O "nous" no tratado da alma de Aristóteles

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Juliana Peixoto
Data de Publicação: 2005
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/ARBZ-7FZFL5
Resumo: Este presente trabalho trata do estatuto do nous no De anima de Aristóteles. A dificuldade em questão concerne à doutrina do intelecto explicitada no terceiro livro dessa obra, a saber, esse é comparado à sensação no quarto capítulo desse mesmo livro, mas no que se segue a essa comparação, bem como no quinto capítulo, é dito ser impassível, sem mistura, separado, essencialmente uma atividade, eterno e imortal. Ora, não só essas propriedades não são comuns à sensação, como essa doutrina parece se opor expressamente à teoria mais geral que perpassa todo o Corpus aristotelicum, a saber, o hilemorfismo. Assim, o intelecto afigura assumir uma posição bastante anômala no interior da psicologia do Estagirita, que parece comprometida antes com esse modelo segundo o qual a forma nunca ocorre separadamente da matéria. Nosso objetivo foi primeiro, o de demonstrar que a teoria do intelecto separado não se circunscreve ao terceiro livro desse tratado de psicologia, mas vem sendo apontada, aludida, e mesmo suposta em vários passos pertencentes ao primeiro e segundo livro dessa obra, livros correntemente colocados em oposição àquele. E nessa medida, nos opomos à tradição exegética que considerou ser a noética aristotélica uma estranha teoria justaposta ao restante da psicologia de Aristóteles. Assim, por meio de um exame do desenvolvimento dos argumentos acerca do intelecto anteriores à exposição mesma de sua teoria pudemos observar uma tensão ressaltada pelo próprio filósofo entre suas formulações estritamente hilemórficas e a separabilidade do intelecto. Constatamos então, que o Estagirita não apenas vacila em suas posições, mas parece delimitar o que será afirmado no quinto capítulo do terceiro livro, a saber, a natureza complexa do intelecto humano. Ademais, nosso segundo objetivo foi então o de buscar sustentar conceitualmente a coerência entre aquelas doutrinas aparentemente díspares. E para tal analisamos as passagens nas quais o Estagirita estabelece uma analogia entre as faculdades cognitivas da alma. E o que pudemos constatar é que no que o intelecto se assemelha à sensação, a saber, também ser, em certa medida, uma capacidade da alma dependente de algo externo a ela, podemos verificar sua conexão com o corpo, e nesse sentido, sua integração ao hilemorfismo. Contudo, naquilo em que essas faculdades se distinguem, a saber, ser o intelecto uma capacidade voluntária de efetivar a si mesmo, o intelecto é então separado de toda matéria. E julgamos que o intelecto pode ser dito nesses dois modos, afinal, diferentes coisas são anteriores ou posteriores conforme nos reportemos à efetividade ou à potência. Assim, podendo o intelecto humano estar em potência, quando ainda não inteligiu, assemelha-se mais à sensação, sendo mais propriamente uma faculdade passiva. Mas esse efetivamente não é nada, tabuleta vazia, portanto, nesse sentido nem propriamente podemos dizer que há um intelecto. Contudo, tendo inteligido e, portanto, passado à atividade, nesse caso efetiva os inteligíveis em potência na alma apreendidos nas formas sensíveis da sensação, e esse propriamente é o caráter essencial do intelecto, a saber, princípio efetivador, essencialmente ativo, tal como a luz, e então separado
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Assim, o intelecto afigura assumir uma posição bastante anômala no interior da psicologia do Estagirita, que parece comprometida antes com esse modelo segundo o qual a forma nunca ocorre separadamente da matéria. Nosso objetivo foi primeiro, o de demonstrar que a teoria do intelecto separado não se circunscreve ao terceiro livro desse tratado de psicologia, mas vem sendo apontada, aludida, e mesmo suposta em vários passos pertencentes ao primeiro e segundo livro dessa obra, livros correntemente colocados em oposição àquele. E nessa medida, nos opomos à tradição exegética que considerou ser a noética aristotélica uma estranha teoria justaposta ao restante da psicologia de Aristóteles. Assim, por meio de um exame do desenvolvimento dos argumentos acerca do intelecto anteriores à exposição mesma de sua teoria pudemos observar uma tensão ressaltada pelo próprio filósofo entre suas formulações estritamente hilemórficas e a separabilidade do intelecto. Constatamos então, que o Estagirita não apenas vacila em suas posições, mas parece delimitar o que será afirmado no quinto capítulo do terceiro livro, a saber, a natureza complexa do intelecto humano. Ademais, nosso segundo objetivo foi então o de buscar sustentar conceitualmente a coerência entre aquelas doutrinas aparentemente díspares. E para tal analisamos as passagens nas quais o Estagirita estabelece uma analogia entre as faculdades cognitivas da alma. E o que pudemos constatar é que no que o intelecto se assemelha à sensação, a saber, também ser, em certa medida, uma capacidade da alma dependente de algo externo a ela, podemos verificar sua conexão com o corpo, e nesse sentido, sua integração ao hilemorfismo. Contudo, naquilo em que essas faculdades