Aloimunização eritrocitária e HLA em doença falciforme
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2021 |
Tipo de documento: | Tese |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP |
Texto Completo: | https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17153/tde-11062021-081805/ |
Resumo: | A aloimunização contra antígenos eritrocitários é complicação frequente da terapia transfusional na doença falciforme (DF), podendo afetar mais da metade dos pacientes. A aloimunização contra antígenos leucocitários humanos (HLA) é outra complicação da transfusão, ainda pouco investigada na DF. O estado inflamatório crônico da DF é exacerbado nas complicações agudas. A inflamação tem papel importante na ativação imune e na aloimunização. O grupo sanguíneo Duffy é receptor de citocinas inflamatórias e a presença do alelo FY*02N.01(c.-67T>C), em homozigose, determina a ausência de expressão da proteína nos eritrócitos. A presença ou ausência da proteína no eritrócito determinam perfis inflamatórios diferentes em estudos in vivo e in vitro, mas a correlação clínica desses achados é controversa. Objetivos: Avaliar características clínicas associadas à aloimunização eritrocitária, determinar a prevalência de aloimunização HLA e sua eventual correlação com a aloimunização eritrocitária, investigar a relação do polimorfismo FY c.-67T>C com a aloimunização eritrocitária e com características clínicas da DF. Métodos: Foi realizada análise retrospectiva de dados clínicos, transfusionais e imuno-hematológicos de 211 pacientes com DF já submetidos a transfusão hemácias. Para 185 pacientes, foi realizada a genotipagem de grupos sanguíneos, incluindo os polimorfismos FY*01/*02 e FY*02N.01 (c.-67T>C). A pesquisa de anticorpos anti-HLAI/II (LABScreen® Mixed Class I/II) foi realizada em 118 pacientes. Resultados: O sexo feminino representou 52,6% dos participantes, a mediana de idade foi 27 anos (mín-máx;2-74 anos) e a distribuição de genótipos foi 69,1% SS, 14,6% Sβ0, 9,4% SC, 3,3% Sβ+, 1,8% SD e 1,4% SS com persistência hereditária da hemoglobina fetal. A prevalência de aloimunização eritrocitária foi 33,1%. Foram encontrados 230 anticorpos. Os anticorpos Rh (C, E, c, e e) e Kell representaram 40,2% dos aloanticorpos (n=179). O anti-Dia (8,9%) foi a especificidade mais comum depois dos anticorpos Rh/Kell. A idade e o número de transfusões foram fatores de risco independentes para a aloimunização eritrocitária (p<0,01). Cada ano de vida e cada concentrado de hemácias aumentou 3% e 0,4% a prevalência de aloimunização, respectivamente. A maioria dos pacientes (68,3%) desenvolveu anticorpos ainda nas primeiras 20 transfusões. O histórico de transfusão antes dos cinco anos de idade foi um fator protetor contra a aloimunização eritrocitária (25% vs 42,2%; p=0,049). Nos pacientes em regime transfusional episódico, a taxa de aloimunização foi 1,75/100 CHs, enquanto no regime regular foi 0,41/100CHs, com risco relativo de aloimunização 4,2 vezes maior na transfusão episódica (IC95%:2,47-7,03). Não houve associação da aloimunização com sobrevida, complicações agudas ou crônicas. A prevalência de aloimunização HLA foi elevada (77,1%) e não mostrou relação com sexo, idade ou número de transfusões. Anticorpos anti-HLAI (76,2%) foram mais comuns que anti-HLAII (38,9%). Houve tendência à associação de aloimunização eritrocitária e HLA (41,7% vs 22,2%; p=0,07). Os genótipos FY c.-67CC/TC foram associados ao regime transfusional regular (62,6% vs 45,7%; p=0,032), ao uso mais frequente de quelante de ferro (40,8% vs 21,4%; p=0,006) e à aloimunização eritrocitária (40,8% vs 24,2%; p=0,025), porém, foram menos associados à síndrome torácica aguda (41,7% vs 62,8%; p=0,006) e ao sequestro esplênico (10,4% vs 22,8%;p=0,033) que o genótipo c.-67TT. Conclusão: A prevalência de aloimunização eritrocitária e HLA são elevadas em pacientes com DF submetidos a transfusão. A aloimunização eritrocitária ocorre principalmente nas primeiras transfusões. Idade mais elevada, maior número de transfusões e transfusão episódica são fatores de risco para a aloimunização. O polimorfismo FY*02N.01 (c.-67T>C) parece ter relação com o perfil clínico e com a aloimunização na DF, porém mais estudos são necessários para compreender esse fenômeno. |
