Irmãs do Atlântico. Escravidão e espaço urbano no Rio de Janeiro e Havana (1763-1844)

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Ynaê Lopes dos Santos
Data de Publicação: 2012
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/T.8.2012.tde-08012013-121005
Resumo: A presente tese de doutorado pretende analisar as razões que levaram Rio de Janeiro e Havana a se constituírem como as maiores cidades escravistas das Américas. O recorte inicial da pesquisa é o ano de 1763, quando as duas cidades transformaram-se em localidades-chave nos Impérios Ibéricos graças ao reordenamento das possessões europeias no Novo Mundo. Ainda que em meados do século XVIII Rio e Havana tivessem relações distintas com a escravidão, o que se observa a partir de 1763 é que o cativeiro urbano tornou-se cada vez mais importante para o funcionamento das duas cidades. Tal importância passa a ser operada em outra escala na última década do setecentos, principalmente após a rebelião dos escravos de Saint-Domingue (1791), quando uma série de Revoluções assolou o Mundo Atlântico questionando a totalidade do Antigo Regime. A despeito do movimento abolicionista e das independências americanas, as elites coloniais do Rio e de Havana conseguem refazer suas relações com o poder metropolitano em defesa da manutenção da escravidão e do tráfico transatlântico, que começou a ser operado numa escala nunca vista. Como espelhos que refletiam a escolha política e econômica feita pelas elites luso-brasileira e cubana, Rio de Janeiro e Havana tornaram-se não só importantes portas de entrada para os africanos escravizados, como urbes que dependiam cada vez mais de braços escravos para funcionar. Nem mesmo a assimetria política gerada em 1808 (quando o Rio de Janeiro deixou de ser capital colonial para transformar-se em Corte) alterou a forma sincrônica, e muitas vezes dialógica, por meio da qual as duas cidades lidaram com a escravidão. As semelhanças na articulação entre espaço urbano e cidade vigoraram até a década de 1840, momento em que Rio de Janeiro e Havana passaram a dividir o pouco honroso título de maiores cidades escravistas do Novo Mundo. O ano de 1844 foi especialmente relevante, pois a Rebelião de La Escalera em Havana e os novos rumos nos debates parlamentares para o fim do tráfico no Rio anunciavam mudanças que alterariam o peso da escravidão no espaço citadino. A análise sincrônica deste longo processo foi feita, sobretudo, a partir do exame de documentos que tratassem da instância urbana dessas duas cidades, mas que, ao mesmo tempo, permitissem compreender as relações das urbes com as unidades políticas que faziam parte. Por isso, a maior parte das fontes consultadas foram os documentos produzidos pelos órgãos que administravam as instâncias municipais do Rio de Janeiro e de Havana, sobretudo aquelas que diziam respeito ao governo dos escravos. Acreditasse, pois, que a escolha por essa tipologia documental permitiu a análise de três dimensões da escravidão nessas duas cidades: o cotidiano das relações escravistas em cada uma das cidades; o peso do cativeiro citadino como parte constitutiva das histórias do Brasil e de Cuba; a singular paridade que fez do Rio de Janeiro e de Havana irmãs do Atlântico.
