Recuperação e conservação em zonas históricas: contribuições metodológicas para a investigação geo-histórica associada ao planeamento urbano: Mértola, um caso de estudo

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Mateus, Rui
Data de Publicação: 1995
Tipo de documento: Dissertação
Idioma: por
Título da fonte: Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (Repositórios Cientìficos)
Texto Completo: http://hdl.handle.net/10174/13640
Resumo: Introdução - O tema que guia a presente dissertação tem na sua base múltiplas motivações. Umas, ditadas pela moderna reflexão em torno da conservação, salvaguarda e reabilitação de áreas urbanas históricas, outras, pela experiência decorrente de um projecto cultural de contornos únicos no país, como é o de Mértola Vila Museu e, avance-se desde já, também, pelo desafio de delinear, através de um caso de estudo, em que se combinam campos científicos, raramente interactuantes, uma abordagem teórica e prática sobre um pano de fundo que designámos de "investigação geo-histórica associada ao planeamento urbano". Particularmente a partir da década de oitenta, começaram a ser nítidos os contornos das formas de intervenção em áreas urbanas de carácter histórico, que gradualmente adquiriram maior importância e actualidade, não só do ponto de vista do planeamento urbano, com a evolução do conceito de salvaguada integrada, como no teor das preocuções a elas associadas e nos métodos e técnicas para a sua conservação e gestão. A reanimação e a conservação de imóveis degradados não são mais do que tentar preservar a memória cultural, material e artística de uma comunidade, sendo que essa atitude é fundamental se se pretende a promoção do bem-estar dos seus moradores. Dentro deste contexto se insere, também e naturalmente, a requalificação, a restauração e beneficiação das vilas e aldeias de interesse histórico-cultural (e turístico!), bem com a beneficiação e a reposição da imagem da arquitectura popular, expressão cultural dominante nas regiões de interior e que deve ser auxiliada a resistir à sua descaracterização. Nesta perspectiva, também se desenvolvem cada vez mais as especialidades técnicas associadas à intervenção em áreas históricas, particularmente em domínios associados à comprenção das caraterísticas positivas e patológias dos materiais, sem dúvida fundamentais para a manutenção do valor patrimonial a elas intrínseco. Todo este conjunto de instrumentos e de preocupações, associados a uma efectiva componente social, já que se trata de lidar com um espaço que é, e que se pretende continua a ser habitado, constituem-se assim na base do interesse motivador deste estudo. Um efectivo e correcto programa de salvaguarda de uma zona histórica têm que levar em consideração que é necessário encontrar um compromisso entre uma área patrimonial a preservar e determinadas aspirações face ao espaço habitacional da sua população residente. O estudo das metodologias para chegar a esse objectivo, são também em si sedutoras e neste trabalho se deixam também algumas referências a essa temática. É igualmente importante, ainda, no domino das estratégias, estudar as soluções de recuperação das áreas centrais, antes que se torne irreversível a sua destruição, bem como avaliar das formas de integração dos espaços urbanos associados. De certa forma, poder-se-ia sintetizar existir na base deste estudo uma preocupação com a continuidade da herança histórico-patrimonial, e, particularmente naquilo que respeita a Mértola, muito em função de uma experiência concreta já nessa área. O tecido urbano do centro histórico de Mértola, apresenta-se como um conjunto de alto valor histórico, plástico e mesmo vivencial. Assim, tem sido preocupação das equipas multidisciplinares aqui sediadas apoiar e desenvolver actividades e projectos de valorização patrimonial, assumindo nesta área particular relevância o cruzamento das informações provenientes dos trabalhos da investigação arqueológica, histórica e etnológica, nomeadamente no caso da escavação na zona da alcáçova e das necrópoles do Rossio do Carmo; da