Da alma para o corpo e do corpo para o cérebro: Os rumos da psicologia com as neurociências

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Azambuja, Marcos Adegas de
Data de Publicação: 2017
Tipo de documento: Livro
Idioma: por
Título da fonte: Manancial - Repositório Digital da UFSM
Texto Completo: http://repositorio.ufsm.br/handle/1/19902
Resumo: Desfazer-se dos próprios golpes... Sempre quis iniciar um texto com uma citação de Friedrich Nietzsche (2003) do livro Ecce Homo – de como a gente se torna o que a gente é. Acho que com este livro chegou o momento auspicioso: Minha práxis na guerra pode ser resumida em quatro sentenças. Primeiro: eu apenas ataco coisas que são vitoriosas – caso for necessário eu espero até que elas sejam vitoriosas. Segundo: eu apenas ataco coisas contra as quais jamais encontraria aliados, contra as quais tenho de me virar sozinho – contra as quais tenho de me comprometer sozinho... Jamais dei um passo em público que não comprometesse: é esse o meu critério da ação correta. Terceiro: eu jamais ataco pessoas – eu apenas me sirvo da pessoa como de uma poderosa lente de aumento, através da qual é possível tornar manifesta uma situação de necessidade comum, mas furtiva e pouco tangível. ... Quarto: eu apenas ataco coisas contra as quais todo o tipo de diferença pessoal é excluído, contra as quais não existe qualquer segundo plano relativo a más intenções. Pelo contrário, atacar é uma prova de bem-querer em mim e, conforme a circunstância, de agradecimento. (p. 38) Não posso negar que o trabalho que o leitor encontrará aqui floresce de retumbantes intensidades de ataque. Vontade de atacar, em um sentido bem ingênuo, aqueles que estão a reinar. E é preciso ser claro: o primeiro ataque foi lançado contra as neurociências. E foram golpes disparados pelo temor. Que força é essa, dessas novas ciências do cérebro, que avançam sobre os campos da Psicologia, desfazendo o que por muito já havia se legitimado? Eu precisava alertar, ardia por resistir! Enquanto psicólogo, psicólogo social, detentor de suposta crítica, devia descascar as amarras do poder e da frieza científica. Escolhi como motor de pensamento para esse trabalho Michel Foucault, filósofo que muito se inspirou em Nietzsche. Assim, com um arsenal ao meu dispor, caminhei em direção ao opositor. Mas durante os golpes desferidos no inimigo, suavemente abria-se uma fenda em minha própria escrita. Sem perceber, tamanha a concentração no oponente, discursos há tanto naturalizados no campo da Psicologia, aos poucos se desmanchavam como as muralhas de um castelo feito de areia. Mudei de posição e passei a debelar contra a ciência psicológica – esse foi meu segundo ataque. Noções arraigadas como de interioridade e clínica podiam agora em um leve sopro apagar, espalhar, voar. Poderia a Psicologia (e seus objetos de análise) sobreviver diante das mutações epistemológicas, ontológicas e de intervenções operadas pelas neurociências? Por isso quis entender como a Psicologia se torna o que realmente ela é. Melhor ainda, o que ela se tornou e o que está em vias de deixar de ser na relação com as neurociências. E como nesse processo queria me virar sozinho, me comprometer sozinho, o ataque, ao fim, como prova de gratidão de minha pessoa, não poderia terminar sendo desferido em mais ninguém, senão em mim mesmo. Terceira e última fase da luta seria questionar a travessia do próprio discurso que criei. Perguntar-me sobre o lugar da psicologia social, das armas que dela me utilizo e de sua implicação sobre os rumos da Psicologia com as Neurociências. Seria a única alternativa uma análise crítica do negativo, que desfaz e desmancha, ou teríamos, quase como que um contra-ataque, uma crítica da potência dos processos de conhecimento, da verdade e da condução de nós mesmos? Talvez por causa desse movimento, de um tipo de eterno retorno, de ritornelo, que me seja tão difícil saber como e até que ponto devo agradecer Michel Foucault, já que fui pego de surpresa na sua armadilha do desaparecimento do sujeito: “Não haveria existido, portanto, início; e em lugar de ser aquele de quem procede o discurso, seria eu muito mais uma pequena lacuna no acaso de seu desenvolvimento, o ponto de sua possível desaparição” (Foucault, 2009, p. 11). Esta é uma escrita que se fez, por mais incrível que ainda me pareça, no constante desfazer de sua suposta constituição. E da minha também...
