A Influência da Amiodarona na Tiroide: Uma Revisão da Literatura

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Costa, Ricardo Jorge Teixeira da
Data de Publicação: 2022
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.6/12930
Resumo: A amiodarona é um antiarrítmico classe III com elevado grau de eficácia, sendo mesmo o único antiarrítmico com impacto na sobrevida dos pacientes, acabando por se tornar no fármaco mais utilizado mundialmente no tratamento de arritmias. Apesar da sua elevada eficácia, esta apresenta uma vasta quantidade de efeitos adversos que se podem manifestar em diversos sistemas do corpo humano. No entanto, e apesar de bem relatados estes efeitos indesejados, não existe atualmente alternativa viável que permita a sua substituição sem compromisso da saúde dos pacientes que se encontram dependentes deste fármaco. Relativamente ao seu impacto na tiroide, a amiodarona apresenta vários mecanismos capazes de induzir dano nesta glândula, desregulando o seu normal funcionamento. Sendo esta um fármaco constituído por iodo, perfazendo este 2/3 do seu peso molecular, o excesso deste ião leva a toxicidade tiroideia. Não obstante, existem também mecanismos independentes da sua quantidade de iodo, ou seja, mecanismos atribuídos a outras propriedades da amiodarona, nomeadamente a sua semelhança estrutural com a hormona tiroideia triiodotironina, a inibição da conversão da tetraiodotironina em triiodotironina, a citotoxicidade direta que apresenta na glândula tiroideia independente do iodo e a sua capacidade de precipitar ou exacerbar autoimunidades órgão-específicas. Embora todos os pacientes tratados com amiodarona demonstrem alterações nos testes de função tiroideia, apenas 15-20% destes desenvolvem algum nível de disfunção desta glândula. Esta disfunção pode tratar-se de um hipotiroidismo induzido por amiodarona ou de um hipertiroidismo induzido por amiodarona, existindo fatores que predispõem ao aparecimento de cada uma destas patologias. Relativamente ao hipertiroidismo induzido por amiodarona, este tem apresentação semelhante a outros hipertiroidismos de diferente etiologia e pode dividir-se no tipo 1, tipo 2 e misto/indefinido. O tipo 1 consiste num hipertiroidismo induzido pelo excesso de iodo, o tipo 2 é um hipertiroidismo induzido por tiroidite destrutiva e o misto/indefinido trata-se de uma combinação de ambos. O hipertiroidismo induzido por amiodarona parece desenvolver-se mais em áreas com menor exposição a iodo, especialmente no caso do tipo 2, em pacientes jovens, no sexo masculino, em pacientes com cardiomiopatia dilatada, sarcoidose cardíaca, bócio, índice de massa corporal baixo, cardiopatia cianótica complexa, cardiomiopatia isquémica e autoanticorpos tiroideus positivos. Em casos extremos, este quadro de hipertiroidismo pode traduzir-se em tempestade tiroideia, constituindo uma emergência médica. No caso do hipotiroidismo induzido por amiodarona, este apresenta também clínica semelhante a outros tipos de hipotiroidismo de diferente etiologia. Paralelamente ao hipertiroidismo induzido por amiodarona, este parece ser mais prevalente em indivíduos com maior exposição a iodo, valores de tetraiodotironina basal baixos, valores de hormona estimulante da tiroide basal altos, sexo feminino, fração de ejeção ventricular esquerda baixa, diabetes mellitus, autoanticorpos tiroideus positivos, hipotiroidismo subclínico subjacente, tiroidite crónica autoimune, polifarmácia, especificamente =5 fármacos, idade superior a 65 anos, preparações anti-anémicas e anti-gota, combinação de amiodarona com inibidores da xantina-oxidase, fármacos colagogos e protetores hepáticos, sendo estes dois últimos indicativos de patologia hepática subjacente podendo a farmacocinética da amiodarona ser alvo de alterações. Em casos extremos, pode desenvolver-se coma mixedematoso, sendo necessária uma rápida intervenção e reversão do quadro. No que diz respeito à periodicidade de monitorização da função tiroideia, esta é ainda incerta, no entanto