recuperação das muralhas da vila (em curso); do edifício da Biblioteca Municipal (concluído); da Casa do Lanternim (em fase de arranque), etc. Procura-se, assim, que determinados espaços (edificados ou de outra natureza) possam ser componentes integráveis no conjunto museológico, ou em outras actividades, dando-se também resposta às necessidades sociais e de usufruto quotidiano que o local contém em si. É que, e princípio caro à intervenção e planeamento em curso, a vila é, em si, a vitrina maior dio museu de Mértola, mas, claro está, a reabilitação do espaço urbano historica e socialmente, é um processo longo e apenas agora foi dado início a uma primeira fase. No actual contexto de valorização dos recursos endógenos, e quando são pertinentes as estratégias de revitalização das zonas deprimidas, a constituição de dinâmicas culturais pode ser, efectivamente, o traço de união entre os diversos agentes que lideram, ou de qualquer outra maneira se envolvem num processo desta natureza. Ao serem definidas medidas de protecção procura-se manter o equilíbrio de espaços, sem que isso signifique a intenção de os "congelar". O que se procura é condicionar o processo para que ele seja de mudança e não de mutação; isto é, que as transformações se dêem na continuidade formal e exemplar das edificações de que partem. A divulgação generalizada dos novos materiais - do trinómio betão armado, laje aligeirada e tijolo furado aos aros em mármore e à tinta plástica - faz do construtor não mais aquele que domina a arte de conhecer os materiais naturais e herdeiros de uma tradição construtiva, mas o detentor da técnica, de aprendizagem aparentemente simples, de acertar um jogo de peças fornecidas pelo exterior. Do confronto quase quotidiano com estes conceitos e problemas, experimentados sobremaneira pelas equipas produtoras de planos de salvaguarda e directores municipais, foi-se gradualmente sedimentando a percepção de uma séria lacuna metodológica no que concerne à participação da investigação histórica e artistica nas estratégias a definir para áreas históricas urbanas. Propõe-se a presente investigação analisar, numa primeira fase, do papel do historiador, incluindo nesta designação também aqueles que dentro deste ramo do saber possuem uma formação específica, em História da Arte ou em Arqueologia, ou enquanto membros das equipas de planeamento urbano em áreas históricas a recuperar e/ou a salvaguardar. Da avaliação crítica, pela negativa, do papel particularmente passivo que tem cabido a estas áreas das ciências humanas, resultam algumas contribuições para uma nova metodologia de tratamento da informação histórica, para lhe possibilitar, nestes casos concretos, um papel muito mais marcante na definição dos parãmetros e extensão das intervenções a realizar na fase pós-plano. Assim, em vez de se manter no seu papel de produtor de capítulos monográficos de pouco interesse para uma efectiva definição das formas de intervenção, o historiador deve, após realizar, para si, a indispensável investigação de carácter histórico, transformar as suas conclusões numa síntese, sempre que possível esquemática ou cartografável, para utilização pelos outros agentes da equipa de planeamento, nomeadamente para as disciplinas técnicas, responsáveis pelas etapas de intervenção material sobre o tecido edificado. Procurando decifrar, na busca de uma continuidade, as fases de crescimento, estabilidade ou de decadência que, ao longo da História (da sua história...) foram gravando marcas nos cascos urbanos, de acordo com factores políticos, económicos e sociais diversos, cabe ao historiador a elaboração do corpus informativo de base (seja sobre edifícios, conjuntos ou o tecido urbano) a partir do qual as estratégias de intervenção poderão ser mais razoavelmente traçadas. Construir, refazer, modificar, derrubar, construir de novo, foram-se sucedendo e, com o passar dos anos, vão deixando nas cidades e noutros conjuntos urbanos as marcas arquitectónicas cujo somatório constitui a impressão digital do lugar, que é, por isso, única. Dai o fascínio pelo seu estudo.
