Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mariana Luciano Afonso
Data de Publicação: 2019
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
Texto Completo: https://doi.org/10.11606/T.47.2019.tde-30082019-181514
Resumo: [I] A opressão política das mulheres ou a desigualdade de gênero configura-se como um problema social e histórico de graves consequências objetivas e subjetivas. É gerador de uma modalidade de sofrimento coletivamente compartilhado: a humilhação social, um sofrimento ancestral e repetido. Nesta pesquisa pretendeu-se analisar estratégias de enfrentamento da humilhação social, alcançadas e praticadas por mulheres que participam de um movimento social feminista: a Marcha Mundial das Mulheres. [II] Tivemos como hipóteses que: 1) O enfrentamento da humilhação social vivida por mulheres pode ganhar três formas: (1a) o enfrentamento solitário, sentido como mais ou menos impotente; (1b) o recurso cotidiano a parceiras com quem dividir e interpretar angústias, capaz de revigorar pessoas, mas não de alterar estruturas; (1c) o incurso em formas igualitárias de convivência, colaboração e luta, verificado como capaz de conquistar direitos e alterar instituições. Encontramos o primeiro e segundo tipos de enfrentamento nas trajetórias de mulheres antes de sua inserção na Marcha e o terceiro tipo depois da inserção. 2) As mulheres que ouvimos alcançariam identidade que contrasta com aquela trazida antes de sua inserção na Marcha e, portanto, numa forma política de enfrentamento de humilhação social; a nova identidade teria dependido da participação em lutas coletivas contra opressões de gênero e, em muitos casos, contra opressões de raça e de classe. Aferimos dois resultados que acompanharam a participação: (2a) as mulheres ganharam ou firmaram consciência de que opressões de gênero, classe e raça pessoalmente sofridas são modalidades de opressões coletivamente sofridas; (2b) uma consciência assim tornou-se consistente e viva, não automática e gregária, quando a participação em lutas coletivas correspondeu a uma experiência pela qual a militante sabe responder de modo muito pessoal. [III] Trajetórias de sete mulheres foram registradas por meio de convivência e colaboração e por meio de suas lembranças. Foi realizada ainda observação participante em núcleos e atividades da Marcha Mundial das Mulheres em São Paulo (SP). Foram realizadas análises de textos e documentos produzidos por este movimento social. Os dados recolhidos dessas diferentes fontes foram organizados e analisados de maneira independente e cruzada. A investigação mostrou que a participação na Marcha insere-se em um contexto de vivências de relações de dominação-exploração de gênero, raça e classe; assim como de uma trajetória de participação política e enfrentamentos. Assim, as transformações pessoais acontecidas e impulsionadas ali não se dão de forma mecânica. São sempre inseridas em um processo ligado a uma história pessoal e coletiva. Buscamos relacionar as transformações trazidas pela participação política às novas formas de enfrentamento aos sofrimentos psicológicos e políticos. Da análise de histórias de vida das depoentes emergiram as seguintes categorias que sintetizam a importância da participação política no movimento social feminista: a valorização da pluralidade; o exercício de participação igualitária; a possibilidade de falar e ser escutada; o favorecimento de um processo de avanço de consciência política sobre as relações sociais de gênero, classe e raça; o estímulo à aparição; a configuração como um espaço de praticar o cuidar-nos entre nós; a recuperação teórica de uma história coletiva e de uma ancestralidade pessoal (expressando duas formas de ligação com o passado); o exercício do potencial de criação e da possibilidade de sonhar (expressando uma mediação com o futuro)
id USP_d28f2d234ec4256fb2d2d6cbe4971998
oai_identifier_str oai:teses.usp.br:tde-30082019-181514
network_acronym_str USP
network_name_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository_id_str 2721
spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesis Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista Hold my hand with your hand, so we will can do together what I cant do by myself: memories of women participating in a feminist social movement 2019-06-17Jose Moura Goncalves FilhoAna Merces Bahia BockLuis Eduardo Franção JardimPascale Marie MolinierRosemeire Aparecida ScopinhoBernardo Parodi SvartmanMariana Luciano AfonsoUniversidade de São PauloPsicologia SocialUSPBR Feminism Feminismo Marcha mundial das mulheres Memória Memory Psicologia social Resistence Resistência Social Psychology World March of Women [I] A opressão política das mulheres ou a desigualdade de gênero configura-se como um problema social e histórico de graves consequências objetivas e subjetivas. É gerador de uma modalidade de sofrimento coletivamente compartilhado: a humilhação social, um sofrimento ancestral e repetido. Nesta pesquisa pretendeu-se analisar estratégias de enfrentamento da humilhação social, alcançadas e praticadas por mulheres que participam de um movimento social feminista: a Marcha Mundial das Mulheres. [II] Tivemos como hipóteses que: 1) O enfrentamento da humilhação social vivida por mulheres pode ganhar três formas: (1a) o enfrentamento solitário, sentido como mais ou menos impotente; (1b) o recurso cotidiano a parceiras com quem dividir e interpretar angústias, capaz de revigorar pessoas, mas não de alterar estruturas; (1c) o incurso em formas igualitárias de convivência, colaboração e luta, verificado como capaz de conquistar direitos e alterar instituições. Encontramos o primeiro e segundo tipos de enfrentamento nas trajetórias de mulheres antes de sua inserção na Marcha e o terceiro tipo depois da inserção. 2) As mulheres que ouvimos alcançariam identidade que contrasta com aquela trazida antes de sua inserção na Marcha e, portanto, numa forma política de enfrentamento de humilhação social; a nova identidade teria dependido da participação em lutas coletivas contra opressões de gênero e, em muitos casos, contra opressões de raça e de classe. Aferimos dois resultados que acompanharam a participação: (2a) as mulheres ganharam ou firmaram consciência de que opressões de gênero, classe e raça pessoalmente sofridas são modalidades de opressões coletivamente sofridas; (2b) uma consciência assim tornou-se consistente e viva, não automática e gregária, quando a participação em lutas coletivas correspondeu a uma experiência pela qual a militante sabe responder de modo muito pessoal. [III] Trajetórias de sete mulheres foram registradas por meio de convivência e colaboração e por meio de suas lembranças. Foi realizada ainda observação participante em núcleos e atividades da Marcha Mundial das Mulheres em São Paulo (SP). Foram realizadas análises de textos e documentos produzidos por este movimento social. Os dados recolhidos dessas diferentes fontes foram organizados e analisados de maneira independente e cruzada. A investigação mostrou que a participação na Marcha insere-se em um contexto de vivências de relações de dominação-exploração de gênero, raça e classe; assim como de uma trajetória de participação política e enfrentamentos. Assim, as transformações pessoais acontecidas e impulsionadas ali não se dão de forma mecânica. São sempre inseridas em um processo ligado a uma história pessoal e coletiva. Buscamos relacionar as transformações trazidas pela participação política às novas formas de enfrentamento aos sofrimentos psicológicos e políticos. Da análise de histórias de vida das depoentes emergiram as seguintes categorias que sintetizam a importância da participação política no movimento social feminista: a valorização da pluralidade; o exercício de participação igualitária; a possibilidade de falar e ser escutada; o favorecimento de um processo de avanço de consciência política sobre as relações sociais de gênero, classe e raça; o estímulo à aparição; a configuração como um espaço de praticar o cuidar-nos entre nós; a recuperação teórica de uma história coletiva e de uma ancestralidade pessoal (expressando duas formas de ligação com o passado); o exercício do potencial de criação e da possibilidade de sonhar (expressando uma mediação com o futuro) [I] The political oppression of women or gender inequality is a social and historical problem of serious objective and subjective consequences. It generates a collectively shared mode of suffering: social humiliation, an ancestral and repeated suffering. This research intended to analyze strategies of coping with social humiliation, reached and practiced by women who participate in a feminist social movement: World March of Women. [II] We had the hypotheses: 1) Coping with the social humiliation experienced by women can take three forms: (1a) solitary confrontation, felt as more or less impotent; (1b) the daily resource to partners with whom to share and interpret anguish, capable of invigorating people, but not of changing structures; (1c) the intervention in egalitarian forms of coexistence, collaboration and struggle, verified as capable of conquering rights and changing institutions. We found the first and second types of coping in women\'s trajectories before participating in the March and the third type after the insertion in this social movement. 