Investigação etiológica dos casos suspeitos de síndromes neuroinvasivas causadas por agentes virais no estado do Piauí: 2014-2018

• Autor(a) principal: Vieira, Marcelo Adriano da Cunha e Silva
• Data de Publicação: 2020
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Repositório Digital do Instituto Evandro Chagas (Patuá)
• Texto Completo: https://patua.iec.gov.br/handle/iec/4160
• topic: Arbovirus / patogenicidade; Encefalite por Arbovirus / etiologia; Febre do Nilo Ocidental / etiologia; Manifestações Neurológicas

Os arbovírus são responsáveis por um amplo espectro de síndromes clínicas, variando de doença febril exantemática inespecífica branda a grave, febres hemorrágicas e doenças neuroinvasivas. O Centers for Diseases Control and Prevention (CDC) considera como casos suspeitos de arbovirose neuroinvasiva as síndromes de encefalite, meningite asséptica e paralisia flácida aguda. O diagnóstico etiológico específico das síndromes neurológicas é um grande desafio por conta do amplitude do espectro de possíveis vírus neuropatogênicos. No Brasil, a dificuldade diagnóstica assume maior proporção por conta da circulação simultânea de vários arbovírus neurotrópicos. Em 2013, um programa local de vigilância de encefalites virais agudas e outras síndromes neurológicas foi iniciado no estado do Piauí. Um protocolo de investigação foi instituído, incluindo pesquisa de herpes vírus, enterovírus, arbovírus, vírus respiratórios e Campylobacter jejuni. No bojo deste programa, houve a detecção do primeiro caso humano de encefalite pelo vírus do Nilo Ocidental do Brasil. O objetivo da presente pesquisa foi verificar a etiologia das síndromes neurológicas virais infecciosas ou parainfecciosas no estado do Piauí (parecer de aprovação no comitê de ética no. 2.146.280 / 3.662.837). Tratou-se de um estudo observacional, descritivo e de prevalência. As frequências e proporções dos agentes etiológicas das síndromes neurológicas notificadas entre 2014 e 2018 foram calculadas. Técnicas sorológicas, virológicas e moleculares foram utilizadas para testagens em amostras de soro (amostras pareadas), líquor, secreção nasofaríngea e fezes de 399 pacientes. Todos os casos foram classificados de acordo com os critérios de Brighton e do CDC. Foram notificados casos de encefalite (155), mielite (30), encefalomielite (17), meningite asséptica (59) e polirradiculoneurite (138). A distribuição dos casos de acordo com o grau de certeza diagnóstica atingido foi a seguinte: nível I (24%), nível II (57%) e nível III (19%). O diagnóstico etiológico específico foi inferido em 47% (188/399) dos casos notificados, dos quais 39% (74/188) corresponderam a arboviroses neuroinvasivas prováveis (30%) ou confirmadas (70%), de acordo com os critérios do CDC, quais foram: dengue (4), Zika (8), chikungunya (19), febre do Nilo Ocidental (3), flavivirose indeterminada (33) e casos com codetecção de flavivirose indeterminada e chikungunya (6). Infecções por herpes vírus (67), enterovírus não-poliovírus (27), vírus Influenza (2) e pela bactéria Campylobacter jejuni (5) também foram detectadas, dentre outras. Os arbovírus foram causas importantes de comprometimento neurológico no estado do Piauí. A prevalência de indicadores laboratoriais de infecção recente e ativa por arbovírus entre os casos neurológicos registrados durante o período do estudo contrasta com as casuísticas de países não tropicais, onde herpes vírus e enterovírus são implicados na gênese da maioria absoluta das infecções virais do sistema nervoso central. Além disso, esses resultados indicam que os arbovírus exercem um papel mais importante como infecção precedente à síndrome de Guillain-Barré do que previamente descrito.