Desigualdade e ideologia: a nova missa em latim

• Autor(a) principal: Sofia Padua Manzano
• Data de Publicação: 2021
• Tipo de documento: Tese
• Idioma: por
• Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
• Texto Completo: https://doi.org/10.11606/T.8.2021.tde-12112021-141912

O objetivo desta tese é investigar o conteúdo ideológico no pensamento econômico contemporâneo que debate a questão da desigualdade no capitalismo. Para tanto, foram selecionados três autores, a saber, John Kenneth Galbraith, Amartya Sen e Thomas Piketty, por representarem, no interior da teoria econômica heterodoxa, autores que fizeram, e fazem proposições, a partir de suas teorias, que alcançam a concretude da vida social, uma vez que atuam como intelectuais orgânicos. Estes autores participam, ou participaram, dos corpos técnicos de governos e de organismos multilaterais, o que permite às suas ideias ganharem conteúdo real ao se transformarem em políticas econômicas destes entes políticos. Além disso, estes mesmos autores produziram e produzem obras de divulgação que atingem uma ampla massa de leitores não especializados, fazendo com que suas obras se tornem peças importantes na batalha das ideias e no reforço da ideologia dominante, escopo no qual se inscrevem. A partir deste objetivo, a tese buscou apresentar a relação entre o desenvolvimento da história, da história do pensamento econômico e da ideologia, desenhando um conjunto a partir do qual se podem construir as chaves de interpretação do objeto de estudo. Também se julgou relevante demonstrar em que medida a própria ideia de igualdade foi sendo criada a partir da materialidade histórica, desde a Antiguidade até o presente, uma vez adotada a perspectiva materialista histórica e dialética da formação do ser-precisamente-assim da humanidade. Por fim, obras escolhidas dos autores selecionados foram analisadas tendo como referência as chaves teóricas constantes das premissas da tese. A guisa de conclusão pode-se demonstrar que, em pleno século em que o amadurecimento da forma sócio-histórica do metabolismo do capital alcança seus limites estruturais, ao tempo em que a desigualdade social cresce exponencialmente, autores desse calibre mostram-se imprescindíveis para a manutenção e legitimidade da superestrutura ideológica e se convertem em armas poderosas da batalha das ideias com que aburguesia tenta, apesar de toda contraditoriedade da vida material, manter o sistema e perpetuar sua existência. Assim como a doutrina católica, disseminada nas missas em latim durante todo o Feudalismo compunha um dos pilares de sustentação daquele modo de produção, as doutrinas dos autores aqui estudados se tornam a nova missa em latim para o tempo presente.