Histórias de além mar já aborrecem : história e literatura em Carvalho Guimarães (1820-1846?)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Brancher, Ana Lice
Data de Publicação: 2002
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/170920
Resumo: A literatura tem sido, na história brasileira, um espaço privilegiado através do qual o Brasil procura pensar-se a si mesmo. Para além dos movimentos e escolas literárias, a exemplo do Romantismo no século XIX ou do modernismo e do concretismo no século XX, movimentos cuja preocupação era instituir uma literatura nacional, a obra literária constitui-se em artefato singular a partir do qual podemos refletir sobre a nação. Exemplos consagrados encontramos em Grande Sertão, Veredas (1956), de Gumarães Rosa; em Macunaíma (1928), de Mário de Andrade; em Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911), de Lima Barreto; em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis. Em nosso estudo examinamos, num primeiro momento, as interlocuções entre história e literatura tomando como eixo de análise os romances de Vicente Pereira de Carvalho Guimarães (1820- 1846?), co-editor e colaborador do jornal Ostensor Brasileiro- Jornal Literário Pictoreal ( Rio de Janeiro, 1845-1846), autor de quatro romances publicados nesse jornal e de alguma poesia esparsa. O particular momento histórico vivido por Carvalho Guimarães caracteriza-se, no mundo das letras, pelo estabelecimento da imprensa no Brasil, pela difusão do romance, pela criação do Instituto Histórico e Geográfico (1838), pela instalação das primeiras faculdades. É o período dos primeiros escritos de Von Martius e Varnhagem, dos primeiros romances de Joaquim Manoel de Macedo, das revistas literárias, dos passos iniciais na tentativa de se instituir uma historiografia e uma literatura nacionais. É, igualmente, a época em que estrutura-se o Romantismo brasileiro. A literatura romântica na qual costumamos inserir os escritores brasileiros de meados do século XIX, usualmente é vista como mera imitação do Romantismo europeu, particularmente o francês, naturalmente com as devidas adaptações ao cenário local. Para além dos escritores habitualmente citados nessas abordagens, a historiografia e a crítica literária têm resgatado autores nos quais percebemos formas originais de propor a literatura e o país. Sem preocupar-nos com o maior ou menor grau de importância de Carvalho Guimarães nas letras nacionais, com sua filiação ou não ao Romantismo, percebemos em sua obra uma forma outra de discutir o Brasil e a literatura. Analisando as maneiras como o autor trabalhou a questão do nacional em seus romances, bem como a linha editorial do Ostensor Brasileiro, identificamos uma intenção muito peculiar em inseris o Brasil num contexto latino-americano configurada, ao nosso ver, na tentativa de estabelecer uma comunicação recíproca com intelectuais argentinos, alguns pertencentes à Geração de 37, que viveram durante algum tempo no Brasil na década de 40, exilados do governo Rosas. Por essa via subterrânea, por que não obteve maior repercussão em meio aos intelectuais que pensavam o nacional tampouco entre os estudiosos das gerações posteriores, buscamos lançar novos olhares sobre as sociabilidades intelectuais daquele período, pretendo das visibilidade à inserção do Brasil no contexto latino-americano e assim contribuindo com este viés, num segundo mo(vi)mento em nossa tese, para o debate mais amplo sobre a questão nacional ao longo do século XIX.
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