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Aloimunização eritrocitária e HLA em doença falciformeRed blood cell and HLA alloimmunization in sickle cell diseaseAlloimunizationAloimunizaçãoAloimunização eritrocitáriaAloimunização HLADoença falciformeDuffy Blood-group SystemHLA alloimmunizationRed blood cell alloimmunizationSickle cell diseaseSistema Duffy de grupo sanguíneoA aloimunização contra antígenos eritrocitários é complicação frequente da terapia transfusional na doença falciforme (DF), podendo afetar mais da metade dos pacientes. A aloimunização contra antígenos leucocitários humanos (HLA) é outra complicação da transfusão, ainda pouco investigada na DF. O estado inflamatório crônico da DF é exacerbado nas complicações agudas. A inflamação tem papel importante na ativação imune e na aloimunização. O grupo sanguíneo Duffy é receptor de citocinas inflamatórias e a presença do alelo FY*02N.01(c.-67T>C), em homozigose, determina a ausência de expressão da proteína nos eritrócitos. A presença ou ausência da proteína no eritrócito determinam perfis inflamatórios diferentes em estudos in vivo e in vitro, mas a correlação clínica desses achados é controversa. Objetivos: Avaliar características clínicas associadas à aloimunização eritrocitária, determinar a prevalência de aloimunização HLA e sua eventual correlação com a aloimunização eritrocitária, investigar a relação do polimorfismo FY c.-67T>C com a aloimunização eritrocitária e com características clínicas da DF. Métodos: Foi realizada análise retrospectiva de dados clínicos, transfusionais e imuno-hematológicos de 211 pacientes com DF já submetidos a transfusão hemácias. Para 185 pacientes, foi realizada a genotipagem de grupos sanguíneos, incluindo os polimorfismos FY*01/*02 e FY*02N.01 (c.-67T>C). A pesquisa de anticorpos anti-HLAI/II (LABScreen® Mixed Class I/II) foi realizada em 118 pacientes. Resultados: O sexo feminino representou 52,6% dos participantes, a mediana de idade foi 27 anos (mín-máx;2-74 anos) e a distribuição de genótipos foi 69,1% SS, 14,6% Sβ0, 9,4% SC, 3,3% Sβ+, 1,8% SD e 1,4% SS com persistência hereditária da hemoglobina fetal. A prevalência de aloimunização eritrocitária foi 33,1%. Foram encontrados 230 anticorpos. Os anticorpos Rh (C, E, c, e e) e Kell representaram 40,2% dos aloanticorpos (n=179). O anti-Dia (8,9%) foi a especificidade mais comum depois dos anticorpos Rh/Kell. A idade e o número de transfusões foram fatores de risco independentes para a aloimunização eritrocitária (p<0,01). Cada ano de vida e cada concentrado de hemácias aumentou 3% e 0,4% a prevalência de aloimunização, respectivamente. A maioria dos pacientes (68,3%) desenvolveu anticorpos ainda nas primeiras 20 transfusões. O histórico de transfusão antes dos cinco anos de idade foi um fator protetor contra a aloimunização eritrocitária (25% vs 42,2%; p=0,049). Nos pacientes em regime transfusional episódico, a taxa de aloimunização foi 1,75/100 CHs, enquanto no regime regular foi 0,41/100CHs, com risco relativo de aloimunização 4,2 vezes maior na transfusão episódica (IC95%:2,47-7,03). Não houve associação da aloimunização com sobrevida, complicações agudas ou crônicas. A prevalência de aloimunização HLA foi elevada (77,1%) e não mostrou relação com sexo, idade ou número de transfusões. Anticorpos anti-HLAI (76,2%) foram mais comuns que anti-HLAII (38,9%). Houve tendência à associação de aloimunização eritrocitária e HLA (41,7% vs 22,2%; p=0,07). Os genótipos FY c.-67CC/TC foram associados ao regime transfusional regular (62,6% vs 45,7%; p=0,032), ao uso mais frequente de quelante de ferro (40,8% vs 21,4%; p=0,006) e à aloimunização eritrocitária (40,8% vs 24,2%; p=0,025), porém, foram menos associados à síndrome torácica aguda (41,7% vs 62,8%; p=0,006) e ao sequestro esplênico (10,4% vs 22,8%;p=0,033) que o genótipo c.-67TT. Conclusão: A prevalência de aloimunização eritrocitária e HLA são elevadas em pacientes com DF submetidos a transfusão. A aloimunização eritrocitária ocorre principalmente nas primeiras transfusões. Idade mais elevada, maior número de transfusões e transfusão episódica são fatores de risco para a aloimunização. O polimorfismo FY*02N.01 (c.