existem guidelines que recomendam a testagem da função tiroideia em todos os pacientes previamente ao início do tratamento com amiodarona, com testagem posterior ao 1º e 3º meses de tratamento, seguidas de testagem contínua em intervalos de 6 meses até cessação da terapêutica. Atualmente, a abordagem terapêutica utilizada para casos de disfunção tiroideia passa pela utilização de fármacos antitiroideus no caso do hipertiroidismo induzido por amiodarona do tipo 1, corticoides orais no tipo 2, sendo este muitas vezes autolimitado, uma combinação destes últimos no de tipo misto/indefinido e levotiroxina em casos de hipotiroidismo induzido por amiodarona. Relativamente à temática da descontinuação e reintrodução de amiodarona, existe muita controvérsia, no entanto é consensual a não necessidade de paragem do tratamento com este fármaco em casos de hipotiroidismo induzido por amiodarona ou em pacientes com problemas cardíacos potencialmente mortais ou pacientes críticos com mau prognóstico que respondam bem a este fármaco. Em casos em que se considere a reintrodução de amiodarona após um quadro de hipertiroidismo induzido por este fármaco, é aconselhável a ablação terapêutica da tiroide prévia em pacientes com tipo 1 prévio, enquanto que monitorização é suficiente em pacientes após um tipo 2, devendo a monitorização ser apertada independentemente do tipo de hipertiroidismo induzido por amiodarona. Adicionalmente, existe a possibilidade de a amiodarona poder induzir o aparecimento de neoplasia maligna da tiroide, sendo, no entanto, um tema sobre o qual existem poucos estudos publicados. Também para certas populações, como a população pediátrica e as grávidas, existe pouca evidência e informação científica relativamente ao impacto da amiodarona na sua saúde, sendo necessários estudos mais abrangentes e exaustivos para se obter consenso relativamente à abordagem a seguir. Com este trabalho pretende-se conglomerar as principais características da amiodarona relacionando-as com a sua repercussão na tiroide, as diferentes apresentações clínicas de disfunção tiroideia, bem como propostas de abordagem diagnóstica, terapêutica e de monitorização para os diferentes quadros, o impacto deste fármaco na população de grávidas e pediátrica, a sua possível relação com neoplasia maligna da tiroide e alternativas a considerar ao seu uso.
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spelling A Influência da Amiodarona na Tiroide: Uma Revisão da LiteraturaAmiodaronaAntiarrítmico Classe IIIDisfunção TiroideiaHipertiroidismoHipotiroidismoDomínio/Área Científica::Ciências Médicas::Ciências da Saúde::MedicinaA amiodarona é um antiarrítmico classe III com elevado grau de eficácia, sendo mesmo o único antiarrítmico com impacto na sobrevida dos pacientes, acabando por se tornar no fármaco mais utilizado mundialmente no tratamento de arritmias. Apesar da sua elevada eficácia, esta apresenta uma vasta quantidade de efeitos adversos que se podem manifestar em diversos sistemas do corpo humano. No entanto, e apesar de bem relatados estes efeitos indesejados, não existe atualmente alternativa viável que permita a sua substituição sem compromisso da saúde dos pacientes que se encontram dependentes deste fármaco. Relativamente ao seu impacto na tiroide, a amiodarona apresenta vários mecanismos capazes de induzir dano nesta glândula, desregulando o seu normal funcionamento. Sendo esta um fármaco constituído por iodo, perfazendo este 2/3 do seu peso molecular, o excesso deste ião leva a toxicidade tiroideia. Não obstante, existem também mecanismos independentes da sua quantidade de iodo, ou seja, mecanismos atribuídos a outras propriedades da amiodarona, nomeadamente a sua semelhança estrutural com a hormona tiroideia triiodotironina, a inibição da conversão da tetraiodotironina em triiodotironina, a citotoxicidade direta que apresenta na glândula tiroideia independente do iodo e a sua capacidade de precipitar ou exacerbar autoimunidades órgão-específicas. Embora todos os pacientes