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Terceiro: eu jamais ataco pessoas – eu apenas me sirvo da pessoa como de uma poderosa lente de aumento, através da qual é possível tornar manifesta uma situação de necessidade comum, mas furtiva e pouco tangível. ... Quarto: eu apenas ataco coisas contra as quais todo o tipo de diferença pessoal é excluído, contra as quais não existe qualquer segundo plano relativo a más intenções. Pelo contrário, atacar é uma prova de bem-querer em mim e, conforme a circunstância, de agradecimento. (p. 38) Não posso negar que o trabalho que o leitor encontrará aqui floresce de retumbantes intensidades de ataque. Vontade de atacar, em um sentido bem ingênuo, aqueles que estão a reinar. E é preciso ser claro: o primeiro ataque foi lançado contra as neurociências. E foram golpes disparados pelo temor. Que força é essa, dessas novas ciências do cérebro, que avançam sobre os campos da Psicologia, desfazendo o que por muito já havia se legitimado? Eu precisava alertar, ardia por resistir! Enquanto psicólogo, psicólogo social, detentor de suposta crítica, devia descascar as amarras do poder e da frieza científica. Escolhi como motor de pensamento para esse trabalho Michel Foucault, filósofo que muito se inspirou em Nietzsche. Assim, com um arsenal ao meu dispor, caminhei em direção ao opositor. Mas durante os golpes desferidos no inimigo, suavemente abria-se uma fenda em minha própria escrita. Sem perceber, tamanha a concentração no oponente, discursos há tanto naturalizados no campo da Psicologia, aos poucos se desmanchavam como as muralhas de um castelo feito de areia. Mudei de posição e passei a debelar contra a ciência psicológica – esse foi meu segundo ataque. Noções arraigadas como de interioridade e clínica podiam agora em um leve sopro apagar, espalhar, voar. Poderia a Psicologia (e seus objetos de análise) sobreviver diante das mutações epistemológicas, ontológicas e de intervenções operadas pelas neurociências? Por isso quis entender como a Psicologia se torna o que realmente ela é. Melhor ainda, o que ela se tornou e o que está em vias de deixar de ser na relação com as neurociências. E como nesse processo queria me virar sozinho, me comprometer sozinho, o ataque, ao fim, como prova de gratidão de minha pessoa, não poderia terminar sendo desferido em mais ninguém, senão em mim mesmo. Terceira e última fase da luta seria questionar a travessia do próprio discurso que criei. Perguntar-me sobre o lugar da psicologia social, das armas que dela me utilizo e de sua implicação sobre os rumos da Psicologia com as Neurociências. Seria a única alternativa uma análise crítica do negativo, que desfaz e desmancha, ou teríamos, quase como que um contra-ataque, uma crítica da potência dos processos de conhecimento, da verdade e da condução de nós mesmos? Talvez por causa desse movimento, de um tipo de eterno retorno, de ritornelo, que me seja tão difícil saber como e até que ponto devo agradecer Michel Foucault, já que fui pego de surpresa na sua armadilha do desaparecimento do sujeito: “Não haveria existido, portanto, início; e em lugar de ser aquele de quem procede o discurso, seria eu muito mais uma pequena lacuna no acaso de seu desenvolvimento, o ponto de sua possível desaparição” (Foucault, 2009, p. 11). Esta é uma escrita que se fez, por mais incrível que ainda me pareça, no constante desfazer de sua suposta constituição. 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