Programa de educação de pais e de estimulação junto a crianças com atraso de desenvolvimento

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sigolo, Silvia Regina Ricco Lucato [UNESP]
Data de Publicação: 2001
Tipo de documento: Artigo de conferência
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://proex.reitoria.unesp.br/congressos/Congressos/1__Congresso/Aten__o_Especial___Crian_a/Trabalho01.htm
http://hdl.handle.net/11449/148145
Resumo: Ao longo dos últimos quinze anos, o grupo de pesquisa coordenado por esta docente vem desenvolvendo pesquisas na área da interação entre mãe e criança com atraso de desenvolvimento com foco especial, na idade pré-escolar. Sempre se propondo a descrever e compreender o processo interativo, deixando o trabalho de intervenção como uma atividade, em separado, que comporia o rol de atividades de extensão, exigência da carreira universitária. No entanto, há um crescente corpo de literatura interessado na qualidade e natureza do processo de interação entre pais e criança com atraso desenvolvimento. Este conhecimento tem sido gerado em dois principais ambientes: acadêmico (pesquisa básica e aplicada) e clínico (educação especial e estimulação essencial). Towle et all (1988) no trabalho de revisão dos sistemas de codificação e escalas de avaliação da interação entre pais e crianças comprometidas no seu processo de desenvolvimento verificou uma mudança no foco de atenção dos pesquisadores. Gradativamente, estes têm se movido para variáveis mais molares, sugerindo que estas são tão verdadeiras para descrever a interação quanto as observações minuciosas. A pesquisadora, na sua trajetória profissional, também seguiu um caminho semelhante ao apontado por Towle et all e, nos últimos quatro anos, vem enfrentando novo desafio, integrar a pesquisa à intervenção. Além disso, o trabalho desenvolvido na Unidade Auxiliar - CEAO com famílias de crianças portadoras de atraso de desenvolvimento fez acirrar ainda mais o dilema pesquisa X uso clínico. Portanto, estruturar pesquisas que contemplem estudos de intervenção traria contribuições importantes para a produção de conhecimento nesta área. Neste trabalho, a perspectiva adotada concebe socialização como o processo através do qual padrões, valores, normas de conduta são transmitidos à geração mais nova e assimiladas por ela, ou seja, nela se defrontam e se compõem as forças da subjetividade e do social, construindo um indivíduo inserido no grupo, participante de sua cultura, afinado com o momento em que vive. Assim, este processo se define num modelo de influências bidirecionais, ou seja, atribuem à interação indivíduo-ambiente um caráter de mútua influência, onde a criança exerce um papel ativo. Muitos estudos têm procurado investigar os vários fatores que determinam as idéias dos pais no processo de desenvolvimento da criança. Parece existir ampla concordância de que idéias apresentadas pelos pais, longe de se constituírem em fenômenos isolados, encontram-se interligados com os padrões de vida e formas de pensar característicos de contextos culturais específicos. Desta forma, pode-se dizer que as crenças paternas concebidas como construções culturais se constituem em importante aspecto do contexto de desenvolvimento. Alterações observadas no contexto social mais amplo fizeram-se acompanhar de rápidas mudanças nas práticas de educação, a partir de orientações muitas vezes conflitantes. Fato este que provavelmente possa explicar as dúvidas e contradições encontradas hoje na tarefa de criação dos filhos. Quando se volta o foco de atenção para crianças com necessidades especiais, todas as questões analisadas anteriormente são perfeitamente aplicáveis, acrescida do fato de se ter uma criança para a qual nenhuma família encontra-se preparada para recebê-la. Todo o processo de preparação para o nascimento de uma criança é cercado de uma série de expectativas, sonhos e projetos. No caso da criança comprometida estes planos se interrompem bruscamente na ocasião da tomada de conhecimento do diagnóstico infantil. A literatura traz uma quantidade extensa de estudos evidenciando que pais de crianças comprometidas interagem de forma diferente das de crianças tidas como "normais". Os