tratados com amiodarona demonstrem alterações nos testes de função tiroideia, apenas 15-20% destes desenvolvem algum nível de disfunção desta glândula. Esta disfunção pode tratar-se de um hipotiroidismo induzido por amiodarona ou de um hipertiroidismo induzido por amiodarona, existindo fatores que predispõem ao aparecimento de cada uma destas patologias. Relativamente ao hipertiroidismo induzido por amiodarona, este tem apresentação semelhante a outros hipertiroidismos de diferente etiologia e pode dividir-se no tipo 1, tipo 2 e misto/indefinido. O tipo 1 consiste num hipertiroidismo induzido pelo excesso de iodo, o tipo 2 é um hipertiroidismo induzido por tiroidite destrutiva e o misto/indefinido trata-se de uma combinação de ambos. O hipertiroidismo induzido por amiodarona parece desenvolver-se mais em áreas com menor exposição a iodo, especialmente no caso do tipo 2, em pacientes jovens, no sexo masculino, em pacientes com cardiomiopatia dilatada, sarcoidose cardíaca, bócio, índice de massa corporal baixo, cardiopatia cianótica complexa, cardiomiopatia isquémica e autoanticorpos tiroideus positivos. Em casos extremos, este quadro de hipertiroidismo pode traduzir-se em tempestade tiroideia, constituindo uma emergência médica. No caso do hipotiroidismo induzido por amiodarona, este apresenta também clínica semelhante a outros tipos de hipotiroidismo de diferente etiologia. Paralelamente ao hipertiroidismo induzido por amiodarona, este parece ser mais prevalente em indivíduos com maior exposição a iodo, valores de tetraiodotironina basal baixos, valores de hormona estimulante da tiroide basal altos, sexo feminino, fração de ejeção ventricular esquerda baixa, diabetes mellitus, autoanticorpos tiroideus positivos, hipotiroidismo subclínico subjacente, tiroidite crónica autoimune, polifarmácia, especificamente =5 fármacos, idade superior a 65 anos, preparações anti-anémicas e anti-gota, combinação de amiodarona com inibidores da xantina-oxidase, fármacos colagogos e protetores hepáticos, sendo estes dois últimos indicativos de patologia hepática subjacente podendo a farmacocinética da amiodarona ser alvo de alterações. Em casos extremos, pode desenvolver-se coma mixedematoso, sendo necessária uma rápida intervenção e reversão do quadro. No que diz respeito à periodicidade de monitorização da função tiroideia, esta é ainda incerta, no entanto existem guidelines que recomendam a testagem da função tiroideia em todos os pacientes previamente ao início do tratamento com amiodarona, com testagem posterior ao 1º e 3º meses de tratamento, seguidas de testagem contínua em intervalos de 6 meses até cessação da terapêutica. Atualmente, a abordagem terapêutica utilizada para casos de disfunção tiroideia passa pela utilização de fármacos antitiroideus no caso do hipertiroidismo induzido por amiodarona do tipo 1, corticoides orais no tipo 2, sendo este muitas vezes autolimitado, uma combinação destes últimos no de tipo misto/indefinido e levotiroxina em casos de hipotiroidismo induzido por amiodarona. Relativamente à temática da descontinuação e reintrodução de amiodarona, existe muita controvérsia, no entanto é consensual a não necessidade de paragem do tratamento com este fármaco em casos de hipotiroidismo induzido por amiodarona ou em pacientes com problemas cardíacos potencialmente mortais ou pacientes críticos com mau prognóstico que respondam bem a este fármaco. Em casos em que se considere a reintrodução de amiodarona após um quadro de hipertiroidismo induzido por este fármaco, é aconselhável a ablação terapêutica da tiroide prévia em pacientes com tipo 1 prévio, enquanto que monitorização é suficiente em pacientes após um tipo 2, devendo a monitorização ser apertada independentemente do tipo de hipertiroidismo induzido por amiodarona. Adicionalmente, existe a possibilidade de a amiodarona poder induzir o aparecimento de neoplasia maligna da tiroide, sendo, no entanto, um tema sobre o qual existem poucos estudos publicados. Também para certas populações, como