Amazônia deslocada: enquadramentos discursivos dos jornais Folha de S.Paulo e o Estado de São Paulo sobre o desmonte da política ambiental no governo Bolsonaro

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Sordi, Jaqueline Orgler
Data de Publicação: 2023
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/267400
Resumo: A partir da hipótese de que a cobertura dos jornais hegemônicos brasileiros sobre a crise ambiental durante a gestão Bolsonaro (2019-2022) se manteve distante das premissas do Jornalismo Ambiental, mesmo a partir de uma maior percepção sobre a relevância do tema, esta investigação centra-se na construção e na articulação dos discursos sobre questões ligadas à Amazônia pelos jornais Folha de S.Paulo e Estado de São Paulo em relação ao desmonte de duas das principais políticas de proteção da floresta entre os anos de 2019 e 2020. Partindo de uma reflexão teórica sobre como se constituíram os discursos mais presentes na atualidade em relação à temática ambiental e às ideologias às quais estão vinculados, a partir de autores como Dryzek (2006, 2013) e Corbett (2006, 2018), a pesquisa situa a forma como esses discursos foram sendo articulados pelos veículos, para identificar as regularidades e as diferenças desses discursos e a visão específica de cada jornal, que se constitui com a escolha de fontes, temas e enfoques das reportagens. Para isso, usa como suporte analítico a noção de Enquadramento Discursivo (MORAES, 2015), que recorre a ferramentas da Análise de Discurso de linha francesa. O Jornalismo é enquadrado, nesta tese, sob os pilares da Teoria Construcionista, entendendo-o como um dos atores responsáveis por transformar os fatos em acontecimentos e, assim, reforçar ou questionar normas sociais (TUCHMAN, 1983); como uma prática discursiva, que o situa como um lugar de produção e circulação de sentidos a partir de um contrato de leitura específico que é ancorado na credibilidade dos jornalistas (BENETTI, 2008; ORLANDI, 2005); e sob a ótica do Jornalismo Ambiental, que defende uma prática comprometida com a pluralidade de vozes, com a promoção de um pensamento complexo e com a emergência de uma racionalidade ambiental (GIRARDI et al., 2018). A análise da cobertura dos veículos se deu em duas etapas: a primeira, quantitativa, partiu da identificação de aspectos que ajudaram a situar os enquadramentos; a segunda, qualitativa, possibilitou identificar os sentidos atribuídos à natureza e os discursos reproduzidos por cada jornal. O tensionamento das duas etapas resultou nos enquadramentos discursivos e no que eles falam sobre a visão específica de cada veículo em relação ao tema. Identificamos que, mesmo com pontos de diferenciação entre os enquadramentos, ambos reproduziram e reforçaram uma mesma visão acrítica ao status quo, que reconhece o momento de crise ambiental – mas entende que as soluções podem ser buscadas dentro do sistema capitalista-industrial – e que situa a natureza a partir de uma perspectiva utilitarista. Ao não apontarem a necessidade de uma mudança paradigmática para a superação da crise, alinham-se a uma perspectiva antropocêntrica – a mesma que constituiu as bases do discurso do governo. A hipótese de que os jornais se mantiveram distantes das premissas do Jornalismo Ambiental se confirmou e possibilitou um aprofundamento na reflexão sobre a pouca contribuição desses veículos para a proposição de saídas para a problemática ambiental que não aquela inserida na racionalidade que nos levou a esse momento de crise.
