Retratos da pesquisa brasileira em estudos de gênero: análise cientométrica da produção científica

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Hoppen, Natascha Helena Franz
Data de Publicação: 2021
Tipo de documento: Tese
Idioma: por
Título da fonte: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10183/220744
Resumo: A pesquisa analisa a produção científica brasileira em estudos de gênero. Para isso utiliza artigos indexados na base de dados 1Findr publicados até 2019, de pesquisadoras e pesquisadores vinculados a instituições do Brasil. São feitas análises cientométricas de todo o conjunto de dados, seguido de recortes por década (anos 1970 a 2010) e, então, por grandes áreas do conhecimento, a partir de indicadores de atividade científica, colaboração e associação temática. Identifica que a evolução ao longo do tempo se associa com o contexto político e histórico brasileiro. Nos anos 1970 se inicia com alta variação na quantidade de artigos ao ano, em paralelo com repercussões dos movimentos feministas contemporâneos no país. Nos anos 1980 as pesquisas seguem, assim como na década anterior, associadas à saúde da mulher (principalmente em pautas relacionadas ao planejamento familiar), enquanto a saúde feminina é também um dos principais temas dos movimentos feministas da época. Neste período também, movimentos de mulheres se organizam em prol de pautas cidadãs direcionadas à construção da Constituição de 1988. Isso nos anos 1990 culmina com constante institucionalização desses movimentos em paralelo com a consolidação da área na academia, com salto no número de artigos (crescimento exponencial com coeficiente igual a 0,963) e com a entrada de muitas novas pesquisadoras/es provenientes das ciências humanas, que passam a publicar estudos de gênero. São inauguradas as duas primeiras revistas científicas brasileiras especializadas na área (Revistas Estudos Feministas e Cadernos Pagu) e, concomitantemente, é o período de intersecção do incentivo de pesquisas em temas da área por agências estrangeiras. A partir dos anos 2000, a área reflete a direção dos movimentos sociais em luz às diferenças, surgindo palavras-chave ligadas aos estudos queer, sexualidades “desviantes”, novas palavras-chave relacionadas à violência de gênero e outras. De 2011 a 2019 há muitas disciplinas novas publicando em estudos de gênero, e é quando ocorre mais colaborações em forma de coautoria (em todos os níveis, pessoas, instituições e entre países). É o período em que a palavra feminismo passa a ser adjetivada (palavras-chave como feminismo negro, ciberfeminismo, feminismo jurídico, feminismo descolonial e decolonial, entre outras). Os estudos de gênero são trans e interdisciplinares, porém as formas de fazer e publicar pesquisas se revestem de características típicas das grandes áreas do conhecimento (classificação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), por exemplo, na quantidade de artigos publicados e de autorias por artigo. Ciências humanas e ciências da saúde são as que mais produzem estudos de gênero, seguidas de ciências sociais aplicadas, então linguística, letras e artes e pesquisas publicadas em periódicos multidisciplinares. Há poucos artigos nas demais áreas da classificação. Cada área tem características e formas de fazer e publicar artigos distintas, por exemplo, maior colaboração interinstitucional nas ciências da saúde e preferência por publicações em autoria solo na linguística, letras e artes, porém todas têm preferência pelo idioma português. As disciplinas de saúde pública, enfermagem, sociologia e psicologia social se destacam em função dos periódicos, pessoas pesquisadoras mais produtivas, como as mais frequentes nas colaborações internacionais e/ou nas palavras-chave relacionadas. Os periódicos obedecem à constante de Bradford, com concentração de artigos publicados em um número pequeno de veículos em paralelo com quase metade dos periódicos tendo publicado apenas um dos artigos. As instituições de pesquisa são principalmente universidades públicas, depois universidades privadas, outros tipos de instituições públicas e instituições estrangeiras ou internacionais. A Universidade de São Paulo se destaca como a instituição com mais artigos em vários recortes da pesquisa e como a que mais colabora com as demais (conforme clusters de colaboração). Outras instituições mais relevantes são Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Estadual de Campinas e Universidade Federal de Minas Gerais. Nos estados se destacam São Paulo (presente em 26,12% dos artigos) e Rio Grande do Sul (mais produtivo e com maior taxa de crescimento na última década). Roraima, Rondônia e Amapá não publicaram qualquer artigo na área durante o período analisado. Para as instituições e unidades federativas, a proximidade espacial demonstra ser um fator preponderante para a coautoria. É rara a colaboração com países estrangeiros nas publicações em estudos de gênero, porém ocorreu com 81 países diferentes dentro do período de tempo analisado. Entre eles, se destacam principalmente os Estados Unidos da América (mais frequente), Portugal (maior força de colaboração) e Argentina (mais próximo geograficamente). A pesquisa em estudos de gênero brasileira é marcada pela diversidade em suas formas de produzir e publicar, variando bastante conforme o recorte analisado, porém sempre relacionada ao contexto social em formas muito mais diretas do que o que se visualiza em outros campos do conhecimento.