Transições sociotécnicas : aspectos tecnológicos e mercadológicos da carne cultivada

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Fernandes, Alice Munz
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/232756
Resumo: O sistema sociotécnico que desempenha a função social de provimento de carne, especialmente bovina, à alimentação humana tem sido caracterizado por pressões crescentes advindas de modificações nos hábitos de consumo, crescimento populacional, preocupações ambientais e de bem-estar animal, dentre outros fatores exógenos. Desta forma, inovações disruptivas em nível de nicho tecnológico têm adquirido representatividade, com destaque a carne cultivada. Essa nova biotecnologia alimentar proveniente da biomedicina integra o campo científico emergente da agricultura celular e ainda carece de consenso em múltiplos aspectos. Logo, se trata de uma temática recorrente nos debates contemporâneos, permeando questões interdisciplinares e fomentando especulações. Mesmo não estando disponível em escala comercial, a carne cultivada movimenta uma gama cada vez maior de stakeholders, estimulando o surgimento de novas organizações e impactando na estruturação de um novo setor econômico e industrial. Ante essa circunscrição, a pesquisa realizada teve como objetivo propor cenários tecnológicos e mercadológicos, sob a perspectiva das transições sociotécnicas, para a carne bovina cultivada, considerando um horizonte temporal de dez anos. Tal premissa justifica-se pelas projeções de inserção da biotecnologia no mercado, estimada para ocorrer ainda nessa década. Para tanto, inicialmente analisou-se a trajetória e as abordagens a partir das quais a carne cultivada é tratada no âmbito científico. Por meio de uma revisão sistemática da literatura, constatou-se a predominância de três perspectivas analíticas: ambiental e de saúde; viabilidade técnica e econômica do processo de produção, e; sociomercadológica. Posteriormente, identificaram-se os aspectos favoráveis, desfavoráveis e os desafios relacionados à produção e a comercialização do produto, o que oportunizou a proposição de um modelo analítico composto por cinco dimensões: ciência, tecnologia, mercado, ambiente institucional, impactos sociais e impactos ambientais. Dentre esse delineamento, etapas subsequentes da pesquisa enfatizaram aspectos tecnológicos e mercadológicos, cujo escopo tangencia as demais dimensões e possibilita a análise sistêmica do fenômeno, considerando suas múltiplas interfaces. Em consonância, procedeu-se com uma exploração de prospecção tecnológica da carne cultivada, por meio do mapeamento de patentes de invenção, startups e seus investidores. Os resultados apontaram significativos avanços no processo produtivo e a redução substancial dos custos de produção, bem como a identificação de similaridades com outras trajetórias biotecnológicas, atualmente consolidadas. Em seguida, se abordou a perspectiva mercadológica da carne cultivada, uma vez que aspectos tecnológicos não demonstraram representar entraves para sua comercialização em grande escala. Assim, contribuindo com a literatura sobre comportamento de consumo e intenção de compra, realizou-se uma survey com consumidores de carne que residem em Porto Alegre/RS, capital do Estado brasileiro tipicamente reconhecido pela histórica relevância sociocultural e simbolismos associados ao consumo da carne convencional. Os principais resultados obtidos nessa etapa da investigação evidenciaram que apesar de haver maior disposição em experimentar a biotecnologia, essa não se estende à substituição do produto convencional. Observou-se também que a rejeição do consumo tende a se intensificar após os 40 anos de idade e que o conhecimento prévio ou familiaridade com a temática não necessariamente é um preditor da intenção de compra. Contudo, reconhecendo a relevância do contexto cultural sobre o comportamento de consumo, procedeu-se com a comparação das atitudes dos consumidores de carne bovina frente à carne bovina cultivada, a partir de sua área de residência, intensidade de consumo de churrasco e participação em atividades tradicionalistas/folclóricas. Para tanto, empregou-se uma survey incluindo novas variáveis de pesquisa e expandindo a população analisada para todos os consumidores de carne bovina do Estado do Rio Grande do Sul. Os resultados sugerem que indivíduos que residem em áreas rurais, que consomem churrasco com maior frequência e que participam de 8 atividades tradicionalistas são menos propensos a aceitar o produto. Também evidenciaram que a frequência de consumo de churrasco está associada com mais preditores de aceitação da carne bovina cultivada do que a participação em atividades tradicionalistas/folclóricas, denotando o caráter hedônico e de representação social do alimento. Após essas cinco etapas iniciais, realizou-se um ensaio