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Particularmente a partir da década de oitenta, começaram a ser nítidos os contornos das formas de intervenção em áreas urbanas de carácter histórico, que gradualmente adquiriram maior importância e actualidade, não só do ponto de vista do planeamento urbano, com a evolução do conceito de salvaguada integrada, como no teor das preocuções a elas associadas e nos métodos e técnicas para a sua conservação e gestão. A reanimação e a conservação de imóveis degradados não são mais do que tentar preservar a memória cultural, material e artística de uma comunidade, sendo que essa atitude é fundamental se se pretende a promoção do bem-estar dos seus moradores. Dentro deste contexto se insere, também e naturalmente, a requalificação, a restauração e beneficiação das vilas e aldeias de interesse histórico-cultural (e turístico!), bem com a beneficiação e a reposição da imagem da arquitectura popular, expressão cultural dominante nas regiões de interior e que deve ser auxiliada a resistir à sua descaracterização. Nesta perspectiva, também se desenvolvem cada vez mais as especialidades técnicas associadas à intervenção em áreas históricas, particularmente em domínios associados à comprenção das caraterísticas positivas e patológias dos materiais, sem dúvida fundamentais para a manutenção do valor patrimonial a elas intrínseco. Todo este conjunto de instrumentos e de preocupações, associados a uma efectiva componente social, já que se trata de lidar com um espaço que é, e que se pretende continua a ser habitado, constituem-se assim na base do interesse motivador deste estudo. Um efectivo e correcto programa de salvaguarda de uma zona histórica têm que levar em consideração que é necessário encontrar um compromisso entre uma área patrimonial a preservar e determinadas aspirações face ao espaço habitacional da sua população residente. O estudo das metodologias para chegar a esse objectivo, são também em si sedutoras e neste trabalho se deixam também algumas referências a essa temática. É igualmente importante, ainda, no domino das estratégias, estudar as soluções de recuperação das áreas centrais, antes que se torne irreversível a sua destruição, bem como avaliar das formas de integração dos espaços urbanos associados. De certa forma, poder-se-ia sintetizar existir na base deste estudo uma preocupação com a continuidade da herança histórico-patrimonial, e, particularmente naquilo que respeita a Mértola, muito em função de uma experiência concreta já nessa área. O tecido urbano do centro histórico de Mértola, apresenta-se como um conjunto de alto valor histórico, plástico e mesmo vivencial. Assim, tem sido preocupação das equipas multidisciplinares aqui sediadas apoiar e desenvolver actividades e projectos de valorização patrimonial, assumindo nesta área particular relevância o cruzamento das informações provenientes dos trabalhos da investigação arqueológica, histórica e etnológica, nomeadamente no caso da escavação na zona da alcáçova e das necrópoles do Rossio do Carmo; da recuperação das muralhas da vila (em curso); do edifício da Biblioteca Municipal (concluído); da Casa do Lanternim (em fase de arranque), etc. Procura-se, assim, que determinados espaços (edificados ou de outra natureza) possam ser componentes integráveis no conjunto museológico, ou em outras actividades, dando-se também resposta às necessidades sociais e de usufruto quotidiano que o local contém em si. 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Propõe-se a presente investigação analisar, numa primeira fase, do papel do historiador, incluindo nesta designação também aqueles que dentro deste ramo do saber possuem uma formação específica, em História da Arte ou em Arqueologia, ou enquanto membros das equipas de planeamento urbano em áreas históricas a recuperar e/ou a salvaguardar. Da avaliação crítica, pela negativa, do papel particularmente passivo que tem cabido a estas áreas das ciências humanas, resultam algumas contribuições para uma nova metodologia de tratamento da informação histórica, para lhe possibilitar, nestes casos concretos, um papel muito mais marcante na definição dos parãmetros e extensão das intervenções a realizar na fase pós-plano. Assim, em vez de se manter no seu papel de produtor de capítulos monográficos de pouco interesse para uma efectiva definição das formas de intervenção, o historiador deve, após realizar, para si, a indispensável investigação de carácter histórico, transformar as