primeiros exibem um estilo interativo caracterizado como intrusivo e de coerção. A princípio a razão para estilos diferentes são atribuídos às características individuais dos pais ou da criança. Há um crescente corpo de evidências indicando que os estilos de interação parentais empregados com crianças de risco são influenciadas por um número de fatores ligados aos pais, família, criança e condições extra-familiares, incluindo diagnóstico da criança, idade infantil e status de desenvolvimento, temperamento infantil, nível educacional materno, status sócio-econômico, status parental, sistemas de crenças parentais, saúde materna e bem-estar, papel familiar, clima familiar e suporte social. Os princípios norteadores desta proposta tem como base a visão de que toda a criança está equipada com um potencial de desenvolvimento físico, mental e emocional; que o processo de interação pais-criança se constitui em pedra angular para o favorecimento do desenvolvimento infantil, que o processo de socialização é construído e reconstruído pela criança e pelo adulto e portanto há um processo de aprendizagem e desenvolvimento recíproco, e por fim, cada família organiza, segundo seus princípios, o ambiente em que a criança vive. Desta forma, o presente trabalho tem como principal foco de interesse estruturar um programa de intervenção que objetiva desenvolver estratégias de interação entre pais e criança que favoreçam o enriquecimento da competência infantil. Para isto, então é de extrema relevância conhecer de forma cuidadosa as idéias dos pais de portadores de deficiência a respeito de suas crianças, o contexto em que vivem e criam seus filhos, assim como o estilo interativo entre pais e crianças em situações de rotina diária. Para em seguida, estabelecer os objetivos a serem atingidos buscando os recursos e a competência já manifesta pelos pais. Este projeto pretende atingir os seguintes objetivos: 1) Detectar o estágio de desenvolvimento infantil nas áreas motora, linguagem, social, cognitiva e emocional para a proposição de um programa de estimulação. 2) Analisar os estilos interativos entre mãe e criança em situações de rotina diária e brinquedo livre e as idéias dos pais acerca do significado da patologia, da compreensão do diagnóstico e prognóstico, das noções de desenvolvimento e dos modelos de criação. 3) Desenvolver estratégias de intervenção com os pais das crianças estudadas para aprimorar os estilos interativos que favorecem o enriquecimento da competência infantil. 4) Desenvolver estratégias de avaliação da proposta de intervenção levada a efeito e em que medida esta teve impacto no comportamento parental e infantil. Participam deste programa famílias de crianças portadoras de atraso de desenvolvimento que procuram atendimento no Centro de Estudos, Assessoria e Orientação Educativa "Dante Moreira Leite" - Unidade Auxiliar da Faculdade de Ciências e Letras - UNESP/Araraquara. São critérios para participação no projeto: a) a criança deve estar em idade pré-escolar; com o diagnóstico de atraso de desenvolvimento, não havendo a necessidade de um quadro preciso e definitivo, b) a família deve ter conhecimento do atraso de desenvolvimento do filho. É solicitado de um de seus responsáveis a assinatura de um termo de consentimento do qual consta: dados de identificação; título do projeto, responsável, finalidade, duração da coleta de dados e procedimentos utilizados. Também é informado ao colaborador de que a recusa em participar do projeto não implica em prejuízos para o seu atendimento no Centro. A iniciativa vem sendo implementada gradualmente a medida que famílias com estes requisitos procuram atendimento no Centro. As principais dificuldades de implementação estão relacionadas a aspectos ligados a infra-estrutura, ou seja, instalações adequadas ao trabalho, deslocamento do grupo para o trabalho de campo, disponibilidade da equipe de profissionais do CEAO, entre outros. Por outro lado, como ponto positivo estão os resultados obtidos até o momento evidenciando que a melhora na qualidade das relações que se estabelecem entre pais e filhos gera uma condição de vida saudável e conseqüentemente um desenvolvimento qualitativamente superior da competência infantil.