teórico-metodológico com o intuito de comparar as características das principais Escolas de construção de cenários e descrever como a abordagem teórica das transições sociotécnicas qualifica sua operacionalização para o estudo da carne cultivada enquanto inovação disruptiva. Essa sequência de investigações forneceu subsídios para o delineamento das variáveis-chave e a identificação de seus respectivos eventos-chave, empregados para a proposição dos cenários. Também oportunizou a seleção de procedimentos metodológicos advindos da Escola La Prospective, alinhados à exploração do fenômeno em questão. Os resultados discutem os potenciais caminhos para a transição sociotécnica do sistema de provimento de carne bovina à alimentação humana. Dentre as dinâmicas dessa modificação, constatou-se que o caminho pela transformação e reconfiguração tende a ser considerado como dotado de maior aderência frente às características do sistema vigente e do sistema que está sendo desenvolvido em torno da carne cultivada enquanto artefato tecnológico. Logo, o estudo contribui com proposições orientadas a potenciais modificações no agronegócio, de forma específica, à indústria da carne, cuja análise integrativa desenvolvida sob a perspectiva das transições sociotécnicas é dotada de ineditismo. Os insights proporcionados fomentam novas investigações, tanto contemplando aspectos competitivos do sistema atual de produção e comercialização de proteína animal, quanto elucidando questões ainda incertas acerca dessa biotecnologia alimentar emergente. Portanto, as contribuições e a relevância da pesquisa realizada pautam-se na adoção de um tripé interdisciplinar, com multifaces heterogêneas: fenômeno emergente, método multicritério e abordagem analítica consolidada.
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Mesmo não estando disponível em escala comercial, a carne cultivada movimenta uma gama cada vez maior de stakeholders, estimulando o surgimento de novas organizações e impactando na estruturação de um novo setor econômico e industrial. Ante essa circunscrição, a pesquisa realizada teve como objetivo propor cenários tecnológicos e mercadológicos, sob a perspectiva das transições sociotécnicas, para a carne bovina cultivada, considerando um horizonte temporal de dez anos. Tal premissa justifica-se pelas projeções de inserção da biotecnologia no mercado, estimada para ocorrer ainda nessa década. Para tanto, inicialmente analisou-se a trajetória e as abordagens a partir das quais a carne cultivada é tratada no âmbito científico. Por meio de uma revisão sistemática da literatura, constatou-se a predominância de três perspectivas analíticas: ambiental e de saúde; viabilidade técnica e econômica do processo de produção, e; sociomercadológica. Posteriormente, identificaram-se os aspectos favoráveis, desfavoráveis e os desafios relacionados à produção e a comercialização do produto, o que oportunizou a proposição de um modelo analítico composto por cinco dimensões: ciência, tecnologia, mercado, ambiente institucional, impactos sociais e impactos ambientais. Dentre esse delineamento, etapas subsequentes da pesquisa enfatizaram aspectos tecnológicos e mercadológicos, cujo escopo tangencia as demais dimensões e possibilita a análise sistêmica do fenômeno, considerando suas múltiplas interfaces. Em consonância, procedeu-se com uma exploração de prospecção tecnológica da carne cultivada, por meio do mapeamento de patentes de invenção, startups e seus investidores. Os resultados apontaram significativos avanços no processo produtivo e a redução substancial dos custos de produção, bem como a identificação de similaridades com outras trajetórias biotecnológicas, atualmente consolidadas. Em seguida, se abordou a perspectiva mercadológica da carne cultivada, uma vez que aspectos tecnológicos não demonstraram representar entraves para sua comercialização em grande escala. Assim, contribuindo com a literatura sobre comportamento de consumo e intenção de compra, realizou-se uma survey com consumidores de carne que residem em Porto Alegre/RS, capital do Estado brasileiro tipicamente reconhecido pela histórica relevância sociocultural e simbolismos associados ao consumo da carne convencional. Os principais resultados obtidos nessa etapa da investigação evidenciaram que apesar de haver maior disposição em experimentar a biotecnologia, essa não se estende à substituição do produto convencional. Observou-se também que a rejeição do consumo tende a se intensificar após os 40 anos de idade e que o conhecimento prévio ou familiaridade com a temática não necessariamente é um preditor da intenção de compra. Contudo, reconhecendo a relevância do contexto cultural sobre o comportamento de consumo, procedeu-se com a comparação das atitudes dos consumidores de carne bovina frente à carne bovina cultivada, a partir de sua