a população pediátrica e as grávidas, existe pouca evidência e informação científica relativamente ao impacto da amiodarona na sua saúde, sendo necessários estudos mais abrangentes e exaustivos para se obter consenso relativamente à abordagem a seguir. Com este trabalho pretende-se conglomerar as principais características da amiodarona relacionando-as com a sua repercussão na tiroide, as diferentes apresentações clínicas de disfunção tiroideia, bem como propostas de abordagem diagnóstica, terapêutica e de monitorização para os diferentes quadros, o impacto deste fármaco na população de grávidas e pediátrica, a sua possível relação com neoplasia maligna da tiroide e alternativas a considerar ao seu uso.Amiodarone is a highly effective class III antiarritmic drug, being the only capable of prolongating patients’ lives, which allowed it to become the most used drug worldwide in the treatment of arrythmias. Despite its high efficiency, its use comes with a large number of possible side effects, being able to affect various systems of the human body. However, and despite this side effects being well documented, there aren’t, currently, any available alternatives able to replace it without compromising patients’ health. In regards to its impact on the thyroid, amiodarone presents various mechanisms which allow it to damage this gland, dysregulating its normal function. Its high iodine content, approximately 2/3 of hits molecular weight, leads to thyroid toxicity. However, there are also iodine-independent mechanisms, meaning mechanisms attributed to amiodarone’s other properties, namely its similar structure to triiodothyronine, its inhibition of the conversion of tetraiodothyronine to triiodothyronine, its direct cytotoxicity, not related to the iodine toxicity, on the thyroid gland and its ability to precipitate or exacerbate organ-specific autoimmunity. Although all patients treated with amiodarone demonstrate oscillation in thyroid function tests, only 15-20% of those develop some level of thyroid dysfunction. This dysfunction can be presented as amiodarone induced hyperthyroidism or amiodarone induced hypothyroidism, with predisposing factors associated to their development. As for amiodarone induced hyperthyroidism, its clinical presentation is similar to other hyperthyroidisms of different etiology and can be divided into type 1, type 2 and mixed/indefinite types. Type 1 consist of an iodine induced hyperthyroidism, type 2 is a hyperthyroidism induced by destructive thyroiditis and the mixed/indefinite type is caused by a mixture of both. Amiodarone induced hyperthyroidism appears to develop more in iodine deficient geographical areas, specially type 2, and in young patients, male gender, patients with dilated cardiomyopathy, cardiac sarcoidosis, goiter, low body mass index, complex cyanotic cardiopathy, ischemic cardiomyopathy and positive antithyroid autoantibodies. In extreme cases, this hyperthyroidism can escalate into a thyroid storm, constituting a medical emergency. Amiodarone induced hypothyroidism also as a similar clinical presentation as other hypothyroidisms of different etiology. Contrarily to amiodarone induced hyperthyroidism, this seems to be more prevalent in individuals with a higher iodine exposure, low basal levels of tetraiodothyronine, high basal levels of thyroid stimulating hormone, in the female gender, in patients with a low left ventricle ejection fraction, diabetes mellitus, positive antithyroid autoantibodies, basal subclinical hypothyroidism, chronic autoimmune thyroiditis, polypharmacy, specifically =5 drugs, age above 65, the combination of xanthine-oxidase inhibitors and amiodarone, anti-anemic and anti-gout preparations, cholagogue drugs and hepatic protectors being this last 2 drugs indicative of underlying hepatic pathology with subsequent impact on amiodarone’s pharmacokinetics. In extreme cases, a myxedematous coma can develop, demanding a quick intervention and reversion of the clinical condition. In