Arquitectura da sombra

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ranchhod, Shivani Dilipkumar, 1984-
Data de Publicação: 2014
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11067/854
Resumo: Dissertação de mestrado integrado em Arquitectura, Universidade Lusíada de Lisboa, 2014
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spelling Arquitectura da sombraSombras e sombreadosLuz na arquitecturaDissertação de mestrado integrado em Arquitectura, Universidade Lusíada de Lisboa, 2014Exame público realizado em 26 de Março de 2014A origem do tema surge percorrendo as ruas estreitas e labirínticas da cidade de Veneza onde, ao observar a riqueza dos contrastes entre claridade e penumbra, se ganha a consciência profunda da importância das diferentes presenças de sombras. Estas presenças fugazes, contrastadas pela luz, surgem no espaço que habitamos e percorremos, surpreendendo-nos tanto ao nível visual e expressivo, como ao nível físico e táctil. Ao perder-se voluntariamente nesta cidade, descobre-se o peso e a leveza presentes em simultâneo no espaço. E assim como as sombras se manifestam com a presença da luz, também a luz se revela através das sombras. Com esta interdependência entre luz e sombras descobre-se também a passagem do tempo. A escolha do tema surge ao observar as várias e sempre diferentes projecções da cidade, que resultam da cumplicidade da luz natural com a matéria que a molda e que ela ajuda, por sua vez, a moldar – e lembrando, assim, a famosa definição dada por Corbusier, segundo a qual "L’architecture est le jeu, savant, correct et magnifique des volumes sous la lumière." (Le Corbusier, 1923, p. 16) O contraste que surge entre luz e sombra atribui plasticidade aos edifícios e às suas fachadas, como se se tratasse de uma espécie de “maquillage atmosferico che permetteva alla luce di proiettare con vigore e nettezza le ombre degli edifici.” (Basílico, 2007, p. 24). Percorrer a cidade de Veneza tornou-se, a certa altura, uma verdadeira “caça à sombra”. O acto de registar as diversas presenças deste elemento tão ambíguo e fugaz através da fotografia, desenho e vídeo acabou por desenvolver um novo modo de observar o espaço que nos circunda e de filtrar as mudanças, os fluxos e os movimentos da cidade. Desta “caça à sombra” surgem registos fotográficos que ilustram a motivação que deu origem ao tema da dissertação. Estes registos estão dispostos em dois conjuntos de fotografias, um primeiro abre o corpo da dissertação e um segundo encerra-a, tendo por objectivo oferecer uma leitura silenciosa, sem palavras e apenas com imagens, que revele a descoberta da existência de uma nova cidade, dentro da própria cidade. Uma realidade, em constante mas imperceptível movimento, feita de sombras nítidas sob um céu inesperadamente azul, onde formas familiares se tornam inesperadamente desconhecidas: Ho potuto vedere così, come se non l'avessi mai visto prima, un lembo di città senza il movimento perpetuo quotidiano, senza le auto in sosta, senza persone, senza suoni e rumori. Ho visto, l'architettura riproporsi nella sua essenza, filtrata dalla luce, in modo sorprendentemente scenografico e monumentale. (Basílico, 2007, p. 24). Percorrer as ruas de Veneza significa percorrer as sombras de Veneza. Nestas ruas estreitas, o sol encontra o chão apenas por breves momentos. E estes momentos, tornam-se fascinantes pela brevidade que os caracteriza. É uma chuva de luz momentânea que volta a dar lugar ao espetáculo de sombras, das fachadas sobre fachadas, que aos poucos voltam a cobrir as ruas de obscuridade e mistério. Os percursos desta cidade caracterizam-se pela diversidade de vazios pedonais, onde as ruas estreitas, as praças e largos, os claustros, os becos que acabam nos canais, a constante presença da água, as pontes e os túneis, dão forma à arquitectura que serve de palco (e cenário) para o teatro de sombras diário. Para compreender o fascínio desta dinâmica de sombras, basta imaginar um percurso que atravessa um destes possíveis cenários, como o ambiente de uma rua estreita, sombria e fresca, num dia de sol intenso, que nos conduz a uma praça surpreendentemente iluminada e quente. Uma conjuntura que nos desperta os sentidos, não só o da visão mas sobretudo o do tacto. Por sua vez, esta praça convida-nos a atravessar um sotoportego, e uma espécie de cegueira momentânea acontece ao percorre-lo. À medida que os olhos se habituam à escuridão, apercebemo-nos dos reflexos da água de um canal que por ali passa, e que iluminam o seu interior. Os vazios da cidade de Veneza são o palco do ciclo de sombras dinâmicas que termina apenas quando o sol se põe, onde, então, começa um espectáculo diferente, desta vez de sombras estáticas, que acontecem por consequência não de uma, mas de várias fontes luminosas. Uma experiência posterior, num contexto completamente diferente, revelou um outro tipo de presença, importância, e até mesmo uma nova função da presença da sombra. Na Índia, bem como em outros ambientes do hemisfério sul onde é necessária uma protecção, ou refúgio, da intensidade da luz e do calor, a sombra ganha uma dimensão e um significado substancialmente diferentes. Nesta situação, ela não é apenas um elemento arquitectónico contemplativo, mas revela-se uma ferramenta verdadeiramente útil para a garantir um conforto e sobrevivência no quotidiano. O cruzamento destas duas experiências, em dois lugares e contextos diferentes, deu origem a um percurso particular que conduziu a pesquisa sobre o tema, influenciando fortemente a escrita da presente dissertação. A citação que se segue, de John Ruskin, resume a ideia e o sentimento que a sustenta: Now a cast shadow is a much more curious thing than we usually suppose. The strange shapes it gets into, - the manner in which it stumbles over everything that comes in its way, and frets itself into all manner of fantastic schism, taking neither the shape of the thing that cast it, nor of that it is cast upon, but an extraordinary, stretched, flattened, fractured, ill-jointed autonomy of its own, - cannot be imagined unless one is actually engaged in shadow hunting. (Murray apud Ruskin, 1990, p.15).2014-04-02T15:21:57Z2014-04-022014-04-02T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdftext/plain; charset=utf-8http://hdl.handle.net/11067/854http://hdl.handle.net/11067/854TID:201605686porRanchhod, Shivani Dilipkumar, 1984-info:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-01-04T01:49:32Zoai:repositorio.ulusiada.pt:11067/854Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T01:27:42.234068Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse
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