área de residência, intensidade de consumo de churrasco e participação em atividades tradicionalistas/folclóricas. Para tanto, empregou-se uma survey incluindo novas variáveis de pesquisa e expandindo a população analisada para todos os consumidores de carne bovina do Estado do Rio Grande do Sul. Os resultados sugerem que indivíduos que residem em áreas rurais, que consomem churrasco com maior frequência e que participam de 8 atividades tradicionalistas são menos propensos a aceitar o produto. Também evidenciaram que a frequência de consumo de churrasco está associada com mais preditores de aceitação da carne bovina cultivada do que a participação em atividades tradicionalistas/folclóricas, denotando o caráter hedônico e de representação social do alimento. Após essas cinco etapas iniciais, realizou-se um ensaio teórico-metodológico com o intuito de comparar as características das principais Escolas de construção de cenários e descrever como a abordagem teórica das transições sociotécnicas qualifica sua operacionalização para o estudo da carne cultivada enquanto inovação disruptiva. Essa sequência de investigações forneceu subsídios para o delineamento das variáveis-chave e a identificação de seus respectivos eventos-chave, empregados para a proposição dos cenários. Também oportunizou a seleção de procedimentos metodológicos advindos da Escola La Prospective, alinhados à exploração do fenômeno em questão. Os resultados discutem os potenciais caminhos para a transição sociotécnica do sistema de provimento de carne bovina à alimentação humana. Dentre as dinâmicas dessa modificação, constatou-se que o caminho pela transformação e reconfiguração tende a ser considerado como dotado de maior aderência frente às características do sistema vigente e do sistema que está sendo desenvolvido em torno da carne cultivada enquanto artefato tecnológico. Logo, o estudo contribui com proposições orientadas a potenciais modificações no agronegócio, de forma específica, à indústria da carne, cuja análise integrativa desenvolvida sob a perspectiva das transições sociotécnicas é dotada de ineditismo. Os insights proporcionados fomentam novas investigações, tanto contemplando aspectos competitivos do sistema atual de produção e comercialização de proteína animal, quanto elucidando questões ainda incertas acerca dessa biotecnologia alimentar emergente. Portanto, as contribuições e a relevância da pesquisa realizada pautam-se na adoção de um tripé interdisciplinar, com multifaces heterogêneas: fenômeno emergente, método multicritério e abordagem analítica consolidada.The socio-technical system that performs the social function of supplying meat, especially beef, to human food has been characterized by increasing pressures arising from changes in consumption habits, population growth, environmental and animal welfare concerns, among other factors exogenous. In this way, disruptive innovations at the technological niche level have acquired representativeness, with emphasis on cultured meat. This new food biotechnology from biomedicine is part of the emerging scientific field of cell agriculture and still lacks consensus on multiple aspects. Therefore, it is a recurring theme in contemporary debates, permeating interdisciplinary issues and fomenting speculation. Even though it is not available on a commercial scale, the cultured meat moves an increasing range of stakeholders, stimulating the emergence of new organizations and impacting on the structuring of a new economic and industrial sector. In view of this circumscription, the research carried out had the objective of proposing technological and market scenarios, from the perspective of sociotechnical transitions, for cultured beef, considering a ten-year time horizon. Such a limitation is justified by the projections for the insertion of biotechnology in the market, estimated to occur within this decade. To this end, the trajectory and approaches from which the cultured meat is treated in the scientific scope were initially analyzed. Through a systematic review of the literature, the predominance of three analytical perspectives was found: environmental and health; technical and economic feasibility of the production process, and; social and market. Subsequently, favorable, unfavorable aspects and challenges related to the production and commercialization of the product were identified, which made it possible to propose an analytical model composed of five dimensions: science, technology, market, institutional environment, social impacts and environmental impacts. Among this design, subsequent stages of the research emphasized technological and market aspects, whose scope touches the other dimensions and enables the systemic analysis of the phenomenon, considering its multiple interfaces. Accordingly, an exploration of technological