Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Furtado, Pedro Barbosa Rudge [UNESP]
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Institucional da UNESP
Texto Completo: http://hdl.handle.net/11449/151024
Resumo: O empenho rememorativo é um aspecto marcante na obra de Graciliano Ramos. É possível encontrá-lo tanto nas personagens de alguns de seus romances – Caetés, São Bernardo e Angústia – quanto nas reminiscências do autor-narrador em suas autobiografias – Infância e Memórias do cárcere. Dois desses livros foram escolhidos como corpus da dissertação: Angústia e Infância. Dessa maneira, há, entre eles, uma diferença no que tange à forma literária – romance e autobiografia – o que, por conseguinte, acarreta modos distintos de análise. O objetivo de nossa pesquisa é investigar como se dá a narração via memória, nessas obras de gêneros dessemelhantes, no que tem a ver, principalmente, com a mediação entre literatura e sociedade que pode ser constatada textualmente nas narrativas. A literatura apresenta a capacidade de nos inserir em certa História, pois a sua forma/conteúdo apresenta sintomas de um certo período do qual o escritor não pode se alienar completamente; por isso, as tensões sociais são, em diferentes graus, figuradas na narrativa. Para atingir esse objetivo, amparamo-nos na seguinte base teórico-crítica, dividida em quatro linhas principais: ensaios críticos sobre Graciliano Ramos e sua obra, em especial, sobre Angústia e Infância – como Ficção e confissão, Antonio Candido, textos inseridos na coletânea Graciliano Ramos, organizada por Sônia Brayner, A ponta do novelo, de Lúcia Helena Carvalho, Uma história do romance de 30, de Luís Bueno, e mais diversos ensaios e artigos – investigações sobre o método analítico, centrado na crítica dialética – como em O inconsciente político: a narrativa como ato socialmente simbólico, de Fredric Jameson, textos de Alfredo Bosi em Literatura e resistência e Ideologia e contraideologia, reflexões de Antonio Candido e Roberto Schwarz, entre outros – proposições sobre a memória, o tempo e a sua representação no romance e na autobiografia – como em textos de Jeanne Marie Gagnebin, Marcello Duarte Mathias, Philippe Lejeune, Alfredo Bosi etc – e reflexões sobre o grande irradiador das incongruências sócio-históricas – a personagem – encontrados em Pessoa e personagem, de Michel Zéraffa e “A personagem do romance”, de Antonio Candido. Com tal apoio, examinamos a representação em Angústia de um sujeito gravemente inadaptado ao meio, em que existe um polo de discordância radical, tanto em termos espaço-temporais quanto no que tange aos valores, entre o presente da enunciação e o tempo dos fatos narrados no processo rememorativo. Em Infância, assinalamos que as tensões sociais são mais evidenciadas na passagem das impressões infantis para a revisão adulta, momento em que os signos ideológicos do autor-narrador tornam-se mais manifestos, suspendendo a narração da história e comentando, com olhos de adulto, o meio em que estava inserido. Em ambas as narrativas, mesmo com as particularidades de cada uma, figura, com recursos distintos, o mal-estar de seres em constante conflito com os valores histórico-sociais.
id UNSP_f12ae57402f93b778e37e2bbcfbd7288
oai_identifier_str oai:repositorio.unesp.br:11449/151024
network_acronym_str UNSP
network_name_str Repositório Institucional da UNESP
repository_id_str 2946
spelling Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografiaRememorantion on Graciliano Ramos: a novel and an autobiographyGraciliano RamosAngústiaInfânciaMemóriaNarrativa e sociedadeO empenho rememorativo é um aspecto marcante na obra de Graciliano Ramos. É possível encontrá-lo tanto nas personagens de alguns de seus romances – Caetés, São Bernardo e Angústia – quanto nas reminiscências do autor-narrador em suas autobiografias – Infância e Memórias do cárcere. Dois desses livros foram escolhidos como corpus da dissertação: Angústia e Infância. Dessa maneira, há, entre eles, uma diferença no que tange à forma literária – romance e autobiografia – o que, por conseguinte, acarreta modos distintos de análise. O objetivo de nossa pesquisa é investigar como se dá a narração via memória, nessas obras de gêneros dessemelhantes, no que tem a ver, principalmente, com a mediação entre literatura e sociedade que pode ser constatada textualmente nas narrativas. A literatura apresenta a capacidade de nos inserir em certa História, pois a sua forma/conteúdo apresenta sintomas de um certo período do qual o escritor não pode se alienar completamente; por isso, as tensões sociais são, em diferentes graus, figuradas na narrativa. Para atingir esse objetivo, amparamo-nos na seguinte base teórico-crítica, dividida em quatro linhas principais: ensaios críticos sobre Graciliano Ramos e sua obra, em especial, sobre Angústia e Infância – como Ficção e confissão, Antonio Candido, textos inseridos na coletânea Graciliano Ramos, organizada por Sônia Brayner, A ponta do novelo, de Lúcia Helena Carvalho, Uma história do romance de 30, de Luís Bueno, e mais diversos ensaios e artigos – investigações sobre o método analítico, centrado na crítica dialética – como em O