“Uma floresta tocada apenas por homens puros...” ou do que aprendemos com os discursos contemporâneos sobre a amazônia
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2012 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10183/49082 |
Resumo: | A presente tese reflete sobre uma rede discursiva a partir da qual são produzidas (e ensinadas) algumas verdades sobre a floresta amazônica, entre as quais está o entendimento de que as populações designadas tradicionais apresentam modos de habitar esse espaço e de se relacionar com a natureza dessa região considerados mais adequados e sustentáveis. Dessa forma, o argumento central que o estudo desenvolve é que a noção de sustentabilidade atua como um dispositivo estratégico na constituição e regulação das relações processadas entre as populações tradicionais e a floresta amazônica. Com base nisso, foram focalizados discursos contemporâneos sobre a Amazônia e as populações que lá vivem, por meio da análise de textos publicados em jornais brasileiros de ampla circulação entre os anos de 2007 e 2011. A perspectiva teórica que norteou o estudo se inscreve no campo dos Estudos Culturais, valendo-se, ainda, de teorizações do filósofo Michel Foucault (como as noções de dispositivo e de discurso). Com o intuito de abordar as condições que possibilitaram a emergência dos discursos contemporâneos sobre a floresta amazônica e seus habitantes “tradicionais”, são debatidas algumas questões que, historicamente, contribuíram para a invenção de diferentes modos de pensar e agir com relação à Amazônia – desde as narrativas produzidas no período colonial aos recentes discursos ambientalistas sobre a devastação da floresta. A noção de população tradicional também é problematizada, uma vez que há uma série de controvérsias envolvendo tal conceito, especialmente as que dizem respeito à vinculação de tal noção com a ideia de “bom selvagem ecológico”. Cabe indicar que, na realização das análises, foram definidos eixos temáticos que se centraram nos seguintes aspectos: 1) as tensões e impasses entre discursos “desenvolvimentistas” e “preservacionistas”, acompanhados da proposição do desenvolvimento sustentável como uma alternativa para solucionar os conflitos na Amazônia; 2) os enunciados que apontam a importância das populações tradicionais para a conservação da biodiversidade, em função de seu estilo de vida mais “puro” e “integrado com a natureza”; 3) a intensificação da inserção da floresta amazônica e das populações tradicionais nas redes do capitalismo transnacional, principalmente através da disseminação dos discursos sobre as mudanças climáticas globais. Em síntese, com base nas discussões realizadas, é possível dizer que aprendemos muitas lições sobre a floresta amazônica e as populações tradicionais ao folhearmos as páginas dos jornais, mas talvez a mais importante delas se refira ao papel incisivo que o mercado vem assumindo no jogo de forças relativo ao que deve ser feito com a floresta e com seus habitantes. Desse modo, as linhas do dispositivo da sustentabilidade se intensificam, produzindo novas formas de regulação da floresta e dos povos nela vivem. Ademais, é importante considerar que essas lições que aprendemos com os discursos contemporâneos sobre a Amazônia dizem respeito também a questões que nos implicam e nos convocam a assumir posicionamentos com relação aos discursos ambientalistas, aos discursos econômicos, aos discursos sobre sustentabilidade, entre tantos outros. |
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Sampaio, Shaula Maíra Vicentini deWortmann, Maria Lúcia Castagna2012-05-22T01:35:15Z2012http://hdl.handle.net/10183/49082000827694A presente tese reflete sobre uma rede discursiva a partir da qual são produzidas (e ensinadas) algumas verdades sobre a floresta amazônica, entre as quais está o entendimento de que as populações designadas tradicionais apresentam modos de habitar esse espaço e de se relacionar com a natureza dessa região considerados mais adequados e sustentáveis. Dessa forma, o argumento central que o estudo desenvolve é que a noção de sustentabilidade atua como um dispositivo estratégico na constituição e regulação das relações processadas entre as populações tradicionais e a floresta amazônica. Com base nisso, foram focalizados discursos contemporâneos sobre a Amazônia e as populações que lá vivem, por meio da análise de textos publicados em jornais brasileiros de ampla circulação entre os anos de 2007 e 2011. A perspectiva teórica que norteou o estudo se inscreve no campo dos Estudos Culturais, valendo-se, ainda, de teorizações do filósofo Michel Foucault (como as noções de dispositivo e de discurso). Com o intuito de abordar as condições que possibilitaram a emergência dos discursos contemporâneos sobre a floresta amazônica e seus habitantes “tradicionais”, são debatidas algumas questões que, historicamente, contribuíram para a invenção de