Sístoles e Diástoles: uma perspectiva sobre a Art Theatre Guild
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2017 |
Tipo de documento: | Dissertação |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) |
Texto Completo: | http://hdl.handle.net/10362/31395 |
Resumo: | Fundada no dia 15 de Novembro de 1961, a Art Theatre Guild (ATG) japonesa começou por ser apenas uma distribuidora de filmes estrangeiros. O primeiro objectivo da companhia, composta por críticos influentes e pessoas ligadas ao cinema, era apresentar, pela primeira vez, um conjunto de cinematografias mundiais, comummente apelidadas de art-house, ao público japonês. Numa indústria ainda dominada pelos grandes estúdios de cinema e onde a distribuição das produções nacionais excedia mais do dobro das estrangeiras, a vinda desses filmes para salas selectas e a propagação dessa(s) refrescante(s) “estética(s) cinematográfica(s)” foi decisiva para o público e os cineastas japoneses conhecerem as obras contemporâneas de Jean Luc-Godard, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Alain Resnais, Luis Buñuel mas também redescobrir Orson Welles ou até mesmo Sergei Eisenstein. A Nûberu Bâgu ou “A Nova Vaga do Cinema Japonês”, tendo sido cimentada pelos estúdios japoneses durante os primeiros anos da década de 60, via-se impossibilitada em continuar a filmar nesse contexto de produção, avesso ao arrojo estético e político, cada vez mais assinalável, das suas propostas. Por outro lado, uma nova geração de cineastas, vinda da cena emergente do documentário, sentia a necessidade de se exprimir fora dos formatos e condições que outro tipo de indústria, a dos filmes promocionais, lhe oferecia. Esta tensão entre criadores e produtores, assim como o subsequente ansejo de uma liberdade criativa sem barreiras e mediadores, foi o pano de fundo essencial para o ATG abrir a sua actividade enquanto produtora independente em 1967. Quer pelas inovadoras técnicas de produção, quer pela inventividade formal, carga política e o contexto social em que as obras foram produzidas, qualquer coisa de revolucionário tinha chegado ao cinema japonês. De 1967 a 1972, o catálogo das obras produzidas pelo ATG não era somente um amontoado de propostas sem ligação, realizadas por cineastas não alinhados (por exemplo, Ôshima Nagisa, Yoshida Kijû, Shinoda Masahiro, Matsumoto Toshio, Hani Susumu, Terayama Shûji, etc.), mas um conjunto complexo de obras que preconizava uma certa unidade estética, que, ainda v assim, não encontrava quaisquer ecos com a padronização dos grandes estúdios. A este estado de coisas tão sui-generis, porém nunca conceptualizado como tal pelos seus intervenientes mais directos, chamaremos de movimento. Esta dissertação concentrar-se-á em capturar a consistência e a pertinência deste baptismo, ao mesmo tempo que trará a terreiro um par de conceitos capaz de homogeneizar aquilo que, à primeira vista, parece heterogéneo. A partir da metáfora do músculo cardíaco que necessita de se contrair (sístole) e relaxar (diástole) para manter a circulação sanguínea de um organismo, também o movimento livre dos cineastas da ATG necessitou de explorar duas opções estéticas para construir um novo tipo de cinema: a primeira (sístole) caracteriza-se pelo enclausuramento da câmara no estúdio, a segunda (diástole) pela sua libertação nas ruas. Definirei as implicações espaciais e temporais do filme sistólico e diastólico, pondo igualmente em evidência o papel cimeiro da ATG na História do Cinema Japonês, como sendo, mais do que uma produtora, um modo de fazer cinema |
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Sístoles e Diástoles: uma perspectiva sobre a Art Theatre GuildNova Vaga japonesaSístoleArt Theatre GuildCinema japonêsDiástoleÔshimaImamuraMishimaMatsumotoShinodaYoshidaHaniTerayamaJapanese CinemaArt Theatre GuildJapanese New WaveSystoleDomínio/Área Científica::Ciências Sociais::Ciências da ComunicaçãoFundada no dia 15 de Novembro de 1961, a Art Theatre Guild (ATG) japonesa começou por ser apenas uma distribuidora de filmes estrangeiros. O primeiro objectivo da companhia, composta por críticos influentes e pessoas ligadas ao cinema, era apresentar, pela primeira vez, um conjunto de cinematografias mundiais, comummente apelidadas de art-house, ao público japonês. Numa indústria ainda dominada pelos grandes estúdios de cinema e onde a distribuição das produções nacionais excedia mais do dobro das estrangeiras, a vinda desses filmes para salas selectas e a propagação dessa(s) refrescante(s) “estética(s) cinematográfica(s)” foi decisiva para o público e os cineastas japoneses conhecerem as obras contemporâneas de Jean Luc-Godard, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Alain Resnais, Luis Buñuel mas