inconsciente político: a narrativa como ato socialmente simbólico, de Fredric Jameson, textos de Alfredo Bosi em Literatura e resistência e Ideologia e contraideologia, reflexões de Antonio Candido e Roberto Schwarz, entre outros – proposições sobre a memória, o tempo e a sua representação no romance e na autobiografia – como em textos de Jeanne Marie Gagnebin, Marcello Duarte Mathias, Philippe Lejeune, Alfredo Bosi etc – e reflexões sobre o grande irradiador das incongruências sócio-históricas – a personagem – encontrados em Pessoa e personagem, de Michel Zéraffa e “A personagem do romance”, de Antonio Candido. Com tal apoio, examinamos a representação em Angústia de um sujeito gravemente inadaptado ao meio, em que existe um polo de discordância radical, tanto em termos espaço-temporais quanto no que tange aos valores, entre o presente da enunciação e o tempo dos fatos narrados no processo rememorativo. Em Infância, assinalamos que as tensões sociais são mais evidenciadas na passagem das impressões infantis para a revisão adulta, momento em que os signos ideológicos do autor-narrador tornam-se mais manifestos, suspendendo a narração da história e comentando, com olhos de adulto, o meio em que estava inserido. Em ambas as narrativas, mesmo com as particularidades de cada uma, figura, com recursos distintos, o mal-estar de seres em constante conflito com os valores histórico-sociais.The rememorative effort is a remarkable aspect concerning Gracilian Ramos’ works. It is possible to find this aspect in the characters of some of his novels – Caetés, São Bernardo and Anguish – and in the reminiscence of the author-narrator in his autobiographies – Childhood and Memórias do cárcere. Two of these books were chosen as corpus of our dissertation: Anguish and Childhood. In this manner, there are differences, between them, regarding literary forms – novel and autobiography – that, consecutively, bring on dissimilar ways of analysing them. The objective of our research is to investigate how is configured this rememorative effort in these works concerning, mainly, the mediation between literature and society that can be textually verified in these narratives. Literature, can make us immerse in a certain History, because its form/content presents itself as symptoms of a certain period in which writers cannot alienate themselves completely; thus, the social tensions are represented in the narrative in different grades. In order to fulfill this goal, our theoretical and critical basis are the following ones, divided into four main lines: critical essays about Graciliano Ramos and his works and, papers concerning Anguish and Childhood – as in como Ficção e confissão, Antonio Candido, texts contained in Graciliano Ramos, organized by Sônia Brayner, A ponta do novelo, by Lúcia Helena Carvalho, Uma história do romance de 30, by Luís Bueno, and several papers – investigations regarding our chosen analytic method, centered in the dialectics criticism – as in The political unconscious: narrative as a socially symbolic act, by Fredric Jameson, texts by Alfredo Bosi in Literatura e resistência and Ideologia e contraideologia, ponderations made by Antonio Candido and Roberto Schwarz, among other thinkers – propositions concerning memory and time and its representation in the novel and in the autobiography – as in papers by Jeanne Marie Gagnebin, Marcello Duarte Mathias, Philippe Lejeune, Alfredo Bosi etc – and thoughts regarding the great radiating of the social-historical incongruences – the character – as in Pessoa e personagem, by Michel Zéraffa and “A personagem do romance”, by Antonio Candido. Having these ideas in mind, the grievous representation of an unadapted individual to their social environment have been investigated in Anguish. For this character, there is a radical gradient of disagreement related to spatial and temporal tensions and values between the present of enunciation and the past that is remembered. In Childhood, it has been seen that the social tensions are clearer in the passage through the childhood impressions to the adult revisionism, a moment when the author-narrator’s ideological signals become more evident, interrupting the narration of the story and commenting, through the matured eyes, the social contradictions. Both narratives, even containing their own particularities, represent, with different resources, the malaise of subjects in constant conflict with their social-historical values.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)Universidade Estadual Paulista (Unesp)Leonel, Maria Célia de Moraes [UNESP]Universidade Estadual Paulista (Unesp)Furtado, Pedro Barbosa Rudge [UNESP]2017-06-30T16:27:28Z2017-06-30T16:27:28Z2017-05-23info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/11449/15102400088836833004030016P09794317900231133porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNESPinstname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)instacron:UNESP2023-11-05T06:13:09Zoai:repositorio.unesp.br:11449/151024Repositório InstitucionalPUBhttp://repositorio.unesp.br/oai/requestopendoar:29462023-11-05T06:13:09Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)false
