Homicídios na periferia de Santo Amaro: um estudo sobre a sociabilidade e os arranjos de vida num cenário de exclusão.

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ferreira, Maria Inês Caetano
Data de Publicação: 1998
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-05062003-150042/
Resumo: O tema desta pesquisa é a violência urbana. A violência é um assunto abordado pelos meios de comunicação e pelas conversas entre as pessoas no dia-a-dia. A discussão pública sobre a violência sinaliza para um cenário em que se tem a impressão de que a quantidade e a "qualidade" dos atos de violência ultrapassaram o limite do razoável para as pessoas, de modo geral. A opinião pública discute a situação alarmante da sociedade brasileira em relação à violência, onde, a cada dia que passa, qualquer um pode se tornar uma vítima. Atualmente são organizados seminários, fóruns de debates, encontros, para se discutir o elevado grau de violência da sociedade brasileira. Argumenta-se que a nossa sociedade sempre foi marcada pela violência. Inúmeros estudos historiográficos revelam a violência ao longo do tempo: no modo como o país foi colonizado, no sistema escravocrata, na repressão às reivindicações e lutas populares, seja nas cidades ou no campo. Há ainda a violência cotidiana entre as pessoas nas inter-relações sociais. Além, é claro, da clássica violência dos aparelhos repressivos do Estado, neste caso a ditadura militar dos anos 60/70 e da era Vargas são apenas alguns exemplos. A verdade é que não parece possível estabelecer relações diretas entre os vários tipos de violência, as questões que envolvem cada tema são muito particulares. Entretanto, parece haver a tendência a se generalizar o fenômeno violência. A opinião pública, por exemplo, utiliza as estatísticas da criminalidade como um dos parâmetros que orienta a discussão. As estatísticas são produzidas a partir dos números da polícia, através dos registros e boletins de ocorrência. Os números registram crimes contra a vida, o patrimônio e os costumes e são apresentados para a sociedade como números absolutos, como se a quantificacão de um determinado tipo de crime falasse por si própria. Um exemplo deste fato é o número de homicídios. Uma reportagem no jornal Folha de S.Paulo (03.03.96) informou que, segundo dados do Pro-Aim, houve 4.997 homicídios na capital em 1995. Um número considerado elevado em comparação a outras cidades e países. Entretanto, este número elevado não traz em si mesmo a discussão sobre a violência na cidade. É preciso considerar o modo como as mortes ocorreram: por tráfico de drogas, roubos, seqüestros, discussões etc. e principalmente onde aconteceram as mortes, quem morreu e quem matou. Os diversos grupos sociais interpretam os índices de criminalidade de modos diferentes. A morte causada por policiais em uma determinada situação é interpretada diferentemente da morte efetuada por um ladrão de banco, por exemplo. As diferentes interpretações permitem compreender determinado fato como sendo violento ou não, apesar de engrossar as estatísticas do crime da mesma maneira. O modo como os grupos sociais interpretam a violência está relacionado com a posição deste grupo dentro da sociedade, como são as condições e a qualidade de vida (incluindo a distribuição e tipo de criminalidade que o grupo experimenta). Thompson chama a atenção para determinados cuidados que o pesquisador deve considerar ao estudar a violência. O autor destaca a necessidade de se buscar compreender a "importância simbólica da violência", o contexto onde ocorreu e os valores ligados a ela. Com o objetivo de compreender a violência (a sua importância simbólica) e a realidade social que ela pode informar, esta pesquisa investigou os homicídios na periferia de Santo Amaro. A partir das estatísticas oficiais, a região da periferia de Santo Amaro é uma das líderes no índice de criminalidade na capital. Bairros como Grajaú, Parque Santo Antônio, Parelheiros, Jardim São Luís, Capão Redondo e outros apresentam altas taxas de homicídio. O Jardim Ângela, por exemplo, era o distrito da cidade onde ocorria mais homicídios em 1995, 1,7/dia (F.S.P./idem). A principal causa de morte no bairro é o homicídio. A opinião pública apresenta os elevados índices de mortes violentas da periferia de Santo Amaro (assim como de outras localidades) como uma variável na discussão sobre a violência urbana. Esta pesquisa investigou as histórias de homicídio da região, através do estudo de processos de homicídios dolosos no fórum de Santo Amaro e de entrevistas com moradores da região. O objetivo foi compreender como as pessoas experimentam e interpretam a violência da região através das histórias de homicídio, o "valor simbólico" que elas atribuem aos homicídios e à violência que as cerca. A importância em estudar a violência se explica pelo fato deste ser um tema que oferece informações do modo de vida de determinado grupo social. Sobre o assunto, Montes reflete: "(...) tanto quanto a norma, a violência, como forma ou resultado da sua transgressão, constitui também ela uma linguagem através do qual uma sociedade