Efeitos adversos do Lítio relacionados ao Hipotireoidismo / Adverse effects of Lithium related to Hypothyroidism
Autor(a) principal: | |
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Data de Publicação: | 2022 |
Outros Autores: | , , , |
Tipo de documento: | Artigo |
Idioma: | por |
Título da fonte: | Brazilian Journal of Health Review |
Texto Completo: | https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/43183 |
Resumo: | O Orotato de lítio é um fármaco psicoativo amplamente utilizado na prática clínica como um regulador de humor, principalmente no tratamento de transtorno bipolar. Sua eficácia é inquestionável, a tal ponto que continua sendo, após mais de 50 anos, uma das primeiras escolhas em todos os consensos atuais, constituindo também a melhor opção em relação aos custos para a saúde pública. Atualmente, é considerado o único regulador de humor com dados de redução de suicídio em pacientes bipolares. Entretanto, muitos efeitos endocrinometabólicos já foram descritos na literatura, principalmente nas funções da tireoide, paratireoide e no metabolismo mineral. O hipotireoidismo destaca-se como um dos mais importantes e prevalentes.Os objetivos do presente trabalho são evidenciar e esclarecer os possíveis efeitos adversos da utilização do Lítio, relacionados ao hipotireoidismo. O trabalho foi estruturado como uma revisão de literatura em que foram utilizados artigos científicos nas bases de dados Scielo, Google Acadêmico e MEDLINE (PubMed), datados entre os anos de 1998 e 2015. Utilizou-se os seguintes descritores: “lítio”, “efeitos adversos” e “hipotireoidismo”.O lítio é absorvido rápida e completamente pelo trato gastrintestinal, sendo completamente filtrado pelos rins e 80% são reabsorvidos. Estabelece competição com o sódio e sua retenção pode estar associada a mecanismos de eliminação do mesmo. Os efeitos adversos do uso de orotato de lítio incluem principalmente nefro toxicidade, alterações endócrinas e neurotoxicidade, uma vez que sua janela terapêutica é bastante estreita. Os sais de lítio alteram significativamente a cinética da tireoide. Organicamente, o lítio se acumula na célula folicular, inibindo a captação de iodo pela mesma. Desta forma, interfere na iodização da tirosina e na estrutura da tireoglobulina, e consequente formação dos coloides no polo apical das células tireoidianas. Essa inibição é reversível e dose dependente, mas por inibir a liberação de hormônios da tireoide, leva a um aumento compensatório nos níveis de TSH. A estimulação direta das células pelo lítio já foi observada experimentalmente em culturas, podendo constituir um segundo mecanismo que explicaria o aumento dos níveis de TSH. O aumento de TSH, associado a uma inibição da liberação de hormônios tireoidianos pelo lítio podem causar hipotireoidismo subclínico ou hipotireoidismo clássico ou ainda uma hipertrofia glandular, com possível mudança textural da mesma e necessidade de reposição desses hormônios. A indução de crescimento de células da tiroide é relatada mesmo na tireoide ectópica. Este potencial pode ser manifestado em até 50% dos pacientes que tomam lítio cronicamente. Estudos sugerem haver uma ligação entre a terapia com lítio e aspectos do sistema imunitário funcionante notadamente a autoimunidade, como circulação de anticorpos antitireoidianos contra peroxidase que estão normalmente presentes em hipotireoidismo lítio-induzido. Geralmente mulheres ou homens com anticorpos contra a tireoide são mais predispostos a esses efeitos adversos. Entretanto, o fármaco não parece induzir autoimunidade em si, mas sim pode exacerbar autoimunidade da tireoide pré-existente, estimulando a secreção de imunoglobulinas pelos linfócitos.Diversos estudos demonstram que apesar da eficácia comprovada do uso do lítio no tratamento de transtorno bipolar, efeitos adversos já foram descritos na literatura e estão bem documentados. Os efeitos colaterais envolvem a inibição da função da tireoide e estímulo sustentado de TSH, podendo levar à hipertrofia e hiperplasia de células foliculares, e consequente desenvolvimento de hipotireoidismo, com ou sem bócio. A relação do uso de lítio com o sistema imunitário refere-se ao aumento da autoimunidade da tireoide pré-existente, contribuindo para o desenvolvimento do hipotireoidismo |
