meaning and creating a new reading experience of its fulcrum theme: violence. Thus, based on Candido’s investigation, this study intends to analyse the use of the third person narrator in the four narratives chosen as corpus – “Noturno nº um”, “Santa Lúcia”, “Boi”, e “A face esquerda” – and how violence is represented by the author, and, with that, problematize the role of the narrator’s creation in parts of the Brazilian contemporary fiction, which may or may not raise the question of urban violence.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Santini, Juliana [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Mello, Felipe Camargo [UNESP]2021-07-22T17:58:50Z2021-07-22T17:58:50Z2021-05-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/21360533004030016P0porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2023-10-05T06:03:28Zoai:repositorio.unesp.br:11449/213605Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462023-10-05T06:03:28Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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