De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Schurmans, Fabrice
Data de Publicação: 2008
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10316/36191
https://doi.org/10.4000/eces.1284
Resumo: Se julgarmos o estado de uma sociedade à luz da relação que esta mantém com o seu passado, temos de concordar que a França da V República tem um problema com a gestão da memória do seu passado colonial. O ponto de vista oficial oscila entre a deformação dos factos e a denegação dos crimes e traduz-se numa lei (23 de Fevereiro de 2005) que pretende realçar no seu artigo 4 o papel positivo da colonização. Para mim, esta atitude, assim como a recusa de um pedido de desculpa às vítimas, revelam uma outra questão, mais essencial: o quadro epistemológico no qual se insere a maior parte dos discursos sobre África. De facto, grande parte destes manam de uma ideologia, o africanismo, que simultaneamente pretende facultar uma explicação totalizante/satisfatória e enclausura tanto o sujeito (o Africano é reduzido a algumas característica essenciais) como o produtor (que não consegue extrair-se do quadro em questão). Pretendo aqui examinar dois textos africanistas, As Origens do Totalitarismo (Arendt) e o Discurso de Dakar (Sarkozy), que com mais de cinquenta anos de distância entre si retomam os mesmos tópicos sobre a África para os transformar em veículos da ideologia africanista. Tentarei também analisar a fonte filosófica (Hegel) que irriga ambos os textos e mostrar a premência do africanismo (e por conseguinte a dificuldade em combatê-lo) no seio de uma certa sociedade ocidental. Apesar de cinquenta anos de refutação e desconstruções por parte de intelectuais e cientistas oriundos tanto do Sul como do Norte, o africanismo continua a prosperar numa multiplicidade de textos: da literatura popular à imprensa passando pelo cinema, ele reproduz-se não só pela utilização dos poucos estereótipos ao seu dispor como pela actualização sistemática da mesma estratégia discursiva. A força com a qual esta ideologia continua a se impor torna assim difícil, a meu ver, falar de uma relação de igualdade entre as partes.
id RCAP_8b6f4206fec078d076db838c7afd7dbb
oai_identifier_str oai:estudogeral.uc.pt:10316/36191
network_acronym_str RCAP
network_name_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository_id_str
spelling De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanistaSe julgarmos o estado de uma sociedade à luz da relação que esta mantém com o seu passado, temos de concordar que a França da V República tem um problema com a gestão da memória do seu passado colonial. O ponto de vista oficial oscila entre a deformação dos factos e a denegação dos crimes e traduz-se numa lei (23 de Fevereiro de 2005) que pretende realçar no seu artigo 4 o papel positivo da colonização. Para mim, esta atitude, assim como a recusa de um pedido de desculpa às vítimas, revelam uma outra questão, mais essencial: o quadro epistemológico no qual se insere a maior parte dos discursos sobre África. De facto, grande parte destes manam de uma ideologia, o africanismo, que simultaneamente pretende facultar uma explicação totalizante/satisfatória e enclausura tanto o sujeito (o Africano é reduzido a algumas característica essenciais) como o produtor (que não consegue extrair-se do quadro em questão). Pretendo aqui examinar dois textos africanistas, As Origens do Totalitarismo (Arendt) e o Discurso de Dakar (Sarkozy), que com mais de cinquenta anos de distância entre si retomam os mesmos tópicos sobre a África para os transformar em veículos da ideologia africanista. Tentarei também analisar a fonte filosófica (Hegel) que irriga ambos os textos e mostrar a premência do africanismo (e por conseguinte a dificuldade em combatê-lo) no seio de uma certa sociedade ocidental. Apesar de cinquenta anos de refutação e desconstruções por parte de intelectuais e cientistas oriundos tanto do Sul como do Norte, o africanismo continua a prosperar numa multiplicidade de textos: da literatura popular à imprensa passando pelo cinema, ele reproduz-se não só pela utilização dos poucos estereótipos ao seu dispor como pela actualização sistemática da mesma estratégia discursiva. A força com a qual esta ideologia continua a se impor torna assim difícil, a meu ver, falar de uma relação de igualdade entre as partes.Centro de Estudos Sociais2008info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/articlehttp://hdl.handle.net/10316/36191http://hdl.handle.net/10316/36191https://doi.org/10.4000/eces.1284https://doi.org/10.4000/eces.1284por1647-0737http://eces.revues.org/1284Schurmans, Fabriceinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2021-06-29T10:03:42ZPortal AgregadorONG
dc.title.none.fl_str_mv De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
title De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
spellingShingle De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
Schurmans, Fabrice
title_short De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
title_full De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
title_fullStr De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
title_full_unstemmed De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
title_sort De Hannah Arendt a Nicolas Sarkozy: leitura pós-colonial do discurso africanista
author Schurmans, Fabrice
author_facet Schurmans, Fabrice
author_role author
dc.contributor.author.fl_str_mv Schurmans, Fabrice
description Se julgarmos o estado de uma sociedade à luz da relação que esta mantém com o seu passado, temos de concordar que a França da V República tem um problema com a gestão da memória do seu passado colonial. O ponto de vista oficial oscila entre a deformação dos factos e a denegação dos crimes e traduz-se numa lei (23 de Fevereiro de 2005) que pretende realçar no seu artigo 4 o papel positivo da colonização. Para mim, esta atitude, assim como a recusa de um pedido de desculpa às vítimas, revelam uma outra questão, mais essencial: o quadro epistemológico no qual se insere a maior parte dos discursos sobre África. De facto, grande parte destes manam de uma ideologia, o africanismo, que simultaneamente pretende facultar uma explicação totalizante/satisfatória e enclausura tanto o sujeito (o Africano é reduzido a algumas característica essenciais) como o produtor (que não consegue extrair-se do quadro em questão). Pretendo aqui examinar dois textos africanistas, As Origens do Totalitarismo (Arendt) e o Discurso de Dakar (Sarkozy), que com mais de cinquenta anos de distância entre si retomam os mesmos tópicos sobre a África para os transformar em veículos da ideologia africanista. Tentarei também analisar a fonte filosófica (Hegel) que irriga ambos os textos e mostrar a premência do africanismo (e por conseguinte a dificuldade em combatê-lo) no seio de uma certa sociedade ocidental. Apesar de cinquenta anos de refutação e desconstruções por parte de intelectuais e cientistas oriundos tanto do Sul como do Norte, o africanismo continua a prosperar numa multiplicidade de textos: da literatura popular à imprensa passando pelo cinema, ele reproduz-se não só pela utilização dos poucos estereótipos ao seu dispor como pela actualização sistemática da mesma estratégia discursiva. A força com a qual esta ideologia continua a se impor torna assim difícil, a meu ver, falar de uma relação de igualdade entre as partes.
publishDate 2008
dc.date.none.fl_str_mv 2008
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/article
format article
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/10316/36191
http://hdl.handle.net/10316/36191
https://doi.org/10.4000/eces.1284
https://doi.org/10.4000/eces.1284
url http://hdl.handle.net/10316/36191
https://doi.org/10.4000/eces.1284
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.relation.none.fl_str_mv 1647-0737
http://eces.revues.org/1284
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Centro de Estudos Sociais
publisher.none.fl_str_mv Centro de Estudos Sociais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron:RCAAP
instname_str Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informação
instacron_str RCAAP
institution RCAAP
reponame_str Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
collection Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
repository.name.fl_str_mv
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1777302634009460736