Sobre a subjetilidade fora de si

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Andrade, Sérgio Pereira
Data de Publicação: 2013
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Sapere Aude (Belo Horizonte. Online)
Texto Completo: http://periodicos.pucminas.br/index.php/SapereAude/article/view/5530
Resumo: O subjétil aparece em Derrida no ensaio Forcener le Subjectile (1986)[1] na tentativa de traduzir essa palavra – que também é um subjétil – citada três vezes por Antonin Artaud em seus desenhos, em 1932, 1946 e 1947, mas  nunca conceituada enquanto tal com um “é”, “que” ou “quem”. Pensar numa tradução do que não se apresenta enquanto uma coisa em si, põe a prova o pensamento da alteridade irredutível em Derrida, dessa vez, também atravessado pelo pensamento[2] de Artaud, bem como outra responsabilidade demandada pela subjetilidade. Nesse sentido, gostaria de deslizar entre a discussão de um pensamento que é desde sempre acontecimento de camadas sobre camadas sobre um fundo sem fundo, e da traição do outro, fora de si, como outra ética. Importa ainda chamar a atenção para o duplo e não dialético gesto do sobre que acende o título desse ensaio sugerindo um exercício de pensamento ao mesmo tempo a respeito de e inscrever em – sobre a pele, superfície. [1] No Brasil o ensaio recebeu uma versão especial em português atravessada pelos desenhos de Lena Bergstein, que utilizo aqui como referência (DERRIDA, J. Enlouquecer o Subjétil. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998). [2] O grifo aqui se faz em duplo desejo: ao mesmo tempo em que quero remeter a como o próprio Derrida se refere à cena de Artaud, sua dramaturgia cirúrgica – “é o pensamento de Artaud” (Derrida, 1998, p. 25, grifo do autor), quero também demarcar com esse grifo uma alusão ao que venho tratando desde minha dissertação em Artes Cênicas, e depois reencenado na Filosofia, como um pensar-fazer (v. ANDRADE, 2010; 2013). Derrida, ao se referir ao processo artístico de Artaud – não somente sobre o que ele fala a partir de seus processos, mas também sobre o seu trabalho corpo-a-corpo frente ao subjétil, sua criação artística, que também é o trabalho sobre o teatro da crueldade, o cruel da vida enquanto “carne”, enceta no seu texto uma noção de pensamento enquanto “cena”, o acontecimento de uma cena, a performance de Artaud. O pensamento de Artaud está para além do que se diz ou teoriza sobre Artaud, do que o próprio Artaud diz sobre o seu processo, seu estrito saber, pois ele é também a sua performance, o seu acontecimento, o seu fazer enquanto pensamento. Fernanda Bernado também aponta uma pista interessante sobre o sentido de pensamento em Derrida, que “se distingue da filosofia dando-lhe um recorte irredutivelmente aporético – pensamento que é o que, se há e quando há, a cada instante responde à surpresa golpeante e apelante do evento que acontece sem se fazer anunciar” (BERNADO, 2009, p. 16). Nesse sentido, digo pensamento de Artaud, como poderia dizer pensar-fazer ou, ainda, diria sua cena ou mais amplamente sua performance, como uma espécie de episteme desde nascimento incorporada.
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