Alterações do líquido céfalorraqueano e perturbações do sistema nervoso central em distúrbios do controle hidrogênio-iônico: estudo da relação cloretos/CO2 total

Detalhes bibliográficos
Autor(a) principal: Reis,João Baptista dos
Data de Publicação: 1973
Outros Autores: Reis Filho,João Baptista dos, Bei,Antonio
Tipo de documento: Artigo
Idioma: por
Título da fonte: Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)
Texto Completo: http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1973000200001
Resumo: O LCR constitui um meio muito pobre em proteínas e o seu poder tampão depende fundamentalmente da relação pCO2/HCO3-. O LCR é, por assim dizer, uma solução salina bicarbonatada à qual se juntam pequenas quantidades de outros componentes iônicos e moleculares. Admite-se que a barreira hemato-encefálica protege o sistema nervoso central contra as variações súbitas do equilíbrio hidrogênio-iônico. Ela apresenta uma lenta permeabilidade às variações de concentrações dos iontes HCO3-, Cl-, H+, Na+, de que resulta proteção do pH do LCR, e fácil permeabilidade ao gás CO2 de sorte a favorecer rápidos ajustes com o sangue. Estes fatos explicam porque, por vezes, podem ser observadas variações divergentes do pH de um lado e de outro da barreira. Por motivo de sua importante função fisiológica na regulação da respiração, o LCR está muito bem protegido em relação à estabilidade de seu pH. Além disto o pH do LCR indica mais fielmente as modificações ácido-básicas do tecido cerebral que o pH do sangue. Os distúrbios graves do controle hidrogênio-iônico determinam perturbações da função cerebral com manifestações neurológicas e psíquicas. Por estes motivos as determinações do pH, pCO2, e CO2 total do LCR têm uma grande importância para a interpretação dos problemas fisiopatológicos que ocorrem no sistema nervoso central, para o conseqüente diagnóstico e para a correta indicação terapêutica. Pouco se sabe sobre as perturbações da função do sistema nervoso central em pacientes com acidose metabólica; já se tem descrito distúrbios neurológicos e mentais em pacientes com alcalose respiratória e alcalose metabólica; entretanto, é em relação à acidose respiratória que a literatura é mais extensa. Na acidose respiratória decorrente da insuficiência ventilatória pulmonar grave pode-se observar uma síndrome de hipertensão endocraniana devida à ação vasodilatadora do CO2 e estes pacientes são por vezes encaminhados aos serviços neurológicos com a suspeita de tumor encefálico. O propósito do presente trabalho foi o de determinar a relação cloretos/ CO2 total no LCR normal e no LCR de pacientes neurológicos com distúrbios mais comuns do controle hidrogênio-iônico, para se poder avaliar o seu valor prático no exame de rotina. O material deste estudo é constituído por 58 observações, sendo 37 de pessoas normais e 21 de pacientes com distúrbios graves do controle hidrogênio-iônico, dos quais 11 apresentavam acidose respiratória e 10 acidose metabólica decorrente de coma diabético. Em condições normais, a relação cloretos/CO2 total no LCR está compreendida entre os valores de 4.8 a 5.8. Nos distúrbios do controle hidrogênio-iônico, particularmente naqueles casos crônicos e graves, verificam-se alterações das taxas de cloretos e de CO2 total, cujas concentrações variam de modo compensatório, umas em sentido oposto às outras, nestes ajustamentos ácido-básicos. Na acidose respiratória o LCR apresenta acentuada diminuição da taxa de cloretos com aumento compensatório da concentração do CO2 total. Nestes casos a relação variou de 2.0 a 4.7. Na acidose metabólica, como exemplo aquela que ocorre em pacientes em coma diabético, observa-se diminuição acentuada da concentração do CO2 total e aumento da taxa de cloretos. Nestes casos, os valores da relação cloretos/CO2 total estavam compreendidos entre 6.5 a 22.
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