suas conclusões numa síntese, sempre que possível esquemática ou cartografável, para utilização pelos outros agentes da equipa de planeamento, nomeadamente para as disciplinas técnicas, responsáveis pelas etapas de intervenção material sobre o tecido edificado. Procurando decifrar, na busca de uma continuidade, as fases de crescimento, estabilidade ou de decadência que, ao longo da História (da sua história...) foram gravando marcas nos cascos urbanos, de acordo com factores políticos, económicos e sociais diversos, cabe ao historiador a elaboração do corpus informativo de base (seja sobre edifícios, conjuntos ou o tecido urbano) a partir do qual as estratégias de intervenção poderão ser mais razoavelmente traçadas. 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Particularmente a partir da década de oitenta, começaram a ser nítidos os contornos das formas de intervenção em áreas urbanas de carácter histórico, que gradualmente adquiriram maior importância e actualidade, não só do ponto de vista do planeamento urbano, com a evolução do conceito de salvaguada integrada, como no teor das preocuções a elas associadas e nos métodos e técnicas para a sua conservação e gestão. A reanimação e a conservação de imóveis degradados não são mais do que tentar preservar a memória cultural, material e artística de uma comunidade, sendo que essa atitude é fundamental se se pretende a promoção do bem-estar dos seus moradores. 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O tecido urbano do centro histórico de Mértola, apresenta-se como um conjunto de alto valor histórico, plástico e mesmo vivencial. Assim, tem sido preocupação das equipas multidisciplinares aqui sediadas apoiar e desenvolver actividades e projectos de valorização patrimonial, assumindo nesta área particular relevância o cruzamento das informações provenientes dos trabalhos da investigação arqueológica, histórica e etnológica, nomeadamente no caso da escavação na zona da alcáçova e das necrópoles do Rossio do Carmo; da recuperação das muralhas da vila (em curso); do edifício da Biblioteca Municipal (concluído); da Casa do Lanternim (em fase de arranque), etc. Procura-se, assim, que determinados espaços (edificados ou de outra natureza) possam ser componentes integráveis no conjunto museológico, ou em outras actividades, dando-se também resposta às necessidades sociais e de usufruto quotidiano que o local contém em si. É que, e princípio caro à intervenção e planeamento em curso, a vila é, em si, a vitrina maior dio museu de Mértola, mas, claro está, a reabilitação do espaço urbano historica e socialmente, é um processo longo e apenas agora foi dado início a uma primeira fase. No actual contexto de valorização dos recursos endógenos, e quando são pertinentes as estratégias de revitalização das zonas deprimidas, a constituição de dinâmicas culturais pode ser, efectivamente, o traço de união entre os diversos agentes que lideram, ou de qualquer outra maneira se envolvem num processo desta natureza. Ao serem definidas medidas de protecção procura-se manter o equilíbrio de espaços, sem que isso signifique a intenção de os "congelar". O que se procura é condicionar o processo para que ele seja de mudança e não de mutação; isto é, que as transformações se dêem na continuidade formal e exemplar das edificações de que partem. 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Propõe-se a presente investigação analisar, numa primeira fase, do papel do historiador, incluindo nesta designação também aqueles que dentro deste ramo do saber possuem uma formação específica, em História da Arte ou em Arqueologia, ou enquanto membros das equipas de planeamento urbano em áreas históricas a recuperar e/ou a salvaguardar. Da avaliação crítica, pela negativa, do papel particularmente passivo que tem cabido a estas áreas das ciências humanas, resultam algumas contribuições para uma nova metodologia de tratamento da informação histórica, para lhe possibilitar, nestes casos concretos, um papel muito mais marcante na definição dos parãmetros e extensão das intervenções a realizar na fase pós-plano. 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Construir, refazer, modificar, derrubar, construir de novo, foram-se sucedendo e, com o passar dos anos, vão deixando nas cidades e noutros conjuntos urbanos as marcas arquitectónicas cujo somatório constitui a impressão digital do lugar, que é, por isso, única. Dai o fascínio pelo seu estudo.
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