-67T>C) parece ter relação com o perfil clínico e com a aloimunização na DF, porém mais estudos são necessários para compreender esse fenômeno.Red blood cell (RBC) alloimmunization is a common complication of transfusional therapy in sickle cell disease (SCD), which can affect more than a half of the patients. Alloimmunization against human leukocyte antigens (HLA) is another complication of RBC transfusion, poorly investigated in SCD. The chronic inflammatory state in SCD is further exacerbated during acute complications. Inflammation plays an important role in immune activation and in alloimmunization. The Duffy blood group is a receptor of inflammatory cytokines and the FY*02N.01 (c.- 67T> C) allele, in homozygosis, prevents its expression in RBCs. The presence or absence of Duffy in the erythrocyte determines different inflammatory profiles in in vivo and in vitro studies. However, the clinical correlation of these findings is controversial. Objectives: To evaluate clinical characteristics associated with RBC alloimmunization, to investigate HLA alloimmunization and its relationship with RBC alloimmunization, to investigate the relationship between FY c.-67T>C polymorphism, RBC alloimmunization and clinical features in SCD. Methods: Retrospective analysis of clinical, transfusional and immunohematological data of 211 patients was performed. RBC genotyping was carried out in 185 patients, including FY *01/*02 and FY*02N.01 (c.-67T> C) polymorphisms. The screening for anti-HLAI / II antibodies (LABScreen® Mixed Class I / II) was performed in 118 patients. Results: The female gender represented 52.6% of the participants, the median age was 27 years (min-max; 2-74 years) and the distribution of SCD genotypes was 69,1% SS, 14,6% Sβ0, 9,4% SC, 3,3% Sβ+, 1,8% SD and 1,4% SS with hereditary persistence of fetal hemoglobin. The prevalence of RBC alloimmunization was 33.1%. We found 230 antibodies (Abs) . Rh (C, E, c, and e) and Kell represented 40.2% of the alloAbs (n=179). Anti-Dia (8,9%) was the most common specificity after Rh / Kell Abs. Age and the number of RBC concentrates were independent risk factors for RBC alloimmunization (p <0.01). Each year and each RBC concentrate increased the prevalence of alloimmunization by 3% and 0.4%, respectively. Most patients (68.3%) developed Ab within the first 20 transfusions. Transfusion before the age of five protected against alloimmunization (25% vs 42.2%; p = 0.049). The alloimmunization rate was 1.75/100 CHs in patients in episodic transfusion, while in the regular regimen it was 0.41/100CHs, with a relative risk 4,2 times higher in episodic transfusion (95%CI: 2.47-7.03). There was no association of RBC alloimmunization with survival, acute or chronic complications. The prevalence of HLA alloimmunization was high (77.1%). There was no association with sex, age or number RBC concentrates. Anti-HLAI Abs (76.2%) were more common than anti- HLAII (38.9%). There was a trend towards an association of RBC and HLA alloimunization (41.7% vs 22.2%; p = 0.07). The FY c.-67CC/TC genotypes were associated with regular transfusion (62.6% vs 45.7%; p = 0.032), with a more frequent use of iron chelator (40.8% vs 21.4%; p = 0.006) and with RBC alloimmunization (40.8% vs 24.2%; p = 0.025), however, they were less associated with acute chest syndrome (41.7% vs 62.8%; p = 0.006) and splenic sequestration (10,4% vs 22.8%; p = 0.033) than the c.-67TT genotype. Conclusion: The prevalence of RBC and HLA alloimmunization is high in patients with SCD previously transfused. RBC alloimmunization occurs mainly within the first transfusions. Older age, increasing number of transfusions and episodic transfusions are risk factors for RBC alloimmunization. The polymorphism FY c.-67T>C seems to be related to the clinical profile of SCD and to RBC alloimmunization, however, more studies are needed to understand this phenomenon.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPCovas, Dimas TadeuSantos, Flávia Leite Souza2021-03-09info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17153/tde-11062021-081805/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2021-06-18T22:19:02Zoai:teses.usp.br:tde-11062021-081805Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212021-06-18T22:19:02Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false |