também redescobrir Orson Welles ou até mesmo Sergei Eisenstein. A Nûberu Bâgu ou “A Nova Vaga do Cinema Japonês”, tendo sido cimentada pelos estúdios japoneses durante os primeiros anos da década de 60, via-se impossibilitada em continuar a filmar nesse contexto de produção, avesso ao arrojo estético e político, cada vez mais assinalável, das suas propostas. Por outro lado, uma nova geração de cineastas, vinda da cena emergente do documentário, sentia a necessidade de se exprimir fora dos formatos e condições que outro tipo de indústria, a dos filmes promocionais, lhe oferecia. Esta tensão entre criadores e produtores, assim como o subsequente ansejo de uma liberdade criativa sem barreiras e mediadores, foi o pano de fundo essencial para o ATG abrir a sua actividade enquanto produtora independente em 1967. Quer pelas inovadoras técnicas de produção, quer pela inventividade formal, carga política e o contexto social em que as obras foram produzidas, qualquer coisa de revolucionário tinha chegado ao cinema japonês. De 1967 a 1972, o catálogo das obras produzidas pelo ATG não era somente um amontoado de propostas sem ligação, realizadas por cineastas não alinhados (por exemplo, Ôshima Nagisa, Yoshida Kijû, Shinoda Masahiro, Matsumoto Toshio, Hani Susumu, Terayama Shûji, etc.), mas um conjunto complexo de obras que preconizava uma certa unidade estética, que, ainda v assim, não encontrava quaisquer ecos com a padronização dos grandes estúdios. A este estado de coisas tão sui-generis, porém nunca conceptualizado como tal pelos seus intervenientes mais directos, chamaremos de movimento. Esta dissertação concentrar-se-á em capturar a consistência e a pertinência deste baptismo, ao mesmo tempo que trará a terreiro um par de conceitos capaz de homogeneizar aquilo que, à primeira vista, parece heterogéneo. A partir da metáfora do músculo cardíaco que necessita de se contrair (sístole) e relaxar (diástole) para manter a circulação sanguínea de um organismo, também o movimento livre dos cineastas da ATG necessitou de explorar duas opções estéticas para construir um novo tipo de cinema: a primeira (sístole) caracteriza-se pelo enclausuramento da câmara no estúdio, a segunda (diástole) pela sua libertação nas ruas. Definirei as implicações espaciais e temporais do filme sistólico e diastólico, pondo igualmente em evidência o papel cimeiro da ATG na História do Cinema Japonês, como sendo, mais do que uma produtora, um modo de fazer cinemaFounded on the 15th of November 1961, the Art Theatre Guild (ATG) of Japan was originally a distributor of foreign films. The initial objective of the company, composed of influential critics and people with connections to the film world, was to introduce a group of international art-house films to the Japanese public for the first time. In an industry still dominated by the major studios and where the distribution of national productions was more than double that of foreign films, these screenings were significant for Japanese audiences and filmmakers alike, who were exposed to contemporary works from directors such as Jean Luc-Godard, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Alain Resnais, and Luis Buñuel, and also provided an opportunity to discover the works of Orson Welles and Sergei Eisenstein. The "New Wave" of Japanese cinema was established by the main Japanese studios during the early sixties, but was unable to continue in that context due to the growing aesthetic and political radicalism of its participants. At the same time, a new generation of filmmakers from the emerging documentary scene felt the need to express themselves outside the conditions that the promotional film industry demanded. This tension between creators and producers, as well as the subsequent desire for creative freedom without barriers or mediators, was the catalyst for the ATG to begin activity as an independent production company in 1967. ATG's innovative production techniques and formal inventiveness paired with the social and political context of the films themselves was proof that something truly revolutionary had arrived in Japanese cinema. From 1967 to 1972, their catalogue was not simply a jumble of unrelated works made by unaffiliated filmmakers (eg Ôshima Nagisa, Yoshida Kijû, Shinoda Masahiro, Matsumoto Toshio, Hani Susumu, and Terayama Shûji), but a complex set of films with a certain aesthetic cohesion, a cohesion that was unlike the standardized style of the studios' "program pictures". We will refer to this unique scenario as a movement, though none of the filmmakers explicitly claimed to belong to one. This dissertation will focus on capturing the consistency and relevance of this movement, while introducing concepts that unify