Distúrbios fisiogênicos reflexos
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 1959 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Arquivos de neuro-psiquiatria (Online) |
Texto Completo: | http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1959000300002 |
Resumo: | RESUMO E CONCLUSÕES 1 - Os fatôres psíquico e somático, conquanto dimensões de um só organismo, na prática clínica podem impor-se como grandezas individualizadas, não sendo indiferente ao sucesso que a ação terapêutica se faça predominantemente sôbre um dêles, nem sempre o mais previsto. Assim, em alguns casos em que o fator psicógeno era preponderante, sòmente houve sucesso quando se insistiu na terapêutica somática; ao contrário, alguns distúrbios onde o fator somatógeno era preponderante, tiveram solução quando se insistiu na terapêutica psíquica. 2 - Os fatôres psíquicos, envolvidos a posteriori num distúrbio somatógeno, não só podem determinar a reverberação do distúrbio somatógeno, como podem alcançar proeminência ou dominância no desencadeamento do distúrbio fisiogênico reflexo. 3 - Distúrbios neurofisiogênicos reflexos, embora adquiridos, podem perpetuar-se. 4 - No curso evolutivo de um distúrbio neurofisiogênico reflexo ocorrem oscilações na influenciabilidade: em certos momentos evolutivos o distúrbio é mais acessível às influências psíquicas (no sentido do agravamento ou no do abrandamento); em outros momentos é mais nítida a influenciabilidade somática. 5 - Freqüentes vêzes a síndrome "neurofisiogênica reflexa" (pelo seu desencadeamento psicógeno, pela influenciabilidade face aos fatôres psíquicos, pelas nítidas exteriorizações vegetativas, pela negatividade de exames subsidiários esclarecedores, pela irredutibilidade à terapêutica somática) estimula o diagnóstico de neurose. Se, entretanto, reservamos tal diagnóstico para os distúrbios causados primàriamente por via psíquica, a mera semelhança não levará o clínico a tais injustificadas suposições e extravios na apreciação clínica. 6 - O êxito psicoterapêutico frente a uma síndrome não garante ser ela psicogenética. 7 - Tampouco o desencadeamento psicógeno assegura a integral psicogenia do distúrbio, que pode ser fundamentado somàticamente e desencadeado psiquicamente. 8 - A psicogenia de uma síndrome não significa que ela seja necessàriamente suprimível pela psicoterapia, pois tal síndrome pode ser incurável ou pode ser curável por via somática. 9 - A aptidão para fixar ciclos reflexos funcionais anormais não significa obrigatòriamente aptidão ao desenvolvimento de reações neuróticas. Bases constitucionais para uma e outra destas aptidões são necessárias; mas isso não quer dizer que essas bases sejam as mesmas. 10 - A significação valorativo-existencial da disfunção em causa é de importância decisiva para que uma disfunção reflexa evolva para a neurose; muitos pacientes com distúrbios reflexos vegetativos não se tornam neuróticos. 11 - Na clínica dos distúrbios fisiogênicos reflexos encontramos com freqüência oligofrênicos e portadores de desregulações vegetativo-endocrínicas vagas e difusas, ainda não individualizadas como doenças em síndromes completas; existem poucos dados objetivos de laboratório, poucos sinais autenticadores de uma síndrome definida e completa, ao lado de abundantes vícios funcionais ou disfunções reflexas fixadas. Ainda não temos para elas bases morfológicas humorais ou hormônicas conhecidas e por isso não podemos atribuir-lhes papel causal. Mas os distúrbios fisiogênicos reflexos podem ser expressão de defeituosa coordenação e regulação funcional por defeito estrutural de base, mas não são neuroses, apesar da interferência psíquica claramente evidente. 12 - Concebida como o foi neste trabalho a estruturação dêstes distúrbios fisiogênicos reflexos, indicações terapêuticas mais precisas são adquiridas. Entretanto, há ainda lacunas que não permitem saber porque, em alguns casos, o melhor êxito é obtido pela psicoterapia, em outros por via vegetativa e em outros por ação terapêutica sôbre o órgão ou tecido efetor. Inferências apoiadas no raciocínio clínico freqüentemente são refutadas pela realidade, ou não, do êxito terapêutico. 13 - Há neste trabalho, ora com apoio em dados clínicos, ora com interpretações doutrinárias e teóricas, tentativa para esclarecer certas síndromes sob o primado da patofisiologia neural. Isto não significa, é claro, abastardamento dos fatôres psíquicos, mas procurou-se evidenciar a primazia da neurofisiologia em numerosos distúrbios assemelhados ou mesmo confundidos com a neurose. Parece-nos tal esfôrço tão legítimo quanto oportuno, atualmente, no Brasil. |