2) The women we want to hear will have reached an identity that contrasts with that brought before their insertion in the March and, therefore, in a political form of confrontation of social humiliation; the new identity will have depended on participation in collective struggles against gender oppression and, in many cases, against race and class oppression. We observed two results that have accompanied the participation: (2a) women have gained or have become aware that gender-based oppression suffered personally is a mode of collective oppression suffered; (2b) such a consciousness became consistent and alive, non-automatic and gregarious, when participation in collective struggles corresponded to an experience for which the militant knows how to respond in a very personal way. [III] Trajectories of seven women were recorded through coexistence and collaboration and through their memories. Participant observation was performed in nuclei and activities of the World March of Women in São Paulo (SP). We analyzed texts and documents produced by this social movement. The data collected from these different sources was organized and analyzed in an independent and cross-cutting manner. Research has shown that participation in the March is inserted in a context of experiences of relations of domination-exploration of gender, race and social class; as well as in a trajectory of political participation and confrontations. Thus, the personal transformations that happened there did not happen mechanically. They are always inserted in a process linked to a personal history and to a collective history. We seeked to relate the transformations experienced by women after their political participation with the new ways of coping psychological and political suffering. The analysis of womens life histories generated the following categories which summarize the importance of political participation in the feminist social movement: the appreciation of the plurality; the attempt of equal participation; the possibility of speaking and being listened to; a process of advance of political consciousness about social relations of gender, class and race; the stimulus to the apparition; the configuration as an space where its possible to practice the taking care of herself and of each other; the theoretical recovery of a collective history and of a personal ancestry (which express two ways of connecting with the past); the incentive to exercise the creative potential and the possibility of hoping (which express a connection with the future) https://doi.org/10.11606/T.47.2019.tde-30082019-181514info:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USP2023-12-21T20:27:06Zoai:teses.usp.br:tde-30082019-181514Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212023-12-22T13:32:36.521023Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
dc.title.pt.fl_str_mv Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
dc.title.alternative.en.fl_str_mv Hold my hand with your hand, so we will can do together what I cant do by myself: memories of women participating in a feminist social movement
title Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
spellingShingle Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
Mariana Luciano Afonso
title_short Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
title_full Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
title_fullStr Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
title_full_unstemmed Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
title_sort Segura sua mão na minha, para que façamos juntas o que eu não posso fazer sozinha: Memórias de mulheres que participam de movimento social feminista
author Mariana Luciano Afonso
author_facet Mariana Luciano Afonso
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Jose Moura Goncalves Filho
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Ana Merces Bahia Bock
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Luis Eduardo Franção Jardim
dc.contributor.referee3.fl_str_mv Pascale Marie Molinier
dc.contributor.referee4.fl_str_mv Rosemeire Aparecida Scopinho
dc.contributor.referee5.fl_str_mv Bernardo Parodi Svartman
dc.contributor.author.fl_str_mv Mariana Luciano Afonso
contributor_str_mv Jose Moura Goncalves Filho
Ana Merces Bahia Bock
Luis Eduardo Franção Jardim
Pascale Marie Molinier
Rosemeire Aparecida Scopinho
Bernardo Parodi Svartman