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Ainda que em meados do século XVIII Rio e Havana tivessem relações distintas com a escravidão, o que se observa a partir de 1763 é que o cativeiro urbano tornou-se cada vez mais importante para o funcionamento das duas cidades. Tal importância passa a ser operada em outra escala na última década do setecentos, principalmente após a rebelião dos escravos de Saint-Domingue (1791), quando uma série de Revoluções assolou o Mundo Atlântico questionando a totalidade do Antigo Regime. A despeito do movimento abolicionista e das independências americanas, as elites coloniais do Rio e de Havana conseguem refazer suas relações com o poder metropolitano em defesa da manutenção da escravidão e do tráfico transatlântico, que começou a ser operado numa escala nunca vista. Como espelhos que refletiam a escolha política e econômica feita pelas elites luso-brasileira e cubana, Rio de Janeiro e Havana tornaram-se não só importantes portas de entrada para os africanos escravizados, como urbes que dependiam cada vez mais de braços escravos para funcionar. Nem mesmo a assimetria política gerada em 1808 (quando o Rio de Janeiro deixou de ser capital colonial para transformar-se em Corte) alterou a forma sincrônica, e muitas vezes dialógica, por meio da qual as duas cidades lidaram com a escravidão. As semelhanças na articulação entre espaço urbano e cidade vigoraram até a década de 1840, momento em que Rio de Janeiro e Havana passaram a dividir o pouco honroso título de maiores cidades escravistas do Novo Mundo. O ano de 1844 foi especialmente relevante, pois a Rebelião de La Escalera em Havana e os novos rumos nos debates parlamentares para o fim do tráfico no Rio anunciavam mudanças que alterariam o peso da escravidão no espaço citadino. A análise sincrônica deste longo processo foi feita, sobretudo, a partir do exame de documentos que tratassem da instância urbana dessas duas cidades, mas que, ao mesmo tempo, permitissem compreender as relações das urbes com as unidades políticas que faziam parte. Por isso, a maior parte das fontes consultadas foram os documentos produzidos pelos órgãos que administravam as instâncias municipais do Rio de Janeiro e de Havana, sobretudo aquelas que diziam respeito ao governo dos escravos. Acreditasse, pois, que a escolha por essa tipologia documental permitiu a análise de três dimensões da escravidão nessas duas cidades: o cotidiano das relações escravistas em cada uma das cidades; o peso do cativeiro citadino como parte constitutiva das histórias do Brasil e de Cuba; a singular paridade que fez do Rio de Janeiro e de Havana irmãs do Atlântico. This doctoral thesis aims to analyze the reasons that led Rio de Janeiro and Havana to become the major slave cities in the Americas. The starting point of the research is the year 1763, when both cities became key locations in the Iberian Empires due to the reorganization of European possessions in the New World. Although in mid-eighteenth century Rio and Havana had different relations with slavery, it is noticed from 1763 that the urban captivity became increasingly more important to the functioning of the two cities. Such importance starts to be observed on another scale in the last decade of the Seven Hundreds, especially after the slave rebellion in Saint-Domingue (1791), when a series of Revolutions ravaged the Atlantic World questioning the whole of the Old Regime. Despite the abolitionist movement and American independences, the colonial elites of Rio and Havana manage to rebuild their relationships with the metropolitan power in favor of maintaining slavery and the transatlantic slave trade, which began to be operated on a scale never seen before. As mirrors reflecting the political and economic choice made by Luso-Brazilian and Cuban elites, Rio de Janeiro and Havana have become not only important entry points to the enslaved Africans, but also large urban areas that increasingly depended on slave arms to work. Not even the political asymmetry generated in 1808 (when Rio de Janeiro turned from being the colonial capital to being the Royal Court) modified the synchronous and often dialogical way through which the two cities have dealt with slavery. The similarities in the relationship between urban space and city existed until the 1840s, which was the moment at which Rio de Janeiro and Havana began to share the little honorable title of largest slave cities of the New World. The year 1844 was particularly relevant, since the Rebellion of La Escalera in Havana and the new directions in parliamentary debates regarding the end of trafficking in Rio announced changes that would alter the weight of slavery in the city space. The synchronic analysis of this long process was done primarily through the examination of documents that addressed the urban context of these two cities, but at the same time allowed one to understand the relations between the large urban areas and the political units that were part of them. Therefore, most of the consulted sources were the documents produced by the public agencies that ran the \"city\" spheres of Rio de Janeiro and Havana, especially those that concerned the government of slaves. It is believed, therefore, that the choice for this type of documents has allowed the analysis of three dimensions of slavery in these two cities: the daily lives of slave relationships in each of the cities, the weight of the city captivity as a constituent part of the histories of Brazil and Cuba and the unique parity that has made Rio de Janeiro and Havana sisters of the Atlantic. https://doi.org/10.11606/T.8.2012.tde-08012013-121005info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T18:26:03Zoai:teses.usp.br:tde-08012013-121005Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T12:18:37.190823Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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