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Distúrbios fisiogênicos reflexosRESUMO E CONCLUSÕES 1 - Os fatôres psíquico e somático, conquanto dimensões de um só organismo, na prática clínica podem impor-se como grandezas individualizadas, não sendo indiferente ao sucesso que a ação terapêutica se faça predominantemente sôbre um dêles, nem sempre o mais previsto. Assim, em alguns casos em que o fator psicógeno era preponderante, sòmente houve sucesso quando se insistiu na terapêutica somática; ao contrário, alguns distúrbios onde o fator somatógeno era preponderante, tiveram solução quando se insistiu na terapêutica psíquica. 2 - Os fatôres psíquicos, envolvidos a posteriori num distúrbio somatógeno, não só podem determinar a reverberação do distúrbio somatógeno, como podem alcançar proeminência ou dominância no desencadeamento do distúrbio fisiogênico reflexo. 3 - Distúrbios neurofisiogênicos reflexos, embora adquiridos, podem perpetuar-se. 4 - No curso evolutivo de um distúrbio neurofisiogênico reflexo ocorrem oscilações na influenciabilidade: em certos momentos evolutivos o distúrbio é mais acessível às influências psíquicas (no sentido do agravamento ou no do abrandamento); em outros momentos é mais nítida a influenciabilidade somática. 5 - Freqüentes vêzes a síndrome "neurofisiogênica reflexa" (pelo seu desencadeamento psicógeno, pela influenciabilidade face aos fatôres psíquicos, pelas nítidas exteriorizações vegetativas, pela negatividade de exames subsidiários esclarecedores, pela irredutibilidade à terapêutica somática) estimula o diagnóstico de neurose. Se, entretanto, reservamos tal diagnóstico para os distúrbios causados primàriamente por via psíquica, a mera semelhança não levará o clínico a tais injustificadas suposições e extravios na apreciação clínica. 6 - O êxito psicoterapêutico frente a uma síndrome não garante ser ela psicogenética. 7 - Tampouco o desencadeamento psicógeno assegura a integral psicogenia do distúrbio, que pode ser fundamentado somàticamente e desencadeado psiquicamente. 8 - A psicogenia de uma síndrome não significa que ela seja necessàriamente suprimível pela psicoterapia, pois tal síndrome pode ser incurável ou pode ser curável por via somática. 9 - A aptidão para fixar ciclos reflexos funcionais anormais não significa obrigatòriamente aptidão ao desenvolvimento de reações neuróticas. Bases constitucionais para uma e outra destas aptidões são necessárias; mas isso não quer dizer que essas bases sejam as mesmas. 10 - A significação valorativo-existencial da disfunção em causa é de importância decisiva para que uma disfunção reflexa evolva para a neurose; muitos pacientes com distúrbios reflexos vegetativos não se tornam neuróticos. 11 - Na clínica dos distúrbios fisiogênicos reflexos encontramos com freqüência oligofrênicos e portadores de desregulações vegetativo-endocrínicas vagas e difusas, ainda não individualizadas como doenças em síndromes completas; existem poucos dados objetivos de laboratório, poucos sinais autenticadores de uma síndrome definida e completa, ao lado de abundantes vícios funcionais ou disfunções reflexas fixadas. Ainda não temos para elas bases morfológicas humorais ou hormônicas conhecidas e por isso não podemos atribuir-lhes papel causal. Mas os distúrbios fisiogênicos reflexos podem ser expressão de defeituosa coordenação e regulação funcional por defeito estrutural de base, mas não são neuroses, apesar da interferência psíquica claramente evidente. 12 - Concebida como o foi neste trabalho a estruturação dêstes distúrbios fisiogênicos reflexos, indicações terapêuticas mais precisas são adquiridas. Entretanto, há ainda lacunas que não permitem saber porque, em alguns casos, o melhor êxito é obtido pela psicoterapia, em outros por via vegetativa e em outros por ação terapêutica sôbre o órgão ou tecido efetor. Inferências apoiadas no raciocínio clínico freqüentemente são refutadas pela realidade, ou não, do êxito terapêutico. 13 - Há neste trabalho, ora com apoio em dados clínicos, ora com interpretações doutrinárias e teóricas, tentativa para esclarecer certas síndromes sob o primado da patofisiologia neural. Isto não significa, é claro, abastardamento dos fatôres psíquicos, mas procurou-se evidenciar a primazia da neurofisiologia em numerosos distúrbios assemelhados ou mesmo confundidos com a neurose. Parece-nos tal esfôrço tão legítimo quanto oportuno, atualmente, no Brasil.Academia Brasileira de Neurologia - ABNEURO1959-09-01info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersiontext/htmlhttp://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-282X1959000300002Arquivos de Neuro-Psiquiatria v.17 n.3 1959reponame:Arquivos de neuro-psiquiatria (Online)instname:Academia Brasileira de Neurologiainstacron:ABNEURO10.1590/S0004-282X1959000300002info:eu-repo/semantics/openAccessPires,Nelsonpor2013-12-10T00:00:00Zoai:scielo:S0004-282X1959000300002Revistahttp://www.scielo.br/anphttps://old.scielo.br/oai/scielo-oai.php||revista.arquivos@abneuro.org1678-42270004-282Xopendoar:2013-12-10T00:00Arquivos de neuro-psiquiatria (Online) - Academia Brasileira de Neurologiafalse |
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