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Partindo de uma reflexão teórica sobre como se constituíram os discursos mais presentes na atualidade em relação à temática ambiental e às ideologias às quais estão vinculados, a partir de autores como Dryzek (2006, 2013) e Corbett (2006, 2018), a pesquisa situa a forma como esses discursos foram sendo articulados pelos veículos, para identificar as regularidades e as diferenças desses discursos e a visão específica de cada jornal, que se constitui com a escolha de fontes, temas e enfoques das reportagens. Para isso, usa como suporte analítico a noção de Enquadramento Discursivo (MORAES, 2015), que recorre a ferramentas da Análise de Discurso de linha francesa. O Jornalismo é enquadrado, nesta tese, sob os pilares da Teoria Construcionista, entendendo-o como um dos atores responsáveis por transformar os fatos em acontecimentos e, assim, reforçar ou questionar normas sociais (TUCHMAN, 1983); como uma prática discursiva, que o situa como um lugar de produção e circulação de sentidos a partir de um contrato de leitura específico que é ancorado na credibilidade dos jornalistas (BENETTI, 2008; ORLANDI, 2005); e sob a ótica do Jornalismo Ambiental, que defende uma prática comprometida com a pluralidade de vozes, com a promoção de um pensamento complexo e com a emergência de uma racionalidade ambiental (GIRARDI et al., 2018). A análise da cobertura dos veículos se deu em duas etapas: a primeira, quantitativa, partiu da identificação de aspectos que ajudaram a situar os enquadramentos; a segunda, qualitativa, possibilitou identificar os sentidos atribuídos à natureza e os discursos reproduzidos por cada jornal. O tensionamento das duas etapas resultou nos enquadramentos discursivos e no que eles falam sobre a visão específica de cada veículo em relação ao tema. Identificamos que, mesmo com pontos de diferenciação entre os enquadramentos, ambos reproduziram e reforçaram uma mesma visão acrítica ao status quo, que reconhece o momento de crise ambiental – mas entende que as soluções podem ser buscadas dentro do sistema capitalista-industrial – e que situa a natureza a partir de uma perspectiva utilitarista. Ao não apontarem a necessidade de uma mudança paradigmática para a superação da crise, alinham-se a uma perspectiva antropocêntrica – a mesma que constituiu as bases do discurso do governo. A hipótese de que os jornais se mantiveram distantes das premissas do Jornalismo Ambiental se confirmou e possibilitou um aprofundamento na reflexão sobre a pouca contribuição desses veículos para a proposição de saídas para a problemática ambiental que não aquela inserida na racionalidade que nos levou a esse momento de crise.Based on the hypothesis that the coverage of the environment crisis during the Bolsonaro administration (2019-2022) by hegemonic Brazilian newspapers did not follow the premises of Environmental Journalism in spite of greater awareness of its relevance, this investigation focuses on the construction and articulation of Amazon-related discourses by the newspapers Folha de S.Paulo and Estado de São Paulo regarding the dismantling of two of the main forest protection policies from 2019 to 2020. Using theories about the formation of the prevailing discourses on environment and the related ideologies, such as those formulated by Dryzek (2006, 2013) and Corbett (2006, 2018), this dissertation determines how these discourses were articulated by the aforementioned newspapers. Analytical support was given by the concept of Discourse Framing (MORAES, 2015), based on French Discourse Analysis, in order to identify similarities and differences among these discourses and the specific view of each newspaper as expressed by their choice of sources, themes and approach. Journalism is understood here, according to the Constructivism Theory, as one of the agents responsible for transforming facts in events and hence reinforcing or questioning social norms (TUCHMAN, 1983); as a discursive practice that places it as an instance of meaning production and circulation stemming from a specific reading contract anchored in the journalists’ credibility (BENETTI, 2008; ORLANDI, 2005); and from the angle of Environmental Journalism, which advocates the commitment to a plurality of voices, the encouragement of complex thinking, and the emergence of an environmental rationality (GIRARDI, 2018). The press coverage was analyzed on two levels: at first, in a quantitative level, strove to identify aspects helping to determine the framings; atsecond, in a qualitative level, allowed to determine the meanings assigned to nature and the discourses reproduced by each newspaper. Tensioning both levels resulted in identifying the discursive framings involved and what they say about the specific view each media company held. Although there were differences between the framings, we determined that both reproduced and reinforced the same acritical view of the status quo, which acknowledges the current environmental crisis but deems that the solutions may be looked for within the capitalist industrial system, seeing nature from a utilitarian point of view. As they do not indicate the need of a paradigm shift to overcome the crisis, they endorse the same anthropocentric perspective informing the basic government discourse. Our hypothesis that these newspapers kept distance from the premises of Environmental Journalism was confirmed and allowed in-depth reflection on the scant contribution they give to advancing solutions to current environmental issues other than the same rationality that gave rise to the crisis itself.application/pdfporAnálise do discursoPolítica ambiental : BrasilJornalismo ambientalEnvironmental JournalismBolsonaroAmazonDiscourse analysisMainstream journalismAmazônia deslocada: enquadramentos discursivos dos jornais Folha de S.Paulo e o Estado de São Paulo sobre o desmonte da política ambiental no governo Bolsonaroinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Biblioteconomia e ComunicaçãoPrograma de Pós-Graduação em ComunicaçãoPorto Alegre, BR-RS2023doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001187354.pdf.txt001187354.pdf.txtExtracted Texttext/plain513729http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/267400/2/001187354.pdf.txt1e6692eea375a9dbeb127701c9bd729dMD52ORIGINAL001187354.pdfTexto completoapplication/pdf40474908http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/267400/1/001187354.pdf739c105fb9673d8548729170f83854aaMD5110183/2674002023-11-22 04:30:33.554315oai:www.lume.ufrgs.br:10183/267400Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532023-11-22T06:30:33Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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