prospection of cultured meat was carried out, through the mapping of invention patents, startups and their investors. The results showed significant advances in the production process and a substantial reduction in production costs, as well as the identification of similarities with other biotechnological trajectories, currently consolidated. Then, the market perspective of cultured meat was approached, since technological aspects have not been shown to represent obstacles to its commercialization on a large scale. Thus, contributing to the literature on consumption behavior and purchase intention, a survey was carried out with meat consumers residing in Porto Alegre/RS, capital of the Brazilian State, typically recognized for its historical sociocultural relevance and symbolism associated with the consumption of conventional meat. The main results obtained at this stage of the investigation showed that although there is a greater willingness to experiment with biotechnology, it does not extend to the replacement of the conventional product. It was also observed that the rejection of consumption tends to intensify after the age of 40 years and that previous knowledge or familiarity with the subject is not necessarily a predictor of purchase intent. However, recognizing the relevance of the cultural context on consumption behavior, we proceeded with the comparison of the attitudes of beef consumers towards cultured beef, based on their area of residence, intensity of barbecue consumption and participation in traditionalist/folkloric activities. To this end, a survey was used including new research variables and expanding the population analyzed for all beef consumers in the State of Rio Grande do Sul. The results suggest that individuals who live in rural areas, who consume barbecue more frequently and who participate in traditionalist activities are less likely to accept the product. They also showed that the frequency of barbecue consumption is associated with more predictors of acceptance of cultured beef than participation in traditional/folkloric activities, denoting the 10 hedonic and social representation of the food. After these five initial stages, a theoretical- methodological essay was carried out in order to compare the characteristics of the main Schools of scenario construction and describe how the theoretical approach of socio-technical transitions qualifies its operation for the study of cultured meat as a disruptive innovation. This sequence of investigations provided subsidies for the design of the key-variables and the identification of their respective key-events, used for proposing the scenarios. It also provided the opportunity to select methodological procedures from the La Prospective School, in line with the exploration of the phenomenon in question. The results discuss the potential paths for the socio-technical transition of the system of supplying beef to human consumption. Among the dynamics of this modification, it was found that the path through transformation and reconfiguration tends to be considered as having greater adherence to the characteristics of the current system and the system that is being developed around the cultured meat as a technological artifact. Therefore, the study contributes with proposals aimed at potential changes in agribusiness, in a specific way, to the meat industry, whose integrative analysis developed under the perspective of socio-technical transitions is endowed with novelty. The insights provided foster new research, both contemplating competitive aspects of the current system of production and commercialization of animal protein, and elucidating questions that are still uncertain about this emerging food biotechnology. So, the contributions and relevance of the research carried out are based on the adoption of an interdisciplinary tripod, with heterogeneous multifaces: emerging phenomenon, multicriteria method and consolidated analytical approach.application/pdfporCarne cultivadaBiotecnologiaIndústria de carnesAlimento artificialInovaçãoFood biotechnologyCell-based meatSynthetic meatMeat industryInnovationTransições sociotécnicas : aspectos tecnológicos e mercadológicos da carne cultivadainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulCentro de Estudos e Pesquisas em AgronegóciosPrograma de Pós-Graduação em AgronegóciosPorto Alegre, BR-RS2021doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001130772.pdf.txt001130772.pdf.txtExtracted Texttext/plain0http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/232756/2/001130772.pdf.txtd41d8cd98f00b204e9800998ecf8427eMD52ORIGINAL001130772.pdfTexto parcialapplication/pdf19981364http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/232756/1/001130772.pdf7588ba84b4fc2542c5a50dceb6805f7bMD5110183/2327562021-12-19 