Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Gustavo Henrique Montes Frade
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFMG
Texto Completo: http://hdl.handle.net/1843/LETR-APUKJP
Resumo: A experiência da indeterminação é parte fundamental da representação de personagens humanos e, consequentemente, da trajetória dos pretendentes ao longo da Odisseia. Isso é demonstrado numa leitura que parte de algumas considerações sobre a prática da adivinhação, sobre o pensamento religioso grego, sobre os Estudos Homéricos (incluindo a chamada Questão Homérica e a percepção do estilo oral tradicional dos poemas), sobre poesia e sobre narrativa. Os pretendentes são caracterizados como os insensatos que desprezam os limites, que avaliam mal sua situação e leem mal os avisos que recebem. A possibilidade da má leitura ajuda a sempre manter algo de indeterminado no futuro segundo a perspectiva humana, enquanto a capacidade de bem interpretar e bem reagir aos sinais é uma das qualidades que distinguem os heróis de seus antagonistas. Ao longo do poema, os pretendentes são individualizados como agentes morais e passam a ser representados de forma mais refinada do que apenas como puro mal coletivo. Com isso, a punição comum a todos (conforme a vontade dos deuses) passa a ser uma questão relevante para a qual o poema dará uma resposta extrema. Quando Atena se passa por um humano, acaba revelando marcas características da comunicação humana e divina. A estratégia básica da deusa é transmitir suas informações de forma apenas parcial, simulando a limitação do conhecimento humano e ignorando sua capacidade de produzir efeito sobre aquilo que deseja (recurso utilizado também para testar os mortais). As cenas de interpretações de voos de pássaros executadas por Haliterses, Helena, Teoclímeno e Anfínomo (lidas com especial atenção neste trabalho), mostram de formas diversas como os humanos podem receber as indicações divinas (confirmadas pelo narrador ou supostas pelos personagens). Os deuses se interessam pelos assuntos humanos e dão suas orientações, mas entre o sinal e o entendimento (entre a sugestão mais ou menos velada e a ação) existe sempre um espaço aberto preenchido pela experiência da indeterminação e pela incerteza. No caso de Ítaca, os sinais e suas interpretações são precisamente indicadores de que o poder da casa de Odisseu está em conformidade com a vontade dos deuses, uma legitimação divina da ordem social aristocrática retomada. Toda uma sequência de sinais e prodígios irá preparar o ouvinte ou leitor para a vingança definitiva.
id UFMG_f7e2cacca99fb7066aefffe950f65d8b
oai_identifier_str oai:repositorio.ufmg.br:1843/LETR-APUKJP
network_acronym_str UFMG
network_name_str Repositório Institucional da UFMG
repository_id_str
spelling Teodoro Renno AssuncaoJacyntho Jose Lins BrandaoAntonio Orlando de O D LopesChristian WernerAndré Malta CamposGustavo Henrique Montes Frade2019-08-13T05:26:42Z2019-08-13T05:26:42Z2017-05-26http://hdl.handle.net/1843/LETR-APUKJPA experiência da indeterminação é parte fundamental da representação de personagens humanos e, consequentemente, da trajetória dos pretendentes ao longo da Odisseia. Isso é demonstrado numa leitura que parte de algumas considerações sobre a prática da adivinhação, sobre o pensamento religioso grego, sobre os Estudos Homéricos (incluindo a chamada Questão Homérica e a percepção do estilo oral tradicional dos poemas), sobre poesia e sobre narrativa. Os pretendentes são caracterizados como os insensatos que desprezam os limites, que avaliam mal sua situação e leem mal os avisos que recebem. A possibilidade da má leitura ajuda a sempre manter algo de indeterminado no futuro segundo a perspectiva humana, enquanto a capacidade de bem interpretar e bem reagir aos sinais é uma das qualidades que distinguem os heróis de seus antagonistas. Ao longo do poema, os pretendentes são individualizados como agentes morais e passam a ser representados de forma mais refinada do que apenas como puro mal coletivo. Com isso, a punição comum a todos (conforme a vontade dos deuses) passa a ser uma questão relevante para a qual o poema dará uma resposta extrema. Quando Atena se passa por um humano, acaba revelando marcas características da comunicação humana e divina. A estratégia básica da deusa é transmitir suas informações de forma apenas parcial, simulando a limitação do conhecimento humano e ignorando sua capacidade de produzir efeito sobre aquilo que deseja (recurso utilizado também para testar os mortais). As cenas de interpretações de voos de pássaros executadas por Haliterses, Helena, Teoclímeno