Do «não racismo» português aos dois racismos dos portugueses

Bibliographic Details
Main Author: Marques, João Filipe
Publication Date: 2007
Format: Book
Language: fra
Source: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Download full: http://hdl.handle.net/10400.1/1915
Summary: Portugal - independentemente daquilo que pensam os portugueses - não constitui uma excepção no que diz respeito às atitudes e comportamentos racistas que se verificam noutros países da Europa. Há um conjunto de questões em torno deste problema que merecem ser formuladas: a que "lógicas" obedece o racismo na sociedade portuguesa? Quais são as suas fontes actuais e históricas? Quais são as transformações sociais que favorecem a emergência deste tipo de atitudes e comportamentos? As principais vítimas do racismo em Portugal são, inegavelmente, os imigrantes de origem africana e os seus descendentes e as pequenas comunidades ciganas. Mas estas duas colectividades não são vítimas do mesmo tipo de racismo. A abordagem tipológica utilizada na pesquisa que é apresentada neste tese pode, efectivamente, distinguir os dois tipos ideais de racismo que existem na sociedade portuguesa. O racismo que vitima os imigrantes e os seus descendentes obedece claramente à lógica «desigualitária» cujas fontes podem ser encontradas no passado colonial do país e nas ideologias e preconceitos herdados desse mesmo passado. Os imigrantes e os seus descendentes possuem efectivamente um lugar na sociedade; não são excluídos da esfera produtiva ou da vida económica mas são sistematicamente inferiorizados e relegados para situações de invisibilidade social. No que diz respeito aos ciganos a situação é completamente diferente. Eles são actualmente vítimas de uma lógica de racização «diferencialista» ou de «exclusão». Não lhes é concedido nenhum lugar na sociedade, nenhuma função económica, nenhum espaço de interacção. Quer ao nível das práticas quotidianas, quer ao nível dos acontecimentos excepcionais e violentos com carácter racista, a colectividade cigana é percebida enquanto incompatível, inassimilável e indesejável à sociedade portuguesa. As fontes desta rejeição diferencialista parecem poder ser encontradas, simultaneamente, na dissolução dos modos de vida típicos desta colectividade e nas transformações recentemente sofridas pela sociedade portuguesa.
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