diferentes modos de pensar e agir com relação à Amazônia – desde as narrativas produzidas no período colonial aos recentes discursos ambientalistas sobre a devastação da floresta. A noção de população tradicional também é problematizada, uma vez que há uma série de controvérsias envolvendo tal conceito, especialmente as que dizem respeito à vinculação de tal noção com a ideia de “bom selvagem ecológico”. Cabe indicar que, na realização das análises, foram definidos eixos temáticos que se centraram nos seguintes aspectos: 1) as tensões e impasses entre discursos “desenvolvimentistas” e “preservacionistas”, acompanhados da proposição do desenvolvimento sustentável como uma alternativa para solucionar os conflitos na Amazônia; 2) os enunciados que apontam a importância das populações tradicionais para a conservação da biodiversidade, em função de seu estilo de vida mais “puro” e “integrado com a natureza”; 3) a intensificação da inserção da floresta amazônica e das populações tradicionais nas redes do capitalismo transnacional, principalmente através da disseminação dos discursos sobre as mudanças climáticas globais. Em síntese, com base nas discussões realizadas, é possível dizer que aprendemos muitas lições sobre a floresta amazônica e as populações tradicionais ao folhearmos as páginas dos jornais, mas talvez a mais importante delas se refira ao papel incisivo que o mercado vem assumindo no jogo de forças relativo ao que deve ser feito com a floresta e com seus habitantes. Desse modo, as linhas do dispositivo da sustentabilidade se intensificam, produzindo novas formas de regulação da floresta e dos povos nela vivem. Ademais, é importante considerar que essas lições que aprendemos com os discursos contemporâneos sobre a Amazônia dizem respeito também a questões que nos implicam e nos convocam a assumir posicionamentos com relação aos discursos ambientalistas, aos discursos econômicos, aos discursos sobre sustentabilidade, entre tantos outros.This thesis deals with a discursive network from which some truths about the Amazon rainforest are produced (and taught). Among them is the understanding that the socalled traditional populations present modes of inhabiting this space and relating to nature from this region which are considered more appropriate and sustainable than others. In this way, the chief argument developed in this study aims to point out that the notion of sustainability acts as a strategic tool in the regulation and establishment of relations processed between traditional populations and the Amazon rainforest. Based on this, contemporary discourses on the Amazon and the people who live there were the focus of the analysis of texts published in Brazilian newspapers of wide circulation between the years 2007 and 2011. The theoretical perspective which guided this study falls within the field of Cultural Studies, making use, also, of theories of the philosopher Michel Foucault (such as the notions of device and discourse). In order to address the conditions that have allowed the emergence of contemporary discourses on the Amazon rainforest and its "traditional" inhabitants, some issues which have historically contributed to the invention of different ways of thinking and acting in relation to the Amazon are discussed here; contemplating from the narratives produced in the colonial period to recent environmental discourses about the devastation of the forest. The notion of traditional population is also problematized, since there has been a lot of controversy surrounding this concept, especially those relating to the linkage of such a notion with the idea of a "ecologically noble savage". It is worth mentioning that, in the analysis, were defined themes that focused on the following aspects: 1) the tensions and deadlocks between the "developmental" and "preservationists" discourses followed by the proposition of the idea of sustainable development as an alternative to solve the conflicts in the Amazon; 2) the statements which highlight the importance of traditional populations for conservation of biodiversity, since it is attributed to them a life style considered more "pure" and "integrated with nature"; 3) the intensive insertion of the Amazon forest and traditional populations in the networks of transnational capitalism, especially through the dissemination of the discourses about global climate change. In summary, based on the discussions that follow this study, one can say that – as we flip through the pages of newspapers – we have learned many lessons about the Amazon rainforest and its traditional populations, but, perhaps, the most important one concerns the incisive role that the market has been taking in the game forces relative to what should be done with the forest and its inhabitants. Thus, the lines of the sustainability device grow intense, producing new forms of regulation of the forest and the people who