nos fala do seu modo de organização, dos valores que reputa fundamentais, da sua concepção sobre o mundo, a natureza e o sobrenatural, e do lugar que nela ocupa a vida humana, como princípios ordenadores da vida associada." (1996;225) Procurando seguir a lição da autora citada acima, esta pesquisa se utilizou do estudo da violência na periferia como uma maneira de aprender esta linguagem. A linguagem que comunica as formas de sociabilidade, os arranjos da vida, as redes de relações, as estratégias de sobrevivência, o lugar que estas pessoas ocupam no mundo. Enfim, a estrutura social. Buscando conhecer a realidade micro destes grupos sociais e as relações com a realidade macro, da sociedade mais ampla. Em primeiro lugar, buscou-se apresentar uma descrição da paisagem em que os moradores da periferia habitam. Alguns detalhes que mostraram as condições de moradia, de trabalho, de educação e as cenas de violência. A pesquisa foi dividida em duas partes. A primeira abordou a vida na comunidade e o modo como os valores comunitários permitem estratégias de sobrevivência para aqueles que são excluídos. Nesta parte foram estudadas as histórias que envolveram a família e o grupo de vizinhos e amigos. Na segunda parte foram apresentadas situações em que houve um rompimento com os valores comunitários, a favor da disseminação dos valores individuais do mercado. Através de histórias de justiceiros, bandidos e de tráfico de drogas, buscou-se refletir sobre os dilemas representados pelo questionamento dos valores comunitários. Investigou-se as relações e a sociabilidade numa realidade de exclusão social, em que a universalização dos valores de mercado parece sempre adiada, para os membros das classes trabalhadoras.
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Atualmente são organizados seminários, fóruns de debates, encontros, para se discutir o elevado grau de violência da sociedade brasileira. Argumenta-se que a nossa sociedade sempre foi marcada pela violência. Inúmeros estudos historiográficos revelam a violência ao longo do tempo: no modo como o país foi colonizado, no sistema escravocrata, na repressão às reivindicações e lutas populares, seja nas cidades ou no campo. Há ainda a violência cotidiana entre as pessoas nas inter-relações sociais. Além, é claro, da clássica violência dos aparelhos repressivos do Estado, neste caso a ditadura militar dos anos 60/70 e da era Vargas são apenas alguns exemplos. A verdade é que não parece possível estabelecer relações diretas entre os vários tipos de violência, as questões que envolvem cada tema são muito particulares. Entretanto, parece haver a tendência a se generalizar o fenômeno violência. A opinião pública, por exemplo, utiliza as estatísticas da criminalidade como um dos parâmetros que orienta a discussão. As estatísticas são produzidas a partir dos números da polícia, através dos registros e boletins de ocorrência. Os números registram crimes contra a vida, o patrimônio e os costumes e são apresentados para a sociedade como números absolutos, como se a quantificacão de um determinado tipo de crime falasse por si própria. Um exemplo deste fato é o número de homicídios. Uma reportagem no jornal Folha de S.Paulo (03.03.96) informou que, segundo dados do Pro-Aim, houve 4.997 homicídios na capital em 1995. Um número considerado elevado em comparação a outras cidades e países. Entretanto, este número elevado não traz em si mesmo a discussão sobre a violência na cidade. É preciso considerar o modo como as mortes ocorreram: por tráfico de drogas, roubos, seqüestros, discussões etc. e principalmente onde aconteceram as mortes, quem morreu e quem matou. Os diversos grupos sociais interpretam os índices de criminalidade de modos diferentes. A morte causada por policiais em uma determinada situação é interpretada diferentemente da morte efetuada por um ladrão de banco, por exemplo. As diferentes interpretações permitem compreender determinado fato como sendo violento ou não, apesar de engrossar as estatísticas do crime da mesma maneira. O modo como os grupos sociais interpretam a violência está relacionado com a posição deste grupo dentro da sociedade, como são as condições e a qualidade de vida (incluindo a distribuição e tipo de criminalidade que o grupo experimenta). Thompson chama a atenção para determinados cuidados que o pesquisador deve considerar ao estudar a violência. O autor destaca a necessidade de se buscar compreender a "importância simbólica da violência", o contexto onde ocorreu e os valores ligados a ela. Com o objetivo de compreender a violência (a sua importância simbólica) e a realidade social que ela pode informar, esta pesquisa investigou os homicídios na periferia de Santo Amaro. A partir das estatísticas oficiais, a região da periferia de Santo Amaro é uma das líderes no índice de criminalidade na capital. Bairros como Grajaú, Parque Santo Antônio, Parelheiros, Jardim São Luís, Capão Redondo e outros apresentam altas taxas de homicídio. O Jardim Ângela, por exemplo, era o distrito da cidade onde ocorria mais homicídios em 1995, 1,7/dia (F.S.P./idem). A principal causa