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A aloimunização contra antígenos eritrocitários é complicação frequente da terapia transfusional na doença falciforme (DF), podendo afetar mais da metade dos pacientes. A aloimunização contra antígenos leucocitários humanos (HLA) é outra complicação da transfusão, ainda pouco investigada na DF. O estado inflamatório crônico da DF é exacerbado nas complicações agudas. A inflamação tem papel importante na ativação imune e na aloimunização. O grupo sanguíneo Duffy é receptor de citocinas inflamatórias e a presença do alelo FY*02N.01(c.-67T>C), em homozigose, determina a ausência de expressão da proteína nos eritrócitos. A presença ou ausência da proteína no eritrócito determinam perfis inflamatórios diferentes em estudos in vivo e in vitro, mas a correlação clínica desses achados é controversa. Objetivos: Avaliar características clínicas associadas à aloimunização eritrocitária, determinar a prevalência de aloimunização HLA e sua eventual correlação com a aloimunização eritrocitária, investigar a relação do polimorfismo FY c.-67T>C com a aloimunização eritrocitária e com características clínicas da DF. Métodos: Foi realizada análise retrospectiva de dados clínicos, transfusionais e imuno-hematológicos de 211 pacientes com DF já submetidos a transfusão hemácias. Para 185 pacientes, foi realizada a genotipagem de grupos sanguíneos, incluindo os polimorfismos FY*01/*02 e FY*02N.01 (c.-67T>C). A pesquisa de anticorpos anti-HLAI/II (LABScreen® Mixed Class I/II) foi realizada em 118 pacientes. Resultados: O sexo feminino representou 52,6% dos participantes, a mediana de idade foi 27 anos (mín-máx;2-74 anos) e a distribuição de genótipos foi 69,1% SS, 14,6% Sβ0, 9,4% SC, 3,3% Sβ+, 1,8% SD e 1,4% SS com persistência hereditária da hemoglobina fetal. A prevalência de aloimunização eritrocitária foi 33,1%. Foram encontrados 230 anticorpos. Os anticorpos Rh (C, E, c, e e) e Kell representaram 40,2% dos aloanticorpos (n=179). O anti-Dia (8,9%) foi a especificidade mais comum depois dos anticorpos Rh/Kell. A idade e o número de transfusões foram fatores de risco independentes para a aloimunização eritrocitária (p<0,01). Cada ano de vida e cada concentrado de hemácias aumentou 3% e 0,4% a prevalência de aloimunização, respectivamente. A maioria dos pacientes (68,3%) desenvolveu anticorpos ainda nas primeiras 20 transfusões. O histórico de transfusão antes dos cinco anos de idade foi um fator protetor contra a aloimunização eritrocitária (25% vs 42,2%; p=0,049). Nos pacientes em regime transfusional episódico, a taxa de aloimunização foi 1,75/100 CHs, enquanto no regime regular foi 0,41/100CHs, com risco relativo de aloimunização 4,2 vezes maior na transfusão episódica (IC95%:2,47-7,03). Não houve associação da aloimunização com sobrevida, complicações agudas ou crônicas. A prevalência de aloimunização HLA foi elevada (77,1%) e não mostrou relação com sexo, idade ou número de transfusões. Anticorpos anti-HLAI (76,2%) foram mais comuns que anti-HLAII (38,9%). Houve tendência à associação de aloimunização eritrocitária e HLA (41,7% vs 22,2%; p=0,07). Os genótipos FY c.-67CC/TC foram associados ao regime transfusional regular (62,6% vs 45,7%; p=0,032), ao uso mais frequente de quelante de ferro (40,8% vs 21,4%; p=0,006) e à aloimunização eritrocitária (40,8% vs 24,2%; p=0,025), porém, foram menos associados à síndrome torácica aguda (41,7% vs 62,8%; p=0,006) e ao sequestro esplênico (10,4% vs 22,8%;p=0,033) que o genótipo c.-67TT. Conclusão: A prevalência de aloimunização eritrocitária e HLA são elevadas em pacientes com DF submetidos a transfusão. A aloimunização eritrocitária ocorre principalmente nas primeiras transfusões. Idade mais elevada, maior número de transfusões e transfusão episódica são fatores de risco para a aloimunização. O polimorfismo FY*02N.01 (c.-67T>C) parece ter relação com o perfil clínico e com a aloimunização na DF, porém mais estudos são necessários para compreender esse fenômeno. |
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