regards to the monitorization periodicity of thyroid function, there is no consensus, however there are established guidelines that recommend a full thyroid function test in all patients before starting amiodarone, additional testing at the 1st and 3rd months, followed by testing at each 6 months until amiodarone is discontinued. Nowadays, the most commonly used therapy in cases of thyroid dysfunction consist of antithyroid drugs in type 1 amiodarone induced hyperthyroidism cases, oral corticosteroids in type 2, being this last case self-limited most of the times, a combination of both these therapies in mixed/indefinite cases and levothyroxine in amiodarone induced hypothyroidism cases. When it comes to the discontinuation and reintroduction of amiodarone there is a lot of controversy, however it is consensual that there is no need to stop amiodarone treatment in patients with amiodarone induced hypothyroidism or in patients with potentially deadly cardiac pathology or critical patients with a poor prognosis that showed good response to this drug. In cases in which reinstitution of amiodarone is considered after type 1 amiodarone induced hyperthyroidism, therapeutic ablation of the thyroid is recommended, while in patients with previous type 2 monitoring is enough. These patients should be monitored closely independently of the amiodarone induced hyperthyroidism type. Additionally, there is a possibility of amiodarone contributing to thyroid cancer development, however there is a lack of published studies regarding this matter. Also, in certain populations, like pregnant women and pediatrics, there is a lack of scientific information as to amiodarone’s impact on their health, needing larger scale studies and more exhaustive ones in order to obtain consensus in the approach of this populations. This paper intends to conglomerate the main characteristics of amiodarone, relating them with its impact on the thyroid gland, the different clinical presentations of amiodarone induced thyroid dysfunction, suggested diagnostic, therapeutic and monitorization approaches of different clinical scenarios, its impact on pregnant women and pediatric population, its possible relation with thyroid cancer and alternatives to consider to this drug.Oliveira, Maria Elisa Cairrão RodriguesuBibliorumCosta, Ricardo Jorge Teixeira da2023-02-17T15:32:52Z2022-07-012022-05-102022-07-01T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10400.6/12930TID:203183460porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2023-12-15T09:56:19Zoai:ubibliorum.ubi.pt:10400.6/12930Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T00:52:25.674929Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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Não obstante, existem também mecanismos independentes da sua quantidade de iodo, ou seja, mecanismos atribuídos a outras propriedades da amiodarona, nomeadamente a sua semelhança estrutural com a hormona tiroideia triiodotironina, a inibição da conversão da tetraiodotironina em triiodotironina, a citotoxicidade direta que apresenta na glândula tiroideia independente do iodo e a sua capacidade de precipitar ou exacerbar autoimunidades órgão-específicas. Embora todos os pacientes tratados com amiodarona demonstrem alterações nos testes de função tiroideia, apenas 15-20% destes desenvolvem algum nível de disfunção desta glândula. Esta disfunção pode tratar-se de um hipotiroidismo induzido por amiodarona ou de um hipertiroidismo induzido por amiodarona, existindo fatores que predispõem ao aparecimento de cada uma destas patologias. Relativamente ao hipertiroidismo induzido por amiodarona, este tem apresentação semelhante a outros hipertiroidismos de diferente etiologia e pode dividir-se no tipo 1, tipo 2 e misto/indefinido. O tipo 1 consiste num hipertiroidismo induzido pelo excesso de iodo, o tipo 2 é um hipertiroidismo induzido por tiroidite destrutiva e o misto/indefinido trata-se de uma combinação de ambos. O hipertiroidismo induzido