Sujeito, desamparo e violência
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 1999 |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental (Online) |
Texto Completo: | http://old.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47141999000300075 |
Resumo: | A proposta deste trabalho é refletir sobre a violência na sociedade contemporânea, entendendo-a como uma forma possível do sujeito dar conta da situação de desamparo provocada por exigências pulsionais crescentes o que o expõe, portanto, a um excesso de excitação. Para compor este trabalho, a autora partiu da hipótese de que a tentativa de cada sujeito humano em negar uma violência primordial é o que o leva a sentir dificuldade de se colocar como referência diante do outro que dele depende. Esta falta de referência acarreta para o sujeito grande desamparo frente às suas necessidades pulsionais. Discute-se, a partir daí, que um indivíduo submetido a forças pulsionais intensas pode ser capaz de atos violentos destrutivos como afirmação última de singularidade. O trabalho retoma, de um lado, a partir da ótica freudiana, a concepção do EU como uma forma de defesa dos ataques provenientes seja das pulsões internas, seja do exterior. O ato de violência se instaura quando o adulto atende o frágil ser desamparado que é um bebê recém-nascido, desiludindo-o da sensação nirvânica. Desenvolve-se assim a idéia da violência articulada à constituição do sujeito, inspirada também nos trabalhos de Piera Aulagnier e Conrad Stein. De outro lado, procura-se discutir, a partir da contribuição de Calligaris, algumas características da sociedade contemporânea e do imaginário pós-moderno, que contribuem para que as exigências pulsionais a que são submetidos os indivíduos sejam cada vez maiores. Nessa sociedade narcisista, o ideal de autonomia predomina e o individualismo é a meta. Assim sendo, a idéia de submeter o outro à própria vontade parece ser uma violência inominável. Interpretar a necessidade desse outro, buscar as possíveis formas de satisfazê-la, ir ao encontro das leis de regulação social, implicam em enunciar a falta, em relembrar a catástrofe da perda da estabilidade, do Nirvana. É assumir a violência fundamental que permite a relação com o outro, de forma criativa e não fusionada, como muitas vezes se faz em nome da felicidade e do amor. Essa é a condição do aparecimento do sujeito. |
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