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Towle et all (1988) no trabalho de revisão dos sistemas de codificação e escalas de avaliação da interação entre pais e crianças comprometidas no seu processo de desenvolvimento verificou uma mudança no foco de atenção dos pesquisadores. Gradativamente, estes têm se movido para variáveis mais molares, sugerindo que estas são tão verdadeiras para descrever a interação quanto as observações minuciosas. A pesquisadora, na sua trajetória profissional, também seguiu um caminho semelhante ao apontado por Towle et all e, nos últimos quatro anos, vem enfrentando novo desafio, integrar a pesquisa à intervenção. Além disso, o trabalho desenvolvido na Unidade Auxiliar - CEAO com famílias de crianças portadoras de atraso de desenvolvimento fez acirrar ainda mais o dilema pesquisa X uso clínico. Portanto, estruturar pesquisas que contemplem estudos de intervenção traria contribuições importantes para a produção de conhecimento nesta área. Neste trabalho, a perspectiva adotada concebe socialização como o processo através do qual padrões, valores, normas de conduta são transmitidos à geração mais nova e assimiladas por ela, ou seja, nela se defrontam e se compõem as forças da subjetividade e do social, construindo um indivíduo inserido no grupo, participante de sua cultura, afinado com o momento em que vive. Assim, este processo se define num modelo de influências bidirecionais, ou seja, atribuem à interação indivíduo-ambiente um caráter de mútua influência, onde a criança exerce um papel ativo. Muitos estudos têm procurado investigar os vários fatores que determinam as idéias dos pais no processo de desenvolvimento da criança. Parece existir ampla concordância de que idéias apresentadas pelos pais, longe de se constituírem em fenômenos isolados, encontram-se interligados com os padrões de vida e formas de pensar característicos de contextos culturais específicos. Desta forma, pode-se dizer que as crenças paternas concebidas como construções culturais se constituem em importante aspecto do contexto de desenvolvimento. Alterações observadas no contexto social mais amplo fizeram-se acompanhar de rápidas mudanças nas práticas de educação, a partir de orientações muitas vezes conflitantes. Fato este que provavelmente possa explicar as dúvidas e contradições encontradas hoje na tarefa de criação dos filhos. Quando se volta o foco de atenção para crianças com necessidades especiais, todas as questões analisadas anteriormente são perfeitamente aplicáveis, acrescida do fato de se ter uma criança para a qual nenhuma família encontra-se preparada para recebê-la. Todo o processo de preparação para o nascimento de uma criança é cercado de uma série de expectativas, sonhos e projetos. No caso da criança comprometida estes planos se interrompem bruscamente na ocasião da tomada de conhecimento do diagnóstico infantil. A literatura traz uma quantidade extensa de estudos evidenciando que pais de crianças comprometidas interagem de forma diferente das de crianças tidas como "normais". Os primeiros exibem um estilo interativo caracterizado como intrusivo e de coerção. A princípio a razão para estilos diferentes são atribuídos às características individuais dos pais ou da criança. Há um crescente corpo de evidências indicando que os estilos de interação parentais empregados com crianças de risco são influenciadas por um número de fatores ligados aos pais, família, criança e condições extra-familiares, incluindo diagnóstico da criança, idade infantil e status de desenvolvimento, temperamento infantil, nível educacional materno, status sócio-econômico, status parental, sistemas de crenças parentais, saúde materna e bem-estar, papel familiar, clima familiar e suporte social. Os princípios norteadores desta proposta tem como base a visão de que toda a criança está equipada com um potencial de desenvolvimento físico, mental e emocional; que o processo de interação pais-criança se constitui em pedra angular para o favorecimento do desenvolvimento infantil, que o processo de socialização é construído e reconstruído pela criança e pelo adulto e portanto há um processo de aprendizagem e desenvolvimento recíproco, e por fim, cada família organiza, segundo seus princípios, o ambiente em que a criança vive. Desta forma, o presente trabalho tem como principal foco de interesse estruturar um programa de intervenção que objetiva desenvolver estratégias de interação entre pais e criança que favoreçam o enriquecimento da competência infantil. Para isto, então é de extrema relevância conhecer de forma cuidadosa as idéias dos pais de portadores de deficiência a respeito de suas crianças, o contexto em que vivem e criam seus filhos, assim como o estilo interativo entre pais e crianças em situações de rotina diária. Para em seguida, estabelecer os objetivos a serem atingidos buscando os recursos e a competência já manifesta pelos pais. Este projeto pretende atingir os seguintes objetivos: 1) Detectar o estágio de desenvolvimento infantil nas áreas motora, linguagem, social, cognitiva e emocional para a proposição de um programa de estimulação. 