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O trabalho foi estruturado como uma revisão de literatura em que foram utilizados artigos científicos nas bases de dados Scielo, Google Acadêmico e MEDLINE (PubMed), datados entre os anos de 1998 e 2015. Utilizou-se os seguintes descritores: “lítio”, “efeitos adversos” e “hipotireoidismo”.O lítio é absorvido rápida e completamente pelo trato gastrintestinal, sendo completamente filtrado pelos rins e 80% são reabsorvidos. Estabelece competição com o sódio e sua retenção pode estar associada a mecanismos de eliminação do mesmo. Os efeitos adversos do uso de orotato de lítio incluem principalmente nefro toxicidade, alterações endócrinas e neurotoxicidade, uma vez que sua janela terapêutica é bastante estreita. Os sais de lítio alteram significativamente a cinética da tireoide. Organicamente, o lítio se acumula na célula folicular, inibindo a captação de iodo pela mesma. Desta forma, interfere na iodização da tirosina e na estrutura da tireoglobulina, e consequente formação dos coloides no polo apical das células tireoidianas. Essa inibição é reversível e dose dependente, mas por inibir a liberação de hormônios da tireoide, leva a um aumento compensatório nos níveis de TSH. A estimulação direta das células pelo lítio já foi observada experimentalmente em culturas, podendo constituir um segundo mecanismo que explicaria o aumento dos níveis de TSH. O aumento de TSH, associado a uma inibição da liberação de hormônios tireoidianos pelo lítio podem causar hipotireoidismo subclínico ou hipotireoidismo clássico ou ainda uma hipertrofia glandular, com possível mudança textural da mesma e necessidade de reposição desses hormônios. A indução de crescimento de células da tiroide é relatada mesmo na tireoide ectópica. Este potencial pode ser manifestado em até 50% dos pacientes que tomam lítio cronicamente. Estudos sugerem haver uma ligação entre a terapia com lítio e aspectos do sistema imunitário funcionante notadamente a autoimunidade, como circulação de anticorpos antitireoidianos contra peroxidase que estão normalmente presentes em hipotireoidismo lítio-induzido. Geralmente mulheres ou homens com anticorpos contra a tireoide são mais predispostos a esses efeitos adversos. Entretanto, o fármaco não parece induzir autoimunidade em si, mas sim pode exacerbar autoimunidade da tireoide pré-existente, estimulando a secreção de imunoglobulinas pelos linfócitos.Diversos estudos demonstram que apesar da eficácia comprovada do uso do lítio no tratamento de transtorno bipolar, efeitos adversos já foram descritos na literatura e estão bem documentados. Os efeitos colaterais envolvem a inibição da função da tireoide e estímulo sustentado de TSH, podendo levar à hipertrofia e hiperplasia de células foliculares, e consequente desenvolvimento de hipotireoidismo, com ou sem bócio. A relação do uso de lítio com o sistema imunitário refere-se ao aumento da autoimunidade da tireoide pré-existente, contribuindo para o desenvolvimento do hipotireoidismoBrazilian Journals Publicações de Periódicos e Editora Ltda.2022-01-24info:eu-repo/semantics/articleinfo:eu-repo/semantics/publishedVersionapplication/pdfhttps://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/4318310.34119/bjhrv5n1-141Brazilian Journal of Health Review; Vol. 5 No. 1 (2022); 1666-1669Brazilian Journal of Health Review; v. 5 n. 1 (2022); 1666-16692595-6825reponame:Brazilian Journal of Health Reviewinstname:Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP)instacron:BJRHporhttps://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/43183/pdfCopyright (c) 2022 Brazilian Journal of Health Reviewinfo:eu-repo/semantics/openAccessSerra, Desirée DuarteOstrowski, Renata Batistada Silva, Ágatha RibeiroOliveira, Carolline Damas de AndradeSerra, Walkíria Duarte2022-02-28T20:37:24Zoai:ojs2.ojs.brazilianjournals.com.br:article/43183Revistahttp://www.brazilianjournals.com/index.php/BJHR/indexPRIhttps://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/oai|| brazilianjhr@gmail.com2595-68252595-6825opendoar:2022-02-28T20:37:24Brazilian Journal of Health Review - Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP)false |
