Situação das Flores e do Corvo nos séculos XVI e XVII

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Lages, Geraldo
Data de Publicação: 2000
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10400.3/306
Resumo: Se é verdade que os Açores, graças a uma famigerada insularidade foram marginalizados no conjunto do território português, é igualmente certo que no seu interior reproduziram idênticas desigualdades regionais. As ilhas do grupo Ocidental sofriam particularmente esta situação porque estavam para as outras como todas elas para o país, isto é mais distantes e mais entregues a si próprias. Duplamente marginalizadas, as Flores e o Corvo sentiam com maior intensidade as suas adversidades porque, mais do que as outras ilhas, apenas podiam contar com os seus escassos meios. A administração régia, que nunca se distinguiu por uma notável energia em impor a sua supremacia nos Açores, parecia ainda menos empenhada nestas duas ilhas, tão pequenas, longínquas e pobres de recursos. Por isso chegou ali tão tarde e, mesmo assim, mais teórica do que real até ao advento do Liberalismo. Será a partir dos anos 30 do século XIX que a administração central portuguesa se estende efectivamente à Flores e ao Corvo, embora sempre atrasada em relação ao resto do arquipélago. Como as assimetrias também existiam no grupo Ocidental, em benefício da ilha maior – sede dos organismos locais da administração – caía sobre o minúsculo Corvo o maior peso das desvantagens de ambas. Este longo abandono atirou os habitantes das Flores e do Corvo para uma miséria tal que condoía os que pela primeira vez ali chegavam. Almeida Garrett definiu-os como o opróbrio da humanidade. Outro afirmou que o regime de vida e a opressão imposta àquela gente envergonhavam a humanidade inteira. Contudo o abandono a que foram votados só existia no que tocava às responsabilidades do Estado e do senhorio porque quanto às obrigações materiais dos ilhéus não havia esquecimentos. Todos os anos os capitães-donatários mandavam, sem falta, navios seus para recolherem as rendas que lhes eram devidas. [...]
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