e Anfínomo (lidas com especial atenção neste trabalho), mostram de formas diversas como os humanos podem receber as indicações divinas (confirmadas pelo narrador ou supostas pelos personagens). Os deuses se interessam pelos assuntos humanos e dão suas orientações, mas entre o sinal e o entendimento (entre a sugestão mais ou menos velada e a ação) existe sempre um espaço aberto preenchido pela experiência da indeterminação e pela incerteza. No caso de Ítaca, os sinais e suas interpretações são precisamente indicadores de que o poder da casa de Odisseu está em conformidade com a vontade dos deuses, uma legitimação divina da ordem social aristocrática retomada. Toda uma sequência de sinais e prodígios irá preparar o ouvinte ou leitor para a vingança definitiva.The experience of uncertainty is one of the basic features of the representation of human characters and, consequently, of the suitors characterization throughout the Odyssey. This is demonstrated after initial remarks on divination, on Greek religious thought, on Homeric Studies (including the Homeric Question and the recognition of Homers oral traditional style), on poetry and on narrative. The suitors are characterized as reckless men who despise limits, who poorly evaluate their situation and misread the warnings they receive. The possibility of misreading signs helps maintain some uncertainty in the future, from the human perspective, as the skill of interpreting and correctly reacting to signs is a quality that distinguishes heroes from antagonists. The suitors, however, are individualized as moral agents and are represented in a more refined way than merely as pure collective evil. Their general punishment (in accordance with the gods will) becomes a relevant question to which the poem will give its extreme answer. When Athena appears as a man, she ends up revealing significant marks of human and divine communication. Her strategy of disguise is to deliver information only in a partial way, simulating human limitations of knowledge and ignoring her capacity of direct and effective action over the events (a resource that allows her to test mortals). The bird flight interpretation scenes, performed by Halitherses, Helen, Theoclymenus and Amphinomus (scenes analyzed with special attention in this work), show in different ways how humans may react to the divine indications (confirmed by the narrator or inferred by the characters). The gods are interested in human affairs and provide guidance; between the sign and the comprehension, though (between more or less veiled suggestions and actions), there is always an open space filled by the experience of uncertainty and indetermination. In Ithaka, the signs and their interpretations are indicators that the power of Odysseus house is in accordance with the will of the gods, a divine legitimation of the restored aristocratic social order. A sequence of signs will prepare the listener or reader for the final revenge.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGAdivinhação na literaturaHomero Odisseia Crítica e interpretaçãoPoesia épica grega História e CríticaHomeropretendentesOdisseianarrativaprofeciapoesiaPretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseiainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALtese_gustavo_henrique_montes_frade.pdfapplication/pdf2553076https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-APUKJP/1/tese_gustavo_henrique_montes_frade.pdfc272de5ad5003ef3ba3a1e29fc45f9c0MD51TEXTtese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf.txttese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf.txtExtracted texttext/plain877037https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-APUKJP/2/tese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf.txt826e6dbbba6e6e3eed8f509ae84057c9MD521843/LETR-APUKJP2019-11-14 21:20:48.156oai:repositorio.ufmg.br:1843/LETR-APUKJPRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-15T00:20:48Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
title Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
spellingShingle Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
Gustavo Henrique Montes Frade
Homero
pretendentes
Odisseia
narrativa
profecia
poesia
Adivinhação na literatura
Homero Odisseia Crítica e interpretação
Poesia épica grega História e Crítica
title_short Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
title_full Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
title_fullStr Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
title_full_unstemmed Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
