Ecologia Espaço-temporal de Nasua Nasua e Procyon Cancrivorus 13 (Carnivora: Procyonidae) no extremo sul da Mata Atlântica

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Silva, Jordani Dutra da
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Trabalho de conclusão de curso
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/240204
Resumo: A família Procyonidae é uma das menos estudadas entre os Carnivora. Os procionídeos, exclusivos das Américas, possuem distribuição em grande parte do continente, incluindo a Mata Atlântica. No extremo sul desse bioma, duas espécies da família ocorrem em simpatria, o quati (Nasua nasua) e o mão-pelada (Procyon cancrivorus). Nasua nasua é considerada diurna e social e P. cancrivorus noturna e solitária, no entanto, pouco se sabe sobre a ecologia espaço-temporal dessas espécies. Assim, avaliamos o período de atividade e o uso de habitat por N. nasua e P. cancrivorus em cinco áreas de distintos níveis de perturbação antrópica no sul da Mata Atlântica. Hipotetizamos que as espécies utilizam diferentemente o tempo e que possuem repostas espaciais similares às diversas variáveis ambientais. Foram utilizados modelos de ocupação com dados de armadilhamento-fotográfico para avaliar que fatores metodológicos (relacionados ao equipamento de coleta de dados) e ambientais influenciam, respectivamente, a detecção e a ocupação de sítios por essas espécies. A análise de uso de habitat foi realizada para as cinco áreas e também somente para a área mais protegida, o Parque Estadual do Turvo (PET). O esforço amostral foi de 7541 câmeras/noite, resultando em 117 registros independentes de N. nasua e 70 de P. cancrivorus; e apresentando período de atividade significativamente diurno e noturno, respectivamente. Curiosamente, o quati, em uma área fora de unidades de conservação, apresentou uma maior frequência de atividade noturna que foi significativamente distinta das outras áreas estudadas. Dado que os potenciais predadores (grandes felídeos) das espécies são majoritariamente noturnos, N. nasua apresentou baixa sobreposição temporal com grandes felídeos, enquanto P. cancrivorus apresentou sobreposição mais elevada. Na análise total dos modelos de ocupação, a detecção de N. nasua foi negativamente correlacionada com o tempo de disparo das armadilhas fotográficas, enquanto sua ocupação foi negativamente correlacionada com a distância a estradas. A probabilidade de detecção de P. cancrivorus foi positivamente influenciada pela abundância de P. concolor e L. pardalis quando consideradas todas as áreas. Na única área de estudo onde ocorre o maior dos possíveis predadores, P. onca, o PET, a detecção de N. nasua foi negativamente influenciada pela abundancia média dos possíveis predadores e pelo tempo de disparo. Enquanto a detecção de P. cancrivorus foi negativamente influenciada pelo tempo de disparo e positivamente relacionada com a distância de disparo. Nenhuma variável de ocupação foi significativa no PET. Com base nos resultados apresentados, indicamos o uso de equipamentos de melhor qualidade para obtenção dos dados dessas espécies. Além disso, podemos observar que N. nasua parece evitar o encontro com grandes felídeos, visto que já foram identificados como presas em estudos de dieta. Os quatis também parecem ter uma maior tolerância à perturbações antrópicas em áreas florestadas, utilizando estradas e com maior chance de ocupar áreas mais degradadas, onde não há grandes felídeos. No entanto, essa espécie diurna parece evitar o contato humano, modificando seu padrão de atividade para mais noturno, em áreas não protegidas. Os grandes felídeos indicaram ser um proxy de áreas mais preservadas, onde P. cancrivorus possui maior probabilidade de ser detectado, sugerindo que essa espécie não é tão tolerante a áreas degradadas. Esse estudo gerou informações inéditas sobre essas espécies no limite sul de um bioma considerado hotspot de diversidade e os resultados também podem servir de base para planejamento de ações de conservação.
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