2) Analisar os estilos interativos entre mãe e criança em situações de rotina diária e brinquedo livre e as idéias dos pais acerca do significado da patologia, da compreensão do diagnóstico e prognóstico, das noções de desenvolvimento e dos modelos de criação. 3) Desenvolver estratégias de intervenção com os pais das crianças estudadas para aprimorar os estilos interativos que favorecem o enriquecimento da competência infantil. 4) Desenvolver estratégias de avaliação da proposta de intervenção levada a efeito e em que medida esta teve impacto no comportamento parental e infantil. Participam deste programa famílias de crianças portadoras de atraso de desenvolvimento que procuram atendimento no Centro de Estudos, Assessoria e Orientação Educativa "Dante Moreira Leite" - Unidade Auxiliar da Faculdade de Ciências e Letras - UNESP/Araraquara. São critérios para participação no projeto: a) a criança deve estar em idade pré-escolar; com o diagnóstico de atraso de desenvolvimento, não havendo a necessidade de um quadro preciso e definitivo, b) a família deve ter conhecimento do atraso de desenvolvimento do filho. É solicitado de um de seus responsáveis a assinatura de um termo de consentimento do qual consta: dados de identificação; título do projeto, responsável, finalidade, duração da coleta de dados e procedimentos utilizados. Também é informado ao colaborador de que a recusa em participar do projeto não implica em prejuízos para o seu atendimento no Centro. A iniciativa vem sendo implementada gradualmente a medida que famílias com estes requisitos procuram atendimento no Centro. As principais dificuldades de implementação estão relacionadas a aspectos ligados a infra-estrutura, ou seja, instalações adequadas ao trabalho, deslocamento do grupo para o trabalho de campo, disponibilidade da equipe de profissionais do CEAO, entre outros. Por outro lado, como ponto positivo estão os resultados obtidos até o momento evidenciando que a melhora na qualidade das relações que se estabelecem entre pais e filhos gera uma condição de vida saudável e conseqüentemente um desenvolvimento qualitativamente superior da competência infantil.Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras (FCLAR), Departamento de Psicologia da Educação, Araraquara, SPUniversidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e Letras (FCLAR), Departamento de Psicologia da Educação, Araraquara, SPUniversidade Estadual Paulista (Unesp)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Sigolo, Silvia Regina Ricco Lucato [UNESP]2017-01-18T15:46:02Z2017-01-18T15:46:02Z2001info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/conferenceObjecthttp://proex.reitoria.unesp.br/congressos/Congressos/1__Congresso/Aten__o_Especial___Crian_a/Trabalho01.htmhttp://hdl.handle.net/11449/148145PROEXreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESPporCongresso de Extensão Universitáriainfo:eu-repo/semantics/openAccess2021-10-23T15:34:00Zoai:repositorio.unesp.br:11449/148145Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462021-10-23T15:34Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
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Towle et all (1988) no trabalho de revisão dos sistemas de codificação e escalas de avaliação da interação entre pais e crianças comprometidas no seu processo de desenvolvimento verificou uma mudança no foco de atenção dos pesquisadores. Gradativamente, estes têm se movido para variáveis mais molares, sugerindo que estas são tão verdadeiras para descrever a interação quanto as observações minuciosas. A pesquisadora, na sua trajetória profissional, também seguiu um caminho semelhante ao apontado por Towle et all e, nos últimos quatro anos, vem enfrentando novo desafio, integrar a pesquisa à intervenção. Além disso, o trabalho desenvolvido na Unidade Auxiliar - CEAO com famílias de crianças portadoras de atraso de desenvolvimento fez acirrar ainda mais o dilema pesquisa X uso clínico. Portanto, estruturar pesquisas que contemplem estudos de intervenção traria contribuições importantes para a produção de conhecimento nesta área. Neste trabalho, a perspectiva adotada concebe socialização como o processo através do qual padrões, valores, normas de conduta são transmitidos à geração mais nova e assimiladas por ela, ou seja, nela se defrontam e se compõem as forças da subjetividade e do social, construindo um indivíduo inserido no grupo, participante de sua cultura, afinado com o momento em que vive. Assim, este processo se define num modelo de influências bidirecionais, ou seja, atribuem à interação indivíduo-ambiente um caráter de mútua influência, onde a criança exerce um papel ativo. Muitos estudos têm procurado investigar os vários fatores que determinam as idéias dos pais no processo de desenvolvimento da criança. Parece existir ampla concordância de que idéias apresentadas pelos pais, longe de se constituírem em fenômenos isolados, encontram-se interligados com os padrões de vida e formas de pensar característicos de contextos culturais específicos. Desta forma, pode-se dizer que as crenças paternas concebidas como construções culturais se constituem em importante aspecto do contexto de desenvolvimento. Alterações observadas no contexto social mais amplo