por amiodarona parece desenvolver-se mais em áreas com menor exposição a iodo, especialmente no caso do tipo 2, em pacientes jovens, no sexo masculino, em pacientes com cardiomiopatia dilatada, sarcoidose cardíaca, bócio, índice de massa corporal baixo, cardiopatia cianótica complexa, cardiomiopatia isquémica e autoanticorpos tiroideus positivos. Em casos extremos, este quadro de hipertiroidismo pode traduzir-se em tempestade tiroideia, constituindo uma emergência médica. No caso do hipotiroidismo induzido por amiodarona, este apresenta também clínica semelhante a outros tipos de hipotiroidismo de diferente etiologia. Paralelamente ao hipertiroidismo induzido por amiodarona, este parece ser mais prevalente em indivíduos com maior exposição a iodo, valores de tetraiodotironina basal baixos, valores de hormona estimulante da tiroide basal altos, sexo feminino, fração de ejeção ventricular esquerda baixa, diabetes mellitus, autoanticorpos tiroideus positivos, hipotiroidismo subclínico subjacente, tiroidite crónica autoimune, polifarmácia, especificamente =5 fármacos, idade superior a 65 anos, preparações anti-anémicas e anti-gota, combinação de amiodarona com inibidores da xantina-oxidase, fármacos colagogos e protetores hepáticos, sendo estes dois últimos indicativos de patologia hepática subjacente podendo a farmacocinética da amiodarona ser alvo de alterações. Em casos extremos, pode desenvolver-se coma mixedematoso, sendo necessária uma rápida intervenção e reversão do quadro. No que diz respeito à periodicidade de monitorização da função tiroideia, esta é ainda incerta, no entanto existem guidelines que recomendam a testagem da função tiroideia em todos os pacientes previamente ao início do tratamento com amiodarona, com testagem posterior ao 1º e 3º meses de tratamento, seguidas de testagem contínua em intervalos de 6 meses até cessação da terapêutica. Atualmente, a abordagem terapêutica utilizada para casos de disfunção tiroideia passa pela utilização de fármacos antitiroideus no caso do hipertiroidismo induzido por amiodarona do tipo 1, corticoides orais no tipo 2, sendo este muitas vezes autolimitado, uma combinação destes últimos no de tipo misto/indefinido e levotiroxina em casos de hipotiroidismo induzido por amiodarona. Relativamente à temática da descontinuação e reintrodução de amiodarona, existe muita controvérsia, no entanto é consensual a não necessidade de paragem do tratamento com este fármaco em casos de hipotiroidismo induzido por amiodarona ou em pacientes com problemas cardíacos potencialmente mortais ou pacientes críticos com mau prognóstico que respondam bem a este fármaco. Em casos em que se considere a reintrodução de amiodarona após um quadro de hipertiroidismo induzido por este fármaco, é aconselhável a ablação terapêutica da tiroide prévia em pacientes com tipo 1 prévio, enquanto que monitorização é suficiente em pacientes após um tipo 2, devendo a monitorização ser apertada independentemente do tipo de hipertiroidismo induzido por amiodarona. Adicionalmente, existe a possibilidade de a amiodarona poder induzir o aparecimento de neoplasia maligna da tiroide, sendo, no entanto, um tema sobre o qual existem poucos estudos publicados. Também para certas populações, como a população pediátrica e as grávidas, existe pouca evidência e informação científica relativamente ao impacto da amiodarona na sua saúde, sendo necessários estudos mais abrangentes e exaustivos para se obter consenso relativamente à abordagem a seguir. Com este trabalho pretende-se conglomerar as principais características da amiodarona relacionando-as com a sua repercussão na tiroide, as diferentes apresentações clínicas de disfunção tiroideia, bem como propostas de abordagem diagnóstica, terapêutica e de monitorização para os diferentes quadros, o impacto deste fármaco na população de grávidas e pediátrica, a sua possível relação com neoplasia maligna da tiroide e alternativas a considerar ao seu uso.
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