Morte e vida Severina: o suicídio como possibilidade posta socialmente

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Aline Fábia Guerra de Moraes
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-BAEHBR
Resumo: A discussão a respeito da morte na sociedade atual é acompanhada de restrições sociais que ora ficam explícitas, ora parecem desaparecer. Uma destas restrições diz respeito especificamente a morte autoprovocada, o suicídio, pois a finitude que o ato revela e as condições que levam o indivíduo a esta ação desesperada incomodam a sociedade. Esse incômodo é refletido de forma indireta nos estudos sobre o tema, os quais permanecem, em sua maioria, na aparência do fenômeno, associando suicídio a doença e culpabilizando o indivíduo que tira a própria vida. Nesse sentido, buscamos sair desta ideia do suicídio ligado apenas ao desequilíbrio corpóreo e defender a tese de que os elementos que produzem o suicídio como uma alternativa para o indivíduo são engendrados, no modo de produção capitalista, por meio da organização do processo de trabalho. Para isso, escolhemos uma posição crítica, que bebe, mas não mergulha, no materialismo histórico dialético de Marx, de modo a encontrar a essência do fenômeno suicídio e sair da aparência que é comumente absorvida nos trabalhos acerca do tema. Entretanto, é necessário partir desta aparência e, para isto, analisamos cartilhas e publicações oficiais da Organização Mundial de Saúde; reportagens sobre o suicídio disponíveis em portais eletrônicos; e entrevistas semi-estruturadas realizadas com sujeitos envolvidos de forma direta ou indireta com o suicídio (profissionais, pessoas que tentaram ou idearam suicídio e familiares de suicidas). As reflexões sobre o fenômeno em questão mostraram que o que é determinante na análise que nos propusemos a fazer não é a eficiência do ato, ou seja, o indivíduo ter conseguido morrer ou não, mas o próprio fato de o suicídio emergir como uma possibilidade social para este indivíduo. E esta possibilidade reflete as formas como estão organizadas as relações sociais, as quais culpabilizam o indivíduo que escolhe por tal alternativa, ao invés de apontar para as relações que produziram essa opção, pois expor o suicídio tal como sua essência na sociedade capitalista, é expor as mazelas dessa sociedade, é expor a vida severina. Assim, concluímos que o movimento que o capital faz em meio a necessidade de produção, de competitividade, concorrência, mostrar-se ser o melhor dentre os demais, etc. torna o suicídio uma possibilidade concreta para o indivíduo, algo que pode ser escolhido como meio de exterminar a dor que se sente, dor causada pelo próprio movimento do capital.
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Nesse sentido, buscamos sair desta ideia do suicídio ligado apenas ao desequilíbrio corpóreo e defender a tese de que os elementos que produzem o suicídio como uma alternativa para o indivíduo são engendrados, no modo de produção capitalista, por meio da organização do processo de trabalho. Para isso, escolhemos uma posição crítica, que bebe, mas não mergulha, no materialismo histórico dialético de Marx, de modo a encontrar a essência do fenômeno suicídio e sair da aparência que é comumente absorvida nos trabalhos acerca do tema. Entretanto, é necessário partir desta aparência e, para isto, analisamos cartilhas e publicações oficiais da Organização Mundial de Saúde; reportagens sobre o suicídio disponíveis em portais eletrônicos; e entrevistas semi-estruturadas realizadas com sujeitos envolvidos de forma direta ou indireta com o suicídio (profissionais, pessoas que tentaram ou idearam suicídio e familiares de suicidas). As reflexões sobre o fenômeno em questão mostraram que o que é determinante na análise que nos propusemos a fazer não é a eficiência do ato, ou seja, o indivíduo ter conseguido morrer ou não, mas o próprio fato de o suicídio emergir como uma possibilidade social para este indivíduo. E esta possibilidade reflete as formas como estão organizadas as relações sociais, as quais culpabilizam o indivíduo que escolhe por tal alternativa, ao invés de apontar para as relações que produziram essa opção, pois expor o suicídio tal como sua essência na sociedade capitalista, é expor as mazelas dessa sociedade, é expor a vida severina. Assim, concluímos que o movimento que o capital faz em meio a necessidade de produção, de competitividade, concorrência, mostrar-se ser o melhor dentre os demais, etc. torna o suicídio uma possibilidade concreta para o indivíduo, algo que pode ser escolhido como meio de exterminar a dor que se sente, dor causada pelo próprio movimento do capital.The discussion about death in today's society is accompanied by social constraints that are explicit at times, and then seem to disappear. One of these restrictions specifically concerns self-murder, suicide, because the finitude the act reveals and the conditions that lead one to this 'desperate action' bother society. This annoyance is indirectly reflected in studies on the subject, which mostly remain in the appearance of the phenomenon, associating suicide with illness and blaming the individual who takes his own life. In this sense, we seek to escape from this idea of suicide linked only to the bodily imbalance and defend the thesis that the elements that produce suicide as an alternative to the individual are engendered in the capitalist mode of production through the work process' organization. To this end, we choose a critical position, which drinks from, but does not dive into Marx's historical dialectical materialism, in order to find the essence of the suicide phenomenon and escape the appearance that is commonly absorbed in works about this subject. However, it is necessary to start from this appearance and, therefore, we have analyzed official publications of the World Health Organization; suicide reports available on electronic portals; and semi-structured interviews with individuals directly or indirectly involved with suicide (professionals, people who tried or almost came to terms with suicide and suicidal relatives). The reflections on the phenomenon in question have shown that what is decisive in the analysis that we propose to do is not the efficiency of the act itself, that is, the individual having managed to die or not, but the very fact that suicide emerges as a social possibility for this person. And this possibility reflects the ways in which social relations are organized, these blame the individual who chooses for such an alternative, rather than pointing to the relations that have produced this option, for exposing suicide as its essence in capitalist society is to expose the adversities of this society, is to expose the 'severina life'. Thus, we conclude that the movement that capital makes in the midst of the need for production, competitiveness, rivalry, proves to be the best among the rest, and so on, makes suicide a concrete possibility for the individual, something that can be chosen as a way to exterminate the pain that is felt, pain caused by the movement of capital itself.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGSaude e trabalhoAdministraçãoTrabalhadores Condições sociaisSuicídioTrabalhoIndividualidadeEstudos CríticosSuicídioMorte e vida Severina: o suicídio como possibilidade posta socialmenteinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese_vers_o_final_2__1_.pdfapplication/pdf6269099https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-BAEHBR/1/tese_vers_o_final_2__1_.pdfee79b7b9c7ddab7a04a7e1cafe14d9b5MD51TEXTtese_vers_o_final_2__1_.pdf.txttese_vers_o_final_2__1_.pdf.txtExtracted texttext/plain772384https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-BAEHBR/2/tese_vers_o_final_2__1_.pdf.txte05751fdafb3fb99a6eb16e51ddd7353MD521843/BUOS-BAEHBR2019-11-14 14:54:49.372oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-BAEHBRRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T17:54:49Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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