Uma abordagem localista para morfologia e estrutura argumental dos verbos complexos (parassintéticos) do português brasileiro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Bassani, Indaiá de Santana
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-19022014-104851/
Resumo: O objeto empírico desta tese é um subgrupo de verbos complexos do português brasileiro. Os dados estudados são formações sincronicamente transparentes e composicionais com prefixos a-, eN- e eS- e sufixos -ec-, -iz-, -e- e -ej-, incluindo os chamados verbos parassintéticos, e formações originalmente complexas, porém duvidosas quanto à complexidade atualmente. O corpus contém 380 verbos selecionados a partir de dicionário e organizados por critérios de frequência. O objetivo geral descritivo enfoca questões relativas às propriedades e ao comportamento dos afixos, das raízes e das vogais temáticas. A discussão é organizada em torno dos níveis de estrutura morfológica, morfofonológica, argumental e eventual. O objetivo geral teórico do trabalho consiste em discutir as propostas da Semântica Lexical, da Sintaxe Lexical e da Morfologia Distribuída. Como resultados, o estudo oferece uma primeira classificação em verbos parcialmente transparentes e totalmente transparentes. Aqueles são analisados como fruto de um processo de reanálise histórica comparado ao desaparecimento de preverbos. O estudo mostra que existe um continuum entre formações completamente fossilizadas, reanalisadas como simples, em processo de mudança e completamente transparentes e composicionais. Uma segunda classificação se refere a formações com significado composicional e não-composicional. Os dados não-composicionais são estruturalmente analisados através de uma releitura da restrição de localidade na interpretação das raízes e do uso da noção de polissemia das raízes. Os verbos totalmente transparentes e composicionais são descritivamente classificados em verbos de mudança de estado, de lugar (location), de posse concreta (locatum), de posse abstrata, de reconfiguração e verbos de modificação de v. A característica mais robusta dessa subclasse é a obrigatoriedade de um argumento interno interpretado como objeto afetado (tema ou experienciador, em menor escala) da mudança expressa pelo evento. A investigação aponta que esses prefixos podem ser a realização fonológica de um núcleo misto de natureza lexical e funcional que é responsável por introduzir o argumento interno na estrutura e relacioná-lo à semântica da raiz. Tal núcleo possui minimamente o traço [+r] (relacional) e, em poucos casos, apresenta especificação direcional [+dir]. Com isso, a ideia de que esses prefixos são morfemas direcionais é desmistificada, pois essa informação interna ao verbo complexo é residual e decadente. Em geral, os prefixos se comportam como alomorfes e não há fortes evidências de associação exclusiva de um prefixo a uma determinada estrutura argumental ou classe semântica. Os sufixos são analisados como realizações de núcleos funcionais de tipo v[+voice], v[-voice] e v[+voice, -télico] e também se observa que a ocorrência sufixal em tipos de eventos não se dá de modo tão sistemático como afirma a literatura prévia. A teoria de alomorfia prospota em Embick (2010), baseada em localidade e linearidade, se mostra efetiva para analisar a escolha dos alomorfes dos vi núcleos R (relacionador), v e Th (Vogal temática). O tipo semântico da raiz influencia o tipo de verbo formado, mas pode ser manipulado a fim de sofrer coerção por um processo metonímico ou estrutural. A principal conclusão a partir dos resultados obtidos é que a morfologia verbal do português brasileiro pode revelar tendências em relação à estrutura argumental e a estrutura de eventos, mas não reflete correlações suficientemente regulares ou consistentes.