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O Orotato de lítio é um fármaco psicoativo amplamente utilizado na prática clínica como um regulador de humor, principalmente no tratamento de transtorno bipolar. Sua eficácia é inquestionável, a tal ponto que continua sendo, após mais de 50 anos, uma das primeiras escolhas em todos os consensos atuais, constituindo também a melhor opção em relação aos custos para a saúde pública. Atualmente, é considerado o único regulador de humor com dados de redução de suicídio em pacientes bipolares. Entretanto, muitos efeitos endocrinometabólicos já foram descritos na literatura, principalmente nas funções da tireoide, paratireoide e no metabolismo mineral. O hipotireoidismo destaca-se como um dos mais importantes e prevalentes.Os objetivos do presente trabalho são evidenciar e esclarecer os possíveis efeitos adversos da utilização do Lítio, relacionados ao hipotireoidismo. O trabalho foi estruturado como uma revisão de literatura em que foram utilizados artigos científicos nas bases de dados Scielo, Google Acadêmico e MEDLINE (PubMed), datados entre os anos de 1998 e 2015. Utilizou-se os seguintes descritores: “lítio”, “efeitos adversos” e “hipotireoidismo”.O lítio é absorvido rápida e completamente pelo trato gastrintestinal, sendo completamente filtrado pelos rins e 80% são reabsorvidos. Estabelece competição com o sódio e sua retenção pode estar associada a mecanismos de eliminação do mesmo. Os efeitos adversos do uso de orotato de lítio incluem principalmente nefro toxicidade, alterações endócrinas e neurotoxicidade, uma vez que sua janela terapêutica é bastante estreita. Os sais de lítio alteram significativamente a cinética da tireoide. Organicamente, o lítio se acumula na célula folicular, inibindo a captação de iodo pela mesma. Desta forma, interfere na iodização da tirosina e na estrutura da tireoglobulina, e consequente formação dos coloides no polo apical das células tireoidianas. Essa inibição é reversível e dose dependente, mas por inibir a liberação de hormônios da tireoide, leva a um aumento compensatório nos níveis de TSH. A estimulação direta das células pelo lítio já foi observada experimentalmente em culturas, podendo constituir um segundo mecanismo que explicaria o aumento dos níveis de TSH. O aumento de TSH, associado a uma inibição da liberação de hormônios tireoidianos pelo lítio podem causar hipotireoidismo subclínico ou hipotireoidismo clássico ou ainda uma hipertrofia glandular, com possível mudança textural da mesma e necessidade de reposição desses hormônios. A indução de crescimento de células da tiroide é relatada mesmo na tireoide ectópica. Este potencial pode ser manifestado em até 50% dos pacientes que tomam lítio cronicamente. Estudos sugerem haver uma ligação entre a terapia com lítio e aspectos do sistema imunitário funcionante notadamente a autoimunidade, como circulação de anticorpos antitireoidianos contra peroxidase que estão normalmente presentes em hipotireoidismo lítio-induzido. Geralmente mulheres ou homens com anticorpos contra a tireoide são mais predispostos a esses efeitos adversos. Entretanto, o fármaco não parece induzir autoimunidade em si, mas sim pode exacerbar autoimunidade da tireoide pré-existente, estimulando a secreção de imunoglobulinas pelos linfócitos.Diversos estudos demonstram que apesar da eficácia comprovada do uso do lítio no tratamento de transtorno bipolar, efeitos adversos já foram descritos na literatura e estão bem documentados. Os efeitos colaterais envolvem a inibição da função da tireoide e estímulo sustentado de TSH, podendo levar à hipertrofia e hiperplasia de células foliculares, e consequente desenvolvimento de hipotireoidismo, com ou sem bócio. A relação do uso de lítio com o sistema imunitário refere-se ao aumento da autoimunidade da tireoide pré-existente, contribuindo para o desenvolvimento do hipotireoidismo |
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