de morte no bairro é o homicídio. A opinião pública apresenta os elevados índices de mortes violentas da periferia de Santo Amaro (assim como de outras localidades) como uma variável na discussão sobre a violência urbana. Esta pesquisa investigou as histórias de homicídio da região, através do estudo de processos de homicídios dolosos no fórum de Santo Amaro e de entrevistas com moradores da região. O objetivo foi compreender como as pessoas experimentam e interpretam a violência da região através das histórias de homicídio, o "valor simbólico" que elas atribuem aos homicídios e à violência que as cerca. A importância em estudar a violência se explica pelo fato deste ser um tema que oferece informações do modo de vida de determinado grupo social. Sobre o assunto, Montes reflete: "(...) tanto quanto a norma, a violência, como forma ou resultado da sua transgressão, constitui também ela uma linguagem através do qual uma sociedade nos fala do seu modo de organização, dos valores que reputa fundamentais, da sua concepção sobre o mundo, a natureza e o sobrenatural, e do lugar que nela ocupa a vida humana, como princípios ordenadores da vida associada." (1996;225) Procurando seguir a lição da autora citada acima, esta pesquisa se utilizou do estudo da violência na periferia como uma maneira de aprender esta linguagem. A linguagem que comunica as formas de sociabilidade, os arranjos da vida, as redes de relações, as estratégias de sobrevivência, o lugar que estas pessoas ocupam no mundo. Enfim, a estrutura social. Buscando conhecer a realidade micro destes grupos sociais e as relações com a realidade macro, da sociedade mais ampla. Em primeiro lugar, buscou-se apresentar uma descrição da paisagem em que os moradores da periferia habitam. Alguns detalhes que mostraram as condições de moradia, de trabalho, de educação e as cenas de violência. A pesquisa foi dividida em duas partes. A primeira abordou a vida na comunidade e o modo como os valores comunitários permitem estratégias de sobrevivência para aqueles que são excluídos. Nesta parte foram estudadas as histórias que envolveram a família e o grupo de vizinhos e amigos. Na segunda parte foram apresentadas situações em que houve um rompimento com os valores comunitários, a favor da disseminação dos valores individuais do mercado. 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Uma reportagem no jornal Folha de S.Paulo (03.03.96) informou que, segundo dados do Pro-Aim, houve 4.997 homicídios na capital em 1995. Um número considerado elevado em comparação a outras cidades e países. Entretanto, este número elevado não traz em si mesmo a discussão sobre a violência na cidade. É preciso considerar o modo como as mortes ocorreram: por tráfico de drogas, roubos, seqüestros, discussões etc. e principalmente onde aconteceram as mortes, quem morreu e quem matou. Os diversos grupos sociais interpretam os índices de criminalidade de modos diferentes. A morte causada por policiais em uma determinada situação é interpretada diferentemente da morte efetuada por um ladrão de banco, por exemplo. As diferentes interpretações permitem compreender determinado fato como sendo violento ou não, apesar de engrossar as estatísticas do crime da mesma maneira. 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O Jardim Ângela, por exemplo, era o distrito da cidade onde ocorria mais homicídios em 1995, 1,7/dia (F.S.P./idem). A principal causa de morte no bairro é o homicídio. A opinião pública apresenta os elevados índices de mortes violentas da periferia de Santo Amaro (assim como de outras localidades) como uma variável na discussão sobre a violência urbana. Esta pesquisa investigou as histórias de homicídio da região, através do estudo de processos de homicídios dolosos no fórum de Santo Amaro e de entrevistas com moradores da região. O objetivo foi compreender como as pessoas experimentam e interpretam a violência da região através das histórias de homicídio, o "valor simbólico" que elas atribuem aos homicídios e à violência que as cerca. A importância em estudar a violência se explica pelo fato deste ser um tema que oferece informações do modo de vida de determinado grupo social. 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Em primeiro lugar, buscou-se apresentar uma descrição da paisagem em que os moradores da periferia habitam. Alguns detalhes que mostraram as condições de moradia, de trabalho, de educação e as cenas de violência. A pesquisa foi dividida em duas partes. A primeira abordou a vida na comunidade e o modo como os valores comunitários permitem estratégias de sobrevivência para aqueles que são excluídos. Nesta parte foram estudadas as histórias que envolveram a família e o grupo de vizinhos e amigos. Na segunda parte foram apresentadas situações em que houve um rompimento com os valores comunitários, a favor da disseminação dos valores individuais do mercado. Através de histórias de justiceiros, bandidos e de tráfico de drogas, buscou-se refletir sobre os dilemas representados pelo questionamento dos valores comunitários. 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