05:27:40.916351oai:www.lume.ufrgs.br:10183/232756Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532021-12-19T07:27:40Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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Mesmo não estando disponível em escala comercial, a carne cultivada movimenta uma gama cada vez maior de stakeholders, estimulando o surgimento de novas organizações e impactando na estruturação de um novo setor econômico e industrial. Ante essa circunscrição, a pesquisa realizada teve como objetivo propor cenários tecnológicos e mercadológicos, sob a perspectiva das transições sociotécnicas, para a carne bovina cultivada, considerando um horizonte temporal de dez anos. Tal premissa justifica-se pelas projeções de inserção da biotecnologia no mercado, estimada para ocorrer ainda nessa década. Para tanto, inicialmente analisou-se a trajetória e as abordagens a partir das quais a carne cultivada é tratada no âmbito científico. Por meio de uma revisão sistemática da literatura, constatou-se a predominância de três perspectivas analíticas: ambiental e de saúde; viabilidade técnica e econômica do processo de produção, e; sociomercadológica. Posteriormente, identificaram-se os aspectos favoráveis, desfavoráveis e os desafios relacionados à produção e a comercialização do produto, o que oportunizou a proposição de um modelo analítico composto por cinco dimensões: ciência, tecnologia, mercado, ambiente institucional, impactos sociais e impactos ambientais. Dentre esse delineamento, etapas subsequentes da pesquisa enfatizaram aspectos tecnológicos e mercadológicos, cujo escopo tangencia as demais dimensões e possibilita a análise sistêmica do fenômeno, considerando suas múltiplas interfaces. Em consonância, procedeu-se com uma exploração de prospecção tecnológica da carne cultivada, por meio do mapeamento de patentes de invenção, startups e seus investidores. Os resultados apontaram significativos avanços no processo produtivo e a redução substancial dos custos de produção, bem como a identificação de similaridades com outras trajetórias biotecnológicas, atualmente consolidadas. Em seguida, se abordou a perspectiva mercadológica da carne cultivada, uma vez que aspectos tecnológicos não demonstraram representar entraves para sua comercialização em grande escala. Assim, contribuindo com a literatura sobre comportamento de consumo e intenção de compra, realizou-se uma survey com consumidores de carne que residem em Porto Alegre/RS, capital do Estado brasileiro tipicamente reconhecido pela histórica relevância sociocultural e simbolismos associados ao consumo da carne convencional. Os principais resultados obtidos nessa etapa da investigação evidenciaram que apesar de haver maior disposição em experimentar a biotecnologia, essa não se estende à substituição do produto convencional. Observou-se também que a rejeição do consumo tende a se intensificar após os 40 anos de idade e que o conhecimento prévio ou familiaridade com a temática não necessariamente é um preditor da intenção de compra. Contudo, reconhecendo a relevância do contexto cultural sobre o comportamento de consumo, procedeu-se com a comparação das atitudes dos consumidores de carne bovina frente à carne bovina cultivada, a partir de sua área de residência, intensidade de consumo de churrasco e participação em atividades tradicionalistas/folclóricas. Para tanto, empregou-se uma survey incluindo novas variáveis de pesquisa e expandindo a população analisada para todos os consumidores de carne bovina do Estado do Rio Grande do Sul. Os resultados sugerem que indivíduos que residem em áreas rurais, que consomem churrasco com maior frequência e que participam de 8 atividades tradicionalistas são menos propensos a aceitar o produto. Também evidenciaram que a frequência de consumo de churrasco está associada com mais preditores de aceitação da carne bovina cultivada do que a participação em atividades tradicionalistas/folclóricas, denotando o caráter hedônico e de representação social do alimento. Após essas cinco etapas iniciais, realizou-se um ensaio teórico-metodológico com o intuito de comparar as características das principais Escolas de construção de cenários e descrever como a abordagem teórica das transições sociotécnicas qualifica sua operacionalização para o estudo da carne cultivada enquanto inovação disruptiva. Essa sequência de investigações forneceu subsídios para o delineamento das variáveis-chave e a identificação de seus respectivos eventos-chave, empregados para a proposição dos cenários. Também oportunizou a seleção de procedimentos metodológicos advindos da Escola La Prospective, alinhados à exploração do fenômeno em questão. Os resultados discutem os potenciais caminhos para a transição sociotécnica do sistema de provimento de carne bovina à alimentação humana. 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