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O objetivo geral descritivo enfoca questões relativas às propriedades e ao comportamento dos afixos, das raízes e das vogais temáticas. A discussão é organizada em torno dos níveis de estrutura morfológica, morfofonológica, argumental e eventual. O objetivo geral teórico do trabalho consiste em discutir as propostas da Semântica Lexical, da Sintaxe Lexical e da Morfologia Distribuída. Como resultados, o estudo oferece uma primeira classificação em verbos parcialmente transparentes e totalmente transparentes. Aqueles são analisados como fruto de um processo de reanálise histórica comparado ao desaparecimento de preverbos. O estudo mostra que existe um continuum entre formações completamente fossilizadas, reanalisadas como simples, em processo de mudança e completamente transparentes e composicionais. Uma segunda classificação se refere a formações com significado composicional e não-composicional. Os dados não-composicionais são estruturalmente analisados através de uma releitura da restrição de localidade na interpretação das raízes e do uso da noção de polissemia das raízes. Os verbos totalmente transparentes e composicionais são descritivamente classificados em verbos de mudança de estado, de lugar (location), de posse concreta (locatum), de posse abstrata, de reconfiguração e verbos de modificação de v. A característica mais robusta dessa subclasse é a obrigatoriedade de um argumento interno interpretado como objeto afetado (tema ou experienciador, em menor escala) da mudança expressa pelo evento. A investigação aponta que esses prefixos podem ser a realização fonológica de um núcleo misto de natureza lexical e funcional que é responsável por introduzir o argumento interno na estrutura e relacioná-lo à semântica da raiz. Tal núcleo possui minimamente o traço [+r] (relacional) e, em poucos casos, apresenta especificação direcional [+dir]. Com isso, a ideia de que esses prefixos são morfemas direcionais é desmistificada, pois essa informação interna ao verbo complexo é residual e decadente. Em geral, os prefixos se comportam como alomorfes e não há fortes evidências de associação exclusiva de um prefixo a uma determinada estrutura argumental ou classe semântica. Os sufixos são analisados como realizações de núcleos funcionais de tipo v[+voice], v[-voice] e v[+voice, -télico] e também se observa que a ocorrência sufixal em tipos de eventos não se dá de modo tão sistemático como afirma a literatura prévia. A teoria de alomorfia prospota em Embick (2010), baseada em localidade e linearidade, se mostra efetiva para analisar a escolha dos alomorfes dos vi núcleos R (relacionador), v e Th (Vogal temática). O tipo semântico da raiz influencia o tipo de verbo formado, mas pode ser manipulado a fim de sofrer coerção por um processo metonímico ou estrutural. A principal conclusão a partir dos resultados obtidos é que a morfologia verbal do português brasileiro pode revelar tendências em relação à estrutura argumental e a estrutura de eventos, mas não reflete correlações suficientemente regulares ou consistentes.The empirical object of this dissertation is a subgroup of complex verbs of Brazilian Portuguese. The dataset is composed by synchronically and compositional formations containing the prefixes a-, eN- e eS- and the suffixes -ec-, -iz-, -e- e -ej- and originally complex formations which are dubious in relation to its synchronic complexity. The corpus contains 380 verbs selected from a dictionary and organized by frequency criteria. The general descriptive goal encompasses topics on properties and behavior of affixes, roots and theme vowels and the discussion is guided by the levels of morphological, morphophonological, argument and event structure. The general theoretical goal of this dissertation is to discuss Lexical Semantics, Lexical Syntax and Distributed Morphology proposals. As empirical results, the study offers a primary classification in terms of partially and totally transparent verbs. Partially transparent verbs are treated as resulting from a historical reanalysis process compared to the well known process of disappearance of preverbs. It is assumed that there is a continuum from forms which are: 1) completely fossilized; 2) reanalyzed as simple; 3) forms in process of change; 4) completely compositional and transparent. A secondary classification refers to compositional and noncompositional formations. Non-compositional data are structurally analyzed by means of a new reading on the literature on locality restriction on the interpretation of roots and the use of the notion of root polysemy. Completely compositional and transparent verbs are empirically classified into change of state, change of location, change of abstract and concrete possession, reconfiguration and verbs of modification of v. The strongest characteristic of this subclass is the obligatory presence of an internal argument interpreted as an affected object (theme or experiencer, to a less extent) of the change denoted by the event. The investigation points out that the prefix may be considered as the phonological realization of a head with a mixed lexical functional nature, which is responsible for introducing the internal argument in the structure and relating it to the root semantics. This head has at least the feature [+r] and, in a few cases, it