dc.title.none.fl_str_mv Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
Rememorantion on Graciliano Ramos: a novel and an autobiography
title Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
spellingShingle Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
Furtado, Pedro Barbosa Rudge [UNESP]
Graciliano Ramos
Angústia
Infância
Memória
Narrativa e sociedade
title_short Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
title_full Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
title_fullStr Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
title_full_unstemmed Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
title_sort Rememoração em Graciliano Ramos: do romance à autobiografia
author Furtado, Pedro Barbosa Rudge [UNESP]
author_facet Furtado, Pedro Barbosa Rudge [UNESP]
author_role author
dc.contributor.none.fl_str_mv Leonel, Maria Célia de Moraes [UNESP]
Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.contributor.author.fl_str_mv Furtado, Pedro Barbosa Rudge [UNESP]
dc.subject.por.fl_str_mv Graciliano Ramos
Angústia
Infância
Memória
Narrativa e sociedade
topic Graciliano Ramos
Angústia
Infância
Memória
Narrativa e sociedade
description O empenho rememorativo é um aspecto marcante na obra de Graciliano Ramos. É possível encontrá-lo tanto nas personagens de alguns de seus romances – Caetés, São Bernardo e Angústia – quanto nas reminiscências do autor-narrador em suas autobiografias – Infância e Memórias do cárcere. Dois desses livros foram escolhidos como corpus da dissertação: Angústia e Infância. Dessa maneira, há, entre eles, uma diferença no que tange à forma literária – romance e autobiografia – o que, por conseguinte, acarreta modos distintos de análise. O objetivo de nossa pesquisa é investigar como se dá a narração via memória, nessas obras de gêneros dessemelhantes, no que tem a ver, principalmente, com a mediação entre literatura e sociedade que pode ser constatada textualmente nas narrativas. A literatura apresenta a capacidade de nos inserir em certa História, pois a sua forma/conteúdo apresenta sintomas de um certo período do qual o escritor não pode se alienar completamente; por isso, as tensões sociais são, em diferentes graus, figuradas na narrativa. Para atingir esse objetivo, amparamo-nos na seguinte base teórico-crítica, dividida em quatro linhas principais: ensaios críticos sobre Graciliano Ramos e sua obra, em especial, sobre Angústia e Infância – como Ficção e confissão, Antonio Candido, textos inseridos na coletânea Graciliano Ramos, organizada por Sônia Brayner, A ponta do novelo, de Lúcia Helena Carvalho, Uma história do romance de 30, de Luís Bueno, e mais diversos ensaios e artigos – investigações sobre o método analítico, centrado na crítica dialética – como em O inconsciente político: a narrativa como ato socialmente simbólico, de Fredric Jameson, textos de Alfredo Bosi em Literatura e resistência e Ideologia e contraideologia, reflexões de Antonio Candido e Roberto Schwarz, entre outros – proposições sobre a memória, o tempo e a sua representação no romance e na autobiografia – como em textos de Jeanne Marie Gagnebin, Marcello Duarte Mathias, Philippe Lejeune, Alfredo Bosi etc – e reflexões sobre o grande irradiador das incongruências sócio-históricas – a personagem – encontrados em Pessoa e personagem, de Michel Zéraffa e “A personagem do romance”, de Antonio Candido. Com tal apoio, examinamos a representação em Angústia de um sujeito gravemente inadaptado ao meio, em que existe um polo de discordância radical, tanto em termos espaço-temporais quanto no que tange aos valores, entre o presente da enunciação e o tempo dos fatos narrados no processo rememorativo. Em Infância, assinalamos que as tensões sociais são mais evidenciadas na passagem das impressões infantis para a revisão adulta, momento em que os signos ideológicos do autor-narrador tornam-se mais manifestos, suspendendo a narração da história e comentando, com olhos de adulto, o meio em que estava inserido. Em ambas as narrativas, mesmo com as particularidades de cada uma, figura, com recursos distintos, o mal-estar de seres em constante conflito com os valores histórico-sociais.
publishDate 2017
dc.date.none.fl_str_mv 2017-06-30T16:27:28Z
2017-06-30T16:27:28Z
2017-05-23
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv http://hdl.handle.net/11449/151024
000888368
33004030016P0
9794317900231133
url http://hdl.handle.net/11449/151024
identifier_str_mv 000888368
33004030016P0
9794317900231133
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.format.none.fl_str_mv application/pdf
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
publisher.none.fl_str_mv Universidade Estadual Paulista (Unesp)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UNESP
instname:Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron:UNESP
instname_str Universidade Estadual Paulista (UNESP)
instacron_str UNESP
institution UNESP
reponame_str Repositório Institucional da UNESP
collection Repositório Institucional da UNESP
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UNESP - Universidade Estadual Paulista (UNESP)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1792961745576263680