fizeram-se acompanhar de rápidas mudanças nas práticas de educação, a partir de orientações muitas vezes conflitantes. Fato este que provavelmente possa explicar as dúvidas e contradições encontradas hoje na tarefa de criação dos filhos. Quando se volta o foco de atenção para crianças com necessidades especiais, todas as questões analisadas anteriormente são perfeitamente aplicáveis, acrescida do fato de se ter uma criança para a qual nenhuma família encontra-se preparada para recebê-la. Todo o processo de preparação para o nascimento de uma criança é cercado de uma série de expectativas, sonhos e projetos. No caso da criança comprometida estes planos se interrompem bruscamente na ocasião da tomada de conhecimento do diagnóstico infantil. A literatura traz uma quantidade extensa de estudos evidenciando que pais de crianças comprometidas interagem de forma diferente das de crianças tidas como "normais". Os primeiros exibem um estilo interativo caracterizado como intrusivo e de coerção. A princípio a razão para estilos diferentes são atribuídos às características individuais dos pais ou da criança. Há um crescente corpo de evidências indicando que os estilos de interação parentais empregados com crianças de risco são influenciadas por um número de fatores ligados aos pais, família, criança e condições extra-familiares, incluindo diagnóstico da criança, idade infantil e status de desenvolvimento, temperamento infantil, nível educacional materno, status sócio-econômico, status parental, sistemas de crenças parentais, saúde materna e bem-estar, papel familiar, clima familiar e suporte social. Os princípios norteadores desta proposta tem como base a visão de que toda a criança está equipada com um potencial de desenvolvimento físico, mental e emocional; que o processo de interação pais-criança se constitui em pedra angular para o favorecimento do desenvolvimento infantil, que o processo de socialização é construído e reconstruído pela criança e pelo adulto e portanto há um processo de aprendizagem e desenvolvimento recíproco, e por fim, cada família organiza, segundo seus princípios, o ambiente em que a criança vive. Desta forma, o presente trabalho tem como principal foco de interesse estruturar um programa de intervenção que objetiva desenvolver estratégias de interação entre pais e criança que favoreçam o enriquecimento da competência infantil. Para isto, então é de extrema relevância conhecer de forma cuidadosa as idéias dos pais de portadores de deficiência a respeito de suas crianças, o contexto em que vivem e criam seus filhos, assim como o estilo interativo entre pais e crianças em situações de rotina diária. Para em seguida, estabelecer os objetivos a serem atingidos buscando os recursos e a competência já manifesta pelos pais. Este projeto pretende atingir os seguintes objetivos: 1) Detectar o estágio de desenvolvimento infantil nas áreas motora, linguagem, social, cognitiva e emocional para a proposição de um programa de estimulação. 2) Analisar os estilos interativos entre mãe e criança em situações de rotina diária e brinquedo livre e as idéias dos pais acerca do significado da patologia, da compreensão do diagnóstico e prognóstico, das noções de desenvolvimento e dos modelos de criação. 3) Desenvolver estratégias de intervenção com os pais das crianças estudadas para aprimorar os estilos interativos que favorecem o enriquecimento da competência infantil. 4) Desenvolver estratégias de avaliação da proposta de intervenção levada a efeito e em que medida esta teve impacto no comportamento parental e infantil. Participam deste programa famílias de crianças portadoras de atraso de desenvolvimento que procuram atendimento no Centro de Estudos, Assessoria e Orientação Educativa "Dante Moreira Leite" - Unidade Auxiliar da Faculdade de Ciências e Letras - UNESP/Araraquara. São critérios para participação no projeto: a) a criança deve estar em idade pré-escolar; com o diagnóstico de atraso de desenvolvimento, não havendo a necessidade de um quadro preciso e definitivo, b) a família deve ter conhecimento do atraso de desenvolvimento do filho. É solicitado de um de seus responsáveis a assinatura de um termo de consentimento do qual consta: dados de identificação; título do projeto, responsável, finalidade, duração da coleta de dados e procedimentos utilizados. Também é informado ao colaborador de que a recusa em participar do projeto não implica em prejuízos para o seu atendimento no Centro. A iniciativa vem sendo implementada gradualmente a medida que famílias com estes requisitos procuram atendimento no Centro. As principais dificuldades de implementação estão relacionadas a aspectos ligados a infra-estrutura, ou seja, instalações adequadas ao trabalho, deslocamento do grupo para o trabalho de campo, disponibilidade da equipe de profissionais do CEAO, entre outros. Por outro lado, como ponto positivo estão os resultados obtidos até o momento evidenciando que a melhora na qualidade das relações que se estabelecem entre pais e filhos gera uma condição de vida saudável e conseqüentemente um desenvolvimento qualitativamente superior da competência infantil.
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