seemingly dissimilar elements. Like a heart muscle which must contract (systole) and relax (diastole) in order to maintain the circulation of blood in an organism, the free movement of the ATG filmmakers used two methods to construct a new form of cinema. The first (systole) is characterized by the enclosure of the camera in the studio space, while the second (diastole) is defined by the release of the camera into the streets. By defining the spatial and temporal implications of the systolic and diastolic style in ATG films, I will highlight the important role of the company and how it changed Japanese cinema. I will also argue that, more than a production company, the japanese ATG encompassed a mode of filmmaking.Costa, José Manuel CorreiaRUNPatrício, Miguel Martins2018-02-28T15:21:05Z2018-01-082017-07-312018-01-08T00:00:00Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfhttp://hdl.handle.net/10362/31395TID:201831554porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)instname:Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãoinstacron:RCAAP2024-03-11T04:17:22Zoai:run.unl.pt:10362/31395Portal AgregadorONGhttps://www.rcaap.pt/oai/openaireopendoar:71602024-03-20T03:29:38.843856Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos) - Agência para a Sociedade do Conhecimento (UMIC) - FCT - Sociedade da Informaçãofalse |
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Fundada no dia 15 de Novembro de 1961, a Art Theatre Guild (ATG) japonesa começou por ser apenas uma distribuidora de filmes estrangeiros. O primeiro objectivo da companhia, composta por críticos influentes e pessoas ligadas ao cinema, era apresentar, pela primeira vez, um conjunto de cinematografias mundiais, comummente apelidadas de art-house, ao público japonês. Numa indústria ainda dominada pelos grandes estúdios de cinema e onde a distribuição das produções nacionais excedia mais do dobro das estrangeiras, a vinda desses filmes para salas selectas e a propagação dessa(s) refrescante(s) “estética(s) cinematográfica(s)” foi decisiva para o público e os cineastas japoneses conhecerem as obras contemporâneas de Jean Luc-Godard, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Alain Resnais, Luis Buñuel mas também redescobrir Orson Welles ou até mesmo Sergei Eisenstein. A Nûberu Bâgu ou “A Nova Vaga do Cinema Japonês”, tendo sido cimentada pelos estúdios japoneses durante os primeiros anos da década de 60, via-se impossibilitada em continuar a filmar nesse contexto de produção, avesso ao arrojo estético e político, cada vez mais assinalável, das suas propostas. Por outro lado, uma nova geração de cineastas, vinda da cena emergente do documentário, sentia a necessidade de se exprimir fora dos formatos e condições que outro tipo de indústria, a dos filmes promocionais, lhe oferecia. Esta tensão entre criadores e produtores, assim como o subsequente ansejo de uma liberdade criativa sem barreiras e mediadores, foi o pano de fundo essencial para o ATG abrir a sua actividade enquanto produtora independente em 1967. Quer pelas inovadoras técnicas de produção, quer pela inventividade formal, carga política e o contexto social em que as obras foram produzidas, qualquer coisa de revolucionário tinha chegado ao cinema japonês. De 1967 a 1972, o catálogo das obras produzidas pelo ATG não era somente um amontoado de propostas sem ligação, realizadas por cineastas não alinhados (por exemplo, Ôshima Nagisa, Yoshida Kijû, Shinoda Masahiro, Matsumoto Toshio, Hani Susumu, Terayama Shûji, etc.), mas um conjunto complexo de obras que preconizava uma certa unidade estética, que, ainda v assim, não encontrava quaisquer ecos com a padronização dos grandes estúdios. A este estado de coisas tão sui-generis, porém nunca conceptualizado como tal pelos seus intervenientes mais directos, chamaremos de movimento. Esta dissertação concentrar-se-á em capturar a consistência e a pertinência deste baptismo, ao mesmo tempo que trará a terreiro um par de conceitos capaz de homogeneizar aquilo que, à primeira vista, parece heterogéneo. A partir da metáfora do músculo cardíaco que necessita de se contrair (sístole) e relaxar (diástole) para manter a circulação sanguínea de um organismo, também o movimento livre dos cineastas da ATG necessitou de explorar duas opções estéticas para construir um novo tipo de cinema: a primeira (sístole) caracteriza-se pelo enclausuramento da câmara no estúdio, a segunda (diástole) pela sua libertação nas ruas. Definirei as implicações espaciais e temporais do filme sistólico e diastólico, pondo igualmente em evidência o papel cimeiro da ATG na História do Cinema Japonês, como sendo, mais do que uma produtora, um modo de fazer cinema |
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