live there. Moreover, it is important to consider that these lessons we have learned from the contemporary discourses on the Amazon also relate to issues which involve and call us to take a stand with respect to environmental discourses, economic discourses, the discourses on sustainability, among many others.application/pdfporEducação ambientalEstudos culturaisPovoPopulaçãoSustentabilidadeThe amazon rainforestTraditional populationsThe sustainability deviceCultural studiesEnvironmental education“Uma floresta tocada apenas por homens puros...” ou do que aprendemos com os discursos contemporâneos sobre a amazôniainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de EducaçãoPrograma de Pós-Graduação em EducaçãoPorto Alegre, BR-RS2012doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSORIGINAL000827694.pdf000827694.pdfTexto completoapplication/pdf2576985http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/49082/1/000827694.pdf622028facaf68400fc8ba4480ed9e59bMD51TEXT000827694.pdf.txt000827694.pdf.txtExtracted Texttext/plain872306http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/49082/2/000827694.pdf.txt3854832e5eac6a12d17e5319216848e7MD52THUMBNAIL000827694.pdf.jpg000827694.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1907http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/49082/3/000827694.pdf.jpg7889dfad7434124e93d15a8f65d3e3e9MD5310183/490822018-10-05 08:19:19.239oai:www.lume.ufrgs.br:10183/49082Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532018-10-05T11:19:19Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false |
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A presente tese reflete sobre uma rede discursiva a partir da qual são produzidas (e ensinadas) algumas verdades sobre a floresta amazônica, entre as quais está o entendimento de que as populações designadas tradicionais apresentam modos de habitar esse espaço e de se relacionar com a natureza dessa região considerados mais adequados e sustentáveis. Dessa forma, o argumento central que o estudo desenvolve é que a noção de sustentabilidade atua como um dispositivo estratégico na constituição e regulação das relações processadas entre as populações tradicionais e a floresta amazônica. Com base nisso, foram focalizados discursos contemporâneos sobre a Amazônia e as populações que lá vivem, por meio da análise de textos publicados em jornais brasileiros de ampla circulação entre os anos de 2007 e 2011. A perspectiva teórica que norteou o estudo se inscreve no campo dos Estudos Culturais, valendo-se, ainda, de teorizações do filósofo Michel Foucault (como as noções de dispositivo e de discurso). Com o intuito de abordar as condições que possibilitaram a emergência dos discursos contemporâneos sobre a floresta amazônica e seus habitantes “tradicionais”, são debatidas algumas questões que, historicamente, contribuíram para a invenção de diferentes modos de pensar e agir com relação à Amazônia – desde as narrativas produzidas no período colonial aos recentes discursos ambientalistas sobre a devastação da floresta. A noção de população tradicional também é problematizada, uma vez que há uma série de controvérsias envolvendo tal conceito, especialmente as que dizem respeito à vinculação de tal noção com a ideia de “bom selvagem ecológico”. Cabe indicar que, na realização das análises, foram definidos eixos temáticos que se centraram nos seguintes aspectos: 1) as tensões e impasses entre discursos “desenvolvimentistas” e “preservacionistas”, acompanhados da proposição do desenvolvimento sustentável como uma alternativa para solucionar os conflitos na Amazônia; 2) os enunciados que apontam a importância das populações tradicionais para a conservação da biodiversidade, em função de seu estilo de vida mais “puro” e “integrado com a natureza”; 3) a intensificação da inserção da floresta amazônica e das populações tradicionais nas redes do capitalismo transnacional, principalmente através da disseminação dos discursos sobre as mudanças climáticas globais. Em síntese, com base nas discussões realizadas, é possível dizer que aprendemos muitas lições sobre a floresta amazônica e as populações tradicionais ao folhearmos as páginas dos jornais, mas talvez a mais importante delas se refira ao papel incisivo que o mercado vem assumindo no jogo de forças relativo ao que deve ser feito com a floresta e com seus habitantes. Desse modo, as linhas do dispositivo da sustentabilidade se intensificam, produzindo novas formas de regulação da floresta e dos povos nela vivem. Ademais, é importante considerar que essas lições que aprendemos com os discursos contemporâneos sobre a Amazônia dizem respeito também a questões que nos implicam e nos convocam a assumir posicionamentos com relação aos discursos ambientalistas, aos discursos econômicos, aos discursos sobre sustentabilidade, entre tantos outros. |
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