may present directional information [+dir]. Considering this, the assumption that these prefixes are directional morphemes is debunked since this kind of information within a complex verb is residual and decayed. In general, prefixes behave as allomorphs and there are not strong evidences of an exclusive association of a prefix and a certain kind of argument structure or semantic class. The suffixes are analyzed as realizations of three functional heads: v[+voice], v[-voice] and v[+voice, -telic] and it is observed that suffix occurrence in event type is not systematic as previous literature claims. The theory of allomorphy proposed in Embick (2010), which is based on locality and linearity, was efficient in accounting for selection of allomorphs of R, v and Th heads. Finally, semantic type shows influence on verb type but this information can be viii manipulated in order to derive structural or metonymical coercion. The main conclusion to be drawn from the results is the fact that Brazilian Portuguese verbal morphology may reveal certain tendencies in argument and event structure, but it does not reflect sufficiently regular or consistent correlations.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPScher, Ana PaulaBassani, Indaiá de Santana2013-12-06info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttp://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-19022014-104851/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPLiberar o conteúdo para acesso público.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2016-07-28T16:11:46Zoai:teses.usp.br:tde-19022014-104851Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212016-07-28T16:11:46Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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description O objeto empírico desta tese é um subgrupo de verbos complexos do português brasileiro. Os dados estudados são formações sincronicamente transparentes e composicionais com prefixos a-, eN- e eS- e sufixos -ec-, -iz-, -e- e -ej-, incluindo os chamados verbos parassintéticos, e formações originalmente complexas, porém duvidosas quanto à complexidade atualmente. O corpus contém 380 verbos selecionados a partir de dicionário e organizados por critérios de frequência. O objetivo geral descritivo enfoca questões relativas às propriedades e ao comportamento dos afixos, das raízes e das vogais temáticas. A discussão é organizada em torno dos níveis de estrutura morfológica, morfofonológica, argumental e eventual. O objetivo geral teórico do trabalho consiste em discutir as propostas da Semântica Lexical, da Sintaxe Lexical e da Morfologia Distribuída. Como resultados, o estudo oferece uma primeira classificação em verbos parcialmente transparentes e totalmente transparentes. Aqueles são analisados como fruto de um processo de reanálise histórica comparado ao desaparecimento de preverbos. O estudo mostra que existe um continuum entre formações completamente fossilizadas, reanalisadas como simples, em processo de mudança e completamente transparentes e composicionais. Uma segunda classificação se refere a formações com significado composicional e não-composicional. Os dados não-composicionais são estruturalmente analisados através de uma releitura da restrição de localidade na interpretação das raízes e do uso da noção de polissemia das raízes. Os verbos totalmente transparentes e composicionais são descritivamente classificados em verbos de mudança de estado, de lugar (location), de posse concreta (locatum), de posse abstrata, de reconfiguração e verbos de modificação de v. A característica mais robusta dessa subclasse é a obrigatoriedade de um argumento interno interpretado como objeto afetado (tema ou experienciador, em menor escala) da mudança expressa pelo evento. A investigação aponta que esses prefixos podem ser a realização fonológica de um núcleo misto de natureza lexical e funcional que é responsável por introduzir o argumento interno na estrutura e relacioná-lo à semântica da raiz. Tal núcleo possui minimamente o traço [+r] (relacional) e, em poucos casos, apresenta especificação direcional [+dir]. Com isso, a ideia de que esses prefixos são morfemas direcionais é desmistificada, pois essa informação interna ao verbo complexo é residual e decadente. Em geral, os prefixos se comportam como alomorfes e não há fortes evidências de associação exclusiva de um prefixo a uma determinada estrutura argumental ou classe semântica. Os sufixos são analisados como realizações de núcleos funcionais de tipo v[+voice], v[-voice] e v[+voice, -télico] e também se observa que a ocorrência sufixal em tipos de eventos não se dá de modo tão sistemático como afirma a literatura prévia. A teoria de alomorfia prospota em Embick (2010), baseada em localidade e linearidade, se mostra efetiva para analisar a escolha dos alomorfes dos vi núcleos R (relacionador), v e Th (Vogal temática). O tipo semântico da raiz influencia o tipo de verbo formado, mas pode ser manipulado a fim de sofrer coerção por um processo metonímico ou estrutural. A principal conclusão a partir dos resultados obtidos é que a morfologia verbal do português brasileiro pode revelar tendências em relação à estrutura argumental e a estrutura de eventos, mas não reflete correlações suficientemente regulares ou consistentes.
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