description [I] A opressão política das mulheres ou a desigualdade de gênero configura-se como um problema social e histórico de graves consequências objetivas e subjetivas. É gerador de uma modalidade de sofrimento coletivamente compartilhado: a humilhação social, um sofrimento ancestral e repetido. Nesta pesquisa pretendeu-se analisar estratégias de enfrentamento da humilhação social, alcançadas e praticadas por mulheres que participam de um movimento social feminista: a Marcha Mundial das Mulheres. [II] Tivemos como hipóteses que: 1) O enfrentamento da humilhação social vivida por mulheres pode ganhar três formas: (1a) o enfrentamento solitário, sentido como mais ou menos impotente; (1b) o recurso cotidiano a parceiras com quem dividir e interpretar angústias, capaz de revigorar pessoas, mas não de alterar estruturas; (1c) o incurso em formas igualitárias de convivência, colaboração e luta, verificado como capaz de conquistar direitos e alterar instituições. Encontramos o primeiro e segundo tipos de enfrentamento nas trajetórias de mulheres antes de sua inserção na Marcha e o terceiro tipo depois da inserção. 2) As mulheres que ouvimos alcançariam identidade que contrasta com aquela trazida antes de sua inserção na Marcha e, portanto, numa forma política de enfrentamento de humilhação social; a nova identidade teria dependido da participação em lutas coletivas contra opressões de gênero e, em muitos casos, contra opressões de raça e de classe. Aferimos dois resultados que acompanharam a participação: (2a) as mulheres ganharam ou firmaram consciência de que opressões de gênero, classe e raça pessoalmente sofridas são modalidades de opressões coletivamente sofridas; (2b) uma consciência assim tornou-se consistente e viva, não automática e gregária, quando a participação em lutas coletivas correspondeu a uma experiência pela qual a militante sabe responder de modo muito pessoal. [III] Trajetórias de sete mulheres foram registradas por meio de convivência e colaboração e por meio de suas lembranças. Foi realizada ainda observação participante em núcleos e atividades da Marcha Mundial das Mulheres em São Paulo (SP). Foram realizadas análises de textos e documentos produzidos por este movimento social. Os dados recolhidos dessas diferentes fontes foram organizados e analisados de maneira independente e cruzada. A investigação mostrou que a participação na Marcha insere-se em um contexto de vivências de relações de dominação-exploração de gênero, raça e classe; assim como de uma trajetória de participação política e enfrentamentos. Assim, as transformações pessoais acontecidas e impulsionadas ali não se dão de forma mecânica. São sempre inseridas em um processo ligado a uma história pessoal e coletiva. Buscamos relacionar as transformações trazidas pela participação política às novas formas de enfrentamento aos sofrimentos psicológicos e políticos. Da análise de histórias de vida das depoentes emergiram as seguintes categorias que sintetizam a importância da participação política no movimento social feminista: a valorização da pluralidade; o exercício de participação igualitária; a possibilidade de falar e ser escutada; o favorecimento de um processo de avanço de consciência política sobre as relações sociais de gênero, classe e raça; o estímulo à aparição; a configuração como um espaço de praticar o cuidar-nos entre nós; a recuperação teórica de uma história coletiva e de uma ancestralidade pessoal (expressando duas formas de ligação com o passado); o exercício do potencial de criação e da possibilidade de sonhar (expressando uma mediação com o futuro)
publishDate 2019
dc.date.issued.fl_str_mv 2019-06-17
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/doctoralThesis
format doctoralThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://doi.org/10.11606/T.47.2019.tde-30082019-181514
url https://doi.org/10.11606/T.47.2019.tde-30082019-181514
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/openAccess
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.publisher.program.fl_str_mv Psicologia Social
dc.publisher.initials.fl_str_mv USP
dc.publisher.country.fl_str_mv BR
publisher.none.fl_str_mv Universidade de São Paulo
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
instname:Universidade de São Paulo (USP)
instacron:USP
instname_str Universidade de São Paulo (USP)
instacron_str USP
institution USP
reponame_str Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
collection Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP
repository.name.fl_str_mv Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)
repository.mail.fl_str_mv virginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.br
_version_ 1794503160933384192