title_sort Pretendentes e profecias ou a experiência da indeterminação na Odisseia
author Gustavo Henrique Montes Frade
author_facet Gustavo Henrique Montes Frade
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Teodoro Renno Assuncao
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Jacyntho Jose Lins Brandao
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Antonio Orlando de O D Lopes
dc.contributor.referee3.fl_str_mv Christian Werner
dc.contributor.referee4.fl_str_mv André Malta Campos
dc.contributor.author.fl_str_mv Gustavo Henrique Montes Frade
contributor_str_mv Teodoro Renno Assuncao
Jacyntho Jose Lins Brandao
Antonio Orlando de O D Lopes
Christian Werner
André Malta Campos
dc.subject.por.fl_str_mv Homero
pretendentes
Odisseia
narrativa
profecia
poesia
topic Homero
pretendentes
Odisseia
narrativa
profecia
poesia
Adivinhação na literatura
Homero Odisseia Crítica e interpretação
Poesia épica grega História e Crítica
dc.subject.other.pt_BR.fl_str_mv Adivinhação na literatura
Homero Odisseia Crítica e interpretação
Poesia épica grega História e Crítica
description A experiência da indeterminação é parte fundamental da representação de personagens humanos e, consequentemente, da trajetória dos pretendentes ao longo da Odisseia. Isso é demonstrado numa leitura que parte de algumas considerações sobre a prática da adivinhação, sobre o pensamento religioso grego, sobre os Estudos Homéricos (incluindo a chamada Questão Homérica e a percepção do estilo oral tradicional dos poemas), sobre poesia e sobre narrativa. Os pretendentes são caracterizados como os insensatos que desprezam os limites, que avaliam mal sua situação e leem mal os avisos que recebem. A possibilidade da má leitura ajuda a sempre manter algo de indeterminado no futuro segundo a perspectiva humana, enquanto a capacidade de bem interpretar e bem reagir aos sinais é uma das qualidades que distinguem os heróis de seus antagonistas. Ao longo do poema, os pretendentes são individualizados como agentes morais e passam a ser representados de forma mais refinada do que apenas como puro mal coletivo. Com isso, a punição comum a todos (conforme a vontade dos deuses) passa a ser uma questão relevante para a qual o poema dará uma resposta extrema. Quando Atena se passa por um humano, acaba revelando marcas características da comunicação humana e divina. A estratégia básica da deusa é transmitir suas informações de forma apenas parcial, simulando a limitação do conhecimento humano e ignorando sua capacidade de produzir efeito sobre aquilo que deseja (recurso utilizado também para testar os mortais). As cenas de interpretações de voos de pássaros executadas por Haliterses, Helena, Teoclímeno e Anfínomo (lidas com especial atenção neste trabalho), mostram de formas diversas como os humanos podem receber as indicações divinas (confirmadas pelo narrador ou supostas pelos personagens). Os deuses se interessam pelos assuntos humanos e dão suas orientações, mas entre o sinal e o entendimento (entre a sugestão mais ou menos velada e a ação) existe sempre um espaço aberto preenchido pela experiência da indeterminação e pela incerteza. No caso de Ítaca, os sinais e suas interpretações são precisamente indicadores de que o poder da casa de Odisseu está em conformidade com a vontade dos deuses, uma legitimação divina da ordem social aristocrática retomada. Toda uma sequência de sinais e prodígios irá preparar o ouvinte ou leitor para a vingança definitiva.
publishDate 2017
dc.date.issued.fl_str_mv 2017-05-26
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2019-08-13T05:26:42Z
dc.date.available.fl_str_mv 2019-08-13T05:26:42Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/1843/LETR-APUKJP
url http://hdl.handle.net/1843/LETR-APUKJP
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFMG
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Minas Gerais
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFMG
instname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron:UFMG
instname_str Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
instacron_str UFMG
institution UFMG
reponame_str Repositório Institucional da UFMG
collection Repositório Institucional da UFMG
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-APUKJP/1/tese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf
https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/LETR-APUKJP/2/tese_gustavo_henrique_montes_frade.pdf.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv c272de5ad5003ef3ba3a1e29fc45f9c0
826e6dbbba6e6e3eed8f509ae84057c9
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1801676731625504768