se distinguem, a saber, ser o intelecto uma capacidade voluntária de efetivar a si mesmo, o intelecto é então separado de toda matéria. E julgamos que o intelecto pode ser dito nesses dois modos, afinal, diferentes coisas são anteriores ou posteriores conforme nos reportemos à efetividade ou à potência. Assim, podendo o intelecto humano estar em potência, quando ainda não inteligiu, assemelha-se mais à sensação, sendo mais propriamente uma faculdade passiva. Mas esse efetivamente não é nada, tabuleta vazia, portanto, nesse sentido nem propriamente podemos dizer que há um intelecto. Contudo, tendo inteligido e, portanto, passado à atividade, nesse caso efetiva os inteligíveis em potência na alma apreendidos nas formas sensíveis da sensação, e esse propriamente é o caráter essencial do intelecto, a saber, princípio efetivador, essencialmente ativo, tal como a luz, e então separadoLe présent travail traite du statut du nous dans le De anime dAristote. La difficulté concerne la doctrine de lintellect explicitée dans le troisième livre de cette oeuvre: celui-ci est comparé à la sensation au quatrième chapitre du troisième livre, mais après cette comparaison ainsi quau cinquième chapitre dailleurs , il est dite être impassible, sans mélange, séparé, essentiellement activité, éternel et immortel. Or, ces propriétés ne sont celles de la sensation, et, de plus, cette doctrine semble sopposer radicalement à la théorie plus générale qui traverse tout le Corpus aristotelicum, à savoir, lhylémorphisme. Ainsi, lintellect semble assumer une position bien anormale au sein de la psychologie du Stagirite, alors que celle-ci paraît liée à ce modèle selon lequel la forme jamais ne se produit pas séparément de la matière. Notre objectif a été premièrement de démontrer que la théorie de lintellect séparé ne se limite au troisième livre de ce traité de psychologie, mais quil y est fait allusion, quil y est fait référence, et quelle est même sous-jacente dans plusieurs passages des premier et second livres de cette oeuvre, livres courantement mis en opposition avec le troisième. Ce faisant, nous nous opposons à la tradition dinterprètes qui a considéré la théorie dintellect comme une théorie étrange juxtaposée au reste de la psychologie dAristote. Ainsi, en examinant le développement des arguments concernant lintellect qui précèdent lexposition même de sa théorie, nous avons pu observer une tension marquée par le propre philosophe entre ses formulations strictement hylémorphique et la séparabilité de lintellect. Nous avons donc pu constater quAristote non seulemente oscille entre ses positions, mais quil semble délimiter ce qui sera affirmé au cinquième chapitre du troisième livre, à savoir, la nature complexe de lintellect humaine. Notre second objectif a alors éte de à montrer conceptuellement la cohérence entre ces doctrines apparemment dissemblables. Pour ce faire, nous avons analysé les passages dans lesquels Aristote établit une analogie entre les facultés cognitives de lâme. Et nous avons pu constater que, si lintellect ressemble à la sensation, cest, dans une certaine mesure, par dépendre de quelque chose qui lui est extérieur. Nous voyons ainsi son lien avec le corps, et, en ce sens, son intégration à lhylémorphisme. Néanmoins, ce qui distingue ces facultés, cest le fait que lintellect soit une capacité volontaire de passer à lacte de par lui même. Cest ainsi que lintellect est séparé de toute matière. Et not pensons que lintellect peut être considéré de ces deux manières. En effect, bien des choses sont antérieurs ou postérieurs selon que nous nous référons à la potentialité ou à lacte. Ainsi, lintellect humaine pouvant être en puissance, alors quil na pas encore appréhendé lintelligible, ressemble plus à la sensation, qui est de fait une faculté passive. Mais nest, de manière effective, absolument rien, une tableau vide. Et cest donc en ce sens que nous ne pouvons pas, proprement affirmer quil y a un intellect. Néanmoins, ayant appréhendé lintelligible et, donc, passé à lactivité, il rend effectifs les intelligibles en puissance appréhendés dans les formes sensibles de la sensation, et ceci constitue le caractère propre et essentiel de lintellect, à savoir, le principe actualisant et essentiellement actif telle que la lumière , et donc séparé.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGAlmaFilosofia antigaAristótelesFilosofiaAlmaFilosofia antigaAristótelesHilemorfismoO "nous" no tratado da alma de Aristótelesinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_juliana_peixoto.pdfapplication/pdf1455330https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/ARBZ-7FZFL5/1/disserta__o_juliana_peixoto.pdfd49c215b671935f36cda596dc0be77a0MD51TEXTdisserta__o_juliana_peixoto.pdf.txtdisserta__o_juliana_peixoto.pdf.txtExtracted texttext/plain471661https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/ARBZ-7FZFL5/2/disserta__o_juliana_peixoto.pdf.txt09c55173d2773f62b6eceb263d496b46MD521843/ARBZ-7FZFL52019-11-14 18:53:31.357oai:repositorio.ufmg.br:1843/ARBZ-7FZFL5Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T21:53:31Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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